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sexta-feira, 12 de outubro de 2018

A BUSCA DE DEUS NO MUNDO PÓS-MODERNO



Busca de Deus


A espiritualidade cristã no mundo pós moderno

deve incluir os aspectos da vida
Jonh B. Wong
Professor na Universidade de Loma Linda

A



palavra “espiritualidade” tem estado em voga nos últimos anos, tornando-se popular na mídia, na Cultura secular e nos círculos religiosos. Muitas pes­soas estão fascinadas por anjos, ex­periências de quase-morte e a filoso­fia da Nova Era. Adeptos da Nova Era proclamam que todos nós somos deuses. Outros sugerem que pode­mos reivindicar as prerrogativas da divindade através de experiências como meditação transcendental, ar­tes marciais, ioga, drogas, hipnose, comunicação com os mortos e per­cepção superior. Recentemente, as religiões orientais e as nativas norte-americanas têm cativado muitos com suas nuances panteistas.
Assim, como pode a espiritualida­de cristã se enquadrar no mundo pós-moderno, que enfatiza franqueza, re­-lativjsmo e ceticismo acerca de verda­des, normas, significados, conheci­mento e razão? Qual é o lugar da es­piritualidade em nossa vila global cada vez menor, onde são levados em conta os relacionamentos e o senso de pertencer?  Qual é seu papel na pós-modernidade, onde há a preocupação com os “marginalizados” e também com o capitalismo consumista?

Significado No mundo “pós-cristão”, existe uma tendência de utilizar ter­mos sem pensar muito a respeito de seu significado. Mas precisamos sa­ber do que estamos falando.
Definir espiritualidade pode ser fácil e ao mesmo tempo difícil. A de­finição fácil diz que espiritualidade se relaciona com qualquer coisa que de­rive do espírito, sugerindo na maioria dos casos um relacionamento íntimo com uma divindade espiritual.
A dificuldade surge quando se compreende que há tantos tipos de espiritualidade quanto de religiões e conceitos da di­vindade. Alguém pode se empenhar na busca da es­piritualidade ou possuí­la sem mesmo acreditar
em uni Deus pessoal. Dentro da cris­tandade existem diferentes conceitos acerca da natureza de Deus. Contudo, a maneira como nos relacionamos com Deus determina em grande parte o tipo e a expressão de nossa espiritualidade.
Diferenças são também evidentes em outras religiões importantes do mundo. As nobres verdades no budis­mo por exemplo, declaram que toda a vida é sofrimento, e esse sofrimento se origina em nossos desejos e aspira­ções. Liberdade do sofrimento é pos­sível pela extinção dessas aspirações e através da Nobre Trajetória de Oito Passos para o nirvana (um estado de eterna felicidade, Livre do ciclo das reencarnações). A Nobre Trajetória expressa a “espiritualidade” budista por meio da correção no falar, agir, vi­ver, na diligência, visão, pensamento, empenho e concentração.
Os confucionistas manifestam es­piritualidade no cultivo pessoal de ren (compaixão, beneficência, humansmo),  yi (retidão, justiça),  li (deco­ro, discrição),  xin (fé, confiança),  zhi (sabedoria, percepção), zhong  (fideli­dade, lealdade),  shu (perdão, brandu­ra),  wen (cultura, conquista artística) e hsiao (devoção filial, dedicação).
Os muçulmanos seguem os Cinco Pilares do islamismo: repetição do credo, oração, esmolas para os po­bres, jejum e peregninação a Meca.
A espiritualidade cristã, sob meu ponto de vista, consiste no seguinte:
•    Experimentar um relacionamen­to íntimo e genuíno com Deus no ní­vel do coração.
•   Ser acessível a uma profunda compreensão de Deus e daquilo que Ele criou.
•   Buscar realização por meio de uma vida transformada segundo o pa­drão de Cristo.
•    Estar envolvido em todos os as­pectos da fé cristã expressos na vida diária, adoração pública e devoção particular; no estudo, trabalho, lazer, vida social, relacionamento familiar e serviço a outros.
A espiritualidade é uma expres­são de todo o nosso ser. Deus nos criou como pessoas completas com corpo, mente e espírito (ou alma). Assim, qualquer coisa que afete nosso ser, seja de ordem espiritual, mental, emocional, física ou social, também afeta nossa espiritualidade. Isso inclui genealogia, ambiente, criação, e fatores como gênero, cul­tura, educação, experiência, histó­ria, geografia, arte, música, prefe­rências arquitetônicas, fome, sede, temperatura ambiente, dor, estado de saúde, e assim por diante.
Sendo que cada ser humano é singular, alguém pode argumentar que lia tantas formas de espiritua­lidade quanto de pessoas. Aquilo que a pessoa crê (doutrinas, cre­dos, declarações de fé, tradições da igreja) influencia o modo em que ela expressa sua espiritualidade.

Espiritualidade Cristã —   A palavra traduzida por “espiritual” em nossa Bíblia origina-se da raiz hebraica ruah, que significa fôlego, sopro, espírito, e está vinculada ao que podemos chamar de força da vida. O equivalente grego é pneuma.
Às vezes se confunde espiritualidade com misticismo (no sentido do ensina­mento esotérico, conhecimento secre­to, experiências exóticas e conscienti­zação parapsicológica). Outras vezes ela é confundida com monasticismo (o movimento cristão que requer de seus seguidores uma vida de solidão, renún­cia do mundo, e purificação por meio de jejum, vigílias, pobreza, castidade e obediência). Mas essas expressões par­ticulares de espiritualidade não abran­gem todo o significado do termo.
Espiritualidade é geralmente diferen­te de teologia. Dependendo da definição, a teologia (para a mente) pode incorpo­rar espiritualidade (para o coração). Ou­tras expressões relacionadas são: pieda­de, religiosidade, santidade, discipulado, caminhada com Deus, imitação de Cris­to, presença de Deus e vida santificada. Academicamente falando, a teologia cristã é um estudo objetivo, sistemático das crenças cristãs, da natureza de Deus e de Seu relacionamento com as coisas criadas. Concentra-se em teorias, conceitos e argumentos, desafiando as di­mensões intelectuais da pessoa. Antes do Iluminismo no século 18, teologia e espiritualidade estavam intimamente li­gadas. Depois disso, os eruditos do Ilu­minismo fizeram da teologia uma disci­plina acadêmica, independente do com­promisso religioso e da vida cristã.
O mundo secular de hoje se con­centra na neutralidade religiosa, enfa­tizando a não-interferência com cren­ças pessoais. Há, no entanto, uma tendência recente de novamente rela­cionar teologia com espiritualidade. Alguns teólogos liberais, porém, ain­da consideram espiritualidade como vizinha do fanatismo e do emociona­lismo, influenciando aqueles que es­tão psicologicamente instáveis.

Espiritualidade protestante Existe uma longa lista de personagens e escritos importantes na história da espirituali­dade cristã. A variedade protestante começou com a Reforma. Martinho Lutero (1483-1546) evitava o misticis­mo cristão e acreditava que a vida es­piritual podia ser mantida e intensifi­cada vivendo de acordo com os Dez Mandamentos, a Oração do Senhor e o Credo dos Apóstolos.  João Calvino (1509-1564) escreveu sobre os temas bíblicos justificação, santificação e glorificação como sendo o modelo para a religiosidade pessoal. Calvino ensinou acerca da autoridade e centra­lidade da Bíblia como a Palavra de Deus, da proclamação da Palavra e do preparo do coração humano para rece­bê-la. Mais tarde, seu destaque foi in­corporado na espiritualidade puritana.

Para a Igreja Anglicana (da Ingla­terra), o Livro de Oração Comum, a liturgia pública e a piedade forma­vam o sólido fundamento da vida es­piritual. Os puritanos da Nova Ingla­terra (nos Estados Unidos) pregavam sobre a necessidade que o peca­dor tem de Deus e sua responsabili­dade para com o Criador. Para eles, espiritualidade significava o conflito encontrado na Terra e a bendita es­perança do alem.

DICAS DA BÍBLIA

Veja alguns textos bíblicos que podem orien­tar você na busca da espiritualidade pessoal:
Mateus 4:1 e2: “Então, foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado... tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites.”
Mateus 19:21: Se você quer ser perfei­to, vá, venda os seus bens e dê o dinheiro aos pobres.”
Lucas 9:23: Se alguém quiser acompa­nhar-Me, negue-se a si mesmo.”
João 15:5: “Eu sou a videira, vós os ramos. Quem permanece em Mim, e Eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem Mim nada podeis fazer.”
Ver também Marcos 9:29 (jejum); Mateus 7:13-27 e 1a. Coríntios 9:24-27 (porta es­treita, autodisciplina e sacrifício); Mateus 24:42 (vigilância); Efésios 4:22, Colossenses 3:5 e Galatas 5 (crucificar o eu carnal e a na­tureza pecaminosa e viver pelo Espírito).

Quatro fortes convicções deram co­lorido á espiritualidade puritana: salva­ção pessoal vem unicamente de Deus; a Bíblia é o indispensável guia para a vida (com ênfase no sábado, no culto fami­liar e nos atos de misericórdia); a igreja deve refletir o ensinamento expresso nas Escrituras (e os cristãos fazem uni­camente o que a Bíblia ordena); a socie­dade é um todo unido —   idéia que levou a intolerância de outros grupos cristãos.
John Wesley (1703-1791) e seu ir­mão Charles lideraram a espirituali­dade metodista e o movimento de santidade e promulgaram a música como um instrumento de espirituali­dade. Em suas pregações, John Wes­ley incluía a perfeição cristã e um mé­todo prescrito para o estudo da Bíblia. Os metodistas consideravam as Escri­turas, a tradição, a razão e a experiên­cia como base de crescimento cristão.
Jonathan Edwards e George White­field exemplificaram no primeiro Gran­de Despertamento (1735-1743) uma espiritualidade baseada no calvinismo. Mais tarde, a maioria dos pastores e lei­gos metodistas, batistas e congregacio­nalistas, bem como líderes como Ti­mothy Dwight (diretor da Universida­de Yale), Nathaniel Taylor, Lyman Bee­cher e Charles Finney, adotaram uma abordagem mais arminiana no Segundo Despertamento de 1795-1830.
A Convenção de Keswick chamou a atenção para o vitorioso viver cris­tão. Watchman Nee destacou a vida cristã normal sob o impacto do Espí­rito Santo. O pietismo alemão prati­cado por Philip Spencer (1635-] 705) e Johann Arndt vinculou a espiritua­lidade à fé como um ato tanto do pen­samento como do sentimento, ao passo que a espiritualidade de August Francke, Nikolaus Zinzendorf e dos irmãos morãvios estava munida e de­terminada pelos conceitos da função da humanidade na Terra.
A espiritualidade pentecostal e ca­rismática salienta a iluminação e o impacto direto através do Espírito Santo. Sua expressão é mais visual, vocal, dramática, extraordinária, de­sinibida, espontânea e, de modo ge­ral, imprevisível. Recentemente, te­mos ouvido do riso santo de Toronto, da seita chinesa da lamentação e da comunidade espiritual da Internet.

Espiritualidade adventista Sendo que os adventistas já não são um grupo mo­nolítico, sua espiritualidade também é afetada pelos fatores mencionados. Uma coesiva força central na expres­são da espiritualidade dos cristãos adventistas, contudo, é o sábado com todas as suas ramificações. Os adven­tistas expressam firmemente sua es­piritualidade por meio de sua com­preensão da teologia, da observância da lei, com recente destaque para as­suntos como graça, saúde, integrida­de e Missão Global.
A meu ver, a espiritualidade cristã ideal inclui, entre outros, os seguin­tes aspectos:
1. É teocêntrica e cristocêntrica —  não egocêntrica.
2. Envolve o ser completo espiri­tual, mental, emocional, físico e social.
3. E uma experiência autêntica no nível do coração —    uma efusão natu­ral de nosso sincero desejo de buscar a Deus. Com humildade, reconhece­mos nossa gratidão porque Deus nos busca e porque nossos esforços para buscá-Lo não serão em vão.
4. Liga-nos a Deus o Pai, através de Seu Filho, por meio do Espírito Santo. Este processo começa agora com alegria e amor, e pela fé e esperança se estende até a eternidade.
5.   Implica em diversidade e es­pontaneidade de expressão, além das disciplinas básicas de oração, leitura e estudo da Bíblia, freqüência à igreja, comunhão e introspeção. Poucas tentativas são perfeitas nesta vida; fracasso e desapontamento também espreitam os sinceros de coração em sua busca espiritual.
6.   Torna-se justiça pelas obras se não estiver fundamentada em nossa aceitação da graça de Deus e a cons­ciência de nossa incapacidade de fa­zer qualquer coisa espiritualmente significativa sem Sua ajuda.
7.   É um processo de ser refeito à imagem de Deus aqui na Terra que re­quer fé e ação, confiança e esforço.
8.   Ela se altera à medida que nosso conceito sobre Deus, nós mesmos e o mundo se aprofunda e expande, e a medida que a ciência e a Bíblia (am­bas instrumentos divinos) abrem em nosso entendimento novas perspecti­vas acerca do Universo e do que Deus tem em reserva para nós.
9.   Torna legítimo nosso desejo e definida a ação para servir a outros. Qualquer coisa a menos é meramente ensaio egocêntrico de nossa tentativa de sermos aceitos por Deus.
10. Finalmente, é uma experiência que tem um propósito: glorificar a Deus ao ser aquilo que Ele intenta que sejamos, e fazer o que Ele espera que façamos, a saber, estar envolvidos com aquilo que Ele criou Seu povo, a salvação dele, seu serviço e suas ne­cessidades.

Sinais dos Tempos     novembro-dezembro/2002



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