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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

OS FARISEUS NO TEMPO DE JESUS









Os fariseus fazem de modo sensacional sua entrada na história no tempo de Alexandre Janeu (103-76): ousam opor-se a este rei sumo sacerdote que lhes censura a influência sobre o povo; isto provo­cou o começo duma guerra civil de seis anos, durante a qual milhares de judeus foram crucificados pelo rei. Mas os fariseus saíram da guerra vitoriosos (ver p. 76) e exerceram grande influência no reinado de Ale­xandra.


As origens deles são de fato mais longínquas: são relacionados com o grupo dos hassidim e com Esdras, o sacerdote. Os hassidim são os judeus piedosos (este é o sentido do termo hebraico) que, no tempo da restauração nacional animada por Esdras, entendem que não basta reconstruir o Templo, as muralhas e a cidade de Jerusalém, que é pre­ciso também reconstruir uma vida espiritual capaz de animar essas pe­dras, uma vida espiritual fundada sobre o estudo da Lei para conhecer a vontade de Deus e sobre a oração. Esses hassidim são os transmis­sores, se não os criadores, de numerosos salmos.
Durante a crise macabéia, esses piedosos não parecem unâni­mes: no começo, estão do lado de Matatias, mas desde o tempo de Judas Macabeu, alguns deixam o movimento, pois, a seu ver, a luta de Judas já tem um caráter mais político que religioso.
Assim se vê esboçarem-se as diferenças entre três grandes corren­tes judaicas. Os Saduceus exercem uma atividade política de compro­misso com o poder, para recuperar tudo que podem; os zelotas recu­sam todo compromisso e lutam ativamente para expulsar o ocupante; os fariseus, próximos ideologicamente destes últimos, recusam o en­gajamento político ativo e pensam obter a salvação do povo e do país por sua piedade, favorecida por um estudo sério da Lei. É por isso que, por exemplo, aceitam o sumo sacerdote Alcimo, mesmo que ele já es­teja imbuído do helenismo, porque com ele os sacrifícios rituais po­dem recomeçar no Templo e Deus é, portanto, de novo honrado.


Sete espécies de fariseus

Os próprios fariseus sabiam, com humor ferino, distinguir os bons e os maus dentre eles. Quatro textos do Talmud nos ofere­cem listas diferentes dos diversos tipos (ver o artigo "Pharisiens" no supl. Dict. Bible, col. 1074 ou R. ARON, Les années obscures de Jésus, Grasset, 1960, p. 151). Escolhendo livremente nesses quatro textos, eis alguns extratos que apresentam sete categorias de fariseus:
Os "de costa larga": escrevem suas ações nas costas para se fazerem honrar pelos homens.
Os "vagarosos": pretextam um preceito urgente a cumprir para retardar o salário dos operários.
Os "calculadores" que assim refletem: já que tenho em meu ativo muitos méritos, tenho com que pagar algum pecado.
Os "ecônomos": Que pequena coisa vou executar para au­mentar meus méritos?
Os "escrupulosos" que perguntam a si mesmos: Que peca­do oculto cometi para compensá-lo com uma boa ação?
Os "fariseus do temor" que agem como Jó.
Os "fariseus do amor" que agem como Abraão: esses são os verdadeiros.



Esta atitude de respeito para com o sumo sacerdote seja ele quem for, ligada a uma desconfiança do poder político, vai continuar entre os fariseus. Quando Pompeu vem ao Oriente e se lhe pede, em 63 a.C, para servir de árbitro entre Hircano II e Aristóbulo II, o povo "pediu para não ter rei: pois a tradição é que se obedeça aos sacerdo­tes do Deus que eles honravam e esses homens (Hircano e Aristóbulo), descendentes dos sacerdotes, quiseram levar o povo a mudar de go­verno para reduzi-lo à escravidão" (Antiguidades judaicas 14,4). Esta delegação do povo é, de fato, a dos fariseus. Mais tarde, Herodes Mag­no não conseguirá fazê-los prestar a ele o juramento de fidelidade.
Esses fariseus, homens piedosos, conhecem bem a Lei, esforçam-se primeiro por vivê-la eles próprios e consideram como seu dever di­fundi-la ao seu redor, o que fazem, sobretudo na sinagoga (cf. p. 45). É lastimável que se tenha chegado a caricaturá-los como hipócritas e não se deve tomar ao pé da letra Mt 23: trata-se dum texto polêmico que muitos fariseus também aprovariam, conscientes de sua imperfei­ção.
Desconfiança do poder e zelo pela educação das massas vão dar aos fariseus uma audiência enorme junto do povo miúdo, a tal ponto que os chefes deverão sempre levar em conta a sua opinião: o sumo sacerdote deve submeter-se à decisão deles, mesmo num ato tão es­tritamente reservado como o acesso ao Santo dos santos no dia do Kipur (cf. p. 51). Herodes Magno parece ter mais consideração para com eles do que para com os Saduceus: ao subir ao trono elimina diversos opositores, mas se contenta com impor uma multa aos fariseus que re­cusam o juramento. No séc. I da nossa era, se os procuradores pare­cem pender mais para o lado dos Saduceus, os fariseus encontram for­te apoio nos reis Agripa I e II; dado o seu lugar no Sinédrio, são eles verdadeiramente os defensores do povo e se apresentam como o pri­meiro partido que é ao mesmo tempo político e religioso.
Oriundos do povo, constituindo um partido do povo, os fariseus procuram ser separados do povo (este é, ao que tudo indica, o sentido do seu nome): eles o consideram por demais ignorante da Lei e sobre­tudo impuro, por não respeitar suficientemente a Lei de santidade, ex­pressão da própria vontade de Deus. Desta Lei de Moisés, só uma par­te foi posta por escrito, sendo o resto transmitido oralmente de Moisés aos profetas e depois aos sábios ou escribas (rabis), graças a um ensino esotérico que, no séc. I, torna-se cada vez mais importante (ver Ca­derno Bíblico Nº 10). Essa Lei oral tem o mesmo valor ou até mais que a Lei escrita. E é na medida em que se respeita toda essa Lei, escrita e oral, que se adquirem os méritos necessários à salvação e ao envio do Messias que estabelecerá enfim o Reino de Deus, expulsando ao mes­mo tempo os romanos e todos os outros ocupantes.
O farisaísmo era o único movimento religioso que tinha profundi­dade bastante para resistir à catástrofe de 70; é dele que em Jâmnia, na costa mediterrânea, renascerá o judaísmo 

FONTE: CADERNOS BÍBÇLICOS  

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