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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

O PAPEL DA MULHER NO TEMPO DE JESUS





A mulher

Não é fácil determinar a condição da mulher na época de Cristo: é que muitas informações nos são transmitidas por textos rabínicos posteriores. Parece certo que o antifeminismo aumentou no decurso do séc. II da nossa era, tanto no judaísmo como no cristianismo; antes dessa data, ele era muito menos acentuado e é conhecido o sucesso encontrado, no séc. I, pelos fariseus, nos meios femininos. É portanto perigoso — neste como em outros domínios — extrapolar as informa­ções que temos e dizer com certeza se a mulher que apresentamos aqui é somente a de séc. II ou já a do I.

"Compra-se a mulher por dinheiro, contrato e relações sexuais, constata um rabino. Compra-se um escravo pagão por dinheiro, con­trato e tomada de posse. Há então diferença entre a aquisição duma mulher e a dum escravo? Não!" Essa definição apresenta bem a condição feminina: como o escravo, a mulher depende de seu senhor-marido e tem que assumir todas as tarefas; não pode aproveitar-se nem dos rendimentos do seu trabalho nem do que ela achar; só está sujeita aos mandamentos negativos ou gerais da Lei e não aos que es­tão ligadas a um tempo preciso: senão, como haveria de ocupar-se das crianças ou das tarefas do lar? Se não lhe é proibido interessar-se pela Lei e pelas tradições, é muito desaconselhado, no entanto, ensinar-lhe demais a respeito disso, pois "aquele que ensina a Torá à sua filha en­sina-lhe a prostituição"!

O lugar da mulher é em casa, ocupando-se dos filhos e da casa e fiando a lã, na Judéia, ou o linho, na Galiléia: os textos prevêem a quantidade mínima que ela deve fiar ou tecer por semana, quantidade esta que é reduzida se ela amamenta um filho de menos de dois anos. Ela nada tem a fazer fora de casa e se for obrigada a sair, deve guardar o anonimato mais completo, por isso se usa o véu. Se ela conversa com alguém, por exemplo para pedir uma informação, deve-se respon­der-lhe o mais brevemente possível; fora disso, não se lhe deve dirigir a palavra, nem sequer para cumprimentá-la. Diante dum tribunal, ela jamais é admitida como testemunha e menos ainda como juíza. Na si­nagoga ela tem seu lugar; no entanto, pode haver lá uma infinidade de mulheres, se não houver dez homens adultos, é impossível celebrar o ofício.

Ela deve ainda aceitar que seu marido divida sua afeição entre ela e outras mulheres, quer sejam esposas como ela, quer sejam concubinas, ou até mesmo escravas. Notemos no entanto que a poligamia é muito rara e isso em primeiro lugar por razões econômicas (ver p. 70).

Mas a mulher é também filha de Israel, o que lhe confere direitos. Tem direito a um mínimo vital: seu marido é obrigado a lhe dar o ne­cessário em alimento, vestes e dinheiro para uso próprio, sem o que ela pode se queixar perante um tribunal que, após inquérito, obrigará eventualmente o marido a se divorciar: Ela também tem direito à digni­dade: se ela cai na escravidão, o marido deve fazer tudo para resgatá-la; se ela está doente, ele deve conseguir-lhe os medicamentos neces­sários; enfim, ele não pode lhe impor votos contrários à sua dignidade nem obrigá-la à prostituição. Finalmente, ela não pode ser repudiada de qualquer maneira: o contrato de matrimônio é ao mesmo tempo um freio para os desatinos do marido e uma garantia para a mulher (ver p. 70).

Tal é a situação jurídica que se deduz dos textos antigos, mas a realidade é, de fato, menos sombria; principalmente na roça, se vêem mulheres ajudando os maridos nos trabalhos da lavoura, outras se de­dicando ao comércio. O amor conjugal está longe de ser desconhecido e sabe transfigurar todas as leis, tanto assim que em resposta a cada crítica ou razão para se desconfiar das mulheres, na literatura antiga, pode-se citar um testemunho exatamente contrário.

Não esqueçamos tampouco as diferenças provenientes da situa­ção social, da possibilidade ou não de ter servos e servas. Em certas ci­dades, o fato de as famílias judias viverem lado a lado com famílias pa­gas de mentalidade greco-romana onde a mulher tem uma situação bem diferente, não deve ter deixado de criar problema ou de influen­ciar os costumes.

FONTE: CADERNOS BÍBÇLICOS 

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