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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

OS GRUPOS POLÍTICO-RELIGIOSOS NO TEMPO DE JESUS




Após a queda de Jerusalém em 70 da nossa era, o judaísmo sobrevive graças aos fariseus, e são suas tradições que vão estruturar a lei judaica até nossos dias. Por isso tem-se às vezes a tendência de projetar esse estado de coisas sobre o período anterior a 70, pensando que na época de Cristo acontecia o mesmo. Os evangelhos parecem reforçar essa impressão; sem dúvida, falam bastante dos Saduceus, dos herodianos, dos Samaritanos e informam que um discípulo, Simão, é apelidado o zelote; mas os únicos adversários sérios, no plano doutrinai, permanecem os fariseus. Tal simplificação não retrata a efer­vescência das idéias que diversificava então o judaísmo. Josefo nos fala de três "seitas" (ou correntes de idéias) para depois apresentar efetivamente quatro: fariseus, Saduceus, essênios e zelotes.

De fato, é muito difícil definir esses grupos. Por um lado, real­mente o judaísmo admitia com bastante facilidade divergências consi­deráveis entre seus membros, contanto que mantivessem algumas verdades essenciais e aceitassem certas práticas. Assim, por exemplo, em Jerusalém, parece que os discípulos de Jesus foram considerados, por longo tempo, como fazendo parte do povo judeu: conservam a fé no Deus único, apóiam-se nas Escrituras, continuam rezando no Tem­plo (At 3,1); formam, pois, no seio do judaísmo, uma espécie de ten­dência nova que se designa uma vez como a seita dos nazoreus (At 24,5). Por outro lado, a doutrina desses grupos é-nos mal conhecida: a dos fariseus é transmitida em textos que só mais tarde foram postos por escrito; o pensamento dos Saduceus não chegou até nós senão através das críticas de seus adversários; os movimentos batistas se desenvolveram em camadas populares que geralmente não deixam li­teratura; só os essênios, depois da descoberta de certos manuscritos seus a partir de 1947, nos oferecem documentos, mas que são muitas vezes de difícil acesso.

Aqui vamos falar sobretudo das quatro seitas apresentadas por Josefo, antes de dizer uma palavra sobre os Samaritanos e os batistas



UM POUCO DE HISTÓRIA

A origem dos quatro primeiros grupos prende-se, mais ou me­nos, à epopéia dos Macabeus. Já apresentamos essa história. É necessário relembrar aqui alguns detalhes.

De 333 a 198, os judeus vivem em paz sob o domínio dos Lágidas do Egito. Em 198, o rei selêucida de Antioquia, Antíoco III faz Israel entrar para seu império e tenta helenizá-lo. Esse universo grego é visto por certos judeus como uma iluminação: é um convite para sair do gueto no qual estavam confinados (1 Mc 1,11), para viver de outro mo­do, para fazer comércio com esse império grego . . . Mas o povo, re­ceando que a fé desaparecesse junto com seus costumes, não acom­panha esses novos profetas. O autoritarismo de Antíoco IV, que quer impor a religião grega proibindo a circuncisão e as práticas judaicas, provoca a revolta de Matatias em 167. Em 166, um dos seus filhos, Judas apelidado Macabeu (o Martelo?) lhe sucede, reconquista o Tem­plo que é purificado em 164 (festa da Dedicação). Mas a guerra, mili­tar e diplomática, vai durar por muito tempo ainda. Em 160 Jônatas sucede a seu irmão Judas e, em 143, um outro irmão, Simão, substitui Jônatas. Em 142, Simão consegue a independência de Israel. Assassi­nado em 134, quem toma o poder é seu filho João Hircano e é funda­da a dinastia dos Asmoneus. Em 104 seu filho Aristóbulo lhe sucede por um ano, seguido por outro de seus filhos, Alexandre Janeu (103-76), que toma o título de rei. Sua esposa Alexandra reina (76-67) en­quanto seu filho Aristóbulo II (67-63) não se torna maior. A disputa entre Aristóbulo e seu irmão Hircano II será a causa da intromissão dos romanos na Palestina.

Mas precisamos voltar atrás e mencionar um fato de grandes conseqüências. Em 1 52 já fazia sete anos que não havia sumo sacer­dote. Desde a época de Davi-Salomão, o sumo sacerdote era escolhi­do na descendência de Sadoc (2Sm 8,17; 1 Rs 2,35). A legitimidade estava ligada à pertença a esta dinastia sadoquita. Ora, em 175, o sumo sacerdote Onias III fora afastado por Antíoco IV e morria assas­sinado no exílio. Seu irmão, Jasão, obteve o cargo mediante dinheiro e logo foi suplantado por Menelau, um sacerdote obscuro; Alcimo, des­cendente de Aarão, foi eleito depois. Ao morrer, em 1 59, não foi subs­tituído. Foi então que Jônatas, que já era chefe da resistência armada, conseguiu, em 152, fazer-se nomear sumo sacerdote por Alexandre Balas, pretendente ao trono de Antioquia. Jônatas era da classe sacer­dotal, mas não sadoquita, e seu sacerdócio foi considerado como ilegí­timo pelos fiéis da tradição. Foi sem dúvida nesta ocasião que certos judeus piedosos começaram a se separar dos Macabeus. Depois de Jônatas, seus sucessores continuarão a acumular os dois poderes, o civil e o religioso.

É, portanto, num ambiente conturbado que vão nascer as quatro grandes seitas. De início, todos os judeus piedosos estão unidos em torno da família dos Macabeus por um motivo religioso: rejeitam com vigor a apostasia que Antíoco IV lhes quer impor e que alguns aceitam, a ponto de abandonarem todos os costumes judaicos: alguns chegam ao ponto de recorrer à cirurgia para fazer desaparecer o sinal da per­tença a Israel, a circuncisão (1 Mc 1,13-1 5). Para o fiel, tal abandono da Aliança e do seu sinal tangível só podia acarretar a rejeição do povo por Deus, quer dizer, toda uma escalada de desgraças, indo até à per­da da terra santa, como o haviam anunciado os profetas e como o Exí­lio havia fornecido a prova. Como o exprime bem 2Mc 6,12-17, en­viando as perseguições desde as primeiras faltas, Deus evitou que todo o povo apostatasse e que a Aliança fosse mais uma vez calcada aos pés. Mas o que é claro ao nível dos princípios para aqueles que, com Matatias, "têm o zelo pela Lei e sustentam a Aliança" (1Mc 2,27), é menos claro na prática: a fidelidade à Lei exige o fixismo abso­luto? E se se admite uma evolução possível, até onde se pode chegar? Aí é que os grupos vão divergir.

FONTE: CADERNOS BÍBÇLICOS 

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