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sexta-feira, 18 de julho de 2014

OS VALDENSES

Valdenses

Os Valdenses Ficaram Firmes
Com que efeito?
PIERRE VALDÈS, ou Pedro Valdo, era um rico comerciante na França do século 12. Numa época em que a Igreja Católica Romana deliberadamente mantinha o povo na ignorância da Bíblia, Valdo financiou a tradução dos Evangelhos e de outros livros bíblicos para a língua do povo do sudeste da França. Daí ele abandonou seus negócios e dedicou se à pregação do Evangelho. Muitos outros logo se juntaram a ele e, em 1184, Valdo e seus associados foram excomungados pelo Papa Lúcio III.
Com o tempo, esses grupos de pregadores da Bíblia vieram a ser chamados de valdenses. Eles defendiam a volta às crenças e práticas do cristianismo original. Rejeitavam práticas e crenças católicas tradicionais, incluindo as indulgências, as orações pelos mortos, o purgatório, a adoração de Maria, as orações para os "santos", o batismo de bebês, a adoração do crucifixo e a transubstanciação. Por isso, os valdenses muitas vezes sofreram terriveimente às mãos da Igreja Católica. O historiador Will Durant conta o que se deu quando o Rei Francisco I lançou uma campanha contra os não-católicos:
"O cardeal de Tournon, alegando que os valdenses estavam conspirando contra o governo, convenceu o vacilante e fraco rei a assinar um decreto (l.o de janeiro de 1545) estabelecendo que seria condenado à morte todo valdense que fosse culpado de heresia.... Em uma semana (12-18 de abril), várias aldeias foram completamente incendiadas: em uma delas, foram mortas 800 pessoas, entre homens, mulheres e crianças; em dois meses, foram mortas três mil pessoas, arrasadas 22 aldeias e 700 homens enviados para as galés. Vinte e cinco mulheres aterrorizadas, tendo-se refugiado em uma caverna, morreram asfixiadas por um incêndio que os perseguidores atearam à entrada."
Sobre esses eventos históricos, Durant comentou: "Essas perseguições constituíram a mácula suprema do reinado de Francisco I." Mas, que efeito teve sobre os observadores a firmeza dos valdenses durante essas perseguições autorizadas pelo rei? Durant escreveu: "A coragem dos mártires emprestou dignidade e esplendor à sua causa; milhares de espectadores deviam ter ficado impressionados e inquietos e, não fossem aquelas espetaculares execuções, jamais ter-se-iam dado ao trabalho de abjurar uma fé que haviam herdado."
Despertai! No. 8, Vol. 78.
OS ANABATISTAS CONHECIDOS COMO VALDENSES
A perseguição que o papado moveu contra os albigenses durante várias décadas fez os anabatistas a se deslocarem para muitos lugares. O nome albigense era sinônimo de morte. Surgiu então um outro apelido para designar os anabatistas deste tenebroso período. Foram chamados de Valdenses.

A Origem dos Valdenses
Os livros relatam que os valdenses se originaram de um rico comerciante de Lion em ll76. Seu nome era Pedro de Valdo, daí valdenses. Mas a verdade é que esse grupo é uma continuação dos albigenses. Vendo os anabatistas albigenses que a perseguição no sul da França não ia ter fim - como não teve - fugiram para outras localidades. Em suas fugas iam evangelizando e rumando sempre para o norte da Europa. Foi onde Pedro de Valdo se converteu, e por ser famoso, os inimigos logo apelidaram os antigos albigenses de Valdenses.
Significativo é o depoimento de Raisero Sachoni. Ele foi por dezessete anos um dos mais ativos pregadores dos "Cátaros" ou "Valdenses". Mais tarde uniu-se à ordem dominicana apostatando da fé. Tornou-se um acérrimo inimigo dos Valdenses, e por isso o papa fe-lo inquisitor da Lombardia. Por muitos anos, até sua morte, acusou e mandou matar seus ex-irmãos anabatistas. Foi um judas. Sua opinião sobre a origem dos valdenses é como se segue:
"Entre todas as seitas não há mais perniciosa à igreja (católica é claro) do que os valdenses. Por três razões: Primeira, porque é a mais antiga, pois alguns dizem que data do tempo de Silvestre, 325 A.D. (Silvestre foi o papa que junto com Constantino condenou os donatistas, montanistas e novacianos), outros ao tempo dos apóstolos. Segunda, é a mais largamente espalhada, porque dificilmente haverá um país onde não existam. Terceira, porque, se outras seitas horrorizam aos que a ouvem, os valdenses, pelo contrário, possuem uma grande aparência de piedade. Como matéria de fato, eles levam vidas irrepreensíveis perante os homens e no que respeita a sua fé, aos artigos do seu credo, são ortodoxos. Sua única falta é que blasfemam contra a igreja e o seu credo".
O testemunho desse apóstata é muito importante. Não é fácil para um legado católico dizer que "datam do tempo de Silvestre ou dos apóstolos". Outro escritor, dessa vez um francês, Michelet, diz na Historie de France, II, pg 402, Paris 1833: "Os valdenses criam numa continuidade secreta através da Idade Média, igual a da Igreja Católica". E Neander adiciona na History of the Christian, pg 605, Vol. IV, 1859: "Não é sem fundamento a afirmação dos valdenses deste período (1100 em diante), a respeito da antigüidade de sua seita, e que tinha havido, desde o tempo da secularização da igreja, a mesma oposição (a igreja Romana) que eles sustentavam".
Os historiadores que se tem especializado na história dos valdenses sustentam a idéia de que as doutrinas dos valdenses não se originaram com Pedro Valdo. Diz Faber, The Waldenses and Albigenses:
"A evidencia que acabo de produzir, prova, não somente que os valdenses e albigenses existiram antes de Pedro de Lião; mas também, que no tempo do aparecimento dele nos fins do século doze, havia duas comunhões de grande antigüidade (O autor refere-se aos albingenses e valdenses ao dizer que existias duas comunhões). Segue-se, portanto, que mesmo nos séculos doze e treze, as igrejas valdenses eram tão antigas, que a sua origem remota foi atribuída, mesmo pelos seus inimigos inquisitoriais, ao tempo além da memória do homem. Os romanistas mais bem informados do período, não ousaram fixar a data da sua origem. Eram incapazes de fixar a data exata dessas veneráveis igrejas. Tudo que se sabe é que eles tinham florescido ao longo do tempo, e que eram muito mais antigos do que qualquer seita moderna".
Portanto, a se alguém quer saber a origem dos valdenses saiba que, apesar de receberem esse apelido somente a partir de 1100, já eram conhecidos como albigenses, paulicianos, donatistas, novacianos e montanistas. Tinham de diferente apenas o apelido, mas eram todos de uma mesma comunhão. Também todos, sem exceção, foram chamados de "anabatistas". O fato de aparecer paralelamente no mesmo período albigenses e valdenses, não quer dizer que os valdenses não seja uma continuação dos albigenses. Quer dizer que durante um período de mais ou menos meia década, enquanto o apelido albigense caía em desuso, crescia o nome valdense. É o que chamo de período de transição. O estudante notará que a mesma coisa aconteceu no século XVI. Neste período, enquanto caía o apelido anabatista, surgia o apelido batista.
A doutrina dos valdenses
Suas doutrinas eram idênticas a dos primitivos anabatistas. Há dois documentos datados de cerca do ano 1260 A.D. escritos por católicos que descrevem os valdenses: Um deles diz: "os valdenses vestiam com relativa simplicidade, comiam e bebiam moderadamente, sempre laboriosos estudiosos, havendo entre eles muitos homens e mulheres que sabiam de cor todo o novo testamento".
O outro documento é o tratado de Davi de Augsburgo, escrito sobre os "pobres de Lião" ou valdenses, e impregnado de ódio e antipatia. Este documento diz que os valdenses proclamavam-se "discípulos de Cristo e sucessores dos apóstolos" e quando eram excomungados, regozijavam-se com o fato de terem de sofrer perseguição como outrora os apóstolos, "nas mãos dos escribas e fariseus". O documento informa que eles rejeitavam os milagres eclesiásticos e os festivais, ordens, bênçãos, etc., dizendo que essas coisas foram introduzidas pelo clero cobiçoso; batizavam os que abraçavam seus princípios, dizendo alguns deles que o batismo de crianças não vale nada, pois elas são incapazes de crer. Não criam que o sangue e o corpo de Cristo estão na eucaristia, limitando-se a abençoar o elemento como um símbolo. Celebravam a ceia, recitando palavras do evangelho; negavam o purgatório, o concubinato, o sacerdotalismo, o legalismo, etc.
A Perseguição dos Valdenses
Assim como os albigenses os valdenses foram tenazmente perseguidos pela Igreja Católica. A Inquisição matou, queimou, afogou, esfolou, torturou e fez muito mais para destruir os valdenses. Só para o estudante ter uma idéia, o Papa João XXII (1316-1334), tendo um rendimento farto e regular dos impostos criados por ele mesmo, gastava 63% do tesouro papal para financiar a guerra contra os anabatistas e os muçulmanos. (O Papado na Idade Média, pg 140 e 143). O papado obrigou o povo a pagar impostos com o intuito de financiar guerras visando o extermínio dos anabatistas. Em todos os países era passada a chamada "rota romana" com os ad doc - que significa "a isto" - pressionando e atormentando o povo a pagar o tributo para o papa.
No final do século XV os valdenses ainda estavam de pé. Suas forças estavam nos vales dos Alpes. Tinham uma escola prática em Milão e de ramificações em zonas distantes como a Calária e a Apúlia. Possuidores de um noviciado e de seminários independentes, os valdenses punham em campo uma grande quantidade de missionários itinerantes, os quais, conheciam de cor longas passagens dos evangelhos e das epístolas.
Infelizmente muitos se ligaram com os hussitas na Boêmia e com os Lolardos na Inglaterra. Isso degradou em muito a pureza de muitas igrejas valdenses, pois estas igrejas, assim como as protestantes, pregavam uma fé que podia-se pegar em armas para defender direitos. No século XVI a euforia da reforma também varreu uma grande parte dos valdenses. Acredito que isso destruiu o grupo como denominação. Alguns se aliaram com os luteranos na Alemanha, outros a Zuinglio na Suiça, e uma grande parcela com Calvino. Os fiéis, que não se misturaram, continuaram anabatistas puros. Até hoje existe algumas igrejas com o nome denominacional "valdense".

A cruzada contra os cátaros e os valdenses
Os soberanos de Castela e de Aragão tinham tido os melhores mestres. A Inquisição à moda espanhola não constitui uma excepção na História, nem é fruto de circunstâncias locais. Ela mergulha bem fundo as suas raízes nas práticas de uma Igreja que impõe pelo ferro e pelo fogo o seu dogma e a sua disciplina. Durante a Idade Média, as heresias alastram entre uma população exasperada com os privilégios e costumes do clero, pela cumplicidade entre a Igreja e os poderosos.
Evangelismo puro e duro, sonho de pobreza radical, divisão entre os perfeitos e os impuros: assim nascem as seitas que querem restaurar os primeiros tempos cristãos. Os valdenses são os discípulos de Pedro Valdo, rico comerciante francês do Delfinado (Leste de França) que, no século XII, dá todos os seus bens aos pobres e reúne os fiéis dispostos a lutar contra o luxo e a opulência do clero. Espalham-se na região de Lião, depois na Provença, até ao Norte de Itália e à Catalunha. Valdo e os pobres de Lião, que apenas reconhecem a autoridade dos Evangelhos, são excomungados em 1182.
Quanto aos cátaros — também chamados bons homens ou perfeitos —, reivindicam uma filiação nos apóstolos e rejeitam todos os sacramentos da Igreja à excepção do baptismo. Como os valdenses, espalhar-se-ão pelo Sul de França, na Toscânia, na Lombardia. Os cátaros vão transformar-se na grande questão dos papas da Idade Média, que enviam para as regiões contaminadas as suas tropas de choque — monges de Cister e dominicanos —, ultrapassam os bispos considerados demasiado indulgentes, solicitam os exércitos regulares do rei de França e, finalmente, erguem tribunais especiais que desafiam o bom senso cristão, mas também a mais elementar justiça. A Inquisição dará tão boas provas ao longo da Idade Média que bastará a todos os Torquemadas da terra copiar as receitas dos Guillaume Raymond, Pierre Durand, inquisidores em Narbonne; de Bernard Gui, geral dos dominicanos, inquisidor em Toulouse, cuja Prática da Inquisição é um best-seller, tal como o são O Martelo das Bruxas, de Sprenger e Instituris, em 1487.
É no século XI que se acendem as primeiras fogueiras, na Alemanha, em Itália, em França, mas a repressão das heresias assemelha-se ainda a ajustes de contas locais. Perante bispos de rigor desigual e um fanatismo popular que não recua diante das execuções em massa, os príncipes e os papas harmonizam os seus esforços. Mandam enviados e monges pregar a reconquista, mas depressa se revelam incapazes de colmatar as brechas. Em 1184, em Verona, o papa Lúcio III e o imperador Frederico Barba Ruiva definem princípios comuns de perseguição, investigação e condenação. Os Decretais de Lúcio III criam uma espécie de polícia internacional de combate à heresia. As penas previstas vão da excomunhão até à morte.

Condenação das doutrinas heréticas dos cátaros e dos valdenses.

A grande difusão do catarismo, que atingiu grandes estratos da sociedade européia, levou as autoridades eclesiásticas a se empenharem ativamente na repressão e no questionamento doutrinal, confiando tal função sobretudo aos dominicanos, aos quais logo se uniram os franciscanos. Em seguida, o poder político também se organizou na luta contra aquele movimento, luta que assumiu o caráter de uma dura e sangrenta repressão, cujos princípios jurídicos foram sancionados pela Constituição do imperador Frederico II contra os cátaros lombardos (1224) e contra os cátaros alemães (1232). Para a busca e a investigação dos adeptos de seitas, o papa Gregório IX instituiu (1233) o tribunal da Inquisição, confiado aos dominicanos. Esse tribunal entregava os que eram considerados culpados ao braço secular, ao qual cabia a tarefa de emitir e executar a condenação, normalmente mediante a fogueira. Pela obra conjunta dos poderes religiosos e políticos, o catarismo, submetido a duras perseguições, foi reprimido até desaparecer definitivamente no século XIV. Um episódio relevante nessa luta sangrenta foi a chamada "cruzada contra os albigenses". O movimento de Valdo e de seus seguidores, quase todos camponeses e artesãos, que logo se reuniram em torno do fundador, distinguia-se sobretudo pela pregação dos conceitos evangélicos, que estes passaram a difundir entre as classes mais humildes do campo e das cidades vizinhas, uma vez que consideravam a pregação da palavra de Jesus o primeiro dever de todos os seus adeptos. As relações dos valdenses com a Igreja oficial deterioraram-se, transformando um movimento interno em um movimento externo e rebelde à própria Igreja, a ponto de, já em 1177, Valdo e seus adeptos serem expulsos de Lyon e, em 1179, embora reconhecidos pelo papa Alexandre III, serem proibidos pelo concílio de pregar a sua fé. De volta a Lyon, foram novamente expulsos pelo arcebispo Jean des Bellesmains, condenados pelo sínodo de Verona (1184), sendo definitivamente tachados como rebeldes. Além do voto de pobreza e do direito-dever de pregar a palavra da Bíblia e dos Evangelhos, sobretudo por parte dos leigos, o valdismo defendia a igualdade de todos os fiéis e, portanto, considerava que o sacerdócio era universal e prescindia de uma consagração exterior e de uma hierarquia sacerdotal. Ao fazê-lo, naturalmente oferecia um motivo válido de dissensão diante da Igreja e diante daquela mesma hierarquia eclesiástica que os valdenses julgavam inútil, atingindo assim duramente as instituições da própria Igreja e a organização feudal a ela vinculada. 

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