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quinta-feira, 24 de julho de 2014

ARTIGOS SOBRE A TRINDADE - CRISTO E SUA ONIPRESENÇA


CRISTO E SUA ONIPRESENÇA


Pedro Apolinário -  Sermões Exaltando a Verdade – Casa Publicadora Brasileira, 1a. Edição
Professor de Grego e Exegese Bíblica do Curso Latino-Americano de Teologia – Eng. Coelho, SP.


o inimigo da verdade, através dos séculos, procura incutir na igreja heresias, especialmente quanto à perfeita humanidade e perfeita divindade de Cristo.
Uma das principais heresias que atingiu a igreja em seus primórdios foi o gnosticismo, que procurou destruir os fundamentos do cristianismo. Seu ensino fundamental era este: a matéria é má; o espírito é bom.
o ataque fundamental do gnosticismo foi contra a divindade de Cristo. Ensinavam que entre Deus e o mundo havia seres intermediários ou semideuses. Os semideuses não possuíam todos os atributos divinos. Para o gnosticismo, Cristo era um semideus.
Esta heresia estava atingindo a igreja de Colossos, e para combatê-la Paulo escreveu a Carta aos Colossenses.
o verso mais significativo desta epístola quanto à divindade de Cris­to inegavelmente é o nove do capítulo dois: “Porquanto, nEle, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade.” Note bem: toda a ple­nitude da Divindade e não apenas algumas emanações.
É bom reparar que Paulo aqui usou o verbo katoikeo  —      “habitar permanentemente”, no tempo presente (que é uma ação contínua), e não no aoristo que é uma ação passageira. Em grego o verbo habitar temporariamente é paroikeo.
Jesus, sendo Criador, enfeixa em Si, todos os atributos inerentes a Deus e não apenas alguns deles. É bastante eliminar um dos atributos de Deus, para que Ele deixe de ser Deus.
Ultimamente recebi cartas para que esclarecesse se Cristo realmente perdeu a Sua onipresença. As perguntas surgiram de três circunstâncias:
 1a.) A promessa de Cristo de enviar o Espírito Santo. “E Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco” (João 14:16).
       2a.) A declaração de Ellen White: “Limitado pela humanidade, Cris­to não poderia estar em toda parte em pessoa. Era, portanto, do interes­ se deles que fosse para o Pai, e enviasse o Espírito como Seu sucessor na Terra.” O Desejado de Todas as Nações, pág. 669.
 3a.) Descuidadas notas de lições da Escola Sabatina, que serão analisadas nesta matéria.

Atributos Divinos
Para compreender melhor o assunto, seria bom saber alguma coisa sobre os atributos divinos.
Devemos distinguir entre a natureza de Deus e Seus atributos. A natureza de Deus constitui o Ser, os atributos revelam o Ser. Deve-se ainda notar que os atributos não são Deus, mas são os modos e as qualida­des dEle.
Várias classificações têm sido apresentadas uns falam em atributos naturais e morais; um segundo grupo prefere falar em atributos absolutos e relativos. A mais comum, todavia, é falar em atributos incomuni­cáveis ou imanentes, e comunicáveis ou emanantes.
Atributos incomunicáveis são privativos de Deus, e não podem ser encontrados no ser humano: onipotência~ onipresença, onisciência, imutabilidade. Por outro lado, atributos comunicáveis são aqueles que a Divindade transfere ao ser humano, tais como: bondade, amor, justiça, mansidão, paciência, longanimidade, misericórdia, etc.

Conhecendo o Problema
A declaração de O Desejado de Todas as Nações, pág. 669: “Embara­çado (ou limitado) pela humanidade...” se explica por si mesma. Cristo, ao estar na Terra, era tanto Deus, como Homem, mas tinha uma missão a cumprir exclusivamente como Homem, não podendo, portanto, utilizar-Se de Sua divindade para benefício próprio ou no cumprimento de tal missão. A prova de que a divindade estava NEle presente é que Sua maior tentação foi usar o poder que possuía (ver Mat. 4:1-1 1).
Limitado pela humanidade, Ele não poderia estar em toda parte, mas como divino, isso era perfeitamente possível.
Se em Sua humilhação, Cristo não usou os atributos divinos indepen­dentemente do Pai, é evidente que concluída essa fase na Terra, podia usá-los livremente. Tanto é que Seu primeiro ato após concluir Sua missão na cruz foi ressuscitar-Se a Si próprio pelo poder divino que possuía.

Ensinar que Cristo perdeu a onipresença é mais uma das artimanhas do inimigo, para diminuir o Salvador de Seu todo-suficiente sacrifício em nosso favor.
Declarar que Ele perdeu a onipresença seria negar Sua divindade, uma das mais sérias heresias que a igreja cristã enfrentou através dos séculos, e enfrenta em nossos dias.
Cristo é Deus, pois o Novo Testamento assim o denomina sete vezes (João 1:1; 20:28; Romanos 9:5; Tiro 2:13; Hebreus 1:8; II Pedro 1:1; 1 João 5:20).
Se é Deus, é perfeito, logo não pode ganhar nem perder nada. O Pas­tor Daniel Porto declarou convincentemente: “É bastante eliminar um dos atributos de Deus para que Ele deixe de ser Deus.” Revista Adven­tista, março de 1984, pág. 6.

Ampliando o Problema

Quanto às notas de lições da Escola Sabatina, três merecem destaque:

a) Dia 7 de abril de 1977: “Quando Jesus Se tornou carne, despiu-Se dos poderes da Divindade e Se tornou absolutamente dependente do Pai e do Espírito Santo.”
Não tive condições de averiguar se o verbo despir-se foi bem tradu­zido do inglês, ou se foi uma infelicidade de tradução.
Despir-se é pôr de lado, abandonar, despojar-se. Jesus não deixou Sua natureza divina ao estar na Terra; Ele possuía as duas naturezas. Da di­vindade Ele passou à humanidade, esvaziou-Se, sem deixar de ser Deus.
A Sra. White contesta a idéia de Cristo despir-Se ou despojar-Se da natureza divina: “Jesus tomou a humanidade e a acrescentou à divindade. Ele revestiu Sua divindade com a humanidade.” —     Review and Herald, 05/07/1987.
“A divindade e a humanidade combinaram-Se misteriosamente, e o homem e Deus Se tornaram um.” —         Signs of the Times, 30/06/1896.
“Cristo não podia ter vindo à Terra com a glória que possuía nas cortes celestiais. Seres humanos pecadores não suportariam vê-Lo. Ele ve­lou Sua divindade com a roupagem da humanidade, porém, não Se desfez de Sua divindade.” —      Review and Heraid, 15/06/1905.
Não Se desfazer da divindade é a maior prova de que também não Se desfez da onipresença.

b) Dia 11 de março de 1983: “Jesus como Ser humano, está na pre­sença de Deus no Céu, comparecendo ali por nós. Visto que Ele sempre continuará sendo humano, está restringido a um lugar no espaço e no tempo” (Ver O Desejado de Todas as Nações, ed. popular, pág. 644).
Como humano, Cristo estaria limitado pelo espaço, mas como divino jamais, porque Deus não pode ser limitado nem pelo espaço nem pelo tempo.
Uma das provas mais conclusivas de não estar limitado pelo espaço se encontra em Seu aparecimento a dois discípulos no caminho de Emaús (Lucas 24:13-31) e aos outros em Jerusalém (Lucas 24:36 e 37).
A publicação adventista Questions on Doctrine (explicação de nossas crenças fundamentais, à página 77) afirma: “O fato de Cristo ter-Se tor­nado homem de modo algum fez com que Sua divindade fosse restrin­gida ou subtraída.”
c) Dia 8 de setembro de 1986: “Visto, porém, que ‘Cristo levou Sua humanidade para a eternidade’ (Comentário de Ellen G. White, SDABC, vol. 7, pág. 925) e estar restringido a um corpo humano e não pode mais estar presente em toda a parte como sucedia antes da encarnação, Ele habita agora em Seus seguidores por meio do Espírito Santo. É por meio do Espírito Santo que Cristo habita em nós.” (Deve notar-se bem que apenas o que se encontra entre aspas simples pertence a Ellen G. White; o restante é do autor da lição.)
Infelizmente, esta nota da lição, que jamais deveria ter sido publicada, fez com que muitos de nossos irmãos, especialmente pelo interior de nosso grande país chegassem à conclusão errada de que Cristo perdeu a onipresen­ça. Num curso ministrado aos alunos do mestrado, no IAE, São Paulo, per­guntaram ao Dr. Dederen: Cristo ao tornar-Se humano perdeu a Sua onipresença? Com sabedoria e firmeza contestou energicamente a conclusão er­rada a que alguns chegaram por culpa de notas da lição da Escola Sabatina.
Como Igreja é importante que não permitamos nenhum erro doutri­nário entre nós. A afirmação do autor da lição: “não pode mais estar presente em toda a parte como sucedia antes da encarnação...” não se har­moniza com os ensinos das Escrituras nem com Ellen G. White.
A seguinte verdade deve ser lembrada: cada pessoa da Trindade de­sempenha específica função em benefício do ser humano, mas isto não significa que cada uma não possa desempenhar a função da outra.

Nas 50 proposições do livro Seventh-day Adventists Answer Questions on Doctrine, pág 45, sobre nossas crenças há esta:
“Cremos que a Divindade, ou Trindade, consiste do Eterno Pai, Ser pessoal, espiritual, onipotente, onipresente, onisciente, infinito em sabedoria e amor; do Senhor Jesus Cristo, Filho do Eterno Pai, através de quem todas as coisas foram criadas e por quem se realizará a salvação dos remidos; do Espírito Santo, terceira pessoa da Divindade, o grande regenerador na obra da redenção (Mateus 28:19).
A função de cada membro da Trindade é a seguinte: “Deus no trono do Universo, Jesus no trono da graça e o Espírito Santo no trono do co­ração humano trabalham para a nossa salvação.” Revista Adventista, março de 1984, pág. 7.
O  Pai provê, o Filho realiza e o Espírito Santo aplica.
Concluir que Cristo por conservar Seu corpo humano após a encarnação —   perdeu a onipresença está errado, porque seria crer que Ele deixou de ser divino.
“Cristo é Deus perfeito, mas nunca deixou de ser Homem perfeito, desde o momento da encarnação. O Ser que subiu ao Céu e está assen­tado à destra de Deus Pai é Homem e também Deus. Cristo é homem perfeito, mas nunca deixou de ser Deus perfeito.” J.C. Ryle, Comen­tário do Evangelho Segundo S. João, pág. 15.

Referências Bíblicas
Há inúmeras provas bíblicas da onipresença de Cristo.
Mateus 18:20: “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em Meu nome, ali estou no meio deles.”
Hebreus 13:8: “Jesus Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre.” Valiosa prova de que Cristo não poderia ter perdido nada está em Sua imutabilidade.
Atos 9:5 A declaração de Lucas do aparecimento de Cristo a Paulo, cientifica-nos de que Ele pode aparecer em qualquer lugar.
A maior evidência bíblica de que Cristo, tomando a natureza humana, não perdeu nada da divindade se encontra na conhecida declaração paulina: “Porquanto nEle, habita, corporalmente, toda a plenitude da divindade” (Colossenses 2: 9).
O    Comentário Adventista traz a seguinte nota sobre este verso: “Em Cristo habita a soma total da natureza e atributos de Deus. Todas as fun­ções e poderes da divindade residem continuamente nEle. Toda a pleni­tude de Deus é revelada em Cristo.
‘A extensão do termo pleroma, ‘plenitude’- é sem limite no tempo, no espaço e em poder. Tudo quanto Deus é, cada qualidade da divin­dade dignidade, autoridade, excelência, poder para criar e sustentar o mundo, energia para manter e guiar o Universo, amor que levou a redimir o ser humano, presciência a fim de suprir todas as coisas ne­cessárias a cada uma de Suas criaturas repousa em Crísto.” SDABC, vol. 7, pág. 202.
Sobre Colossenses 1:19, afirma o mesmo comentário: “Em Cristo se encontra a perfeita expressão da divindade de maneira completa e eterna.” SDABC, vol. 7, pág.193.
Na carta aos Colossenses, Paulo está condenando a heresia gnóstica, que não aceitava a plenitude da divindade de Cristo, apresentando-O como um semideus, destituído de alguns atributos divinos.
Colossenses 1:19 e 2:9 contestam hoje, frontalmente, conclusões er­rôneas a que chegaram membros de nossa igreja, por interpretarem mal declarações bíblicas e do Espírito de Profecia. Se Paulo estivesse entre nós hoje, com toda a veemência que o caracterizava, escreveria uma outra carta aos Colossenses atualizada.
Esses dois versos seriam suficientes para provar que Cristo não per­deu o atributo da onipresença. Onipresença é propriedade inerente a Cristo, logo continuará existindo com Ele por toda a eternidade.
Não perdendo nenhum atributo em Sua humilhação, é evidente que, terminada essa fase, pode perfeitamente usar todos os atributos que Lhe são peculiares.
A Cristologia nos ensina que Cristo é onipresente, mas pode ser que nem sempre faça uso desse atributo. Não usar alguma coisa, todavia, não significa a sua perda.

No Espírito de Profecia
Além das citações já feitas, as declarações seguintes quanto à onipre­sença de Cristo também merecem ser destacadas:
“O pequeno grupo reunido para adorar a Deus no Seu santo dia, tem direito a reclamar as bênçãos de Jeová e pode estar certo de que o Senhor Jesus será honroso visitante em suas reuniões.” Testemunhos Seletos, vol. 3, pág. 27.
“Não obstante a aparente vitória de Satanás, Cristo está levando avante Sua obra no santuário celeste e na Terra.” Obreiros Evangélicos, pág. 26.
“A divindade não foi degradada ou mutilada pela humanidade.” —       SDABC, vol. 5, pág. 918.
Essas declarações seriam suficientes para resolver qualquer dúvida que ainda paire na mente de alguém.

Conclusão


Por mais que alguém pesquise tanto na Bíblia quanto nos escritos de Ellen White, não encontrará nenhum texto que dê margem à conclusão de que Cristo perdeu Sua onipresença ao tomar sobre Si a humanidade.
Possuindo as duas naturezas, como humano não pode ser onipresente, mas como divino é Senhor de todos os atributos. Demos graças a Deus por termos um Salvador perfeito, completo, banindo da mente a falsa idéia de um Cristo mutilado.


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