Se por ventura, não chegasse à posteridade nenhum outro vestígio da
nossa civilização, além de uma pilha dos nossos livros e cadernos escolares
básicos, poderíamos imaginar o assombro de um futuro antiquário vendo que nessa
papelada nada indicaria que os alunos que dela se serviam tivessem que vir a
ser pais algum dia. "Bem, diria ele, estes cursos deviam ser para
celibatários! Vejo que a atenção aqui era dada a muitas coisas, especialmente a
obras e feitos legados por povos que já não existiam na época ou contemporâneos
dela (o que parece indicar que ela própria nada tinha de muito bom a oferecer)
mas em tudo isto não encontro nenhuma alusão à arte de educar as crianças. Esse
povo não podia ser tão destituído de bom senso que no seu sistema de educação
básica deixasse de dar algum espaço a um assunto que implica a mais grave das
responsabilidades. E no entanto parece ser assim."
Pois não é inconcebível que se a vida ou a morte dos nossos filhos, sua ruina ou superioridade moral depende da maneira que os educamos, nossas escolas básicas não ofereçam a mínima instrução sobre essa matéria à alunos que amanhã serão pais e mães de família? Se um homem entrasse para o comércio sem a mínima noção de aritmética, riríamos da sua loucura e preveríamos as desastrosas conseqüências desse fato.
Se um homem, sem ter estudado anatomia, pegasse um bisturi de cirurgião, ficaríamos alarmados com seu gesto e aflitos pelos doentes. Mas que os pais empreendam a difícil tarefa de educar os filhos, sem nunca terem procurado saber os princípios da educação física, moral, intelectual, não nos inspira esse espanto nem piedade para com as vítimas, nesse caso as crianças.
Os pais têm a incumbência de regular, hora por hora, tudo o que diz respeito à existência dos seus descendentes, e ignoram as leis do desenvolvimento vital, que contrariam continuamente com suas ordens ou proibições. Os funestos efeitos da ignorância aparecem tanto na educação física quanto na educação moral.
A jovem mãe ou o jovem pai em luta com as primeiras dificuldades da educação estavam há apenas algunas anos atrás sentados na carteira da escola, onde lhes sobrecarregaram a memória com palavras, nomes, datas, fatos que não exercitaram de forma alguma suas capacidades de reflexão. Durante os anos escolares básicos não lhes ministraram a menor idéia de como entender uma mente infantil, ou lhes esclareceram sobre a responsabilidade de uma futura mãe ou um futuro pai de família. Terminados os estudos essa preocupação também não lhes ocorreu, seja porque concorriam no mercado de trabalho, seja porque gozavam dos prazeres da liberdade e da juventude. Quase nada sabem da natureza das emoções, pensam que existem sentimentos absolutos, ou maus ou bons, não conhecem os fenômenos mentais e as intensidades das faculdades humanas. Sendo assim não estão aptos a prever a influência que podem ter na educação de um filho, sendo por vezes sua intervenção mais prejudicial do que sua abstenção absoluta. Por motivos de receio, orgulho, indecisão, eles se opõe à algumas manifestações de atividade infantil, ao mesmo tempo natural e benéfica para a criança, prejudicando seu desenvolvimento, importando-se mais em serem obedecidos, proferindo ameaças que não executam, criando nela o medo, a hipocrisia e alienando-lhe sua afeição. Destituídos de qualquer saber teórico, incapazes de se guiarem pela observação criteriosa do que se passa no espírito da criança, os jovens pais seguem o impulso do momento, com resultados quase sempre desastrosos.
E por acaso a educação intelectual não é dirigida da mesma forma? Se é sabido que o espírito humano tem leis e que a evolução da inteligência da criança lhe está submetida, a educação não pode ser dirigida sem o conhecimento dessas leis. Sob a influência da acanhadíssima idéia que faz com que se veja nos livros a fonte da educação completa, alfabetizam as crianças muitos anos antes do necessário. O uso dos livros é suplementar, um meio indireto de aprender pelos olhos dos outros, quando o meio direto é o de ver pelos nossos próprios olhos. Em vez de compreenderem o valor dessa educação espontânea que é fruto dos nosso primeiros anos, que a observação incansável da criança, longe de ser contrariada deve ser assistida e esclarecida, obstinam-se em encher-lhe o espírito de fatos e idéias, de símbolos da ciência em vez da própria ciência, quando somente após se terem esgotado os objetos de casa, do jardim, da rua, é que deveriam apresentar o livro como fonte de novas informações. Isto porque o conhecimento imediato é preferível ao conhecimento mediato, mas também porque as palavras contidas nos livros não podem fazer surgir idéias em proporção da experiência adquirida pelas coisas.
Nosso espírito caminha do concreto para o abstrato. Entretanto, estudos abstratos como a gramática, que só deviam ser ensinados mais tarde, são ministrados no início. Quase todos os assuntos são tratados numa ordem anormal: as definições, as regras, os princípios, são enunciados em primeiro lugar, em vez de serem desenvolvidos pouco a pouco no espírito, pela observação dos casos particulares. Ainda existe o viciosos sistema de fazer o aluno decorar, querendo fazer penetrar em seu espírito coisas que ele não pode conceber, fazendo dele um recipiente para as idéias dos outros em vez de um investigador ativo das idéias e dos fatos. Passando os exames, os livros são abandonados; as noções adquiridas, na falta de serem organizadas e coordenadas, logo se perdem. Além disso, uma grande parte das coisas que se aprende é de pouco valor, uma enorme massa de conhecimentos de grande importância é totalmente desprezada. Também não se desenvolveu no aluno o poder de observar com exatidão e pensar por si próprio.
É preciso um aprendizado para fazer um sapato, construir uma casa, manobrar um navio. Será que o desenvolvimento físico e intelectual de um ser humano seja comparativamente tão mais simples que qualquer um esteja em medida de administrar esse início sem algum preparo? É indispensável conhecer os princípios básicos da fisiologia e da psicologia. Certamente se exigíssemos de todos os pais e mães conhecimentos aprofundados nessas matérias, cairíamos no absurdo. Os princípos gerais acompanhados de alguns exemplos esclarecedores seriam o suficiente. Além disso, o desenvolvimento da criança está submetido à leis que se não forem observadas acarretam danos físicos e mentais. Portanto que pais e mães não desejariam ardentemente conhecer essas leis?
Pois não é inconcebível que se a vida ou a morte dos nossos filhos, sua ruina ou superioridade moral depende da maneira que os educamos, nossas escolas básicas não ofereçam a mínima instrução sobre essa matéria à alunos que amanhã serão pais e mães de família? Se um homem entrasse para o comércio sem a mínima noção de aritmética, riríamos da sua loucura e preveríamos as desastrosas conseqüências desse fato.
Se um homem, sem ter estudado anatomia, pegasse um bisturi de cirurgião, ficaríamos alarmados com seu gesto e aflitos pelos doentes. Mas que os pais empreendam a difícil tarefa de educar os filhos, sem nunca terem procurado saber os princípios da educação física, moral, intelectual, não nos inspira esse espanto nem piedade para com as vítimas, nesse caso as crianças.
Os pais têm a incumbência de regular, hora por hora, tudo o que diz respeito à existência dos seus descendentes, e ignoram as leis do desenvolvimento vital, que contrariam continuamente com suas ordens ou proibições. Os funestos efeitos da ignorância aparecem tanto na educação física quanto na educação moral.
A jovem mãe ou o jovem pai em luta com as primeiras dificuldades da educação estavam há apenas algunas anos atrás sentados na carteira da escola, onde lhes sobrecarregaram a memória com palavras, nomes, datas, fatos que não exercitaram de forma alguma suas capacidades de reflexão. Durante os anos escolares básicos não lhes ministraram a menor idéia de como entender uma mente infantil, ou lhes esclareceram sobre a responsabilidade de uma futura mãe ou um futuro pai de família. Terminados os estudos essa preocupação também não lhes ocorreu, seja porque concorriam no mercado de trabalho, seja porque gozavam dos prazeres da liberdade e da juventude. Quase nada sabem da natureza das emoções, pensam que existem sentimentos absolutos, ou maus ou bons, não conhecem os fenômenos mentais e as intensidades das faculdades humanas. Sendo assim não estão aptos a prever a influência que podem ter na educação de um filho, sendo por vezes sua intervenção mais prejudicial do que sua abstenção absoluta. Por motivos de receio, orgulho, indecisão, eles se opõe à algumas manifestações de atividade infantil, ao mesmo tempo natural e benéfica para a criança, prejudicando seu desenvolvimento, importando-se mais em serem obedecidos, proferindo ameaças que não executam, criando nela o medo, a hipocrisia e alienando-lhe sua afeição. Destituídos de qualquer saber teórico, incapazes de se guiarem pela observação criteriosa do que se passa no espírito da criança, os jovens pais seguem o impulso do momento, com resultados quase sempre desastrosos.
E por acaso a educação intelectual não é dirigida da mesma forma? Se é sabido que o espírito humano tem leis e que a evolução da inteligência da criança lhe está submetida, a educação não pode ser dirigida sem o conhecimento dessas leis. Sob a influência da acanhadíssima idéia que faz com que se veja nos livros a fonte da educação completa, alfabetizam as crianças muitos anos antes do necessário. O uso dos livros é suplementar, um meio indireto de aprender pelos olhos dos outros, quando o meio direto é o de ver pelos nossos próprios olhos. Em vez de compreenderem o valor dessa educação espontânea que é fruto dos nosso primeiros anos, que a observação incansável da criança, longe de ser contrariada deve ser assistida e esclarecida, obstinam-se em encher-lhe o espírito de fatos e idéias, de símbolos da ciência em vez da própria ciência, quando somente após se terem esgotado os objetos de casa, do jardim, da rua, é que deveriam apresentar o livro como fonte de novas informações. Isto porque o conhecimento imediato é preferível ao conhecimento mediato, mas também porque as palavras contidas nos livros não podem fazer surgir idéias em proporção da experiência adquirida pelas coisas.
Nosso espírito caminha do concreto para o abstrato. Entretanto, estudos abstratos como a gramática, que só deviam ser ensinados mais tarde, são ministrados no início. Quase todos os assuntos são tratados numa ordem anormal: as definições, as regras, os princípios, são enunciados em primeiro lugar, em vez de serem desenvolvidos pouco a pouco no espírito, pela observação dos casos particulares. Ainda existe o viciosos sistema de fazer o aluno decorar, querendo fazer penetrar em seu espírito coisas que ele não pode conceber, fazendo dele um recipiente para as idéias dos outros em vez de um investigador ativo das idéias e dos fatos. Passando os exames, os livros são abandonados; as noções adquiridas, na falta de serem organizadas e coordenadas, logo se perdem. Além disso, uma grande parte das coisas que se aprende é de pouco valor, uma enorme massa de conhecimentos de grande importância é totalmente desprezada. Também não se desenvolveu no aluno o poder de observar com exatidão e pensar por si próprio.
É preciso um aprendizado para fazer um sapato, construir uma casa, manobrar um navio. Será que o desenvolvimento físico e intelectual de um ser humano seja comparativamente tão mais simples que qualquer um esteja em medida de administrar esse início sem algum preparo? É indispensável conhecer os princípios básicos da fisiologia e da psicologia. Certamente se exigíssemos de todos os pais e mães conhecimentos aprofundados nessas matérias, cairíamos no absurdo. Os princípos gerais acompanhados de alguns exemplos esclarecedores seriam o suficiente. Além disso, o desenvolvimento da criança está submetido à leis que se não forem observadas acarretam danos físicos e mentais. Portanto que pais e mães não desejariam ardentemente conhecer essas leis?
FONTE: Herbert
Spencer
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