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quinta-feira, 11 de outubro de 2018

CRISTÃOS E MUÇULMANOS





  As duas maiores culturas religiosas podem conviver em paz

Jerald Whitehouse  Diretor do Global Center for Adventist-Muslim Relations, em Loma Linda, Califórnia.

Os últimos cinqüenta anos testemunharam um crescente conflito entre nações e pessoas muçulmanas e o ocidente, sulminando com  os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. O que está por trás do conflito e o que pode ser feito para pôr-lhe um fim?
Pessoas sob ataque naturalmente se unem contra o inimigo comum. Esse comportamento é um fenômeno humano. Durante décadas ou mesmo séculos, o Islã (em especial o mundo árabe) tem se considerado sob ataque. E, do mesmo modo como nossa política às vezes cria aliados estranhos, a reação defensiva dos muçulmanos também tende a juntar liberais e moderados com radicais e fundamentalistas.
Memória -  O que tem gerado a reação defensiva dos muçulmanos?  Para responder essa pergunta, temos de rever alguns fatos históricos  da perspectiva muçulmana.  Primeiro, porém, um lembrete:  devemos entender a diferença entre o sistema religioso em si e  os seguidores que o distorcem e o usam para atender seus próprios interesses.
Quase todas as religiões defendem a paz, a tolerância e o respeito. Contudo, é um fato histórico que mais sangue tem sido derramado nas chamadas guerras religiosas, incluindo as guerras “cristãs”, do que sob qualquer outra bandeira. A religião deveria aumentar a paz e a segurança. Porém, é freqüentemente usada para fins políticos, tornando-se uma força para o ódio, a intolerância e o derramamento de sangue.
Ninguém é inocente nesse aspecto. Cerca de quatrocentos anos após o inicio do cristianismo, a eliminação dos hereges tornou-se um esporte. A “ortodoxia”alvejava judeus e cristãos dissidentes. A igreja cristã ocidental (romana) excomungou e perseguiu durante a igreja cristã  oriental (nestoriana). E apesar do tratamento relativamente generoso que o Islã dispensava aos cristãos orientais, ele logo foi incluído na lista dos hereges e infiéis. Mais tarde, o cristianismo chegou a seu nível mais baixo. Ondas de cruzados invadiram o Oriente Médio para libertar a Terra Santa dos “infiéis” judeus e muçulmanos.
No livro Christian and Jews Under Islam (Cristãos e Judeus Sob o Islã), Youssef Courbage e Philippe Fargues  afirmam  que o quadro pintado pelos cruzados de uma população cristã perseguida na Palestina, unida na adversidade e esperando libertação de Roma, era falso. “ Embora na época os muçulmanos formassem uma pequena maioria na Síria  e na Palestina, eles viviam em clima de coexistência com os cristãos; havia muito menos tensão do que os europeus queriam crer”
Quando a primeira cruzada  conseguiu   o controle de Jerusalém em 1909, nenhum muçulmano ou judeu foi deixado vivo na cidade. Em contraste, quando o muçulmano Saladino (Salah ed Din) reconquistou Jerusalém, em 1187, ele ordenou que a matança cessasse. Nenhum  judeu ou cristão civil foi agredido, e nenhuma propriedade foi danificada.
“A memória das Cruzadas continua no Oriente Médio e colore as percepções que os muçulmanos têm da Europa”, diz  A.S. Ahmed. “É  a memória de uma Europa agressiva, em decadência e religiosamente fanática. Essa memória histórica seria

reforçada nos séculos 19 e 20, á medi­da que os europeus imperiais nova­mente chegaram para subjugar e colo­nizar os territórios no Oriente Médio.”
Atualmente, as políticas externas do Ocidente em relação ao Oriente Médio são vistas como uma continuação das Cruzadas. Os dois aspectos mais incendiários são:
1)        o fracasso do Ocidente em assegurar que os palestinos tenham o seu próprio estado, enquanto garante esse direito a Israel e
2)        a presença, desde a Operação Tempestade no Deserto, de tropas estrangeiras no solo árabe, que os muçulmanos consideram sagrado.
O lugar mais sagrado do Islã é a área ao redor de Meca e especificamente a Ka’aba na grande mesquita em Meca. Os muçulmanos consideram a presença de tropas americanas na Arábia uma profanação desse lugar sagrado. Na seqüência, os outros lu­gares sagrados mais importantes são o Domo da Rocha e a mesquita Al Aqsa em Jerusalém. Os cristãos profanaram ambos os lugares, que ainda permanecem sob a soberania não-islâmica.
Da perspectiva ocidental, essas são apenas questões políticas. Porém, o muçulmano médio as vê como questões religiosas, e o muçulmano militante acredita que elas confirmam que o cristianismo fanático está buscando dominar e des­truir a fé islâmica. Por isso, a resposta aos neocruzados deve ser a jihad: os muçul­manos devem lutar até expulsar o último invasor, não importa quantos mártires caiam ou quanto tempo demore.
Há outro elemento nessa mistura vo­látil. Os muçulmanos sentem que a mo­ralidade ensinada pelo Islã está sendo ameaçada pelo hedonismo e o materia­lismo que o Ocidente tem exportado para dentro de seus próprios lares atra­vés da mídia e do domínio econômico.
Este sumário não tem, é claro, o objetivo de justificar as atitudes e ativida­des militantes atuais. Não há justificati­va para atos terroristas e abusos dos di­reitos humanos que sacrificam vidas inocentes. O mal não conhece fronteiras de credo ou religião; ele continua sendo mal em qualquer lugar. Contudo, en­tender esses aspectos é importante para perceber o contexto da reação islâmica.
Embora a maioria dos muçulmanos possa discordar do terrorismo, sua moti­vação acha ressonância entre eles. A percepção de estar sob ataque e precisando se unir contra a ameaça comum torna di­ficil falar contra as iniciativas intoleran­tes. Mesmo assim, alguns muçulmanos estão condenando a violência. Depois de 11 de setembro, houve encontros inter-religiosos em mesquitas por iniciativa de lideres muçulmanos. Eles criaram uma organização (Muçulmanos Contra o Terrorismo) com o expresso objetivo de res­gatar a verdadeira identidade islâmica da ideologia dos extremistas.

Ações -  Assim, com base na Bíblia e nos fa­tos, como devemos responder? Primeiro, devemos reconhecer que a retórica pre­conceituosa que pinta qualquer dos la­dos como enraizado na violência contra­ria os fatos históricos e torna as coisas ainda piores. Além disso, alguns têm dito que mostrar compaixão em certas cir­cunstâncias é covardia. Mas isso é uma séria distorção da mensagem bíblica. A tentativa de justificar a violência como um legitimo meio de restaurar a justiça cai na mesma armadilha que motivou os atos violentos originais. Aqueles que apóiam uma resposta violenta se aproxi­mam perigosamente do uso da religião para fins políticos. Esse não é o método de Deus lidar com a rebelião.
Então, o que deveríamos fazer? Aqui estão algumas sugestões práticas:
• Devemos apoiar o esforço dos muçulmanos para dialogar com outras religiões e promover a compreensão e o respeito mútuo. Onde possí­vel, deveríamos ser parceiros de mesquitas locais em iniciativas que bus­quem restaurar e preservar os valores comuns e a qualidade de vida.
•  Devemos incentivar os muçulmanos a falar contra o terrorismo através de organizações como os Muçulmanos Contra o Terrorismo (wwwmatusa.org).
• Devemos eliminar de nosso vo­cabulário palavras ofensivas quando usadas em relação aos muçulmanos, como “infiel” e “pagão”.  Para um muçulmano, o uso da palavra “cruzada” em conexão com a pregação das cren­ças cristãs é tão ofensivo como falar do “evangelho da limpeza étnica”.
• Devemos perceber que a lingua­gem que retrata o reino de Deus como sendo o domínio das nações cristãs sobre outras nações é triunfalista e não-bíblica. Nossa batalha não é contra o Islã, mas contra o mal. Além disso, Cristo disse que o Seu reino não é deste mundo (João 8:36).
• Devemos ser uma força curadora no meio do caos —  uma força de re­conciliação entre os povos e entre as pessoas e Deus.  Somos embaixadores da reconciliação, mediando o amor de Deus, curando e perdoando em um mundo fragmentado pelo egoísmo, a vingança, o ódio e a desconfiança.
A situação atual é caracterizada por vingança e mais vingança. Essa é a res­posta “certa” numa sociedade caracte­rizada pelo esquema vergonha/honra. Mas esse tipo de resposta produz apenas uma escalada de trágicos eventos. Embora o pecado e a rebelião tenham envergonhado o universo de Deus, Deus não depende do método humano da vingança para restaurar a honra.
A parábola do Filho Pródigo mostra a maneira de Deus lidar com a rebelião. Ela conta a história de um filho que envergonha seu pai. A sociedade do Oriente Médio espera que e pai deser­te o filho. Mas, em vez disso, o pai chora e ora por ele. Quando vê o filho vindo á distância, ele não se importa de correr para abraçar o filho maltrapilho, mesmo sabendo que isso será motivo de vergonha. O pai cobre o filho com o símbolo de sua bondade, restaura a sua honra e programa uma celebração.
Para quebrar o atual ciclo de vingan­ça, os cristãos precisam primeiro entender como Deus restaura a honra e então comunicar esse quadro de Deus ao mundo. Claro, é preciso diminuir a pos­sibilidade de mais terrorismo e proteger a vida de pessoas inocentes. Mas o papel básico dos cristãos é proclamar o método divino de restaurar a honra, O povo da Bíblia deveria estar na vanguarda do alívio ao sofrimento, mediando o conflito e promovendo a reconciliação.
Cristãos e muçulmanos podem vi­ver em paz, se ambos seguirem o melhor de sua religião.

Sinais dos Tempos         Julho-Agosto/2002


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