Do ponto de vista das ciências religiosas todo o homem transcende. Assim como as necessidades sociais em todas as épocas e países fizeram surgir, por exemplo, os diversos idiomas do mundo por uma questão de comunicação, é possível dizer também que as necessidades morais e transcendentais dos homens originaram as várias religiões. Nossa atitude para com as religiões deveria ser a mesma que mantemos com os diversos idiomas. Sem dúvida, amamos e admiramos nossas crenças e convicções pessoais assim como amamos e admiramos a língua materna. Da mesma forma que não vamos odiar os diferentes idiomas, é nosso dever nos relacionarmos com as religiões num espírito de reverência e simpatia com o objetivo de compreendê-las.
Para
entendermos um pouco mais o que significa “religião” vejamos seu sentido
etimológico. Sabe-se que
existem pelo menos quatro possíveis interpretações: “religio” (sacrifício)
“religere” (reler), “religare” (religar) e “reeligere” (reeleger). Entre estas, para o Ensino
Religioso, que trata dos aspectos sociológicos, filosóficos e antropológicos da
religião, e que não pode fazer proselitismo, o termo “religere” é o mais
apropriado. Entretanto, num sentido denotativo, religião será o conjunto
de crenças, leis e ritos que visam um poder que o homem, atualmente, considera
Supremo, do qual se julga dependente, com o qual pode entrar em relação pessoal
e do qual pode obter favores.
Podemos
enumerar alguns fatores que determinam os estudos sobre a origem do fenômeno
religioso. Há os extrínsecos: (a) sujeição dos fiéis pela educação,
tradição e culto a práticas de superstição inventadas por uma casta sacerdotal;
(b) uma superestrutura do poder econômico; (c)
a divinização da sociedade pelo homem; (d) uma revelação positiva da
parte de um ser superior. Os fatores intrínsecos seriam: (a) a religião
provém do medo e ignorância; (b) é fruto da fantasia e do apetite ilusório do
homem primitivo; (c) o homem é dotado de uma percepção do divino como tendência
legítima de sua natureza; (d) religião é uma neurose universal, um atributo da
consciência para reparar erros; (e) nasce do inconsciente individual e coletivo
para a vida consciente na forma de inspiração e revelação. É importante
considerar que essas explicações foram elaboradas por teóricos ocidentais cuja
cultura baseia-se na racionalidade, portanto, mais relacionadas a religiões
como judaísmo, cristianismo e islamismo.
A lição que se tira de conceitos tão diferentes e contraditórios é que,
empiricamente falando, não existe quem
conceitue religião. Por outro lado, é perfeitamente possível dizer, se forem
conhecidos os dados, todas as soluções possíveis para o problema. Em outras
palavras, antes que eu decida por um conceito A ou B eu sei que A e B fazem
parte do sistema.
Existem
também várias formas de se classificar as religiões. Pode seguir critérios
geográficos e cronológicos, doutrinais ou simplesmente pelo número de
praticantes onde faz-se o trabalho de descrevê-las individualmente
comparando-as . Com certeza, por mais que tenha a finalidade de facilitar o
estudo, qualquer que seja a sistematização que se faça das religiões, este é um
procedimento que acaba forçando interpretações errôneas, ou seja, tem suas
vantagens e desvantagens. Vejamos a classificação feita por Mircea Eliade em Histoire des croyances et des idées
religieuses (1976 e 1984): As Religiões da África foram subdivididas em
quatro grandes grupos segundo aspectos lingüísticos: Congo-Kordofan, no centro
e sul; Nilosaariano, do Sudão Ocidental
e do Médio Níger; Afro-asiático, no norte e nordeste; e Khoïsan, entre
bosquímanos e os hotentotes. A dificuldade, admitida inclusive pelo autor, é
que das mais de 800 línguas faladas na África, apenas 730 estão classificadas
pelos estudiosos. Para apresentar seu estudo, Eliade preferiu, então,
distinguir o aspecto geográfico, destacando as principais religiões da África
Ocidental, Oriental, Central, do Sul e as religiões afro-americanas:
caribenhas, brasileiras, guianesas e norte-americanas.
Nas
religiões das Américas, Eliade separou a América Central, destacam-se os maias,
astecas e indígenas; América do Norte, dos índios americanos (esquimós, do
norte, do nordeste, das planícies, do noroeste, californianos e pueblos); por
último América do Sul, das religiões andinas (incas), da floresta tropical, do
Gran Chaco, dos pampas, patagônia e Terra do Fogo. O autor também classifica as
religiões da Austrália (aborígenes), o Budismo (hinayãna, mahãyãna, tântrico,
theravãna, chinês, coreano, japonês e tibetano), a Religião do Canaã, Celtas e o
Confucionismo. Sobre o Cristianismo separam-se as correntes católica, ortodoxa
e protestante. Por sua vez, a linhagem protestante pode subdividir-se em
igrejas históricas, pentecostais e neo-pentecostais. Principalmente os ramos
norte-americanos do protestantismo se ramificam ao infinito e tomam a América
Latina e a África. O Quênia sozinho, com vinte milhões de habitantes, contaria
com 800 igrejas. Também a igreja católica, que batizou 97% dos franceses, 82,4%
dos belgas, por exemplo, é ainda a maior igreja em quase todos os países do
mundo, inclusive nos Estados Unidos.
Mas,
continuando a classificação feita por Mircea Eliade, falta ressaltar as
religiões dualistas (gnosticismo, marcionismo, maniqueísmo, paulicianismo,
bogomilos e cátaros), a religião do Egito, dos povos Eslavos e Bálticos,
Germanos, a religião Helenística, as religiões da Grécia (minóica, micênica,
arcaica e clássica), o Hinduísmo
(vedãnta, vaiśesika e yoga, não-dualista, devocional, sikhismo, neo-hinduísmo,
e hinduísmo popular), as religiões Hititas, as Indo-européias, o Islamismo
(ortodoxos sunitas, xiitas e sufistas), o Jainismo, o Judaísmo, as religiões da
Mesopotâmia, do Mistério, Oceania, da Pré-História, a Romana, o Taoísmo, do
Tibete, dos Trácios, o Xamanismo (asiático, da Sibéria Setentrional, entre os
povos do Ártico, da Coréia e Japão, norte-americano e sul-americano), o
Xintoísmo e o Zoroastrismo (antigo, zurvanismo e masdeísmo). Já para o espiritismo, que foi codificado por
Allan Kardec, existem muitas discussões. Eliade, por exemplo, não faz
referências a ele como religião, o que pode fazer pensar que seja uma corrente
filosófica. Entretanto, como seus ensinamentos são repletos de caridade e amor
ao próximo, há autores que sugerem sua classificação junto às demais religiões
ou mesmo como uma ramificação do cristianismo.
Fontes de Pesquisa:
ELEADE,
Mircea. Dicionário das Religiões. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999
O
HOMEM em Busca de Deus. Tatuí (SP): Sociedade Torre de Vigia, 1990
LALANDE,
André. Dicionário Técnico e Crítico de Filosofia. São Paulo: Martins
Fontes, 1996
LALOUX,
Joseph. Manual de Iniciação à Sociologia Religiosa. São Paulo: Paulinas,
1970
TENDÊNCIA
universal do homem. Apostila em posse do autor. Sem data.
Questões:
Após
ler atentamente o texto acima, resolva as seguintes questões:
1)
O que
significa dizer: “todo o homem transcende”? Explique.
2)
Como deve
ser nosso relacionamento com as diferentes religiões? Cite exemplos.
3)
Qual o
sentido denotativo de religião e por que o termo “religere” é o mais apropriado
ao Ensino Religioso?
4)
Enumere os
fatores extrínsecos e intrínsecos que determinam os estudos sobre a origem do
fenômeno religioso e qual conclusão se pode tirar a partir deles?
5)
Existe um
critério eficaz para a classificação das religiões? Por quê?
Sem comentários:
Enviar um comentário