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quinta-feira, 24 de julho de 2014

ARTIGOS SOBRE A TRINDADE - A PROBLEMÁTICA TRADUÇÃO DE JOÃO 1:1


A PROBLEMÁTICA TRADUÇÃO DE SÃO JOÃO 1:1

As Testemunhas de Jeová e sua Interpretação da Bíblia
Apostila do Prof. Pedro Apolinário - 4ª. Edição 1986

Antes do estudo dos problemas envolvidos na tradução deste versículo, algumas palavras so­bre o vocábulo Logos.

Os comentários sobre esta palavra têm sido variados e extensos. Sabatini Lalli, estudou-a com proficiência num volume de 100 páginas - O Logos Eterno. O Dicionário Teológico do Novo Testamento de Kittel dedica-lhe nada menos de 60 páginas. O autor destas linhas também teve o privilégio ou a pesada incumbência de a estudar numa monografia de 70 páginas para o seu mes­trado na Andrews Universty.

Este termo, segundo tudo indica, se origi­nou com os Estóicos, que o usaram para designar a sabedoria divina como a força integrante do universo.

O  vocábulo grego Logos é muito rico em sig­nificados pois pode ser traduzido em português por máxima, razão, pensamento, palavra, ordem, argumento, explicação, verbo e outros. Apesar do grande número de diferentes significados, a sua tradução básica é palavra”. É da mesma ra­iz do verbo lego = falar, dizer.

O livro Jóias do Novo Testamento Grego, de Kenneth S. Wuest, comenta nas páginas 46 e 47 sobre esta expressão o seguinte:

“No idioma grego existem três palavras que significam palavra, uma que se refere a mero som articulado da voz, outra que fala desse som como manifestação de um estado mental, e ainda outra, a que é empregada por João, cujo sentido será aqui discutido.

Essa palavra é Logos (em nossa versão por­tuguesa traduzida como Verbo). Deriva-se do ver­bo que significa literalmente escolher ou sele­cionar, ou seja escolher palavras a fim de  ex­pressar os próprios pensamentos, ou ainda, falar. Refere-se a uma palavra proferida pela voz humana, palavra essa que inclui um conceito ou idéia. Não se refere meramente a uma parte da linguagem, mas antes, a uma expressão total. Os filósofos gregos, na tentativa de compreender a relação existente entre Deus e o universo, falavam de um mediador desconhecido, e a esse me­diador chamavam de Logos. João informa aos mes­mos que esse mediador que desconheciam é nosso Senhor, e para tal emprega o mesmo nome, Logos (Verbo). Nosso Senhor é o Logos de Deus no sen­tido de que Ele é o conceito total de Deus, é a Deidade a falar por intermédio do Filho de Deus, não em partículas de linguagem, como que uma sentença composta de vocábulos, mas antes, na vida humana de uma Pessoa divina. Nosso Senhor Jesus disse: Quem me vê a mim, vê o Pai ( João 14:9), e Paulo diz (Heb. 1:1,2) que enquanto nas épocas passadas Deus falou a Israel usando os profetas como porta-vozes, agora nos tem falado em uma Pessoa que é Seu próprio Filho. Portanto nosso Senhor é a Palavra de Deus no sentido de que é a Deidade expressa”.

O filósofo judeu Filo a usou 1.300 vezes em sua exposição do Velho Testamento, mas em seus escritos Logos exclui a idéia de Personalidade e Preexistência. Para ele o Logos era um “instrumento” ou “ferramenta” de que se serviu o Criador para formar o Universo.

Na Septuaginta o termo “Logos” é usado para traduzir a palavra hebraica dabhar. De acordo com uma característica da psicologia hebraica o dabhar de um homem é considerado, em certo sen­tido, uma extensão de sua personalidade.

João usou Logos como designação para Cristo, como a expressão do caráter, mente e vontade de Deus. Que nesta passagem significa uma pessoa, prova-o o versículo 14 logo abaixo. Por que João chamou a Cristo de Logos é uma questão muito controvertida entre os comentaristas. Talvez a mais simples e satisfatoría seja a de Melanchton e outros, a saber: Cristo é chamado o Verbo por que ele é a voz ou o intérprete da vontade di­vina.

Qual a finalidade de qualquer palavra?

É expressar uma idéia, revelar um pensamen­to; portanto Cristo veio como expressão da von­tade de Deus, para revelá-lo aos homens. Foi es­te Verbo ou esta Palavra que trouxe todas as coisas à existência. Todas as coisas foram fei­tas por Ele, isto é, pelo Verbo Eterno.

Logos corresponde a Elohim no Velho Testa­mento, Elohim não é um título para a Divindade, mas o nome para Deus como o CRIADOR - Gên. 1:1. João 1:3 apresenta o Logos como o criador de to­das as coisas.

João de maneira categórica e inequívoca i­nicia seu Evangelho declarando que Cristo é Deus, sendo esta uma das mais fortes referências da Bíblia, concernente à absoluta Divindade de Cristo, mas apesar desta clareza meridiana este verso é o mais citado pelas Testemunhas de Jeo­vá para negarem a Sua Divindade.

Eis ainda a síntese feita por William Bar­clay, em New Testament Words, página 188, após o estudo do “Logos” de João.

“Chamando a Jesus de Logos, João afirmou du­as coisas sobre Ele:

1ª.) Jesus é o poder Criador de Deus vindo para os homens. Sua vinda não foi tanto para nos dizer coisas, mas para fazer coisas por n6s.

2ª.) Jesus é o pensamento de Deus encarnado. Podemos bem traduzir as palavras de João assim:

“o  pensamento ou propósito de Deus se tornou um homem. Uma palavra é sempre a expressão de um pensamento, e Jesus é a perfeita expressão dos pensamentos de Deus para os homens”.

Na língua em que João escreveu o Evange­lho, João 1:1 está assim:

En  arkh hn o logoz ,  kai o logoz  hn  proz  ton  Qeon,  Qeoz  hn  o  l0goz  .

As Testemunhas de Jeová, com seu negativis­mo doentio, procurando derribar a doutrina da Trindade e da Divindade de Jesus apresentam a seguinte tradução e comentário deste verso:

“Em João, capítulo primeiro, fala-se dele como sendo o Verbo de Deus, isto é, o porta-voz ou orador representante de Deus. No texto da Bí­blia em grego o Verbo é Logos. Daí ele pode ser chamado de Verbo do Logos. Sendo poderoso e tendo essa alta posição de Logos e sendo antes de todas as outras criaturas, ele era um Deus, mas não o Deus Todo-Poderoso, que é Jeová. Essa distinção se comprova na tradução que o Diaglótico Enfático faz de João 1:1-3, contorme se segue:
‘No princípio era o Logos, e o Logos estava com DEUS, e o Logos era DEUS. Isto estava no prin­cípio com DEUS. Através disto todas as coisas foram feitas; e sem isto nada do que foi feito se fez’. Aqui em nossa citação a diferença tipográfica entre DEUS e Deus está extamente como se encontra no Diaglótico. A tradução interli­near do Diaglótico feita do grego, palavra ap6s palavra, faz a. distinçao entre Jeová como  “DEUS” e o Logos como “Deus” mais explicitamente conforme lemos a seguir: ‘Em um principio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e um deus era o Verbo. Isto foi num princípio com Deus’. De maneira muito feliz (veja como foi classificado por Bruce logo na frente) a Traduçao Novo Mundo das Escrituras Cristãs Gregas (publicada em 1950) verte Joao 1:1, 2 assim: Originalmente e­ra o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Ver­bo era um deus. Este estava originalmente com Deus’. Assim o Verbo ou Logos veio a existência muito antes de uma das posteriores criaturas de Deus se transformar em um diabo e tornar-se, con­forme é chamada em II Cor. 4:4 (T N M), ‘o deus deste sistema de coisas’”.

Citação do livro: Seja Deus Verdadeiro, pá­ginas 33 e 34.

Classificaria este trecho com três adjetivos:
herético, prolixo e confuso.

A tradução no princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era um deus, não pode ser aceita pelo seguinte:

1º.)    Apresentando “um segundo Deus” introdu­zem o politeísmo no monoteísmo bíblico;

2º.)    Ninguém, entre os profundos conhecedores do grego, sanciona esta tradução.

3º.)    Consultando as grandes traduções da Bí­blia verificamos que esta distorção não aparece. Apenas Moffatt e Goodspeede ao que parece para contornarem o problema da não existência do ar­tigo antes da palavra Deus (Theós em grego) tra­duziram  —    e o Verbo era Divino. Se esta fosse a idéia de João ele teria usado o adjetivo (thei­ós).

Em Joao 1:1, período formado de três orações, as duas primeiras visam preparar o nosso espírito para a afirmação sublime de que Cristo era Deus.

Os dois principais problemas deste verso:

1 -                        Qual o sujeito da oração?

2 -                        O uso do artigo com a palavra Theós -  Deus.

1 -                        Primeiro problema - O sujeito da oração.

Em português colocamos o complemento predi­cativo depois do verbo de ligação, enquanto no grego ele é colocado antes, porque se torna muito mais enfático. The Interpretation of St. Jo­hn’s de R.C.Lenski, pág. 33.

De acordo com Robertson, pág. 791, Theós nes­ta frase é complemento predicativo e Logos o sujeito.

E regra elementar da gramática grega que o adjetivo vindo antes do artigo é predicativo e se o adjetivo vier depois do substantivo, ainda sem artigo é também predicativo. Sabatini Lalli, em seu livro “O Logos Eterno” na página 34 cita do First Greek Book de, John Williams White os seguintes exemplos:    
mikrai  ai  oikiai  hsan  -  ai  oikiai  mikrai  hsan  -
                                                                                                  
 As casas eram pequenas, que ilucidam a afirmação feita acima. Nestes dois exemplos o substantivo     oikia    é o  sujeito, e o adjetivo      mikrai     e o complemento predicativo. Aplicando esta mesma regra à ter­ceira afirmação de João 1:1 veremos que “Logos” é o sujeito e “Theós” o predicativo, portanto a única tradução correta só poderá ser  —       O Verbo era Deus.

2 - Segundo Problema - Ausência do artigo “Theós”.

Arnaldo B. Christianini em Radiografia do Jeovismo páginas 19 e 20, escreveu:

“Argumentam elas, as chamadas Testemunhas de Jeová que ocorrendo o artigo definido
ron Qeon  em Joao 1:1 segunda oração, e não ocorrendo o artigo com   Qeoz    na terceira oração da mesma passagem do Evangelho, é porque essa omissão se destina a mostrar uma diferença. E vão mais lon­ge ainda: dizem que essa ‘diferença’ é no pri­meiro caso significar apenas ‘o Único Deus Ver­dadeiro (Jeová) ‘, e no segundo significar ape­nas ‘um deus’, outro que não o primeiro, infe­rior a Ele sendo este último ‘deus’ Jesus Cristo.

­Ora isto é um contrasenso, além de ser um sacrilégio: Não há nenhuma base linguística nem lógica para tal desconchavo. Pura invencionice”

Esta afirmação das Testemunhas de Jeová tal­vez tenha sua origem em Orígenes   —     o precursor
do arianismo, que fazia diferença entre Theós e   O  Theós de João. Cristo é Theós, enquanto Deus
o Pai é O Theós.

Walter R. Martim, talvez quem melhor sinte­tizou a parte histórica e doutrináría das Tes­temunhas de Jeová mostrou a fragilidade da ar­gumentação jeovista de que Deus com artigo é Je­ová e sem artigo, um deus inferior, isto é Je­sus. No livro “The Kingdom of the Cults” págs. 75 e 76 ilustrou com vários exemplos bíblicos que tal afirmativa é inconseqüente.

Para serem coerentes deveriam traduzir as seguintes passagens desta maneira:


Mateus 5:9         —   chamados filhos de um Deus.
            Lucas   1:35     -Filho de um Deus.
            Lucas   1:78     -Compaixão de nosso um Deus
              João   1:6      
Enviado por um Deus;

     desde que   o artigo definido não se encontra di­ante destas palavras.

As testemunhas de Jeová acrescentam o arti­go e o omitem desde que isto favoreça suas conclusões, sem considerarem as regras mais rudi­mentares da sintaxe do artigo em grego.

Os eruditos na língua grega afirmam que os escritores do Novo Testamento freqüêntemente omitem o artigo com a palavra Deus em grego The­ós.

Robertson comentando São João 1:1 afirma: “No Novo Testamento.., embora tenhamos pros ton theón” é muitíssimo mais comum encontrarmos sim­plesmente “Theós”, especialmente nas Epístolas.

O uso ou não do artigo é bastante complexo em grego. Estudando a sua sintaxe em três das melhores gramáticas gregas, ou sejam Dana And Mantey, Robertson e Blass não achei nenhuma ba­se filosófica que prove suas descabidas afirma­ções.

Dana And Mantey na págima 139 da sua gramá­tica afirmam:

“Um estudo do uso de   Qeoz   como dado por Mouton nos convence de que sem e artigo signi­fica divina essência, enquanto com o artigo di­vina personalidade... O uso de Theós em João 1: 1 é um bom exemplo: prós ton theón aponta para a comunhão de Cristo com a pessoa do Pai, en­quanto Theós en ho logos enfatiza a participação de Cristo na essência da natureza divina”.

Robertson, que dedica quarenta e três pági­nas da sua gramática para a sintáxe do artigo, afirma na página 795: A palavra Theós, como um nome próprio, é freqüentemente usada com o ar­tigo ou sem ele. Nas Epístolas aparece freqüentemente sem o artigo. Em São João 1:1, como su­jeito ho Theós, mas como um predicativo, Theós en ho Logos”.

W.C. Taylor em seu livro Introdução do Novo Testamento Grego, na página 198 declara:

“Em geral o sujeito tem artigo, mas o pre­dicativo não o tem: ho Theós agape estin = Deus é amor (1 João 4:16)”.

Quanto ao emprego do indefinido “um” antes da palavra Deus, usada por eles irreverentemente com letra minúscula, Arnaldo B. Christianini provou, a saciedade, que tal invencíonice não subsiste.

Robertson, página 796, afirma: O grego não tem artigo indefinido. Teria sido muito fácil se a ausência do artigo em grego sempre indicasse que o nome é indefinido, mas nós temos visto que isto não acontece. O nome sem artigo pode ser definido ou “indefinido”.

Blass em sua gramática Grega do Novo Testa­mento na página 148 declara: “Os nomes predica­tivos em regra geral são usados sem o artigo”.

O professor Bruce M. Metzger, profundo he— lenista, especializado no grego do Novo Testa­mento, em seu trabalho “Jdovah Witness and Christ”, comenta:

“Empregando o artigo “um”, os tradutores (da Tradução Novo Mundo) desprezaram o bem conheci­do fato de que na gramática grega os nomes po—


dem ser definidos por várias razoes, quer este­ia presente ou não o artigo definido. Uma frase prepositiva, na qual o artigo definido nao vem expresso pode ser definida no grego, como ocor­re realmente em João 1:1”.

Depois de outros comentários sobre João 1:1, Pastor Christianini conclui:

“As chamadas Testemunhas de Jeová não têm mesmo o senso do ridículo ao insistirem na sua esdrúxula tradução’. Seus ‘ministros’ ( todos os membros são ministros) não admitem que al­guém mais conheça o grego. Todas as sumidades de renome mundial daquele idioma são uns igno­rantes, só as traduções “Díaglótica” e Novo Mundo” são intocáveis. Não querem examinar. Não querem cotejar. Não querem analisar. Escondem a cabeça sobre a areia como o avestruz”.

Ainda outra prova conclusiva da irreverente e absurda tradução das Testemunhas de Jeová te­mos no livro Answers to Questions de F.F.Bruce:

Pergunta:          “que relação, se há alguma, tem a mais recente luz sobre o uso ou omissão do artigo no grego do Novo Testamento so­bre João 1:1 com referência à tradu­ção e interpretação daquele verso corrente entre as Testemunhas de Jeová o Verbo era um Deus?”

Resposta:          A luz do mais recente estudo do arti­go no grego do Novo Testamento, a tradução das Testemunhas de Jeová é vis­ta como sendo ‘uma assustadora ou pavorosa (em inglês frightful) tradução incorreta’. Ela despreza inteiramente uma regra estabelecida na gramática grega que requer a tradução ‘.... e o Verbo era Deus. Colwell da Universidade de Chicago salientou em um estu­do do artigo definido quando segue o verbo; não leva artigo quando precede o verbo ...   O verso inicial do Evan­gelho de João contém uma das muitas passagens onde esta regra sugere a tradução de um predicado com um subs­tantivo definido. A ausência do arti­go (antes de Theós) não torna o pre­dicado indefinido ou quantitativo quan­do precede o verbo; ele é indefinido nesta posição apenas quando o contex­to o exige. O contexto não faz tal e­xigência no Evangelho de João, porque esta declaração não pode ser conside­rada como estranha no prólogo do Evan­gelho que atinge o seu clímax na con­fissão de Tomé (B.M.Metzger, The Je­hovah’s Witnesses and Jesus Christ 1953, pág. 75). Veja também C. E. D. Moule, An Idiom of New Testament Gre­ek, 1953, pág. 115; Turner, Moulton’s Grammnar of New Testament Greek, Vol. III Syntax, 1963, pág. 183. The New English Bible convenientemente para­fraseia a cláusula: ‘o que Deus era, a Palavra era’. Este é o princípio fun­damental do Quarto Evangelho: ‘os fei­tos e palavras de Jesus são os feitos e palavras de Deus; se isto não for verdade, o livro é blasfemo’”.

Nec Plus Ultra



OBS.  As frases escritas em grego podem conter êrros.

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