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quinta-feira, 24 de julho de 2014

ARTIGOS SOBRE A TRINDADE - A NATUREZA DE CRISTO E OS EVANGELHOS


Roy O. Naden
Professor emérito de Religião na Andrews University  EUA

A NATUREZA

DE CRISTO
Quatro aspectos dos evangelhos que trazem luz sobre um mistério


Corno podemos compreender a natureza divina de Jesus e Sua ligação íntima conosco em Sua natureza humana? A realidade éque não podemos. O apóstolo apresenta essa questão de forma acurada quando declara que isso éum mistério (1 Timóteo 3:16). Tra­dicionalmente, os teólogos buscam compreender a natureza de Jesus ao pesquisar as Escrituras, encon­trar urna frase ou verso aqui e ali. Isso simplesmente porque a Escn­tura não apresenta o tema de forma abrangente em qualquer parte.
Ao examinar as Escrituras, de­duzimos que Jesus tinha todas as características de Deus, pois Ele é Deus (Luc. 1:35; Mar 1:24). Pri­meiro Seu amor é infalível (João 3:16), então onipotente (Mat.28:18; João 17:2); onisciente (Col.2:3), onipresente (Mat.18:20;28:20), e eterno, existindo antes da Criação (Isa. 9:6; Gol. 1:17). Aprendemos também que Ele édevidamente adorado como Deus (Heb. 1:6; Filip. 2:10 e 11), pois Ele e Seu Pai são Um (João 14:9), e Ele é o grande “EU SOU” do An­tigo Testamento (João 8:58).
Do outro lado da moeda, sabemos algo a respeito da nature­za humana de Jesus, que foi tomada na Sua encarnação e que a reterá por toda a eternidade (Luc. 22:18; Atos 11). Mais de 80 vezes no Novo Testamento lemos o tí­tulo: Filho do homem.
E assim como Ele é perfeito em Sua natureza divina, é perfeito também em Sua natureza humana, po­dendo ser nosso Salvador. Ele “não conheceu pecado” (II Cor 5:21), Ele “não cometeu pecado” (1 Ped. 2:22), “nEle não existe pecado” (1 João 3:5). Portanto, não há motivos para que tenhamos a menor dúvida quanto à “perfeita natureza humana de Cristo sem pecado”, pois, inquestionavelmente, não tinha a “mancha da corrupção”.E diferente de nós, em nossa condição pecami­nosa, Jesus não tinha a menor inclinação para o pecado.3 Porém, vica­riamente, Ele tomou sobre Si nossos pecados e fez expiação por esses pecados dos quais não Unha nenhuma pane, para que pudéssemos usufruir Sua justiça na qual não temos parte.4

Jesus Se tornou humano; o que isso significa?
Mas o que significa o fato de Jesus haver-Se tornado humano; plenamente humano como nós, e ainda permanecer plenamente Deus como antes da encarnação? Novamente, não se trata de um ministério comum, é um “grande” mistério além de nossa com­preensão (1 Tim. 3:16)!
Os discípulos não tinham motivos para duvidar da humanidade de seu Mestre. Alguns deles conhece­ram Sua mãe, Mala, na celebração do casamento em Caná. Portanto conheceram a pessoa que O trouxe à existência em Sua condição humana na Terra. Não há nada mais completamente humano do que isso!
Eles observaram-nO durante Seu breve ministério público quando teve fome, sede e ficou cansado como os demais. Viram­nO chorar de tristeza junto à tumba de Lázaro. Conheciam Sua vi­da intensa de oração, revelando Sua completa dependência do Pai. No Jardim do Getsêmani três deles ouviram-nO suplicar por apoio humano na intensidade do momento em que começou a levar sobre Si os pecados do mundo. Não muito tempo depois, foi dolorosamente observado que Ele sangrava quando chicoteado, e cambaleava sob o peso do madeiro sobre Seu corpo enfraquecido.
Portanto, aqueles que Lhe eram íntimos sabiam que Ele havia aceito nossa humanidade com as limi­tações físicas que milhares de anos de desintegração pecaminosa ha­viam imposto, mas Ele assumiu a natureza humana sem herdar, de forma alguma, a pecaminosidade dos seres humanos.5 Mistério!

As quatro criaturas profetas e os quatro evangelhos

Mas talvez há outras formas de “descobrirmos” o Jesus Deus-Homem do que reunir textos iso­lados da Bíblia —  legítima quanto a abordagem possa ser. Talvez possamos melhor trazê-Lo à vida em nossos corações ao considerar quatro retratos complementares de Jesus nos Evangelhos.
Próximo ao fim de Seu minis­tério público, Filipe falou pelos discípulos quando pediu para Jesus mostrar-lhes o Pai. Jesus manifestou Sua angústia diante desse pedido ao exclamar: “Há tanto tempo estou convosco, e não Me tens conhecido? Quem Me vê a Mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?” (João 14:9).
Mas quão reveladora de nossa humanidade é a pergunta de Filipe! Em nossa humanidade buscamos não tanto uma resposta cognitiva a nossa pergunta sobre a natureza de nosso Senhor, como experimental. Essa pergunta é maravilhosamente satisfeita ao explorar as experiências descritas pelos escritores dos quatro evangelhos que no-Lo “mostram” na plenitude de Sua divindade e de Sua humanidade.
Jesus, em Mateus, Se assemelha a um leão, o rei do reino animal. Ao lermos o Evangelho de Mateus, vemos um retrato de Jesus como o Rei prometido pelos profetas do Velho Testamento. Esse é o primei­ro retrato de Jesus no Novo Testa­mento. E um papel muito humano, uma metáfora muito humana.
Prontamente, pode-se deduzir o alvo principal de Mateus ao escrever seu Evangelho. Ele desejava persuadir seus conterrâneos judeus de que seu Messias havia vindo na pessoa de Jesus. Portanto, começa seu livro com uma genea­logia. Ao ler os nomes, você é po­derosamente lembrado de como essa linhagem é pecaminosa. Mas Mateus mostra Jesus como o des­cendente do rei Davi de quem os
No grande poeta-rei vemos a pessoa-chave com um papel-chave fundamental na linhagem genealógica da humanidade de Jesus.
A história da vida de Davi reve­la a amplidão do engano próprio, a pior forma de engano. Mas, sob a liderança do rei Davi, a nação ju­daica viu alguns de seus tempos mais memoráveis, anos dos quais os judeus constantemente parecem nostálgicos. Mateus deseja que sai­damos que, em Jesus, temos nosso Rei - o Filho do Rei Davi. Sim, Ele herdou nossa natureza humana, mas não sua condição pecaminosa dessa hereditariedade extremamente corrompida. Mistério!
No relato de Mateus a respeito das três tentações vemos Jesus depois de Seu batismo por imersão nas águas do Jordão confrontando Sata­nás quanto ao “reino” do mundo. Quando Jesus pediu a João para batizá-Lo, lançou um desafio a Satanás.
Por meio do batismo Ele disse em verdade: “Satanás, Eu o desafio. Você venceu a batalha no Éden com o primeiro Adão. Você irá per­der a mesma batalha com o Segundo Adão. Estou aqui como o pri­meiro Adão, diante de você para ser tentado. Eu também nunca pequei. Possuo uma natureza sem pecado, assim como o primeiro Adão quando foi criado. Irei demonstrar o poder de Deus para suster-Me em to­das as suas tentações.”
“Onde Adão falhou, irei vencer Em meu sucesso irei redimir seu fracasso e lançarei a pedra fundamental para reconstruir um mundo per­feito. Tudo o que foi perdido no Éden será reconquistado. Isso está tendo início agora!” Imediatamente o Espírito O levou para o deserto e tiveram início as grandes batalhas.
Na história de Belém, Mateus nos lembra de que o Rei Jesus nasceu em um lugar predito pelo profeta Miquéias. Ali Ele foi visitado por príncipes do Oriente com “tesouros” dignos de um Rei. No final de Seu ministério na Terra, Mateus nos lembra que as pessoas usa­ram o coro do hino entoado pelos anjos quando de Seu nascimento e cantaram: “Hosana ao Filho de Davi’’
De acordo com o re­lato de Mateus, Jesus é o Leão “Real” insuperável da tribo de Judá, que nos convida a encontrar a realização de nossas maiores esperanças e sonhos como príncipes e princesas do Rei.
Em Marcos, Jesus é um homem, e ele retrata a natureza humana de Jesus ao mostrar Sua completa com­preensão da natureza humana que Ele parti­lha conosco. Uma das histórias que mostram de forma convincente esse fato encontra-se no relato da festa de Simão.
Maria levou suas economias de toda uma vida para um comerciante de perfumes. Depois de re­gatear, ela sai com um vaso de alabastro com nardo puro. Na noite da festa ela se ajoelha diante de Jesus e derrama a deliciosa fragrância em Seus pés. O perfume espalha-se pelo chão, então Maria pende a cabeça e com seus longos cabelos começa a secar com eles os pés do Senhor.
Quando a rara fragrância toma o aposento, Maria subitamente se torna o foco das atenções. Judas a repreende dizendo que aquilo foi desperdício. Mas a natureza humana de Jesus compreendeu totalmente o que estava acontecendo e de pronto falou em sua defesa. Protegeu-a, honrou-a, aceitou-a e predisse que onde quer que o evangelho fosse pregado, sua história seria contada.
As Escrituras notam que na conversação com Simão, Jesus enfatizou que quando de Sua chegada ninguém lhe lavou os pés, como também não O saudaram, como de costume, com um beijo. Em Sua humanidade, Jesus sentia falta desse contato humano! Ele foi completamente humano! Tinha os mesmos senti­mentos nossos, compreendia os nossos pensamentos, tinha empatia e buscava nos fortalecer por meio da situação humana mais desagradável, porque estava ali.
Em Marcos, Jesus é o bezerro sacrifical, revelando Jesus como Aquele que leva os nossos fardos. Lucas ilustra esse aspecto da natureza de Jesus em várias histórias, incluindo o relato de Seu re­torno a Nazaré.
Em uma manhã de sábado, a família de José e Maria foram à sinagoga. Durante o serviço de culto, Jesus Se levantou, foi à frente, tomou um rolo do profeta Isaías e começou a ler: “O Espírito do Senhor está sobre Mim, porque Ele Me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele Me enviou para pro­clamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, pa­ra libertar os oprimi­dos e proclamar o ano da graça do Senhor” (Luc. 4:18 e 19, NVI).
Ao Jesus Se assentar, a congregação fi­cou em silêncio, intri­gada. Então Ele falou novamente: “Hoje se cumpriu a Escritura que vocês acabaram de ouvir” (Luc. 4:20, NVI). Ele estava dizendo àquelas pessoas que não importando quais fossem seus fardos, Ele iria levá-los no lugar delas.
O fardo de qual­quer deficiência física, como a cegueira, o fardo da pobreza, o fardo do aprisionamento, algumas vezes do inocente, o fardo da opressão relacional ou emocio­nal, qualquer que fosse ele, Jesus o levaria em nosso lugar! Tudo o que acabara de ler em Isaías. Essa é a natureza de Jesus, e o motivo para convidar a todos que estão sobrecarregados com problemas pessoais e pecados a virem a Ele a fim de que possa tirar-lhes a carga dos ombros e levá-las nos Seus. Nosso Jesus verdadeiramente humano leva todos os fardos dos seres humanos.
Em João, Jesus é a águia, Aque­le cujos olhos vêem muito longe e que voa pelo céu, são metáforas de Sua natureza divina. Como observou Agostinho, três evangelhos enfatizam a natureza humana, e um a divina.
Há algo misterioso e que inspira reverência quanto às palavras iniciais de João. Ele escreve que
princípio de nosso mundo ha­a Palavra, Jesus, e que a Pala­t estava com o Pai, e a Palavra era Deus. Nada veio à existência sem a Palavra (ver João 1:1-3). Como uma água voando longe da vista, nas alturas do céu, Jesus viveu e vive a plena deidade.
João continua no capítulo inicial de seu Evangelho dizendo que todos os que nEle crêem Ele dá o direito de se tornarem Seus filhos, parte de Sua família (ver João :12). E depois de Jesus Se tomar ser humano em carne humana, pud­emos ver a glória do Pai nEle, plena de graça, surpreendente graça que salva cada um de nós (ver João :14). Desde o início João enfatiza divindade de nosso Senhor
Em uma história registrada apenas no Evangelho de João6 vemos a sublime ilustração dEle como nosso divino Salvador que não nos condena, mas que é o único que pode perdoar nossos pecados!
É bem cedo, na manhã fria e ensolarada. Jesus passou a noite Fora de Jerusalém, no Monte das Oliveiras, em oração. Outro homem passara a noite dentro de Je­rusalém envolvido em um relacionamento amoroso ilícito. O sol nascente lança longas sombras no pátio do templo, formando blocos contrastantes entre escuros e claros. Ainda era muito cedo para a grande multidão que viria ao longo do dia.
Em meio à essa cena tranqüila aproxima-se um grupo de líderes religiosos alvoroçados, fariseus e rabinos. Não vêm sozinhos. Eles estão arrebanhando uma jovem aterrorizada e alvoroçada. Seus cabelos não foram penteados. Seu manto fora jogado apressadamente sobre seus ombros. Suas olheiras revelam uma noite sem dor­rnir. Eles a atiram em frente a Jesus e ordenam que permaneça ali.
Em humilhação, ela mantém a cabeça abaixada em frente dos ho­mens finamente vestidos que regiam a sociedade. O porta-voz des­creve o problema. “Esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. E na lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; Tu, pois, que dizes?” (Ver João 8:4 e 5). Ela começa a fazer contagem regressiva de seus últimos momentos de vida, triste por seus muitos pecados em tão tenra idade. A próxima coisa que espera é que a pri­meira pedra a deixe desacordada.
Então, ouve Alguém dizer: “Se algum de vocês estiver sem peca­do, seja o primeiro a atirar pedra nela.” Depois tudo o que ela “ou­viu” foi o silêncio.
Jesus Se ajoelha sobre a pavi­mentação do pátio. Os varredores ainda não haviam iniciado seu trabalho. O pó depositado durante a noite não fora ainda removi­do, e Ele começou a escrever sobre o pó. Pouco depois passa a ecoar o som de sandálias sobre a areia, o som de alguém desaparecendo da vista. Então outro, e outro.
Passado mais algum tempo, Jesus Se levanta e olha para a mu­lher A Misericórdia olha proposital­mente nos olhos da Miséria. “Mulher, onde estão eles? Ninguém a condenou?”, Ele pergunta. Ela olha ao redor e então descobre que nenhum dos homens arro­gantes que a haviam arrastado de
seu leito e empurrado-a para o pá­tio do templo estava lá. “Nin­guém, Senhor”, ela respondeu surpresa. Então ouviu as palavras ins­piradoras da Palavra de Deus: “Eu também não a condeno. Agora e abandone sua vida de pecado.”
Sua alma sente tal alívio e res­tauração que ela não pode pôr em palavras. Seus olhos se enchem de lágrimas ao cair no chão aos pés de Jesus. Ela confessa seus pecados a Ele, recebe o perdão e nasce nova­mente para se tomar uma das mais confiáveis e leais seguidoras de Jesus pelo resto de sua vida.7 Em João, Jesus a águia, em Sua divin­dade, tomou-a uma nova pessoa.
Portanto, qual é a natureza de Jesus? O retrato pintado nos qua­tro Evangelhos mostra-O total e verdadeiramente homem, mas sem pecado, e total e verdadeira­mente Deus, que nos redime e nos dá a vida eterna. Mistério!
É o mistério maravilhoso de Sua dupla natureza, plenamente Deus e plenamente homem, em quem nossa realização pessoal na Terra e nossas esperanças do Céu estão firmemente fundamentadas. 

Extraído  de Ministry, junho de 2003


Notas
1   Seventh-day Adventist Bib/e Come­ntary, vol. 5, pág. 1.131.
2   Signs of the Time, 9 dc dezembro de 1897.
3   Seventh-day Adventist Bib!e Comentary; vol. 5 págs. 1.128 e 1.129.
4   Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações (Taruí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira), pág. 25.
5   Signs of the Times, 29 de maio de 1901.
6   É bem conhecido que esta historia aparece apenas em um dos primeiros manuscritos e que nenhum dos pais da igreja faz comentários sobre ela. Mas há um elevado nível de afirma­ção de que, no entanto, é verdadeira.
7 O Desejado de Todas as Nações, pág. 462.

                Revisto do Ancião, janeiro.março 2004

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