E só a partir da insurreição judaica de 66 d.C, que Josefo
chama de "zelotas" os que antes apelidava "salteadores" ou
"bandidos". Reconhece, entretanto, que eles existem como
"seita" (que ele não menciona) ou grupo organizado já em 6 d.C,
quando Judas o Galileu lança um movimento de revolta contra o recenseamento dos
bens dos judeus, com finalidade fiscal, por Quirino. Esse reconhecimento
tardio como "seita" reflete bem a resignação dos responsáveis judeus:
nesta época, só os violentos podem salvar o que constitui a própria razão de
Israel.
Mas de fato, enquanto tendência, esse movimento extremista
mergulha suas raízes num passado bem remoto da história do povo. Seu nome zelota
vem de um termo grego que significa ser zeloso por.2 Já na época do Êxodo, se nos apresenta
Finéias, zeloso por Deus (Nm 25,6-13); esse movimento se desenvolve no
tempo dos Macabeus e desde esse período "todos os textos nos descrevem
zelotas de um mesmo tipo: rigoristas violentos que, a exemplo de Finéias, de
Jeú e de Matatias, executam impiedosamente aqueles que, a seus olhos, são infiéis
à Lei de Moisés. Para os zelotas da guerra judaica, o inimigo já não é o judeu
apóstata, mas sim o romano e seus colaboradores. Presenciamos, sem dúvida, uma
mudança provocada por uma situação nova".3
Tanto no plano das
ações concretas como no das motivações profundas, é certamente o mesmo
movimento durante todos os séculos: tais pessoas são extremamente exigentes
quanto à santidade do Templo e ao respeito pela Lei e por isso, estão certas de
que Deus está do lado delas; com efeito, o Senhor deu uma terra a Israel, mas,
em contrapartida, ele não tolera, nesta terra santa, transgressão alguma, venha
ela dos judeus ou dos não-judeus.
Os judeus podem ser infiéis no plano religioso; neste caso,
os zelotas intervêm, com a bênção dos sacerdotes, para o linchamento imediato
(a morte de Estevão poderia ser um exemplo disso, At 6,12s). Eles podem ser
infiéis também no plano político, buscando alianças com o ocupante, o romano,
em vez de confiar em Deus somente. Também nesse caso os zelotas reagem, para
grande desagrado de Josefo.
Os não-judeus, sobretudo os ocupantes, devem ser eliminados,
sobretudo se se dão demais a seu domínio sobre o país (pelo recenseamento) ou
se eles zombam das instituições religiosas: é um ato de despudor de um soldado
romano e a destruição pelo fogo de um rolo da Lei por outro que, por volta dos
anos 50 d.C, provocam as confusões que não terminarão até a guerra. A última
provocação será o saque do Templo pelo procurador Floro (cf. p. 89).
Assim, ao passo que os Saduceus e seus amigos Asmoneus traíram
a causa religiosa dos Macabeus, fazendo aliança com os piores inimigos da sua
fé, os zelotas são os campeões da ortodoxia e do integrismo. O entendimento
entre essas duas tendências é impossível e suas divergências aparecem no plano
geográfico como no plano social: os zelotas têm sua origem na Galiléia, onde
facilmente podem se ocultar nas numerosas grutas e freqüentemente são muito
pobres; os outros reinam na Judéia e sobretudo em Jerusalém, onde vivem em meio
às riquezas.
Religiosamente, os zelotas têm uma confiança absoluta em Deus
e nas instituições queridas por ele: o Templo e a Lei. Estão convencidos de
que, por suas ações de "extermínio dos ímpios", apressam a vinda do
seu reino, do seu Messias; Deus é o único senhor, mas ele não age sozinho e tem
necessidade dos homens: quanto mais alguém for zeloso por ele, inclusive
no plano político e temporal, melhor será!
FONTE: CADERNOS BÍBÇLICOS
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