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quinta-feira, 24 de julho de 2014

ARTIGOS SOBRE A TRINDADE - A NATUREZA HUMANA DE JESUS CRISTO



A natureza humana de Jesus  Cristo

Jesus não possuía as paixões de nossa natureza humana caída


por Derson da Silva topes Junior


Um tema que tem sido objeto de controvérsias há muito tempo na Igreja é a questão da nature­za humana de Jesus Cristo. Alguns defendem a posição pré-lapsariana, indicando que Jesus detinha a natureza humana de Adão antes da queda. Outros defendem a posição pós-lapsariana, crendo que Cristo veio com a natureza pecaminosa, ou seja, a propensão ao pecado. A palavra lapsariana vem do latim, lapsus, que quer dizer queda, lapso. Existem também alguns poucos que abrigam outras teorias, como a que crê nas duas naturezas unidas, e outras mais, mas devido à pouca relevância destas outras, nos deteremos apenas ao estudo das duas posições principais: pré e pós-lapsariana.
Vamos analisar algumas particu­laridades bíblicas e textos de Ellen White que nos levarão a uma definição do assunto. Não é nosso objetivo esgotá-lo mas apenas elucidar por alto a questão, motivando os leitores mais curiosos para uma pesquisa aprofundada deste importante tema.

Nascimento de Jesus O primeiro ponto que precisamos compreender é que Jesus não teve um nascimento co­mum. Em Lucas 1:26-38 encontra­mos o relato do anúncio do nasci­mento de Jesus. Nos versos 34 e 35, lemos: Disse Maria ao anjo: Como se fará isto, visto que não tenho relação com homem algum? Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te cobrirá como uma sombra. Por isso o ente santo que de ti há de nascer, será cha­mado de Filho de Deus.” (Versão João Ferreira de Almeida, Edição Contemporânea. Grifos do autor.)
Maria era noiva (verso 27) e ficou em dúvida quanto à gravidez, visto que era virgem (verso 34). O anjo lhe afir­mou que o Espírito Santo ia descer e com poder através de uma sombra, ela iria engravidar (verso 35). Isto não se assemelha a nenhum outro nascimento humano. Todos sabemos que para que ocorra uma fecundação é necessário que haja união entre um óvulo feminino e um espermatozóíde masculino. Neste caso, isso não ocorreu. De forma misteriosa e incompreensível para nós, a concepção foi obra do Espírito Santo. Este fato é confirmado em Mateus 1:16-21. Após determinar, em cada uma das gerações descritas, anteceden­tes de Jesus que cada pai gerou a seu filho, no caso de Jesus o autor bíblico afirma simplesmente: “nasceu” de Ma­ria (verso 16). Na continuação, é des­crito o nascimento de Jesus como obra do Espírito Santo. Esse fato contraria o primeiro argumento pós-lapsariano que afirma que Jesus tinha herdado a natureza de sua mãe. Em verdade, Cris­to não era filho biológico de Maria e, por isso, não herdou a natureza pecaminosa de sua mãe, como acontece com outros seres humanos (Sal. 51:5).

O pecado O pecado é algo realmente devastador. Toda criança, ao nascer, traz consigo a natureza pecaminosa. Antes mesmo de saber o que é peca­do, ela já traz consigo o egoísmo e outras ações más. O que dizer do bebê Jesus? Teria pecado nosso Salvador?
Primeiro precisamos entender exatamente o que é pecado. 1 João 3:4 é enfático em dizer: “pecado é a transgressão da lei”. Ou seja, indisciplina. No Éden, o homem desobedeceu a Deus, mas o pecado começou antes de Eva comer o fruto, quando ela deliberadamente duvidou da palavra de Deus “dele não comereis, ... para que não morrais” (Gên. 3:3). O pecado original foi a quebra do relaciona­mento com Deus.
Cristo veio para restabelecer o relacionamento entre Deus e o homem, e na pessoa divino-humana de Jesus estava expresso Sett nome: Emanuel, Deus conosco. Jesus não rompeu em nenhum momento sequer Seu relacionamento com o Pai. Ele não pe­cou. “Ele permaneceu espiritualmente sem pecado.”’

Na semelhança do pecado Quando lemos o texto de Romanos 8:3, no entanto, podemos ficar em dúvida quanto à questão da carne pecaminosa. Paulo diz: “Deus enviando o Seu próprio Filho em semelhança de car­ne pecaminosa e no tocante ao peca­do; e, com efeito, condenou Deus, na carne, o pecado.”
O que é mal-interpretado por alguns, na verdade refere-se a uma defi­nição diferente, da natureza física de Jesus. “Ele [Paulo] se concentra em Cristo como tendo vindo na seme­lhança da carne pecaminosa. A palavra-chave é ‘semelhança’. Duas palavras gregas são traduzidas por ‘seme­lhante’ em português: isos, que signifi­ca mesmo’, como acontece em Atos 11:17, onde se diz que ‘Deus lhe deu o mesmo (isos) dom’. e homoima, usada em Rom. 8:3, significando ‘semelhan­te’ (porque humana), mas não ‘mesma (porque não pecaminosa). ... Sugerem estas palavras gregas, e estes textos, que Jesus foi apenas semelhante aos outros seres humanos, quanto a ter um corpo humano físico afetado pelo pecado, mas não o mesmo que os demais seres humanos, pois somente Ele foi sem pecado em Seu relacionamento espiritual com Deus? Ellen White assim pensava.2 A evidência bíblica permite esta conclusão.”3


Ponto salvifico Apesar de todas as discussões sobre a natureza humana de Jesus, poucas pessoas a analisam sob a ótica da salvação. Embora mui­tos não pensem assim, uma com­preensão incorreta deste fato despreza o sacrifício expiatório de Jesus.
Todos nós pecamos, por isso esta­mos destituídos da glória de Deus (Rom. 3:23), nosso destino por pecar é a morte. (Ezeq. 18:4 e 20; Rom. 3:23). Para resolver esse problema, em um ato de supremo amor, Deus en­viou Seu Filho  para que todo o que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna. João 3:16. É aqui que encon­tramos mais uma incongruência na crença pós-lapsariana. Se Jesus veio em natureza pecaminosa, era um pecador em seu nascimento, precisava portanto de um Salvador; mas como, se Ele veio para salvar? E mais: “se Jesus veio com uma natureza pecadora, mas resistiu, então talvez alguém mais faça a mesma coisa, e que a pessoa não necessite de Jesus para salvá-la”.4 “Jesus é nosso exemplo na vida, mas não no nascimento. Se Ele fosse nosso exemplo no nascimento, talvez outros seres humanos pudessem conseguir uma vida perfeita e não necessitassem de um Salvador.”5 Isso nos dá a possi­bilidade de nos salvarmos por nossos próprios esforços, lançando por terra o sacrifício de Jesus. É de admirar que alguns ferrenhos defensores da justificação pela fé acreditem na natureza pecaminosa de Cristo.

Relação substituto/exemplo Outro argumento apresentado pelos defen­sores da natureza pecaminosa de Cristo é o fato de que Ele deveria ser nosso exemplo. Existe algo muito im­portante a ser entendido aqui: “Jesus foi nosso substituto como exemplo; e nessa ordem. Existe uma prioridade do substituto sobre o exemplo, da mesma forma que há de Deus sobre o homem e do Salvador sobre o salvo.”6 “Se Jesus devesse ser carne pecadora para entender por experiência nossas lutas, como poderia simpatizar com a escória da raça? Como poderia Ele salvar a geração que havia chegado a mais de dois mil anos de decadência e degeneração genética? Se o tomar nossa natureza pecadora Lhe era pré-requisito para ser tentado como nós, então Ele deveria ser contemporâneo do último homem nascido.”7 “Temos que reconhecer que há muito mais na obra de Cristo além de dar-nos o exemplo. Um homem se afogando precisa mais do que aulas de natação; ele precisa de um salva-vidas. Perdi­dos como estamos no pecado, somente um resgate dramático pode livrar-nos, e somente alguém muito supe­rior a nós pode efetuá-lo.”8
Como podemos ver, a função de Jesus como substituto é superior à de exemplo. Só alguém sem qualquer mácula do pecado poderia nos ofere­cer a salvação.

Ellen White e a natureza de Cristo —Embora alguns lancem dúvidas sobre sua forma de pensar, diversos textos da mensageira do Senhor comprovam que ela cria no pré-lapsarianismo, como podemos ver nas citações abaixo:
“Quando inclinou Sua cabeça e morreu, com Ele foram por terra os pi­lares do reino de Satanás. Ele derrotou Satanás na mesma natureza sobre a qual, no Éden, Satanás obteve vitória.”
“Teve que assumir Sua posição como cabeça da humanidade tomando a natureza, mas não a pecaminosi­dade do homem.”
“Podia ter pecado, podia ter caído, mas nem por um momento houve nEle qualquer propensão para o mal.” 11
“Nosso Salvador.., é um irmão em nossas fraquezas, mas não em possuir idênticas paixões. Sendo sem pecado, Sua natureza recuava do mal.” 12
“Não havia nEle [Cristo] pecado sobre o qual Satanás pudesse triunfar, nenhuma fraqueza ou defeito de cará­ter de que ele pudesse tirar proveito. Mas nós somos por natureza pecami­nosos e temos uma obra a fazer a fim de purificar o templo da alma de cada impureza.” 13
“Ele [Jesus]... era um poderoso soli­citador, não possuindo as paixões de nossa natureza humana caída, mas ro­deado das mesmas enfermidades, tenta­do em todos os pontos como nós o somos. Jesus suportou sofrimentos que re­queriam ajuda e sustento de Seu Pai.”14
“Um homem não pode expiar outro homem. Sua condição pecami­nosa e caída faria dele uma oferta im­perfeita, um sacrifício expiador de menor valor do que Adão antes da queda. Deus criou o homem perfeito e reto, e depois da transgressão não poderia haver sacrifício aceitável a Deus por ele, a menos que a oferta fosse superior em valor ao homem como se encontrava em seu estado de perfeição e inocência.”15
“Unicamente Cristo poderia abrir o caminho, fazendo uma oferta à altura dos requisitos da lei divina. Ele era perfeito e não contaminado pelo pecado. Não tinha mácula nem ruga.”’6
“Cristo, no deserto da tentação, fi­cou no lugar de Adão para suportar a prova a que ele deixou de resistir. Ali Cristo venceu em lugar do pecador, quatro mil anos depois de Adão volver costas à luz de seu lar. Separada da pre­sença de Deus, a família humana, a cada geração sucessiva, estivera se afas­tando mais e mais, da pureza, sabedoria e conhecimento originais, que Adão possuía no Éden. Cristo suportou os pecados e fraquezas da raça humana tais como existiam quando Ele veio à Terra para ajudar o homem. Em favor da raça, tendo sobre Si as fraquezas do homem caído, devia Ele resistir às ten­tações de Satanás em todos os pontos em que o homem seria tentado.”’7
Existem também alguns textos que podem trazer alguma indicação ao pós-lapsaríanismo, mas todos eles fazem referência à natureza física de Jesus, que era como a nossa em todas as fraquezas e necessidades.

Conclusão Certamente nos falta tem­po e espaço para estudarmos outros pontos de suma importância sobre a
natureza de Cristo, tais como: Suas tentações, Sua singularidade como Ser divino-humano, detalhes da encarnação e outros, mas exortamos o leitor a buscar, nas Escrituras Sa­gradas e nos livros confiá­veis que abordam esses as­suntos, um aprofunda­mento sobre a maravilha do amor de Deus expresso na vida de Seu Filho.
A grande conclusão a que chegamos é que nin­guém pode salvar-se a si mesmo. Todos pecamos e necessitamos de um Salvador. Ne­nhum de nós pode viver totalmente longe do pecado enquanto estiver neste mundo. Por isso precisamos de um Salvador, alguém que por não ter a mancha do pecado não merecia mor­rer, mas que morreu em substituição a nós, ofertando-nos a vida eterna.
Que de tudo o que aqui foi abordado fique a certeza do amor incom­preensível de Jesus, que deixou o Céu para morrer por nós pecadores. Que possamos aceitar Seu sacrifício e dedicar nosso ser totalmente a Ele. ~.

Referências:
1.  Ministério, maio/junho de 1986, pág. 6.
2 .   “Ao tomar sobre Si a natureza do homem em sua condição calda, Crista não participou de maneira alguma de seu pecado. Ele esta­va sujeito às suas enfermidades e fraquezas das quais o homem está cercado  Ele foi atingido pela sensação de nossas enfermi­dades, e foi em todos os pontos tentado como nós somos. E con­tudo, ‘não conheceu pecado’. Não haveríamos de ter nenhuma dúvida com relação à perfeita pureza humana de Cnsto  Sigas ofthe limes, 9 de junho de 1898 [citado em The SDA Bible Com­mentary, sol. 7, pãg. 9121.
3.   Ministério, maio/junho de 1986, pág. 5.
4.  lbidem, pág. 6.
5.  lbidem, pág. 8.
6.  lbidem, pág. 9.
7.lbidem, pág. 11.
8.  Dr. Richard Ríce. O Reino de Deus Atualização Teológico, pág. 123.
9.  SOA Bible Commentary, vai. 5, pág. 1.108.
10.                  Signs ofthe limes, 29 de maio de 1901.
11.                  SDA Bible Commentary, vai. 5. pág. 1.128.
12.                  Testemunhos Seletas, vai. 1, pág. 220.
13.                  Review and Herald, 27 de maio de 1884.
14.                  Testemunhos Para a Igreja, vai. 2, págs. 508 e 509.
15.                  Review and Herald, 24 de dezembro de 1872.
16.                  Ibidem, 17 de dezembro de 1672.
17.                  Mensagens Escolhidas, sol. 1, pãgs. 267 e 268.


Outras obras consultadas:
• Ministério, janeiro/fevereiro de 2003, págs. 17-20.
• lbidem, maio/junho de 1992, págs. 15-18.
•    Compilação de Algumas Declarações de EIlen G. White para o Curso de Cristologia, por Raoul Dederen Andrews Ijniversity.



Derson da Silva Lopes Junior é supervisor da Filial da CPB em Curitiba e ancião jovem da Igreja de Juvevê, em Curitiba, PR.


Revista Adventista, abril 2004

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