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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

OS ESCRIBAS NO TEMPO DE JESUS





OS ESCRIBAS

Pouco numerosos, mas tendo um peso social considerável, os escribas poderiam ser colocados após os anciãos. Mas dado que eles se recrutam tanto entre os anciãos ou sacerdotes, quanto entre os dia­ristas, escapam a uma classificação social precisa. Na maioria são leigos.

Esses escribas são essencialmente os especialistas da Lei. En­quanto se pede sobretudo do sacerdote que ofereça os sacrifícios ao Senhor (poder-se-ia dizer, que seja um bom açougueiro no Templo), do escriba se exige que explique e atualize a Lei em função dos tempos novos e dos problemas concretos que se põem; dele se espera tam­bém que seja um guia espiritual, para interiorizar cada vez mais a fé em Deus ou para tentar viver sempre melhor segundo sua vontade. O escriba é reconhecido como um filho espiritual ao mesmo tempo que um sucessor dos antigos profetas que Deus já não envia: existe a con­vicção de que o tempo dos profetas terminou, até que venha o Profeta messiânico dos últimos tempos. (O título de profeta atribuído a João Batista ou a Jesus significa, pois, para os judeus do séc. I, que se en­trou na era messiânica).

O conhecimento das Escrituras e a competência jurídica fazem dos escribas personagens indispensáveis nos diferentes conselhos e tribunais: sem eles seria impossível resolver com eqüidade os casos difí­ceis. É aliás por causa desta competência e também das circunstân­cias políticas (ver p. 79) que eles são numerosos no Sinédrio, no séc. I. Suas pesquisas, apoiadas numa fé profunda animando toda uma vida moral, colocam-nos antes do lado dos fariseus, que se sentem felizes por encontrar neles pessoas seguras sob o ponto de vista da doutrina. Há, portanto, relações estreitas entre esses dois grupos, mas não se deve identificá-los: há escribas Saduceus e outros, independentes. De­pois de entrarem para o Sinédrio, é do alto deste lugar que vão pouco a pouco impor suas concepções, inclusive no plano litúrgico, a todo Is­rael, e até mesmo aos Saduceus.

Nesta sociedade judaica, em que todo o edifício social parece es­tático, determinado pelo nascimento (sacerdote ou não, judeu puro ou bastardo, família rica ou pobre), os escribas são a prova de que uma promoção social é possível: Hilel começara como mendigo, antes de se tornar um dos personagens mais célebres de Israel; outros são de raça mestiça: isso não os impede de seguir uma carreira prestigiosa e de se impor até mesmo aos reis. Doravante, as qualidades pessoais valem tanto quanto a herança e às vezes mais que ela.

Os escribas fariseus irão ainda mais longe: esforçando-se por es­tender a todo o povo as regras de pureza que eram primitivamente re­servadas aos sacerdotes em exercício, suscitam uma grande esperança nas massas: também elas podem estar próximas de Deus e portanto ter o poder ou parte dele.3 Insistindo na relação interior com Deus e numa vida em conformidade com a fé, mais que no culto propriamente dito, os escribas preparam Israel sobretudo para o desaparecimento do Templo e do sacerdócio. Após a catástrofe de 70 d.C, eles se tornam muito naturalmente os chefes do povo eleito e o sacerdócio cede o lu­gar ao rabinismo. Todo esse movimento começa a acontecer e sua fecundidade se exerce desde a época evangélica.

Mas para ser escriba não basta querer: são necessários longos estudos, um conhecimento perfeito da Lei e de todas as tradições orais, algumas das quais são esotéricas, reservadas a alguns estudan­tes seguros; é preciso também um juízo reto, reconhecido pelos outros escribas. Talvez já seja necessária uma "ordenação"? Ela é obrigatória no séc. II e é conferida aos 40 anos. Quando alguém se torna oficial­mente escriba ou doutor da Lei, passa a ter direito de usar uma veste especial, sinal da dignidade adquirida; goza da presidência em quase todas as assembléias e das saudações respeitosas de todos: quando um escriba passa na rua, é normal que as pessoas parem de trabalhar e se voltem para cumprimentá-lo!

Assim o escriba é honrado tanto quanto o sumo sacerdote, quan­do não mais que ele . . . mas seus honorários não são os mesmos! Pois, assim como Deus concedeu sua Lei gratuitamente aos filhos de Israel, assim também o escriba deve oferecer gratuitamente seu ensi­no e seus conselhos. No entanto, ele precisa viver: é-lhe dada, portanto uma retribuição igual à que teria ganho exercendo sua profissão habi­tual, durante aquele período de tempo em que se utilizou dos seus ser­viços. Como em geral sua profissão é humilde, os honorários também o são, mas isso não exclui os pequenos presentes que acabam obten­do para os escribas famosos ou idosos um certo status.
  FONTE: CADERNOS BÍBÇLICOS

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