As Testemunhas de
Jeová e sua Interpretação da Bíblia
Apostila do Prof.
Pedro Apolinário - 4ª. Edição 1986 –
Antes do estudo dos problemas envolvidos na tradução
deste versículo, algumas palavras sobre o vocábulo Logos.
Os comentários sobre esta palavra têm sido variados e
extensos. Sabatini Lalli, estudou-a com proficiência num volume de 100 páginas - O Logos Eterno. O
Dicionário Teológico do Novo Testamento de Kittel dedica-lhe nada menos de 60
páginas. O autor destas linhas também teve o privilégio ou a pesada incumbência
de a estudar numa monografia de 70 páginas para o seu mestrado na Andrews
Universty.
Este termo, segundo tudo indica, se originou com os
Estóicos, que o usaram para designar a sabedoria divina como a força integrante
do universo.
O vocábulo grego
Logos é muito
rico em significados pois pode ser traduzido em português por máxima, razão,
pensamento, palavra, ordem, argumento, explicação, verbo e outros. Apesar do
grande número de diferentes significados, a sua tradução básica é palavra”. É
da mesma raiz do verbo lego = falar, dizer.
O livro Jóias do Novo Testamento Grego, de Kenneth S.
Wuest, comenta nas páginas 46 e 47 sobre esta expressão o seguinte:
“No idioma grego existem três palavras que significam palavra,
uma que se refere a mero som articulado da voz, outra que fala desse som como
manifestação de um estado mental, e ainda outra, a que é empregada por João,
cujo sentido será aqui discutido.
Essa palavra é Logos (em nossa versão portuguesa traduzida como Verbo).
Deriva-se do verbo que significa literalmente escolher ou selecionar,
ou seja escolher palavras a fim de expressar
os próprios pensamentos, ou ainda, falar. Refere-se a uma palavra proferida pela voz humana, palavra essa que
inclui um conceito ou idéia. Não se refere meramente a uma parte da linguagem,
mas antes, a uma expressão total. Os filósofos gregos, na tentativa de
compreender a relação existente entre Deus e o universo, falavam de um mediador
desconhecido, e a esse mediador chamavam de Logos. João informa aos mesmos
que esse mediador que desconheciam é nosso Senhor, e para tal emprega o mesmo nome, Logos
(Verbo). Nosso Senhor é o Logos de Deus no sentido de que Ele é o conceito total de
Deus, é a
Deidade a falar por intermédio do Filho de Deus, não em partículas de
linguagem, como que uma sentença composta de vocábulos, mas antes, na vida
humana de uma Pessoa divina. Nosso Senhor Jesus disse: Quem me vê a mim, vê o
Pai ( João 14:9), e Paulo diz (Heb. 1:1,2) que enquanto nas épocas passadas
Deus falou a Israel usando os profetas como porta-vozes, agora nos tem falado
em uma Pessoa que é Seu próprio Filho. Portanto nosso Senhor é a Palavra de Deus no
sentido de que é a Deidade expressa”.
O filósofo judeu Filo a usou 1.300 vezes em sua exposição
do Velho Testamento, mas em seus escritos Logos exclui a idéia de Personalidade
e Preexistência. Para ele o Logos era um “instrumento” ou “ferramenta” de que
se serviu o Criador para formar o Universo.
Na Septuaginta o termo “Logos” é usado para traduzir a
palavra hebraica dabhar. De acordo com uma característica da psicologia
hebraica o dabhar de um homem é considerado, em certo sentido, uma
extensão de sua personalidade.
João usou Logos como designação para Cristo, como a
expressão do caráter, mente e vontade de Deus. Que nesta passagem significa uma
pessoa, prova-o o versículo 14 logo abaixo. Por que João chamou a Cristo de
Logos é uma
questão muito controvertida entre os comentaristas. Talvez a mais simples e
satisfatoría seja a de Melanchton e outros, a saber: Cristo é chamado o Verbo por que
ele é a voz
ou o intérprete da vontade divina.
Qual a finalidade de qualquer palavra?
É expressar uma idéia, revelar um pensamento; portanto
Cristo veio como expressão da vontade de Deus, para revelá-lo aos homens. Foi
este Verbo ou esta Palavra que trouxe todas as coisas à existência. Todas as
coisas foram feitas por Ele, isto é, pelo Verbo Eterno.
Logos corresponde a Elohim
no Velho Testamento, Elohim não é um título para a
Divindade, mas o nome para Deus como o CRIADOR
- Gên. 1:1. João 1:3
apresenta o Logos como o criador de todas as coisas.
João de maneira categórica e inequívoca inicia seu
Evangelho declarando que Cristo é Deus, sendo esta uma das mais fortes referências da Bíblia, concernente à absoluta
Divindade de Cristo, mas apesar desta clareza meridiana este verso é o mais citado pelas
Testemunhas de Jeová para negarem a Sua Divindade.
Eis ainda a síntese feita por William Barclay, em New
Testament Words, página 188, após o estudo do “Logos” de João.
“Chamando a Jesus de Logos, João afirmou duas coisas
sobre Ele:
1ª.) Jesus é o poder Criador de Deus vindo para os homens. Sua vinda não
foi tanto para nos dizer coisas, mas para fazer coisas por n6s.
2ª.) Jesus é o pensamento de Deus encarnado. Podemos bem traduzir as
palavras de João assim:
“o pensamento ou propósito de Deus se tornou um
homem. Uma palavra é sempre a expressão de um pensamento, e Jesus é a perfeita expressão dos
pensamentos de Deus para os homens”.
Na língua em que João escreveu o Evangelho, João 1:1
está assim:
En arkh hn o logoz , kai o logoz hn proz
ton Qeon, Qeoz hn
o l0goz .
As Testemunhas de Jeová, com seu negativismo doentio,
procurando derribar a doutrina da Trindade e da Divindade de Jesus apresentam a
seguinte tradução e comentário deste verso:
“Em João, capítulo primeiro, fala-se dele como sendo o
Verbo de Deus, isto é, o porta-voz ou orador representante de Deus. No texto da
Bíblia em grego o Verbo é Logos. Daí ele pode ser chamado de Verbo do Logos.
Sendo poderoso e tendo essa alta posição de Logos e sendo antes de todas as
outras criaturas, ele era um Deus, mas não o Deus Todo-Poderoso, que é Jeová. Essa distinção se
comprova na tradução que o Diaglótico Enfático faz de João 1:1-3, contorme se
segue:
‘No
princípio era o Logos, e o Logos estava com DEUS, e o Logos era DEUS. Isto
estava no princípio com DEUS. Através disto todas as coisas foram feitas; e
sem isto nada do que foi feito se fez’. Aqui em nossa citação a diferença
tipográfica entre DEUS e Deus está extamente como se encontra no Diaglótico. A
tradução interlinear do Diaglótico feita do grego, palavra ap6s palavra, faz
a. distinçao entre Jeová como “DEUS” e o
Logos como “Deus” mais explicitamente conforme lemos a seguir: ‘Em um principio
era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e um deus era o Verbo. Isto foi num
princípio com Deus’. De maneira muito feliz (veja como foi classificado
por Bruce logo na frente) a Traduçao Novo Mundo das Escrituras Cristãs Gregas (publicada em 1950) verte
Joao 1:1, 2 assim: Originalmente era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o
Verbo era um deus. Este estava originalmente com Deus’. Assim o Verbo ou Logos
veio a existência muito antes de uma das posteriores criaturas de Deus se
transformar em um diabo e tornar-se, conforme é chamada em II Cor. 4:4 (T N M), ‘o
deus deste sistema de coisas’”.
Citação do livro: Seja Deus Verdadeiro, páginas 33 e 34.
Classificaria este trecho com três adjetivos:
herético,
prolixo e confuso.
A tradução no princípio era o Verbo e o Verbo estava com
Deus e o Verbo era um deus, não pode ser aceita pelo seguinte:
1º.) Apresentando
“um segundo Deus” introduzem o politeísmo no monoteísmo bíblico;
2º.) Ninguém,
entre os profundos conhecedores do grego, sanciona esta tradução.
3º.) Consultando
as grandes traduções da Bíblia verificamos que esta distorção não aparece.
Apenas Moffatt e Goodspeede ao que parece para contornarem o problema da não
existência do artigo antes da palavra Deus (Theós em grego) traduziram — e o
Verbo era Divino. Se esta fosse a idéia de João ele teria usado o adjetivo
(theiós).
Em Joao 1:1, período formado de três orações, as duas
primeiras visam preparar o nosso espírito para a afirmação sublime de que
Cristo era Deus.
Os dois principais problemas deste verso:
1 - Qual o sujeito da oração?
2 - O uso do artigo com a palavra Theós - Deus.
1 - Primeiro problema - O sujeito da oração.
Em português colocamos o complemento predicativo depois
do verbo de ligação, enquanto no grego ele é colocado antes, porque se torna muito mais enfático. The Interpretation of St. John’s de R.C.Lenski, pág. 33.
De acordo com Robertson, pág. 791, Theós nesta frase é complemento predicativo
e Logos o sujeito.
E regra elementar da gramática grega que o adjetivo vindo
antes do artigo é predicativo e se o adjetivo vier depois do substantivo,
ainda sem artigo é também predicativo. Sabatini Lalli, em seu livro “O Logos
Eterno” na página 34 cita do First Greek Book de, John Williams White os
seguintes exemplos:
mikrai ai oikiai hsan -
ai oikiai mikrai hsan -
As
casas eram pequenas, que ilucidam a afirmação feita acima. Nestes dois exemplos
o substantivo oikia é o sujeito, e o adjetivo mikrai e o complemento predicativo. Aplicando esta mesma regra à terceira afirmação de
João 1:1 veremos que “Logos” é o sujeito e “Theós” o predicativo, portanto a única
tradução correta só poderá ser — O Verbo era Deus.
2 -
Segundo Problema - Ausência do artigo “Theós”.
Arnaldo B. Christianini em Radiografia do Jeovismo páginas
19 e 20, escreveu:
“Argumentam elas, as chamadas Testemunhas de Jeová que
ocorrendo o artigo definido
ron Qeon em Joao
1:1 segunda oração, e não ocorrendo o artigo com Qeoz na terceira oração da mesma passagem do
Evangelho, é porque
essa omissão se destina a mostrar uma diferença. E vão mais longe ainda: dizem
que essa ‘diferença’ é no primeiro caso significar apenas ‘o Único Deus Verdadeiro
(Jeová) ‘, e no segundo significar apenas ‘um deus’, outro que não
o primeiro, inferior a Ele sendo este último ‘deus’ Jesus Cristo.
Ora isto é um contrasenso, além de ser um sacrilégio: Não há nenhuma
base linguística nem lógica para tal desconchavo. Pura invencionice”
Esta afirmação das Testemunhas de Jeová talvez tenha sua
origem em Orígenes — o precursor
do
arianismo, que fazia diferença entre Theós e O Theós
de João. Cristo é Theós, enquanto Deus
o Pai é O Theós.
Walter R. Martim, talvez quem melhor sintetizou a parte
histórica e doutrináría das Testemunhas de Jeová mostrou a fragilidade da argumentação
jeovista de que Deus com artigo é Jeová e sem artigo, um deus inferior, isto é Jesus. No livro “The
Kingdom of the Cults” págs. 75 e 76 ilustrou com vários exemplos bíblicos que
tal afirmativa é inconseqüente.
Para serem coerentes deveriam traduzir as seguintes
passagens desta maneira:
Mateus
5:9 — chamados
filhos de um Deus.
Lucas 1:35 -Filho de um Deus.
Lucas 1:78 -Compaixão de nosso um Deus
João 1:6 — Enviado por um Deus;
Lucas 1:78 -Compaixão de nosso um Deus
João 1:6 — Enviado por um Deus;
desde que o artigo definido não se encontra diante destas palavras.
As
testemunhas de Jeová acrescentam o artigo e o omitem desde que isto favoreça
suas conclusões, sem considerarem as regras mais rudimentares da sintaxe do
artigo em grego.
Os
eruditos na língua grega afirmam que os escritores do Novo Testamento freqüêntemente
omitem o artigo com a palavra Deus em grego Theós.
Robertson
comentando São João 1:1 afirma: “No Novo Testamento.., embora tenhamos “pros ton theón” é muitíssimo
mais comum encontrarmos simplesmente “Theós”, especialmente nas Epístolas.
O uso
ou não do artigo é bastante complexo em grego. Estudando a sua sintaxe em
três das melhores gramáticas gregas, ou sejam Dana And Mantey, Robertson e
Blass não achei nenhuma base filosófica que prove suas descabidas afirmações.
Dana
And Mantey na págima 139 da sua gramática afirmam:
“Um
estudo do uso de Qeoz como dado por Mouton nos convence de que sem
e artigo significa divina essência, enquanto com o artigo divina
personalidade... O uso de Theós em João 1: 1 é um bom exemplo: prós ton theón
aponta para a comunhão de Cristo com a pessoa do Pai, enquanto Theós en
ho logos enfatiza a participação de Cristo na essência da natureza divina”.
Robertson, que dedica quarenta e três páginas da sua
gramática para a sintáxe do artigo, afirma na página 795: A palavra Theós, como
um nome próprio, é freqüentemente usada com o artigo ou sem ele. Nas Epístolas
aparece freqüentemente sem o artigo. Em São João 1:1, como sujeito ho Theós,
mas como um predicativo, Theós en ho Logos”.
W.C. Taylor em seu livro Introdução do Novo Testamento
Grego, na página 198 declara:
“Em geral o sujeito tem artigo, mas o predicativo não o
tem: ho Theós agape estin = Deus é amor (1 João 4:16)”.
Quanto ao emprego do indefinido “um” antes da palavra
Deus, usada por eles irreverentemente com letra minúscula, Arnaldo B. Christianini provou, a
saciedade, que tal invencíonice não subsiste.
Robertson, página 796, afirma: O grego não tem artigo
indefinido. Teria sido muito fácil se a ausência do artigo em grego sempre
indicasse que o nome é indefinido, mas nós temos visto que isto não acontece. O
nome sem artigo pode ser definido ou “indefinido”.
Blass em sua gramática Grega do Novo Testamento na
página 148 declara: “Os nomes predicativos em regra geral são usados sem o
artigo”.
O professor Bruce M. Metzger, profundo he— lenista,
especializado no grego do Novo Testamento, em seu trabalho “Jdovah Witness and Christ”, comenta:
“Empregando o artigo “um”, os tradutores (da Tradução Novo Mundo)
desprezaram o bem conhecido fato de que na gramática grega os nomes po—
dem ser
definidos por várias razoes, quer esteia presente ou não o artigo definido.
Uma frase prepositiva, na qual o artigo definido nao vem expresso pode ser
definida no grego, como ocorre realmente em João 1:1”.
Depois de outros comentários sobre João 1:1, Pastor
Christianini conclui:
“As chamadas Testemunhas de Jeová não têm mesmo o senso
do ridículo ao insistirem na sua esdrúxula ‘tradução’. Seus
‘ministros’ ( todos os membros são ministros) não admitem que alguém mais
conheça o grego. Todas as sumidades de renome mundial daquele idioma são uns
ignorantes, só as traduções “Díaglótica” e “
Novo Mundo” são intocáveis. Não
querem examinar. Não querem cotejar. Não querem analisar. Escondem a cabeça
sobre a areia como o avestruz”.
Ainda outra prova conclusiva da irreverente e absurda
tradução das Testemunhas de Jeová temos no livro Answers to Questions de
F.F.Bruce:
Pergunta: “que relação, se há alguma, tem a mais recente luz sobre o
uso ou omissão do artigo no grego do Novo Testamento sobre João 1:1 com referência
à tradução e interpretação daquele verso corrente entre as
Testemunhas de Jeová o Verbo era um Deus?”
Resposta: A luz do mais recente
estudo do artigo no grego do Novo Testamento, a tradução das Testemunhas de
Jeová é vista como sendo ‘uma assustadora
ou pavorosa (em inglês frightful) tradução incorreta’. Ela despreza
inteiramente uma regra estabelecida na gramática grega que requer a tradução
‘.... e o Verbo era Deus’. Colwell da Universidade de Chicago
salientou em um estudo do artigo definido quando segue o verbo; não leva
artigo quando precede o verbo ... O verso
inicial do Evangelho de João contém uma das muitas passagens onde esta regra
sugere a tradução de um predicado com um substantivo definido. A ausência do
artigo (antes de Theós) não torna o predicado indefinido ou quantitativo quando
precede o verbo; ele é indefinido nesta
posição apenas quando o contexto o exige. O contexto não faz tal exigência no
Evangelho de João, porque esta declaração não pode ser considerada como
estranha no prólogo do Evangelho que atinge o seu clímax na confissão de Tomé
(B.M.Metzger, The Jehovah’s Witnesses and Jesus Christ 1953, pág. 75). Veja
também C. E. D. Moule, An Idiom of New Testament Greek, 1953, pág. 115;
Turner, Moulton’s Grammnar of New Testament Greek, Vol. III Syntax, 1963, pág. 183. The New English Bible
convenientemente parafraseia a cláusula: ‘o que Deus era, a Palavra era’. Este
é o princípio fundamental do Quarto Evangelho: ‘os feitos
e palavras de Jesus são os feitos e palavras de Deus; se isto não for verdade,
o livro é blasfemo’”.
Nec Plus Ultra
OBS.
As frases escritas em grego podem conter êrros.
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