Os
inimigos da verdade criam numa falsa imagem da igreja adventista. Concebem um
sistema adventista distante da realidade.
A ignorância em relação ao nosso fundamento doutrinário
vai ao ponto de afirmarem e reiterarem que, para os adventistas, excluindo-se
os Dez Mandamentos, tudo o mais na Bíblia é lei cerimonial.
Ora, isso é inverídico e exige reparo, a bem da verdade.
Não sabemos onde buscam tal disparate. De fato, ensinamos que a lei moral se
consubstancia no decálogo, como um código distinto, inconfundível. perfeito.
escrito pelo dedo de Deus e, sendo de redação divina direta (não inspirada a
homem algum). como tal deve ser crido e obedecido sem alterações. Os preceitos
morais que se esparramam pelas Escrituras, são derivações do decálogo, seus
enunciados aplicando-se às circunstâncias. Não há dúvida que o decálogo é
distinto.
Excluindo-se, portanto. a lei moral, resta analisarem-se
as outras leis, preceitos. estatutos, mandamentos e testemunhos. Ë preciso
atentar para o seu conteúdo, sua substância e sua finalidade, pois essa
análise é de suma importância para o esclarecimento da matéria.
Com um pouco de percepção. facilmente se discernem preceitos
cerimoniais por sua natureza — os que dizem respeito ao culto, aos tipos, ás
festividades. A mesma percepção descobre estatutos civis, e também preceitos
ou conselhos de ordem sanitária. Gomo é óbvio, estas duas últimas classes de
mandamentos não podem ser confundidas com os cerimoniais, porque não se
relacionavam com o Cristo vindouro. Não eram típicos ou prefigurativos. O
conjunto de preceitos civis regulava relações entre cidadãos de uma comunidade,
a comunidade judaica. circunstancialmente teocrática. Outro conjunto de
preceitos traçava diretrizes sobre saúde, profilaxia e temperança. Não eram
cerimoniais.
Como tudo que
escrevemos tem mais sentido esclarecedor do que polêmico, é bom situarmos a
maneira como entendemos as enunciações legais das Escrituras, aliás em
consonância com os mais antigos e autorizados intérpretes e redatores de
confissões de fé, e de acordo com a mais racional. lógica, boa e precisa
dedução á vista da contextuação clara e exuberante que há sobre a matéria lei’.
Breve Conceituação das Leis Bíblicas
Embora
a Bíblia não tenha sistemática, contudo quem a lê com um coração dócil, com
espírito analítico e sem idéias préconcebidas, poderá discernir, quanto á
natureza, conteúdo e destinação, quatro categorias de leis:
a) A lei moral,
cuja matriz, feita pelo dedo de Deus, é o decálogo. Gomo estabelece diretrizes
que comandam relações entre o homem e Deus, e entre o homem e o próximo. tais
vínculos jamais se desfarão enquanto Deus for Deus e o homem, homem. Ë uma lei
eterna, que estamos obrigados a guardar, principalmente na dispensação
evangélica, se quisermos ser cidadãos do Reino de Cristo, pois por Ele somos
habilitados a guardá-la. No Catecismo da Doutrina Batista, pelo
Pastor W. D. T. MacDonald, págs. 28 e 29. lemos o seguinte:
“41a. P. — Sendo a salvação gratuita, temos obrigação
de cumprir a lei de Deus?”
“R. — Sim. Todos nós temos obrigação de cumprir a
lei moral (O autor cita S. Mat. 5:19; I
S. João 5:3: Rom. 6:1 e I Cor. 7:19).
“42a. P. — Que é lei moral?”
“R. — Lei moral é a que nos
prescreve as obrigações para com Deus e o próximo, e se acha expressa nas
seguintes palavras de Jesus Cristo: (O autor cita S. Mat. 22:37-40).
“43a. P. — De que
maneira mais explícita se acha a lei exposta
na Bíblia?”
“R. —
A lei acha-se expressa com maior minuciosidade nos Dez Mandamentos,
dados por Deus a Moisés no Monte Sinai.
Agradecemos aos
amigos batistas, por nos terem ajudado neste tópico, com tão clara definição
de lei moral, e crerem que temos o dever de cumpri-la, mesmo sendo a salvação
gratuita, como também cremos.
b) A lei
cerimonial, que foi instituída após a Queda,
depois que o homem foi destituído da glória original. Teve essa lei o escopo
de ensinar ao povo de Israel — detentor dos oráculos divinos — o sacrifício de Cristo, na figura dos sacrificios
dos cordeiros que eram imolados. E este propósito devia ser cumprido na era
pró-cristã, ensinando aos crentes o meio de que se deviam valer para obterem o
perdão da lei moral e eterna transgredida (porque pecado é transgressão da
lei), até que viesse o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Essa lei
que regulava o culto no santuário, os holocaustos e ofertas, as festividades e
ritos vários — tudo simbólico e prefígurativo —
naturalmente cessou na cruz. A ela ninguém mais está obrigado. No inicio
do estabelecimento do cristianismo, elementos conservadores vindos do judaísmo
(judaizantes) não queriam, de pronto, se desvencilhar destas práticas
cerimoniais, ocasionando sérios estremecimentos nas igrejas nascentes,
notadamente de Roma, Galácia e Colossos. Estes assuntos são tratados nas epístolas
paulinas dirigidas àquelas igrejas. Em suma, a lei cerimonial — escrito
de divida contra nós — caducou, por ter preenchido a sua finalidade.
c) — Lei civil judaica, de que Israel como nação não podia prescindir. Regulava
as relações dos cidadãos, definindo os seus direitos e deveres. Ela se
esparrama pelo Pentateuco, aludindo à propriedade, casamentos ilícitos,
divórcio, escravatura, herança, guerra, usura, fuga. empréstimos, crimes,
moralidades, e também cominava as penas. Ela era, em suma, os códigos civil,
penal e processual dos israelitas. Moisés era também legislador e juiz. Sendo
Israel nação teocrática, o padrão era a lei moral. A sua transgressão, além de
ser pecado contra Deus, era crime punível pelas leis nacionais.
Como é óbvio, desaparecendo a nação judaica, extinguiuse,
ipso facto, esta lei nacional, por carência de aplicabilidade. É claro que os
cristãos, sujeitos às leis de seus países de origem (Rom. 1 3:1-7) nada têm que
ver com os estatutos civis mosaicos.
d) Preceitos
higiênicos, que, a rigor, não constituem uma
lei, mas tratavam de altos princípios sanitários, de saneamento, de prevenção
ao contágio de moléstias repelentes e, sobretudo, de elevados padrões
nutricionistas. A proibição de comer alimentos imundos (hoje homologada pela
ciência) dizia respeito ao bem-estar físico, à saúde de um povo escolhido e
separado por Deus. Esses preceitos, altamente salutares, que proporcionavam
“mens sana in corpore sano.” devem ser observados por quem aspire a viver no
ambiente puro do Reino de Cristo. Não é apenas a abstenção do álcool. do fumo,
do jogo. ou de entorpecentes. que caracteriza o cristão. O seu corpo é o
templo do Espírito Santo” e este depósito sagrado não pode ser contaminado com
alimentos inconvenientes, nocivos e alguns formalmente condenados pela
Palavra de Deus. Ë inadmissível supor que Cristo tenha cravado na cruz leis
higiênicas ou regras bíblicas de temperança tão benéficas ao homem. Disse
credenciada escritora: “A santificação apresentada nas Escrituras Sagradas
abrange todo o ser — espírito, alma e corpo. Eis a verdadeira idéia da completa
consagração. Paulo ora para que a igreja de Tessalônica possa gozar essa grande
bênção. ‘E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo: e todo o vosso espírito,
e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de
nosso Senhor Jesus Cristo.”’ I Tess. 5:23.
Ë fora de dúvida, pois que estas espécies de leis estão
bem definidas no Livro Santo, e afirmar o contrário é ir contra a evidência
dos fatos. Por isso causa risotas a mixórdia de leis de natureza diversa, num
baralhamento intencional, porque somente se fazendo essa trama, se poderá
sustentar a esdrúxula tese de que a lei de Deus foi abolida. Mas essa
confusão propositada. além de não revelar bom espírito. denota falta de
percepção. uma babel irremediável. Ë de causar pena.
O fato de a Bíblia não mencionar os adjetivos
“moral”, “cerimonial”. “civil”, “higiênico”. etc., não destrói o fato de
existirem leis assim averbadas. O que se busca na Bíblia são fatos e não
termos. Negar um fato bíblico, só porque a Escritura não menciona a palavra
pela qual esse fato é designado, é uma insensatez e uma grande insinceridade.
Assim
poderíamos proceder em
relação a “ascenção”, “encarnação”. “Trindade”, e outros fatos. cujos nomes a
Bíblia não traz.
Relevem
os leitores por termos insistido na tese da conceituação das leis. Fizemo-lo
porque gostamos de tudo em pratos limpos, e matéria de tal relevância precisa
ser bem esclarecida, pois há muita ignorância a respeito.
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