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quarta-feira, 10 de outubro de 2018

A MULHER ADULTERA ERA MARIA MADALENA?




Mulher adúltera

Podemos identificar a mulher adúltera de João 8:1-11 como sendo Ma­ria Madalena?

A maioria dos manuscritos antigos do Evangelho de João não contém o texto de João 7:53 a 8:11, onde aparece o relato sobre “uma mulher surpreendida em adultério” (8:3). Mas existem evidências suficientes para crermos que esse relato descreve um incidente genuíno na vida de Jesus, que enfatiza a mesma graça salvadora manifesta no diálogo com a mulher samaritana (João 4:1-42), na parábola do fi­lho pródigo (Luc. 15:11-32) e na história de Maria Madale­na (João 1~l-8) Ellen White considera o relato de João 8:1-11 uma experiência real, como pode ser observado em O Desejado de Todas as Nações, págs. 460-462; A Ciência do Bom Viver, págs. 86-89; dois artigos na Review and Herald de 25 de novembro de 1902 e 6 de setembro de 1906; e ou­tro artigo na Signs of the Times de 23 de outubro de 1879.
A tentativa de identificar a mulher surpreendida em adultério como sendo a “Suzana” mencionada em Lucas 8:3 não passa de mera conjectura, pois nem o relato bíbli­co e nem os comentários de Ellen White mencionam o nome dessa mulher. Ellen White sugere que a mulher era casada (o Desejado de Todas as Nações, pág. 461) e que fora induzida “ao pecado” pelos seus próprios acusadores com a intencão de “armar uma cilada para Jesus” (Review and Herald, 25 de novembro de 1902). Mas o encontro dela com o Salvador marcou “o início de uma nova vida, vida de pureza e paz, devotada ao serviço de Deus”, transfor­mando-a em um dos “mais firmes seguidores” de Jesus (O Desejado dc Todas as Nações, pág. 462) e “um dos mais re­solutos amigos de Jesus” que esteve com Ele mesmo “ao pé da cruz” por ocasião da crucifixão (Signs of  the Times, 23 de outubro de 1879).
Já Maria Madalena é identiticada nos Evangelhos como a pessoa de quem Jesus expulsou “sete demônios” (Mar. 16:9; Luc. 8:2). e que presenciou a crucifixão e o sepulta­mento de Cristo (Mat. 27:56, 61; João 19:25). Foi a ela que Cristo apareceu primeiro depois de ressuscitado, tornan­do-se a primeira porta-voz da ressurreição (Mat. 28:1-10; Mar. 16:1-11; Luc. 24:1-11; João 20:1-18). Comentaristas bíblicos questionam, porém, se a unção de Jesus menciona­da em Lucas 7:36-50 seria a mesma registrada em João 12:1-8 (ver também Mat. 26:6-13; Mar. 14:3-9), realizada por Maria Madalena.
Em harmonia com uma antiga tradição cristã, Ellen White confirma que foi realmente Maria Madalena que un­giu com perfume a Jesus no banquete na casa de Simão (O Desejado de Todas as Nações, pág. 566). Somos informados pela mesma autora que Maria Madalena era a irmã de Mar­ta e Lázaro (ibid., pág. 568), e que ela fora induzida “ao pe­cado” pelo próprio Simão (ibid., pág. 566). Além disso, ela “foi a última a deixar o sepulcro do Salvador, e a primeira a ser por Ele saudada na manhã da ressurreição” (O Maior Discurso de Cristo, pág. 129).
A tentativa de identificar Maria Madalena como sendo a mulher surpreendida em adultério (João 8:1-11) é passí­vel de contestação. Em primeiro lugar, como já menciona­do, nem a Bíblia e nem Ellen White jamais chamam esta mulher de Maria Madalena. Nem mesmo o Seventh-day Adventist Bible Commentary e nem os demais comentários sobre o Evangelho de João consultados na pesquisa para este artigo fazem tal associação. A existência de uma tradi­ção cristã antiga que corroborasse essa associaçao parece descartada por Carmen Bernabé Ubieta em sua obra Maria Magdalena: Tradiciones en el Cristianismo Primitivo (Estella, Espanha: Verbo Divino, 1994), onde nem ao menos apa­rece qualquer alusão ao texto de João 8:1-11.
Por outro lado, John Fisher, um dos oponentes de Lu­tero, publicou em 1508 uma exposição homilética na qual ele identificava Maria Madalena como sendo a mulher sur­preendida em adultério (Jaroslav Pelican, The Christian Tradition, vol. 4, pág. 131). Mais recentemente, Morris Ven­den popularizou essa interpretação nos meios adventistas através do seu livro Como Jesus Tratava as Pessoas (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1989), capítulo 2. Mas a abordagem de Venden é igualmente homilética, sem quais­quer tentativas de comprovação para suas idéias.
Alguém poderia buscar endosso para a referida asso­ciacão nas declarações de Ellen \Vhite, acima mencionadas, onde ela fala da mulher surpreendida em adultério como uma das mais dedicadas seguidoras de Cristo e como uma das mulheres que permaneceu ao pé da cruz por ocasião da crucifixão. Mas não podemos nos esquecer que Maria Ma­dalena não foi a única mulher com essas características (ver Luc. 23:44-56).
Seja como for, qualquer tentativa de identificação entre a mulher surpreendida em adultério com Maria Madalena não passa de mera inferência não sugerida explicitamente pelo texto bíblico ou pelos escritos de Ellen White. Portan­to, essa teoria deveria ser considerada uma opinião pessoal de quem a advoga, sem o apoio dos comentaristas bíblicos.

—     Alberto R. Timm, diretor do Centro de Pesquisas Ellen VVhite do Unasp, Campus 2, Engenheiro Coe/lia, SP.

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