Youtube

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

OBRAS DA CARNE: COMO VENCÊ-LAS?

Obras da carne:
como vencê-las?
O Espírito Santo está pronto a nos libertar da lei do pecado e da morte
por José Carlos Ramos


 Ellen G. White aconselha a não considerarmos levianamente o pecado, como se fosse algo de pouca importância, pois ele é ex­cessivamente ofensivo aos olhos de Deus. (Testemunhos Seletos, vol. 1, pág. 334). O pecado deve ser reconhecido em toda a sua hediondez. Ele não é apenas o causador de toda a miséria no mundo e um fator de ruína eterna; ele custou nada menos que a vida do Filho de Deus para que pecadores fossem sal­vos! “Unicamente o Calvário pode re­velar a terrível enormidade do pecado.” —                          O Maior Discurso de Cristo, pág. 116.
A cruz comunica a visão correta da “terrível enormidade do pecado”, visão que se expande numa reflexão ponderada nos escritos inspirados. Afinal, cada página sagrada denuncia o pecado. O salmista afirma que Deus ordenou Seus “mandamentos, para que os cumpramos à risca” (Sal. 119:4), porque Ele revelou o alcance de Sua lei, cujos imperativos excedem o sentido literal das palavras. Segundo Jesus, o “não matarás” e o “não adul­terarás” não requerem o ato do homi­cídio e do adultério como forma ex­clusiva de transgressão; esta ocorre a partir do simples sentimento pecami­noso (Mat. 5:22 e 28).
Uma vez convertido, Paulo obteve o conhecimento da lei através de uma demorada apreciação de Cristo (pre­cisamente o que transparece em Ro­manos 7:7-24). Legou-nos ele precio­sas informações quanto ao caráter “sobremaneira maligno” (v. 13) do pecado. Aos crentes da Galácia, que estavam se deixando levar pelo lega­lismo, o apóstolo deixou entrever que só o genuíno evangelho atinge os re­cônditos mais ocultos da alma (onde o pecado costuma se esconder), pois é por ele que o Espírito de Deus, que a tudo penetra e que convence do peca­do (ver João 16:8), é outorgado ao pe­cador (Gál. 3:2 e 5).
O ponto alto da epístola aos Gála­tas é galgado a partir de 5:16, com as palavras “andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne. Em seguida, Paulo contrasta as obras da carne, que caracterizam uma vida sem Deus, com o “fruto do Espírito”, genuína evidência de uma vida a Ele consagrada. O ápice é atingido no verso 24, com a solene declaração:
“Os que são de Cristo Jesus crucifica­ram a carne, com as suas paixões e concupiscências”. O problema é que constantemente “a carne” intenta des­cer da cruz e readquirir o domínio perdido, o que justifica as palavras do verso 17, referentes à peleja dela con­tra o Espírito, e do Espírito contra ela. É necessário constante vigilância.
Consideremos o significado de ca­da “obra da carne”, através de uma bre­ve análise da palavra originalmente usada pelo apóstolo para caracterizá-la.

Obras da carne * Leia Gálatas 5:19-21. Ali, as obras da carne são relacio­nadas nesta seqüência:
Prostituição. Sabemos o que esta palavra significa. Ela é a versão do grego porneia, que aparece 26 vezes no Novo Testamento, e deve ser vista em comparação com moicheia, sem­pre vertido “adultério” em nossas Bí­blias. O primeiro termo tem um sen­tido mais abarcante. Embora em al­guns textos sejam ambos citados dis­tintamente, como em Mateus 15:19 e Marcos 7:21 e 22, devemos entender que porneia envolve diferentes atos imorais, sendo , moicheia um deles. Porneia, em seu amplo sentido, signi­fica qualquer desvio da conduta se­xual orientada por Deus, “irregulari­dade sexual em geral” (F. F. Bruce, Commentary on Galatias, pág. 247). Portanto, além do adultério, estariam incluídos aqui masturbação, narcisis­mo, homossexualismo, lesbianismo, fornicação, etc.
Impureza. Akatharsia faz referên­cia à impureza física ou material (co­mo em Mat. 23:2 7), e especialmente à de natureza moral, como em Gálatas, e em mais oito textos do Novo Testa­mento, a maioria dos quais, senão to­dos, relaciona o termo com conduta sexual. Logo, o termo também envolve o mau uso do sexo; e qualquer coisa que produz pensamentos impuros e suscita sentimentos corrompidos está aqui envolvida. Isso incluiria literatura e espetáculos pornográficos, piadas indecentes e coisas do gênero. “A im­pudicícia [porneia] e toda sorte de im­purezas [akatharsia], nem sequer se nomeiem entre vós... Porque o que eles [os ímpios] fazem em oculto, o só referir é vergonha” (Efés. 5:3 e 12). É ­nos dito que “Deus não nos chamou para a impureza [akatharsia], e sim para a santificação” (1 Tess. 4:7).
Lascívia significa luxúria, sensualismo, lubricidade, incontinência, concupiscência, etc. O original grego registra aselgeia, termo que indica falta de restrição (o sentido de incontinêcia acima) e conduta desavergonhada (“brincadeiras de mau gosto” poderão estar aqui incluídas; lascivo, em Português, significa também brincalhão, tra­vesso). Em II Pedro 2:7, aselgeia deno­ta o comportamento de sodomitas.
Idolatria, a adoração de ídolos. O grego eidololatria significa etimologi­camente “a serviço do ídolo”; de fato, o idólatra vive em decorrência do ídolo que adora e é escravo de seus capri­chos. Mais que a um falso deus repre­sentado por um pedaço de pedra, pau, etc., o termo aponta para qualquer coi­sa a que devotamos aquela profunda afeição e interesse que são justos ape­nas se direcionados a Deus. É-nos dito, por exemplo, que a avareza é idolatria (Col. 3:5). Assim, qualquer coisa que tome o lugar de Deus é um ídolo.
Feitiçaria, pharmakeia, de onde procede “farmácia”. O feiticeiro pre­parava “poções” de determinadas plantas, muitas das quais inebriantes, e sobre as quais, com o uso de amule­tos, fazia “encantamentos” invocando os “poderes ocultos”. Muito dessas po­ções era para envenenar. Não estariam envolvidos aqui os produtos tóxicos, entre eles, o cigarro e o tradicional ca­fé? Além, é claro, de tudo aquilo que se relaciona diretamente com o reino das trevas, coisas como bruxaria, espi­ritisnio, culto afro, vodu, e itens afins, e todo o material ligado ao terror, ao vampirismo, etc., fartamente coloca­do à disposição pela mídia.
Inimizades, echthrai, da mesma raiz de echtos, ódio. Envolve qualquer sentimento de antagonismo no rela­cionamento humano, inclusive o pre­conceito racial. É exatamente o opos­to de agape, o amor em seu modo mais sublime e altruísta. A única ini­mizade que o cristão nutrirá é para com o pecado (Tia. 4:4); nunca para com o pecador.
Porfias, eris, qualquer tipo de contenda, incluindo discussões e de­bates acalorados em torno de qual­quer assunto, mesmo religioso, carac­terizados por atitudes que fogem à moderação e ao equilíbrio. Enquanto échthrai tem mais a ver com senti­mentos guardados no íntimo, eris é a forma como eles se expressam. É exa­tamente o oposto de paz.
Ciúmes, zelos, de onde provém a palavra zeloso. “Ciúme” tem conota­ção negativa e positiva; no grego, o termo envolve a idéia de ardor, incon­fomação ou não acomodação com al­guém ou algo (que pode ser um esta­do, uma circunstância), que se rela­ciona com a pessoa com zelos. Como obra da carne, o termo denota um sentido negativo, o ciúme doentio, um sentimento irracional manifestado no receio mórbido de se perder alguma coisa, e que pode conduzir a conse­qüências imprevisíveis.
Iras, thymoi, forte emoção mental proveniente de indignação íntima, aqui no plural por ênfase na forma co­mo normalmente é expressa: através de palavras impetuosas e gestos ou atos violentos. Mencionada logo após “ciúmes”, pode incluir a maneira co­mo estes geralmente se manifestam.
Discórdias, eritheiai, encerra o sentido de ambição, rivalidade e con­corrência, como evidência de dispo­sição contenciosa e dissidente, o que resulta automaticamente em divisões e formação partidária. Neste ponto, épertinente a pergunta: a dissidência doutrin ária, hoje verificada em nosso meio, não teria nesse espírito a sua origem?
Dissensões, dichostasia, com o sentido de algo ou alguém que se po­siciona à parte, desunido, em separa­do, portanto que diverge da opinião geralmente aceita. Pode ser perfeita­mente traduzido como “sedições” ou “contendas”, e se manifestam como fruto da obra da carne “discórdias”, mencionada anteriormente. Uma das advertências mais sérias da Bíblia nos lembra que a alma de Deus simples­mente abomina “o que semeia conten­da entre irmãos.” (Prov. 6:16, 19). Não é por acaso que somos exortados a nos afastar daqueles que provocam “divi­sões” (dichostasia) “em desacordo com a doutrina” revelada (Rom. 16:17).
Facções, haireseis, da raiz do ver­bo hairéos, tomar para si, escolher. De hairesis procede o português “heresia”, a qual é uma questão de opinião pró­pria, de preferência pessoal, em lugar da submissão à verdade, o que acaba dividindo ou formando uma facção, um partido. Esta obra da carne está sendo hoje muito usada por Satanás para enfraquecer o corpo de Cristo, a Igreja. Ele sabe que uma casa dividida não permanecerá (Mar. 3:25).
Invejas, phthonoi, o sentimento de desprazer pelo bem alheio, mani­festado por um duplo e ardente dese­jo: tomar esse bem para si e ver aque­le que o possui desprovido dele. Ë ca­minho aberto para a transgressão do décimo mandamento e posteriormente, do oitavo. A inveja se liga a um bem alheio, e nisto se distingue do ciúme, que se liga a um bem próprio.
Bebedices, methai, da raiz de me­thu, vinho temperado. Aplica-se ex­clusivamente a bebidas intoxicantes. O termo é vertido “embriaguez” em Lucas 21:34.
Glutonarias, komoi, termo alusi­vo a qualquer tipo de celebração, nes­se caso, profana e lasciva, onde se co­me desmedidamente. Talvez o após­tolo tivesse em mente a repulsiva prá­tica romana do uso do “vomitório”:
os convivas enchiam o estômago e iam a um setor com esse nome para esvaziá-lo; então voltavam à mesa pa­ra reabastecer. A menção da anterior e desta “obra da carne” se traduz num eloqüente apelo à necessidade de tem­perança no beber e no comer.

Conclusão Paulo não esgota as obras da carne. As palavras “e coisas semelhantes a estas” (Gál. 5:21) indi­cam que elas são tão vastas quanto o próprio pecado. Não devemos esque­cer a advertência que ele faz aqui: “não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam”.
Como não praticá-las, se somos carnais, vendidos “à escravidão do pe­cado” (Rom. 7:14)? O segredo é sim­ples: O Espírito Santo está pronto a nos libertar da lei do pecado e da mor­te (8:2), se Lhe rendemos o coracão.
Segredo fácil de ser entendido, mas, pela obstinação humana e apego a idéias insensatas, difícil de ser cum­prido. Os infelizes que negam a perso­nalidade e divindade do Espírito San­to, por exemplo, negam o único re­curso para vencer o pecado. Infelizes, porque continuarão carnais e, preci­samente por isso, perdidos.
“Não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as.” (Efés. 5:11).

José Carlos Ramos é diretor do programa de pós-gradução do SALT Unasp Campos 2, em Engenheiro Coelho, SP

                    Revista Adventista, dezembro 2003

Sem comentários:

Enviar um comentário

VEJA TAMBÉM ESTES:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...