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quinta-feira, 15 de maio de 2014

O CHIFRE PEQUENO UM REINO DIFERENTE



Através de simbolismo, o livro de Daniel aponta o surgimento de um poder dominador
José Carlos Ramos, D., Min., é
Professor de Daniel e Apocalipse
No Seminário Adventista Latino-
Americano de Teologia, em Eng.
Coelho, SP.
Daniel 7 é realmente uma profecia muito significativa. Quatro grandes animais sucedem-se uns aos outros diante do profeta tomado em visão:
um leão alado, um urso, um leopardo com quatro cabeças e quatro asas, e um animal con­siderado “terrível, espantoso e sobremodo for­te” (v. 7). Esse quarto animal possui dez chi­fres. Depois, entre esses chifres, surge outro chifre pequeno de início mas que cresce em força a ponto de derrubar três dos anteriores.
Esses animais simbolizam uma sucessão de impérios que dominaram o mundo a partir do tempo do profeta: respectivamente, Babilônia, Média-Pérsia, Grécia/Macedônia e Roma. Mas qual o significado do “chifre     pequeno”, que surgiu entre os dez, no quarto animal? É preciso antes de mais nada, identificar que tipo de poder esse chifre representa, para então obser­var  os detalhes proféticos a ele aplicáveis.
 Esses  dois passos são imprescindíveis para identifi­car, na História, o poder que cumpre a profecia.
Não rei, mas reino — Alguns expositores da profe­cia bíblica interpretam o chifre pequeno de Daniel 7 como representando o rei selêucida Antíoco Epifânio, que no 20 século a.C. se le­vantou contra os judeus numa tentativa de lhes impor o helenismo e obrigá-los ás práti­cas pagãs. Essa interpretação é adotada pelos intérpretes preteristas, que tomam o longín­quo passado, a época em que a profecia foi dada, como a ocasião do seu cumprimento.
Isso, entretanto, não e correto, mesmo por­que o quarto animal, ao qual pertence o chifre, não simboliza o Império Greco-macedô­nico, de onde a linhagem selêucida procede, mas o Império Roma­no, com o qual Antíoco não manteve qualquer vínculo.
É verdade que o anjo, ao interpretar a visão para Daniel, afirmou que o chi­fre representava um rei (v. 24). Deve-se notar, no en­tanto, que mesmo numa interpretação profética, uma personalidade real pode ser símbolo e não uma literali­dade. Isso se evidencia no próprio capítulo 7 de Daniel, quando o intérprete angelical afirma, no verso 17, que os quatro animais contemplados na visão “representam quatro reis”. Na realida­de, os “reis” devem ser entendidos como “reinos”, á luz do verso 23, onde ele explica o quar­to animal em termos do “quarto reino”, e não do quarto rei. Igualmente, os “dez chifres” des­se animal são interpretados como “dez reis” (v. 24), que, na realidade, representam os povos bárbaros que invadiram e dissolveram o Impé­rio Romano, e não dez governantes desses po­vos. O mandatário, aqui, incorpora o sistema de poder colocado em exercício.
O mesmo critério interpretativo deve ser adotado quando se considera o “chifre peque­no”, surgido entre os dez. O anjo afirma que ele significa “outro [rei], o qual será diferente dos primeiros [dez]” (v. 24). Se o termo •‘rei” aplicado aos animais, e então aos dez chifres, significa reino e não meramente um gover­nante que ostente esse título, por que teria ele outro sentido quando aplicado ao “chifre pe­queno”? Um sistema de governo é o que a pro­fecia tem em vista, algo distinto dos outros dez (pois é dito que será “diferente”), e não meramente uma figura real individual.
Ser um reino diferente é uma característica do “chifre pequeno”. Existem outras caracte­rísticas que chamam a atenção, uma de cará­ter mais amplo e geral, e as demais, um tanto específicas, na forma de particularidades.
 
Poder do Ocidente - A profecia de Daniel 7 ofere­ce urna perspectiva de crescimento em força, de animal para animal, o que significa que os impérios sucessivos se­riam cada vez mais poderosos. Isso se cumpriu com preci­são na História, pois hou­ve, de fato, um crescendo de domínio territorial de império para império, começando com Babilô­nia. Há também uma transição de poder, de natureza igualmente pro­gressiva, passando do Oriente (os dois primeiros impérios) para o Ocidente (os dois últimos). O Império Romano, o mais ocidental da História, foi o que mais avançou nas quatro direções. O foco final da profecia, portanto, recai no Ocidente, a direção de onde parte o quarto e maior poder: Roma. E é aí que se deve concentrar a atenção.
A profecia afirma que o poder que viria depois do quarto império seria “um reino dividido” (Dan 2:41), o que não significa necessariamente que depois do Império Romano não haveria nenhum outro. Historica­mente, isso não é verdade. Quando, por exemplo, se afirma que o poder romano chegou ao fim em 476 d.C., com a queda de Roma e a morte de Rômulo Augústulo, o último impera­dor, é ao Império Romano Ocidental que se está fazendo referência, já que o Oriental avançou até 1453, quando Constantinopla foi tomada pelos oto­manos, que já haviam estendido o do­mínio por grande parte do Oriente.
Esses e outros lances foram igno­rados pela profecia. O que ela previu é que não haveria mais um poder do­minador no Ocidente, tal como Ale­xandre, ou mais exatamente os Césa­res. Um poder ocidental “diferente” foi previsto. Como isso aconteceu?
 
Um império, duas capitais — A História registra que, diante da crescente ameaça dos bárbaros, o imperador Constantino remodelou a cidade de Bizâncio (que se tornou Constanti­nopla em sua honra), no Oriente, e transferiu para lá, em 330 d.C., sua residência e a sede de governo. Conseqüentemente, o Império, tornava-se agora mais oriental que ocidental, embora Roma continuasse em mãos romanas e com muita influência. De fato, após a morte de Constantino, em 337, dois imperadores passaram a governar simultaneamente, fazendo com que o mundo conhecesse, principalmente a partir do final do 4º século, dois impérios romanos : o Ocidental e o Oriental, com duas capitais. Mas isso por pouco tempo, pois o domínio do último imperador ocidental chegou  ao fim em 476.
O feito de Constantino, em realidade, culminou uma tendência sentida mais acentuadamente a partir do imperador Diocleciano. Em 286, seu segundo ano de governo, ele dividiu o domínio com Maximiano, que co­mandou o Ocidente. Cada qual ele­geu um associado, e com isso a admi­nistração do império foi transforma­da numa dupla tetrarquia. Essa situa­ção perdurou até 324, justamente quando Constantino subiu ao poder, restaurou a centralização do governo e se voltou para o Oriente.
É verdade que os bárbaros tentaram invadir a parte oriental do império, mas sem muito sucesso. Já a mudança da capital para Constantinopla tornou a parte ocidental mais vulnerável aos avanços deles. Duas incursões de Alarico colocaram os godos diante de Roma, que em 410 foi saqueada. Em 455 foi a vez de Genserico, comandan­do os vândalos. Nesse mesmo tempo, os hunos, sob o comando de Átila, es­palhavam o terror ao norte da Itália. A situação se intensificou até que Odoa­cro pôs fim ao império.
A profecia concentra sua atenção justamente nesses povos que invadi­ram o império do Ocidente, e entre eles menciona um poder “diferente”, que exerceria o domínio. Este, repre­sentado pelo “chifre pequeno”, é, por­tanto, um poder ocidental, já que os demais se estabelecem no Ocidente.
Esse detalhe profético mais amplo e de caráter geral é acompanhado de outros mais específicos. Por exemplo, o  “chifre pequeno” não surgiria ape­nas entre os dez chifres”, mas tam­bém depois deles , e derrubaria três daqueles chifres (v. 24). Esse chifre também falaria contra Deus,  perseguiria os Seus fiéis, mudaria a sua lei e dominaria por 1260 dias (v. 25). Além disso, é dito que esse chifre possuía olhos e boca como os de homem (v.8 e 20). Como entender esse detalhe, se o elemento humano, o segundo bloco de símbolos de Daniel 7, aponta para forças aliadas a Deus e a Seu povo ?
Bem, todas essas previsões precisam se encaixar no poder representado pelo “chifre pequeno” de Daniel 7. Quem é ele afinal ?


Sinais dos Tempos Janeiro/Fevereiro 2003

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