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terça-feira, 9 de outubro de 2018

O ENCONTRO DE JESUS COM O JOVEM RICO MARCOS 10.17-22



 
          Jesus sai de uma acirrada discussão com os fariseus sobre o divórcio e se coloca a caminho e logo atrás dele vem correndo um jovem, rico, que se atira de joelhos aos pés do mestre e faz uma pergunta intrigante: “Bom mestre o que farei de bom para herdar a vida eterna?”. Essa realmente é uma pergunta importante vinda de um jovem rico para quem a eternidade e os problemas da vida estão tão distantes.
          A resposta de Jesus é seca, dura, como que querendo acordar aquele jovem de um sono. Jesus responde: “Porque me chamas bom, bom é apenas Deus”, “agora se quiseres entrar na vida eterna obedece aos mandamentos”.
          Aquele rapaz possuía uma vida integra. Ele não só conhecia aos mandamentos como também desde criança observa a cada um deles.
          Esse rapaz era um bom moço, orgulho de seus pais, honrava-os respeitava-os, eram um rapaz rico cuja fortuna foi adquirida pelo meio mais lícito possível, pois nunca roubara nem cobiçara as coisas alheias.
          O que Jesus desejava mostrar ao rapaz com a resposta que para alcançar a vida eterna devia guardar os mandamentos? Estaria Jesus ensinando a salvação pelas obras? Absolutamente que não! Jesus estava dando uma resposta judaica. Ele respondeu como qualquer rabino judeu responderia. A resposta de Jesus deve ser mais ou menos assim: Porque você me pergunta como herdar a vida eterna? Vocês fariseus não vivem pregando que para se herdar a vida eterna basta guardar os mandamentos? Então faz o que você ensina. Guarda os mandamentos e terás a vida eterna.
          Diante da resposta de Jesus o rapaz coloca todo o desespero e insegurança de quem depende de suas obras para a salvação de sua alma mas que conhece profundamente a própria natureza pecaminosa: “Tudo isso eu tenho feito desde de pequeno mas não posso crer que seja suficiente”
          Diante de tal desespero Jesus afirma ao rapaz que apenas uma coisa lhe faltava para obter a vida eterna: “Vender tudo o que possuía e dar aos pobres e depois seguir a Jesus”. Com essas palavras Jesus encerra a conversa e o encontro com esse jovem rico que sai sem entender nada. Como que uma riqueza ganha honestamente pode interferir numa busca sincera pela eternidade? Não seria suficiente viver do modo íntegro diante de Deus e dos homens? Parece-nos que aquele jovem saiu desapontado.
          O que fica para nós como lição desse encontro?
1- Pessoas que apresentam integridade moral não tem garantido a coerência espiritual
          O jovem em questão era alguém de elevado caráter moral. Nem  mesmo Jesus o questiona quando ele se coloca como um rigoroso observador da Lei. Era um jovem que havia aprendido o valor de uma tradição e seguia essa tradição com todas as suas forças. Esse jovem guardou seu coração de muitos pecados de modo que era tido como respeitável em sua sociedade e quem poderia dizer ao contrário?
          Como esse jovem existem muitos. Pessoas íntegras ao extremo. Excelentes pais, bons cônjuges, cidadãos exemplares, colaboradores do bem e da ordem. São pessoas as quais olhamos e pensamos: “no céu deve ter um lugar reservado a esse camarada!”.
          Embora existam pessoas com um caráter ilibado, sobre a qual não pese nenhuma acusação capital, pessoas irrepreensíveis no que tange a moral, temos que reconhecer que muitas vezes a irrepreensibilidade moral não reflete a coerência espiritual. Se não vejamos: aquele jovem mesmo com todas aquelas qualidades, quase merecendo a canonicidade, ainda assim não possuía um relacionamento com Deus que lhe desse segurança de uma vida eterna ao lado desse mesmo Deus. Embora sendo religioso ao extremo, rigoroso em sua disciplina, esse jovem se encontrava longe do amor de Deus. Deus para ele era apenas um juiz, um aferidor de qualidade, o qual ele não tinha certeza de agradar.
          Vejam como é fácil cair nessa armadilha. Desejar o céu, que é a morada de Deus, sem ter um relacionamento pessoal e intimo com ele que nos dê a segurança de que esse relacionamento vai continuar por toda a eternidade.
          O jovem foi muito sincero ao confessar que apesar de todas as suas qualidades ainda se sentia inseguro quanto a sua salvação, por que ao contrário do jovem, também podemos observar pessoas que possuem o mesmo caráter mas acham que merecem o céu porque existem muitos piores do que ele. Pessoas que não tem um relacionamento com Deus, mas acham que Deus vai ter que engoli-los porque eles alcançaram o céu através de seus méritos. Que vã ilusão.
          Por outro lado temos aqueles que pensam gozar de um relacionamento com Deus mas não possuem qualquer qualidade moral, vivem se envolvendo nos mesmos pecados há anos, confessam a Deus com a boca mas negam-lhe o poder pelas atitudes, porém vivem se jactanciando de que vão para o céu.
          Temos falado até aqui que integridade moral não é coerência espiritual e a coerência espiritual nada mais é do que viver conforme o Deus que professamos crer. É justamente aqui que vemos a incoerência espiritual do jovem, pois quem deseja esse Deus deve confiar nele e não nas riquezas.
2- Pessoas que desejam a eternidade podem ficar apegadas as coisas terrenas.
          O jovem se mostrou muito interessado na vida eterna. Ele correu atrás de Jesus e quando o encontrou se colocou de joelhos, essas atitudes são atitudes de alguém que está interessado, buscando, procurando ansiosamente por algo. O que este jovem procurava com tamanha avidez? Ele procurava o caminho do céu, a vida eterna. Pode existir preocupação mais legítima do que esta? Creio que não. A preocupação com a eternidade deve estar no coração de todas as pessoas, sejam crianças, adolescentes, jovens, adultas e idosas. A eternidade está no coração do homem.
          Jesus viu que o coração daquele jovem ansiava pela eternidade. Mesmo jovem se mostrava zeloso em guardar a Lei de Deus, mas Jesus também observou que faltava alguma coisa para aquele jovem, apenas uma coisa: ele precisava vender todos os seus bens e dá-los aos pobres. Ao ouvir esta afirmação de Jesus o jovem se entristeceu o foi embora. Eram muitas as suas riquezas, desfazer-se delas era desfazer-se de toda a sua vida.
Jesus não era contra a riqueza, nem tão tem essa palavra como plano para todos os seus seguidores, mas quando as riquezas tomam o lugar de Deus em nossas vidas só há um jeito de exorcizar a avareza é distribuir nossas riquezas para que o dinheiro não encontre o caminho de nosso coração.
          As riquezas para aquele jovem era sua identificação, como já dissemos, perde-la seria como perder a própria vida. Prova disso é que os evangelhos o identificam como “um jovem rico”, ninguém sabe nem o nome dele. Sua riqueza era a sua própria identidade.
          Quando Jesus pede para que sejam vendidas as suas riquezas, ele quis mostrar mais uma grande contradição na vida desse rapaz: Como alguém pode estar tão preocupado com a vida eterna e ao mesmo tempo tão apegado as coisas terrenas?”.
          Meus queridos, essa mesma contradição, em menor ou maior grau, também é encontrada em cada um de nós. Eu não duvido que todos tenhamos o céu como grande alvo e esperança, mas também não duvido que são muitas as amarras que nos prendem a essa vida. Claramente podemos perceber nesse jovem a avareza reinando em seu coração a ponto de preferi-la do que ao céu.
Quantos de nós também não enfrentamos a avareza dominando nossa generosidade de modo que retemos nossa contribuição missionária, nosso dízimo, nossa ajuda ao necessitado?
Quantos de nós também não enfrentamos a avareza dominar nossa moral de modo que parte do dinheiro que ganhamos é ilícito?
          E quantos de nós, mesmo desejando o céu, vivemos com a mente dominada pela lascívia e impureza.
          E quantos vivem a ambigüidade de desejar o céu mas guardar em seu coração o ódio, rancor, ira e a falta de perdão?
          Quantas e quantas vezes soltamos as asas de nossa imaginação tentando chegar ao céu mas ficamos presos pelas amarras desse mundo?
          Aquele jovem precisava vender suas propriedades e dividir suas riquezas com os pobres, e nós, o que precisamos fazer? O que é que nos falta? Do que nós precisamos abrir mão para seguirmos Jesus verdadeiramente tendo a certeza de que realmente temos um lugar no céu?
          Aquele jovem encerrou o diálogo e foi embora triste porque tinha muitas riquezas e as amava demais para abandona-las, eu espero que a nossa história não termine assim nesta noite. Que estejamos dispostos a abrir mão de tudo o que Jesus nos pedir (arrogância, ganância, orgulho, prepotência, avareza, maledicência , lascívia, impureza, rancor, ódio, falta de perdão, mágoa, inveja, ciúmes, contendas, malícia) para que realmente nada seja mais importante do que o céu, para que nada venha ocupar o lugar de Deus em nossa vida.
3-Pessoas podem se unir a Deus não por sua bondade mas pela sua utilidade.
          Quando o jovem se aproximou de Jesus ele o chama de bom. Jesus responde que somente Deus é bom. Será que de fato o jovem acreditava na bondade de Deus? Infelizmente a bondade de Deus é muitas vezes reconhecida e proclamada, mas poucas vezes vivida e experimentada. Desde a queda no Éden, a serpente vem tentando mostrar que Deus não é tão bom assim, ele está sempre tentando nos privar de algo. De lá para cá nossa visão da bondade de Deus ficou distorcida, somente conseguimos entender a bondade de Deus quando ele não nos nega nada. Basta Deus negar um de nossos desejos e toda a sua bondade é questionada.
          Quando aquele jovem chegou a Jesus, numa linguagem moderna, ele já tinha feito a vida, estava com a vida feita, burro na sombra, futuro garantido. Existiria melhor hora para se preocupar com a eternidade? Aliás quase todas as pessoas pensam que a hora de se preocuparem com o eterno, espiritual e religioso é quando já conseguiram uma posição confortável na vida. Assim foi com o jovem. Agora ele podia se aventurar pois tinha como se financiar, se qualquer coisa desse errada, ele teria dinheiro suficiente para bancar qualquer situação adversa. Quando ele se aproximou de Jesus ele tinha por trás uma garantia. Agora quando Jesus mexeu nessa garantia o jovem desistiu da caminhada.
          De fato Deus era bom para o jovem? Poderia ele se entregar aos seus cuidados? Na verdade o jovem não acreditava na bondade de Deus e sim em sua utilidade. Pensava o jovem que Deus não era tão bom a ponto de suprir os mínimos detalhes de sua vida, mas era útil desde que era o único caminho que conhecia para a eternidade.
          Isto me faz pensar na quantidade de pessoas que suportam a vida cristã, aturam a Igreja, toleram a Bíblia e seus ensinamentos não porque vêem nisso a bondade de Deus e sim a utilidade desse caminho que conduz a vida eterna.
          De fato, queremos o melhor de Deus mas não nos abandonamos em suas mãos e aos seus cuidados, desejamos a vida eterna mas não abrimos mãos de nossos tesouros aqui na terra, queremos viver nos céus com os irmãos mas nossas companhias na terra são os ímpios que habitarão no inferno. Para muitas pessoas Deus é bom porque é útil, mas quando não vemos em sua vontade uma utilidade que nos favoreça não temos a menor dificuldade em dar as costas a Deus e seguir nosso caminho até que uma outra utilidade comum nos uma com ele. Uma fé coerente é uma fé de auto- abandono na bondade de Deus, que descansa nessa bondade. A eternidade começa quando aceitamos descansar no amor e bondade de Deus.
           
          Que Deus abençoe a sua Palavra!

Amém!

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