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domingo, 4 de fevereiro de 2018

O JUÍZO INVESTIGATIVO



A doutrina Adventista do Juízo Investigativo

Dr. Mário Veloso
Secr. de Campo da Divisão Sul-Americana
O Ministério Adventista  nº 2  Mar-Jun1981

Em nosso desenvolvimento deste tema precisamos seguir um esquema muito claro para evitar toda confusão, pois a menor con­fusão poderia levar-nos a obs­curecer a totalidade do que que­remos apresentar, podendo ar­rastar-nos para alguns dos tantos erros que soem ser cometidos ao tratar de um assunto como este.
Portanto, esta introdução tem duas partes bem definidas: a pri­meira se ocupa de dar-nos qua­tro dados prévios indispensáveis para o desenvolvimento do tema, e a segunda nos oferece o esboço de seu desenvolvimento, depois de expor o problema do qual queremos tratar nesta exposição.

 Dados Prévios Indispensáveis

Não se pode desenvolver um te­ma sem definir primeiro o que entendemos por ele; assim, de­finiremos o Juízo Investigativo, depois indicaremos a necessida­de de conhecê-lo, então sua im­portância e, por último, a data quando é realizado.

Definição. — A definição que damos a seguir foi extraída da Enciclopédia Adventista:

É um termo adventista para a fase preliminar do grande juízo final por meio do qual Deus intervirá nos assuntos humanos para acabar com o reinado do pecado e inaugurar o eterno rei­no de justiça, de Cristo”1

Esta definição não estará com­pleta se não dissermos em que consiste o juízo investigativo e qual é o seu propósito.

“Consiste num exame dos re­gistros do vida dos que alguma vez professaram aceitar a salva­ção em Cristo, e cujos nomes, portanto, foram inscritos no “li­vro da vida do Cordeiro”. 2
Seu propósito é verificar se eles estão em condições de ser cidadãos do eterno reino de Deus.
A necessidade de conhecer o juízo investigativo. —    Esta ne­cessidade é claramente expressa no seguinte parágrafo:

“O assunto do santuário e do juízo de investigação, deve ser claramente compreendido pelo povo de Deus. Todos necessitam para si mesmos de conhecimento sobre a posição e obra de seu grande Sumo Sacerdote. Aliás, ser-lhes-á impossível exercerem a fé que é essencial neste tempo, ou ocupar a posição que Deus lhes deseja confiar.”3

As duas primeiras declarações do parágrafo citado não são mais que duas formas de dizer a mesma coisa. Destacamos a força enfá­tica dos verbos utilizados: “deve” e “necessitam”. É um dever e uma necessidade conhecer o juí­zo investigativo ou o ministério e a obra de nosso grande Sumo Sacerdote. É uma necessidade e um dever porque este conheci­mento é uma das colunas funda­mentais da vida do verdadeiro cristão. Um está vinculado a sua relação pessoal com Deus: a capacidade de exercer fé nEle quando tudo parece opor-se à fé; e o outro está vinculado a sua relação com o próximo, visto que a posição que Deus nos quer confiar sem­pre estará relacionada com a sal­vação de nosso próximo por ser este o supremo interesse de Deus sobre a Terra.
     O próprio ser do cristão é um ser de fé e ação que se fundamenta em Deus. A ação é uma ação evangélica de proclamação. A fé é uma viva relação não só com o evangelho, mas também com o vivo conteúdo do evange­lho: Cristo Jesus. Tudo que um cristão é depende de sua relação pela fé com Cristo e com a missão dada por Cristo. Se tanto a fé como o cumprimento da missão, são afetados pelo conhecimento do juízo investigativo, esse co­nhecimento certamente se con­verte numa necessidade e num dever cristão nesta hora de crise em que nos compete viver.

Importância do juízo investi­gativo. — Só um parágrafo de O Grande Conflito será suficien­te para aclarar a tremenda impor­tância dessa parte da obra de Cris­to: “A intercessão de Cristo no santuário celestial, em prol do homem, é tão essencial ao plano da redenção, como o foi Sua mor­te sobre a cruz.”  “O resto do pa­rágrafo que citamos diz o seguin­te:

“Pela Sua morte iniciou essa obra, para cuja terminação as­cendeu ao Céu, depois de ressur­gir. Pela fé devemos penetrar até o interior do véu, onde nosso Precursor entrou por nós. (He­breus 6:20.) Ali se reflete a luz da cruz do Calvário. Ali pode­mos obter instrução mais clara dos mistérios da redenção. A salva­ção do homem se efetua a preço infinito para o Céu, o sacrifício feito é igual aos mais amplos re­quisitos da violada lei de Deus. Jesus abriu o caminho para o trono do Pai, e por meio de Sua mediação pode ser apresentado a Deus o desejo sincero de todos os que a Ele se chegam pele fé.”5

Data do juízo investigativo.

 Não nos compete analisar aqui todos os pormenores referentes à data do juízo investigativo, mas simplesmente declarar que se realiza no tempo que decorre entre 1844 e a Segunda Vinda de Cristo.

Problemas a Serem Estudados e Esboços de seu Desenvolvimento


 O assunto que queremos estudar é simplesmente determinar a obra que Crista está efetuando no juízo investigativo, a quem afeta e como. Para alcançar este objetivo analisaremos primeiro os serviços do santuário e o juízo investigativo, depois a obra de Crista desde Sua ascensão, e f­inalmente faremos uma síntese do que a Igreja Adventista crê acerca do juízo investigativo.

Os Serviços do Santuário e o Juízo Investigativo


A doutrina do juízo investigativo está relacionada com a doutrina do santuário; portanto não pode­mos estudar o juízo investigativo sem considerar primeiro o minis­tério do santuário.
No ministério do santuário ha­via dois serviços e três espécies de sacrifícios relacionados com eles. Um era o serviço diário. Realizava-se no átrio e no lugar santo, cada dia do ano (Heb. 9:6).  Os sacrifícios apresentados eram o sacrifício da manhã e da tarde — o contínuo — e os sa­crifícios que os pecadores apre­sentavam como oferta por seus pecados individuais, O segundo era o serviço anual, realizado no lugar santíssimo uma vez por ano (Heb. 9:7), quando eram ofereci­dos sacrifícios especiais. Este re­cebia o nome de Dia da Expiação.

Os Sacrifícios


Eram a atividade mais importan­te que se realizava no santuário. Foram o “elemento dominante da religião hebraica” desde “os tempos mais antigos até a destruição do segundo templo no ano 70d.C.”6


O assunto que queremos estudar é simplesmente determinar a obra que Cristo está efetuando no Juízo investigativo.

O   sacrifício continuo (Tamid).

— Este sacrifício consistia num animal (cordeiro) que era ofere­cido inteiro, junto com uma ofer­ta de cereal e uma libação (cf. Êxo. 29:38-42; Lev. 6:13; 24:3, 4 e 8; Núm. 28:3 e 6; I Reis 18: 29-36; II Reis 25:29 e 30;  II Crôn.2:3; 24:14; Esd. 3:5; 9:4; Ezeq.39:14; 46:13-15). Seu nome em hebraico, tamid, significa conti­nuidade, perpetuidade, denotan­do que devia ser feito continua­mente. Por conseguinte, cada dia do ano, de manhã e à tarde, eram oferecidos esses sacrifícios para benefício de todo o povo. Assim se provia expiação para todos. Onde quer que um israelita vi­vesse, podia elevar o coração a Deus, volver o rosto para Jerusa­lém, confessar seus pecados e apoderar-se da gratuita provisão dessa expiação (1 Reis 8:37, 39, 44, 45, 48 e 49).

Sacrifícios individuais. — 

    Os indivíduos também ofereciam seus próprios sacrifícios à medida que a oportunidade o tomava possível. Estes eram uma ex­pressão de sua gratidão, de sua fé e de sua aceitação da provisão divina para salvá-los do pecado. Nem todas as oferendas dessa es­pécie eram sacrifícios de animais, como por exemplo a das primí­cias, mas os sacrifícios expiatórios tinham de sê-lo —   pois “sem der­ramamento de sangue não há remissão” (Heb. 9:22)  —    como a oferta pelo pecado e a oferta pela culpa (Exo. 29:10 e 19; Lev. 1:4; 3:2, 8 e 13;  4:4, 24, 29e33; 16:21; 24:14; Núm. 27:18; Lev. 5:16 e 19;  7:1-7 e 14;  Núm. 5:7 e 8;  6:12; 18: 9;  II Reis 12:17; Esd. 10:19).

Sacrifícios especiais no Dia da Expiação.

  Este dia, chamado em hebraico Iom Cafarim, signi­fica dia de proteção, dia de expi­ação, dia de refúgio. A expiação é, então, “refúgio por meio de representação”.7  Um refúgio sempre implica a existência de um perigo; neste caso a perigo era ser eliminado “do seu povo” (Lev. 23:29). O refúgio provido não era um lugar onde as pessoas pudessem abrigar-se, e, sim, um substituto, um representante: o sacrifício oferecido. Três eram os principais atos do ritual do Dia da Expiação: Em primeiro lugar vinham os sacrifícios que o sumo sacerdote oferecia por si mesmo e por sua casa. Em segundo lugar se oferecia o sacrifício mais im­portante de toda a cerimônia: o bode para Jeová, que provia o sangue expiatório ou purificador. E em terceiro lugar vinha a ceri­mônia relacionada com o bode para Azazel, cuja sangue não era derramado, pois havia somente um sangue expiatório: o do bode para Jeová. Os ritos desse dia, o único dia de jejum prescrito na lei mosaica, estão registrados em Levítico 16, complementado pelos relatos de Lev. 23:26-32 e Núm.29:7-11.

Registro dos Pecados

Como se produzia a contamina­ção do pecado? Meticuloso es­tudo de todo o sistema de sacri­fícios do Santuário mostra clara­mente que havia um registro de pecados. Este registro era pro­duzido por transferência: o pe­cado se transferia do pecador cul­pado para a vítima que era sa­crificada, depois para o sacerdote que comia a carne e por último para o altar e para o santuário, onde era derramado e aspergido o sangue, ou estava presente por meio da pessoa do sacerdote quando entrava nele.
Lemos em Jeremias 17:1: “O pecado de Judá está escrito... nas pontas dos seus altares.” Em Levítico 10:17, repreendendo a Eleazar e Itamar por não have­rem comido a carne do sacrifício, disse Moisés:   “Por que não co­mestes a oferta pelo pecado no lugar santo? pois coisa santíssima é; e o Senhor a deu a vós outros, para levardes a iniqüidade da congregação, para fazerdes ex­piação por eles diante do Se­nhor.” (O grifo é nosso.)   Lemos também em Lev.4:17: “Molhará o dedo no sangue, e o espargirá sete vezes perante o Senhor, diante do véu.” “ Por esta ceri­mônia, mediante o sangue, o pe­cado era figuradamente transfe­rido para o santuário.”8
A obra do sacrifício diário era uma obra de reconciliação em prol do homem pecador. Seu pe­cado era perdoado. O transgres­sor era livrado de sua iniqüidade, mas ficava um sangrento registro do pecado no santuário. Neste sentido, o sacrifício diário cum­pria dupla função: era um substi­tuto que obtinha o perdão para o pecador e um meio para regis­trar o pecado no santuário. O perdão do pecado não elimina a obra do juízo final, mas garante a libertação do pecador, porquan­to o registro desse pecado foi efetuado pelo sangue do substi­tuto que, pelo ato do sacrifício, se transformou no autêntico pos­suidor da culpa.

No santuário celestial, o “ver­dadeiro tabernáculo” (Heb. 8:2), do qual o santuário terrestre so­mente era uma “figura e som­bra” (Heb. 8:5), também se guar­dam registros da conduta dos ho­mens. Tanto Daniel como João, em suas descrições do juízo, nos falam de uma cena em que “se abriram os livros” (Dan. 7:10; Apoc. 20:12). Esses livros não são códigos de leis, e, sim, re­gistros de conduta.
A Escritura Sagrada nos fala de dois livros ou espécies de livros: o livro da vida (Exo. 32: 32;  Sal. 69:28;  Exo. 32:33;   S. Luc. 10:20; Filip. 4:3; Heb. 12:23; Apoc. 3:5; 20:12 e 15), e o livro de memórias ou memorial (Mal. 3:16 e 17). No livro da vida são registrados  “os nomes de todos os que já entraram para o ser­viço de Deus”.  9 No livro de me­mórias, as obras boas e também as más. Sobre o registro de boas obras, Ellen C. White diz o se­guinte: “Estão registradas as boas ações dos que ‘temem ao Se­nhor...  No livro memorial de Deus toda ação de justiça se acha imortalizada. Ali, toda tentação resistida, todo mal vencido, toda palavra de terna compaixão que se proferir, acham-se fielmente historiados. E todo ato de sacri­ficio, todo sofrimento e tristeza, suportado por amor de Cristo, encontra-se registrado.”10

A obra que Cristo está desempenhando no Juízo Investigativo, está relacionada com os santos que têm existido desde Adão.

Acerca do registro das obras más, ela afirma: “Pecados de que não hou­ve arrependimento e que não foram abandonados, não serão perdoados nem apagados dos li­vros de registro, mas ali perma­necerão para testificar contra o pecador no dia de Deus.”11   Há vários textos bíblicos que fazem alusão a um registro dos pecados dos homens. Ver, por exemplo, Ecles. 12:14; 5;  Mal 12:36 e 37;  I Cor, 4:5;  Isa. 65: 6 e 7.
É claro, portanto, que o ser­viço diário expiava o pecado e o registrava no tabernáculo até o Dia da Expiação, quando se puri­ficavam todos os pecados nele acumulados durante o ano  todo.

Limpeza dos Registros


“Os pecados de Israel, sendo assim transferidos para o santuá­rio, tornavam contaminados os lugares santos, e uma obra espe­cial se tornava necessária para sua remoção.”12  Deus ordenara que fosse purificada cada uma das partes do sagrado santuário, e também o altar. “E o purifi­cará, e o santificará das impure­zas dos filhos de Israel.” Lev. 16: 19 e 16.
O objetivo da principal ceri­mônia do Dia da Expiação era limpar os registros dos pecados de Israel que se haviam acumu­lado durante o ano todo. Para isto o sumo sacerdote entrava no Lu­gar Santíssimo com o sangue do bode de Jeová. No entanto,  não era unicamente purificação e juí­zo o que se fazia no santuário durante o Dia da Expiação; pois o sacrifício continuo não cessava nesse dia, indicando assim que continuava a salvação do pecador por meio da administração do perdão.

O sangue do bode de Jeová era para beneficio do povo (Heb. 7:27; Lev. 16:30 e 33) e para expiação “pelos filhos de Israel por causa dos seus pecados” (Lev. 16:34), Esse mesmo sangue pu­rificava o Lugar Santíssimo, o lu­gar santo, o altar e todo o taber­náculo.

Quando a expiação pelo povo e a purificação do santuário já haviam sido realizadas, e quando todos os que queriam ser recon­ciliados já haviam sido reconci­liados, então, e só então, entrava em cena o bode para Azazel (Lev. 16:20), O sumo sacerdote colo­cava sobre ele os pecados acumu­lados no santuário e, depois, pela mão de um homem, o bode era enviado ao deserto para que mor­resse ali (Lev. 16:21 e 22). Esse bode não era sacrificado, pois não constituía a expiação pelo pecado, mas era punido com a morte de fome e sede no deserto.

O bode para Azazel era símbo­lo de Satanás. 13 Por isso não po­dia ser sacrificado pelo pecado. Unicamente Cristo é “a propicia­ção pelos nossos pecados” (I S. João 2:2; 4:10).

Cristo é Sumo Sacerdote no santuário celestial (Heb. 8:1 e 2). Ele aplica ali os méritos de Seu sacrifício aos pecadores arrepen­didos (Heb. 9:12-15). O santuá­rio celestial também precisa ser purificado como o era o santuá­rio terrestre, figura daquele. He­breus 9:23 diz que “as próprias coisas celestiais” seriam purifica­das “com sacrifícios.., superio­res”. Daniel profetizou dizendo:   “O santuário será purificado.” Cap. 8:14. O registro dos pecados que Deus mantém no Céu pare­ce ser o que confere impureza ao santuário celestial.

Visto que o Dia da Expiação do santuário terrestre era um serviço de purificação dos regis­tros do pecado do ano todo e de todo o povo de Deus, o Dia da Expiação final ou juízo investiga­tivo, deve estar relacionado com uma obra semelhante. Com esta conclusão estamos prontos para considerar o ponto seguinte:

A obra de Cristo Desde Sua Ascensão


A obra de Cristo desde sua ascenção abrange duas atividades que correspondem a dois períodos definidos: o primeiro vai des­de Sua ascensão até 1844, e o segundo, desde 1844 até Sua segunda vinda em glória. A idéia de duas atividades distintas na obra de Cristo desde Sua ascensão é claramente expressa no parágrafo que segue:



“Depois de Sua ascensão, nos­so Salvador iniciaria Sua obra como nosso Sumo Sacerdote... Assim como o ministério de Cris­to devia consistir em duas gran­des divisões, ocupando cada uma delas um período de tempo e ten­do um  lugar distinto no santuá­rio celeste, semelhantemente o ministério típico consistia em duas divisões o serviço diário e o anual e a cada um deles era dedicado um compartimento do tabernáculo.14

Desde a Ascensão Até 1844

A obra de Cristo durante esse período era representada no san­tuário terrestre pelo serviço diá­rio. Isto significa que durante todo esse tempo, Cristo esteve oferecendo perante o Pai. “Seu sangue em favor dos crentes ar­rependidos”.15 Cristo esteve aplicando Seus méritos a todos os que se arrependiam, com o ob­jetivo de perdoar-lhes os pecados e livrá-los de suas culpas. Era uma obra de perdoar aos pecadores e de libertá-los. O per­dão era e é produzido pelos mé­ritos do sacrifício de Cristo, e a libertação do pecado era e é pro­duzida pela transferência do pe­cado do pecador para Cristo. Tu­do isto ocorre no plano do indi­víduo e da prática, mas não no plano de Deus e da legalidade. Neste último plano ainda há uma obra a ser realizada, pois “o san­gue de Cristo, ao mesmo tempo que livraria da condenação da lei o pecador arrependido, não can­celaria o pecado; este ficaria re­gistrado no santuário até à expia­ção final”. 16

Depois de ascender ao Céu, Cristo entrou no Lugar Santíssi­mo do santuário celestial (Heb. 9:12) para ser entronizado (Apoc. 3:21) e para inaugurar Seu minis­tério ou dedicar o santuário, assim como Arão entrou no lugar santíssimo do santuário terrestre quando o dedicou e iniciou os serviços nele (Lev. 9: 8-12). Depois continuou Seu trabalho normal no primeiro compartimento.  Este ministério consiste em suster Sua Igreja (Apoc. 1: 12 e 13), enviar Seu Espírito  (Apoc. 4: 5; 5:6), interceder em favor dos pecadores (Apoc. 8: 3 - 5).

Desde 1844 Até a Segunda Vinda de Cristo


A obra de Cristo desde 1844 era representada no santuário levíti­co pelo serviço anual realizado no lugar santíssimo.

Intercessão para perdoar. — É verdade que em 1844 Cristo entrou no Lugar Santíssimo para iniciar a segunda parte de Seu ministério em favor dos pecado­res, isto é, o ato de apagar os pecados dos registros celestiais, mas isto não significa que Cristo tenha abandonado Sua obra de perdão e de libertação dos peca­ores. Pelo contrário, assim co­mo no Dia da Expiação não ces­sava o sacrifício contínuo, tam­pouco, durante o juízo investiga­tivo, cessa Cristo Sua obra de perdoar os pecados.  Só que des­de 1844 Cristo acrescentou ao ato de perdoar os pecados o ato de apagá-los dos registros.  Esta idéia é claramente expressa no seguinte parágrafo:

“Quando, no cerimonial típi­co, o sumo sacerdote deixava o lugar santo no Dia da Expiação, entrava perante Deus para apre­sentar o sangue da oferta pelo pecado, em favor de todos os is­raelitas que verdadeiramente se arrependiam de suas transgres­sões. Assim Cristo apenas com­pletara uma parte de Sua obra corno nosso intercessor para ini­ciar outra, e ainda pleiteia com Seu sangue, perante o Pai, em favor dos pecadores.”17

Intercessão para apagar: Obra de Juízo. —  O ato de apagar abran­ge necessariamente uma obra de juízo (Apoc. 5, 14 e 15), pois deve ser determinado quem ou o que será apagado, ou quem ou o que não será apagado. Com isto já estamos dizendo que é apagado:   nomes do livro da vida e pecados do livro de memórias.
Os nomes apagados do livro da vida são os daqueles que havendo primeiro aceito a Cristo, depois pecaram e se afastaram dEle, negando-O como sacrifício expia­tório. Em Êxodo 32:33 Deus dis­se a Moisés: “Riscarei do Meu livro todo aquele que pecar con­tra Mim”; e em Apoc. 3:5 lemos o seguinte: “O vencedor será assim vestido de vestiduras bran­cas, e de modo nenhum apagarei o seu nome do livro da vida.” Isto significa que quem não ven­cer será apagado do livro da vida. Em todo caso, para determinar quem alcançou a vitória pelos mé­ritos do sangue derramado por Cristo e quem não a alcançou, é necessário um processo de jul­gamento, e é isto que constitui o juízo investígativo. Neste juízo Cristo apaga nomes do livro da vida e também pecados do livro de memorias.

Os pecados apagados do livro de memórias são aqueles de que seus autores se arrependeram e receberam o perdão pelos méri­tos do sacrifício expiatório de Cristo. A Bíblia faz muitas refe­rências ao fato de que os pecados serão apagados. Lemos no Salmo 51:1: “Segundo a multidão das Tuas misericórdias, apaga as mi­nhas transgressões”; e no verso 9 encontra-se a frase: “... e apaga todas as minhas iniqüidades.” Neemias roga a Deus que aos ini­migos de Seu povo não lhes seja encoberta a iniqüidade, “e não se risque diante de Ti o seu pe­cado” (Neem. 4:5). Em Isaías 43: 25, Deus Se apresenta dizendo:
“Eu, Eu mesmo, sou o que apago as tuas transgressões”, e Pedro roga a seus ouvintes que se arre­pendam, “para que sejam apaga­dos os vossos pecados” (Atos 3: 19).
Segundo o que dissemos, há uma grande diferença entre o ato de perdoar o pecado e o ato de apagar o pecado. O perdão é algo que pode ser conhecido e experimentado por viva fé no Senhor,  o que elimina o pecado da vida do pecador. O ato de apagar o pecado é um processo legal que elimina o pecado de seu registro e conduz à eliminação final do pecado em si.

Quem é julgado. — Havendo aclarado que a obra do juízo in­vestigativo é essencialrnente uma tarefa em que se identifica quais os nomes que devem ser apaga­dos do livro da vida e a quem é aplicada a expiação de Cristo para apagar seus pecados do livro de memórias, precisamos estabele­cer agora que pessoas são subme­tidas a essa espécie de juízo. Tiago White, num artigo publi­cado na Review and Herald de 29 de janeiro de 1857 e intitulado:  “O Juízo”, declarou que no mun­do há duas classes de pessoas:  os justos e os pecadores e acres­centou:

“Ambas essas classes serão jul­gadas antes que ressuscitem den­tre os mortos. O juízo investigativo da casa ou igreja de Deus, ocorrerá antes da primeira res­surreição, e o juízo dos ímpios ocorrerá durante os mil anos de Apocalipse 20, e eles serão ressus­citados no fim desse período....O juízo dos justos é realizado enquanto Jesus oferece Seu san­gue para apagar-lhes os peca­dos.” 18

Segundo Tiago White, as pes­soas julgadas no juízo investiga­tivo são os justos ou a igreja de Deus, visto que os ímpios serão submetidos a julgamento duran­te os mil anos. Esta idéia se har­moniza perfeitamente com o que foi declarado por Ellen G. White:

“Assim, no grande Dia da Ex­piação final e do juízo de investi­gação, os únicos casos a serem considerados são os do povo pro­fesso de Deus. O julgamento dos ímpios constitui obra distinta e separada, e ocorre em ocasião   posterior. “E tempo que comece o julgamento pela casa de Deus; e, se primeiro começa por nós, qual será o fim daqueles que são desobedientes ao evangelho?” 19

Podemos inferir, portanto, que no juizo investigativo somente são consideradas as vidas dos fi­lhos de Deus que viveram através dos séculos e cujos nomes se en­contram no livro da vida. Mas não só dos que estão mortos, mas tam­bém dos que estão vivos. Paulo disse a Timóteo: “Os pecados de alguns homens são manifestos precedendo o juízo; e em alguns manifestam-se depois.” I Tim. 5:24, Almeida, antiga. “Isto é, alguns homens revelam ou con­fessam seus pecados e vão a juízo enquanto o sangue de Cristo pode apagá-los e os pecados podem ser olvidados; ao passo que os pecados não confessados, pelos quais não houve arrependimento, con­tinuarão a existir e deporão contra o pecador no grande dia do juízo de mil anos.” 20

Quando serão julgados os vi­vos? — Se no juízo investigativo também serão julgados os justos vivos, perguntamos imediata­mente:   Quando começa o juízo dos vivos?
A primeira resposta a esta per­gunta é:   Perto do fim do juízo investigativo. Assim o diz Ellen  G. White, ao escrever: “Começando pelos que primeiro vive­ram na Terra, nosso Advogado apresenta os casos de cada gera­ção sucessiva, finalizando com os vivos.”21 Todavia, não se saberá quando esse juízo houver termi­nado. É o que declaram estas palavras:

“Quando se encerrar a obra do juízo de investigação, o des­tino de todos terá sido decidido, ou para a vida, ou para a mor­te. . . . Os justos e os ímpios esta­rão ainda a viver sobre a Terra em seu estado mortal: estarão os homens a plantar e a construir, comendo e bebendo, todos in­conscientes de que a decisão final, irrevogável, foi pronunciada no santuário celestial.” 22

Quanto à data em que terá iní­cio o juízo dos vivos,  podemos inferir, portanto, que a única coisa que sabemos é que os justos vivos são os últimos a ser julga­dos. Não se sabe quando se ini­ciará o juízo dos vivos, nem quan­do terminará. O que sabemos com toda a certeza é que no fim do juízo investigativo serão apa­gados dos livros de registros os pe­cados dos que perseveraram até o fim, e os nomes de todos os ou­tros — os que não perseveraram até o fim — serão eliminados do livro da vida (Exo. 32:32 e 33; Apoc. 3:4; 20:12 e 15; 22:19).

Qual é a norma do juízo?Na passagem da primeira Epístola de Pedro, onde ele faz alusão ao juí­zo investigativo, isto é, ao juízo que começa “pela casa de Deus” (Cap. 4:17), depois de afirmar que “o fim de todas as coisas está próximo” (Cap. 4:7) e após decla­rar que Deus “é competente para julgar vivos e mortos” (Cap. 4:5), ele assevera: “Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus.” Cap. 4:11, Almeida, anti­ga. Esta é a norma de conduta dos que estão inteirados de que o juízo começa por eles, porque fazem parte da “casa de Deus”. A norma é expressa na frase: “as palavras de Deus” — Lógia theou, diz o texto grego.
Que são estas lógia? Que espé­cie de palavras são estas? Sem dúvida, têm que ser palavras pro­feridas por Deus em forma de normas de conduta, visto que em todo o contexto do juízo no qual Pedro as pronuncia elas têm ne­cessariamente esse caráter. A mesma palavra lógia é emprega­da por Estêvão em sua defesa perante o Sinédrio. Disse ele:  “É este Moisés quem esteve na congregação no deserto, com o Anjo que lhe falava no monte Sinai, e com os nossos pais; o qual recebeu palavras [lógia] vivas pa­ra no-las transmitir. A quem nos­sos pais não quiseram obedecer. Atos 7:38 e 39. Gehard Kittel em seu famoso dicionário teológico, comentando o significado deste texto, diz que ele “se refere claramente à revelação do V.T. no Sinai, especialmente à Torah (ou ao Decálogo), o qual foi recebido por Moisés.”23
As lógia mencionadas por Pe­dro como norma de conduta que devemos observar ao preparar-nos para o juízo de Deus são as mesmas lógia que Estêvão disse terem sido recebidas por Moisés no Sinai, isto é, “as Dez Pala­vras , o Decálogo ou Lei Moral.  Este Decálogo é a norma de con­duta do juízo investigativo.

Síntese da Doutrina Adventista do Juízo Investigativo

Esta síntese da doutrina adven­tista do juízo investigativo é ex­traida do livro O Grande Conflito e se encontra na SDA Encyclo­pédia, sob o título “Investigative judgment:”

1.  A obra do juízo investigati­vo e o ato de apagar os pecados serão cumpridos antes da Segun­da Vinda de Cristo.

2.  Cristo Se dirige ao Ancião de Dias, no Céu, no fim dos 2.300 dias em 1844. Nosso grande Su­mo Sacerdote entra no Lugar Santíssimo e comparece ali à pre­sença de Deus para empenhar-Se no último ato de Seu minis­tério em favor dos homens: a exe­cução do Juízo Investigatívo.

3.  Jesus Se apresenta como Advogado de Seu povo para rogar por ele diante de Deus.

4, No grande Dia da Expiação final e Juízo Investigativo, os únicos casos considerados são os do professo povo de Deus.

5.  Começando com os que pri­meiro viveram na Terra, nosso Advogado apresenta os casos de cada geração sucessiva, finalizan­do com os vivos.

6.  Cada obra do homem é apresentada diante de Deus e re­gistrada como ato de fidelidade ou infidelidade.

7.  Os livros de registros do Céu, nos quais estão registrados os nomes e as obras dos seres humanos, determinarão a decisão do juízo.

8.  A lei de Deus é a norma pela qual o caráter e a vida dos ho­mens serão julgados no juízo.

9.  Todos os que verdadeira­mente se tenham arrependido do pecado e que pela fé reivindica­ram o sangue de Cristo como seu sacríficio expiatório terão o per­dão aposto a seus nomes, nos li­vros do Céu. Tornando-se eles participantes da justiça de Cristo, e verificando-se estar o seu cará­ter em harmonia com a lei de Deus, seus pecados serão risca­dos e eles próprios havidos por dignos da vida eterna.

10.    Quando alguém tem pecados que permaneçam nos livros de registro, para os quais não houve arrependimento nem per­dão, seu nome será omitido do li­vro da vida, e o relato de suas boas ações apagado do livro memorial de Deus.

A obra do sacrifício diário era uma obra de reconciliação em prol do homem pecador. 
Seu pecado era perdoado.


11.    Quando terminar a obra do Juízo Investigativo, o destino de todos terá sido decidido, ou para a vida, ou para a morte.

12.    Quando se encerrar o Juí­zo Investigativo, Cristo virá e com Ele estará a Sua recompen­sa para retribuir a cada um segun­do as suas obras.

V.  Conclusão
À guisa de conclusão deste estudo sobre a obra de Cristo no Juízo Investigativo, mencionaremos os seguintes pontos:

1.  A obra específica que Cristo está desempenhando no Juízo Investigativo está relacionada com os santos que têm existido em toda a história do mundo, des­de Adão. Esta obra de julgamen­to nada tem que ver com os ím­pios, os quais serão julgados du­rante os mil anos de Apocalipse 20.

2.  O Juízo Investigativo é uma obra de intercessão semelhante à que o sumo sacerdote realizava no Lugar Santíssimo, no Dia da Expiação. Seu objetivo é deter­minar quem permanecerá no li­vro da vida e quem não, o que é decidido verificando quais as pes­soas cujos pecados foram apaga­dos do livro de memórias porque aceitaram o sangue expiatório de Cristo na cruz.

3.  A principal obra de Cristo durante o Juízo Investigativo é, portanto, o ato de apagar os pe­cados dos que perseveraram até o fim, permanecendo sob os mé­ritos do sangue de Cristo até o último dia de sua existência.

4. A atividade de Cristo em apagar os pecados dos registros não exclui Sua intercessão para perdão dos pecadores, que rio santuário era representada pelo serviço diário, pois Cristo conti­nua perdoando pecados e o fará até o momento de pronunciar o decreto final de Apocalipse 22:11.

5.  A eliminação final do peca­do de sobre a Terra será realizada quando Cristo exigir de Satanás o pagamento de sua responsabi­lidade na existência do pecado. Assim como o bode para Azazel era punido pela morte no deser­to, Satanás será punido no fim, porque como instigador do pe­cado de cada indivíduo e como originador do pecado no Univer­so, tem uma responsabilidade cuja culpa Cristo não expiou na cruz. Cristo só expiou a parte da responsabilidade e culpabili­dade que o homem tem no peca­do, e isto é especialmente real no caso daqueles que O aceitaram e que pelo arrependimento obti­veram o perdão pelos méritos do sangue de Cristo.

6. Quando se encerrar o Juízo Investigativo, depois de haver decidido os casos de todos os justos, começando pelos mortos e terminando pelos vivos, Cristo terá apagado todos os pecados de Seus filhos dos registros celes­tiais, e em virtude dessa obra eles ficarão diante de Deus como se nunca houvessem pecado, pron­tos para ir viver com Ele para sempre no Reino eterno que Cris­to Jesus estabelecerá de acordo com Suas promessas.

Bibliografia:

1. SDA Encyclopedia. pág. 600
2 Ibiden
3   EIlen G. Whíte. O Grande Conflito, pag. 488.
4.  Ibidem.
5. Iden, pdg,. 488 e 489.
6.  The Interpreter’s Dictionary of the Bible.vol.4    pag.147.
7. Robert B. Girdlstone. Synonyms of the Old Testament, pag. 134
8   Ellen G. Whíte, Patriarcas e Profetas, pág. 367.
9.  EIlen G. White,  O Grande Conflito. pãg. 486.
10. Idem, pag. 481.
11. Iden. pág 486.
12. Ellen G. White, Patriarcas e Profetas. pág.367.
13. Idem, pág 371.
14. Idem,, pág. 370.
15.      Ibidem.
16.       Ibidem
17.        EIlen G. White, Gristo em Seu Santuário pag. 102.
18.        The Judgment. Revíew and Herald. 9:100 (29- 1-1857).
19.        Ellen G. Whíte. O Grande Conflito pág 486.
20.         Tiago White. Review and Herald. 9:100 (29-1-1857)
21.         Ellen G. White, (1) Grande Conflito, pág. 482.
22.      idem, pàg. 490.
23.        Teological Dictionary of New Testament, vol. 4. pãg. 138.





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