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sexta-feira, 3 de junho de 2016

A SEITA DOS FARISEUS



Os fariseus
O grupo religioso judaico mais conhecido da época de Jesus
é injustiçado no imaginário popular cristão

“Os fariseus eram o grupo religioso judaico mais próximo de Jesus”


Reinaldo W. Siqueira Ph. D. em Antigo Testamento pela Andrews University EUA é professor de Línguas e Exegese Bíblica e de Teologia do AT no Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia, em Engenheiro Coelho, SP.


Os“fariseus” são, sem dúvida, o grupo religioso judaico mais co­nhecido da época de Jesus. No en­tanto, entre os cristãos, a imagem deles é altamente negativa (“fanáticos”, “lega­listas”, “hipócritas”). Uma surpresa nos aguarda ao analisarmos os dados históricos.
O nome “fariseus”, em português, vem do gre­go farisaioi, o qual é derivado do nome hebraico perushim. Por sua vez, este nome vem da raiz pa­rash, que significa “separar”, “afastar”, “explicar”, “esclarecer”. Assim, o nome perushim é normal­mente interpretado como “aqueles que se separaram” da sociedade para levar urna vida consagra­da a Deus e ao estudo e ensino de Sua Palavra.
É quase impossível estabelecer a origem dos fariseus como grupo religioso. Todas as teorias propostas apresentam limitações e dificuldades. A hipótese mais provável é a de que eles se originaram do antigo grupo religioso judaico chamado hassidim (“os piedosos”), que apoiaram a revolta dos Macabeus (168-142 a.C.) contra Antíoco Epifânio, o rei do império helênico da Síria, que quis implantar a cultura helênica no seu reino, proibindo a prática da religião judaica na Judéia.
Foi nessa época que provavelmente aparece­ram: (1) os saduceus, clamando ser os legítimos detentores do sumo-sacerdócio e da liderança re­ligiosa em Israel; (2) os fariseus, grupo que se vol­tou para a vida religiosa e o estudo da Torá; e (3) os essênios, grupo que, desiludido com a situa­ção, se afastou da sociedade e foi viver uma vida de total consagração a Deus na região do deserto.
Segundo Flávio Josefo, historiador ju­deu do 1o. século d.C., o número de fariseus na época era pouco mais de 6 mil pessoas. Eles estavam in­timamente ligados à liderança das sinagogas, ao seu culto e escolas. Tratava-se de um gru­po importante, embora mino­ritário, no Sinédrio, a supre­ma corte religiosa e política do judaísmo da época.
Muitos fariseus tinham a profissão de “escriba” (no hebraico, sofer), ou seja, a pessoa responsável pela transmissão escrita dos manus­critos bíblicos e da interpretação dos mesmos. Duas escolas de interpretação religiosa dos fa­riseus se tomaram famosas: a escola de Hillel, mais liberal, e a escola de Shamai, mais estrita.
Os fariseus eram o grupo judaico mais pró­ximo de Jesus. Por exemplo, Jesus e os fariseus (1) defendiam a crença na ressurreição dos mortos (ao contrário dos saduceus); (2) fre­qüentavam o Templo de Jerusalém e o conside­ravam a casa de Deus (ao contrário dos samari­tanos e essênios); (3) ensinavam a igualdade de todos e o valor de cada individuo diante de Deus, numa perspectiva “universalista”; (4) consideravam que a essência da lei era o amor supremo a Deus e o amor ao próximo como a si mesmo; (5) freqüentavam as sinagogas e parti­cipavam regularmente das festas judaicas; e (6) da vavam um destaque especial à vida de oração.
A principal diferença entre Jesus e os fari­seus era sobre a importância da “tradição dos anciãos” (ou lei oral), isto é, os ensinamentos e interpretações dos mestres e rabinos antigos sobre a Bíblia. Enquanto para os fariseus a lei oral era a chave de interpretação da lei escrita (Bíblia), para Jesus a lei escrita deveria ser a regra para julgar a lei oral (Mateus 15:1-20).
Assim, Jesus era muito próximo e ao mesmo tempo totalmente independente do grupo dos fariseus. Essa dialética de proximidade e inde­pendência naturalmente causou as mais varia­das reações. Durante todo o ministério de Jesus, muitos fariseus O seguiam de perto, intrigados com Seus ensinos. Alguns se posicionaram como inimigos, enquanto outros O de­fendiam. No momento de maior cri­se, quando todos abandonaram Je­sus, foram dois fariseus, Nicode­mos e José de Arimatéia, que ti­veram coragem de agir publicamente como Seus discípulos e usar de sua influência para tirá-Lo da cruz e pô-Lo em uma sepultura (João 19:38-42). Muitos fariseus aceitaram a em Jesus como o Messias e se tornaram membros da comu­nidade cristã primitiva. O princi­pal pregador e apóstolo da fé cris­tã, Paulo, era um fariseu.


Sinais dos Tempos  Julho-Agosto/2002

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