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segunda-feira, 12 de maio de 2014

DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DAS RELIGIÕES



Do ponto de vista das ciências religiosas todo o homem transcende. Assim como as necessidades sociais em todas as épocas e países fizeram surgir, por exemplo, os diversos idiomas do mundo por uma questão de comunicação, é possível dizer também que as necessidades morais e transcendentais dos homens originaram as várias religiões. Nossa atitude para com as religiões deveria ser a mesma que mantemos com os diversos idiomas. Sem dúvida, amamos e admiramos nossas crenças e convicções pessoais assim como amamos e admiramos a língua materna. Da mesma forma que não vamos odiar os diferentes idiomas, é nosso dever nos relacionarmos com as religiões num espírito de reverência e simpatia com o objetivo de compreendê-las.
Para entendermos um pouco mais o que significa “religião” vejamos seu sentido etimológico.  Sabe-se que existem pelo menos quatro possíveis interpretações: “religio” (sacrifício) “religere” (reler), “religare” (religar) e “reeligere”  (reeleger). Entre estas, para o Ensino Religioso, que trata dos aspectos sociológicos, filosóficos e antropológicos da religião, e que não pode fazer proselitismo, o termo “religere” é o mais apropriado. Entretanto, num sentido denotativo, religião será o conjunto de crenças, leis e ritos que visam um poder que o homem, atualmente, considera Supremo, do qual se julga dependente, com o qual pode entrar em relação pessoal e do qual pode obter favores.
Podemos enumerar alguns fatores que determinam os estudos sobre a origem do fenômeno religioso. Há os extrínsecos: (a) sujeição dos fiéis pela educação, tradição e culto a práticas de superstição inventadas por uma casta sacerdotal; (b) uma superestrutura do poder econômico; (c)  a divinização da sociedade pelo homem; (d) uma revelação positiva da parte de um ser superior. Os fatores intrínsecos seriam: (a) a religião provém do medo e ignorância; (b) é fruto da fantasia e do apetite ilusório do homem primitivo; (c) o homem é dotado de uma percepção do divino como tendência legítima de sua natureza; (d) religião é uma neurose universal, um atributo da consciência para reparar erros; (e) nasce do inconsciente individual e coletivo para a vida consciente na forma de inspiração e revelação. É importante considerar que essas explicações foram elaboradas por teóricos ocidentais cuja cultura baseia-se na racionalidade, portanto, mais relacionadas a religiões como judaísmo, cristianismo e islamismo.  A lição que se tira de conceitos tão diferentes e contraditórios é que, empiricamente  falando, não existe quem conceitue religião. Por outro lado, é perfeitamente possível dizer, se forem conhecidos os dados, todas as soluções possíveis para o problema. Em outras palavras, antes que eu decida por um conceito A ou B eu sei que A e B fazem parte do sistema.
Existem também várias formas de se classificar as religiões. Pode seguir critérios geográficos e cronológicos, doutrinais ou simplesmente pelo número de praticantes onde faz-se o trabalho de descrevê-las individualmente comparando-as . Com certeza, por mais que tenha a finalidade de facilitar o estudo, qualquer que seja a sistematização que se faça das religiões, este é um procedimento que acaba forçando interpretações errôneas, ou seja, tem suas vantagens e desvantagens. Vejamos a classificação feita por Mircea Eliade em Histoire des croyances et des idées religieuses (1976 e 1984): As Religiões da África foram subdivididas em quatro grandes grupos segundo aspectos lingüísticos: Congo-Kordofan, no centro e sul;  Nilosaariano, do Sudão Ocidental e do Médio Níger; Afro-asiático, no norte e nordeste; e Khoïsan, entre bosquímanos e os hotentotes. A dificuldade, admitida inclusive pelo autor, é que das mais de 800 línguas faladas na África, apenas 730 estão classificadas pelos estudiosos. Para apresentar seu estudo, Eliade preferiu, então, distinguir o aspecto geográfico, destacando as principais religiões da África Ocidental, Oriental, Central, do Sul e as religiões afro-americanas: caribenhas, brasileiras, guianesas e norte-americanas.
Nas religiões das Américas, Eliade separou a América Central, destacam-se os maias, astecas e indígenas; América do Norte, dos índios americanos (esquimós, do norte, do nordeste, das planícies, do noroeste, californianos e pueblos); por último América do Sul, das religiões andinas (incas), da floresta tropical, do Gran Chaco, dos pampas, patagônia e Terra do Fogo. O autor também classifica as religiões da Austrália (aborígenes), o Budismo (hinayãna, mahãyãna, tântrico, theravãna, chinês, coreano, japonês e tibetano),  a Religião do Canaã, Celtas e o Confucionismo. Sobre o Cristianismo separam-se as correntes católica, ortodoxa e protestante. Por sua vez, a linhagem protestante pode subdividir-se em igrejas históricas, pentecostais e neo-pentecostais. Principalmente os ramos norte-americanos do protestantismo se ramificam ao infinito e tomam a América Latina e a África. O Quênia sozinho, com vinte milhões de habitantes, contaria com 800 igrejas. Também a igreja católica, que batizou 97% dos franceses, 82,4% dos belgas, por exemplo, é ainda a maior igreja em quase todos os países do mundo, inclusive nos Estados Unidos.
Mas, continuando a classificação feita por Mircea Eliade, falta ressaltar as religiões dualistas (gnosticismo, marcionismo, maniqueísmo, paulicianismo, bogomilos e cátaros), a religião do Egito, dos povos Eslavos e Bálticos, Germanos, a religião Helenística, as religiões da Grécia (minóica, micênica, arcaica e clássica),  o Hinduísmo (vedãnta, vaiśesika e yoga, não-dualista, devocional, sikhismo, neo-hinduísmo, e hinduísmo popular), as religiões Hititas, as Indo-européias, o Islamismo (ortodoxos sunitas, xiitas e sufistas), o Jainismo, o Judaísmo, as religiões da Mesopotâmia, do Mistério, Oceania, da Pré-História, a Romana, o Taoísmo, do Tibete, dos Trácios, o Xamanismo (asiático, da Sibéria Setentrional, entre os povos do Ártico, da Coréia e Japão, norte-americano e sul-americano), o Xintoísmo e o Zoroastrismo (antigo, zurvanismo e masdeísmo).  Já para o espiritismo, que foi codificado por Allan Kardec, existem muitas discussões. Eliade, por exemplo, não faz referências a ele como religião, o que pode fazer pensar que seja uma corrente filosófica. Entretanto, como seus ensinamentos são repletos de caridade e amor ao próximo, há autores que sugerem sua classificação junto às demais religiões ou mesmo como uma ramificação do cristianismo.
 
Fontes de Pesquisa:
 
ELEADE, Mircea. Dicionário das Religiões. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999
O HOMEM em Busca de Deus. Tatuí (SP): Sociedade Torre de Vigia, 1990
LALANDE, André. Dicionário Técnico e Crítico de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1996
LALOUX, Joseph. Manual de Iniciação à Sociologia Religiosa. São Paulo: Paulinas, 1970
TENDÊNCIA universal do homem. Apostila em posse do autor. Sem data.
 

Questões:

 
Após ler atentamente o texto acima, resolva as seguintes questões:
 
1)       O que significa dizer: “todo o homem transcende”? Explique.
2)       Como deve ser nosso relacionamento com as diferentes religiões? Cite exemplos.
3)       Qual o sentido denotativo de religião e por que o termo “religere” é o mais apropriado ao Ensino Religioso?
4)       Enumere os fatores extrínsecos e intrínsecos que determinam os estudos sobre a origem do fenômeno religioso e qual conclusão se pode tirar a partir deles?
5)       Existe um critério eficaz para a classificação das religiões?  Por quê?

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