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domingo, 18 de outubro de 2015

DEUS E O SOFRIMENTO HUMANO 2



Deus e o Sofrimento Humano


Pedro Apolinário – Sermões Exaltando a Verdade – Casa Publicadora Brasileira – 1a. Edição
Professor de Grego e Exegese Bíblica do Seminário Latino Americano de Teologia – Eng. Coelho, S.P

Um garoto de apenas três anos recebeu o que muito almejava: uma visita à Disneylândia. Após 90 minutos de visita morreu, antes de ser fo­tografado com Mickey, o seu personagem favorito.
Estêvão, este era o seu nome, tinha um defeito congênito no coração. O perigo da morte estava ao seu lado a cada instante. A vida se extinguiu antes dele ter a oportunidade de saber verdadeiramente o que é a vida.
Por que Deus permite que morram crianças como Estêvão?
Uma explosão, numa mina de carvão na Alemanha, ceifou a vida de mais de 90 mineiros. Eram homens que trabalhavam arduamente; muitos eram pais amorosos e esposos dedicados. É difícil descrever a dor, a tragédia e a angústia das viúvas e de seus familiares pela perda irreparável.
Onde estava Deus?  Por que permitiu que ocorresse aquele terrível desastre?  Não é fácil entender
Durante a Primeira Guerra Mundial mais de oito milhões de solda­dos perderam a vida. Milhões de cidadãos que não tomaram parte dire­tamente na batalha também morreram e outros milhões tiveram que so­frer as mutilações da guerra.
A Segunda Guerra Mundial foi mais catastrófica ainda, porque o número de mortos, feridos e mutilados foi muito superior.
Por que Deus permite tantos sofrimentos? Por que permite que as nações façam guerra?
As inundações e as secas são um açoite em várias regiões do mundo. As plantas fenecem, o gado não pode sobreviver e o espectro da miséria e da fome cai sobre muitos.
Por que permite Deus que desastres naturais tragam a fome, enfer­midades e a morte?
Diante desta realidade o filósofo alemão Nietzsche exclamou: “Deus está morto”. Bertrand Russel, o eminente matemático e filósofo inglês, escreveu os famosos “Ensaios não Populares” tentando provar que Deus nunca existiu.
Estes dois pensadores nada mais fizeram do que “dar coices contra o aguilhão”.
Os intrincados pormenores do sistema terrestre que tornam possível a vida são provas irrefutáveis de um poder maior que o dos homens. A as­sombrosa magnitude do Universo com sua massa incalculável de galáxias, de estrelas e sistemas planetários, bem como a imensidão incalculável de suas distâncias declaram solenemente: Deus existe! “Porque os atributos in­visíveis de Deus, a Sua própria divindade, claramente se reconhecem, por meio das coisas que foram criadas” (Romanos 1:20). O Salmo 14:1 de­clara sem rodeios: “Diz o insensato no seu coração: Não há Deus.”
Há uma razão pela qual o ser humano enfrenta problemas que não pare­cem ter solução. Há uma razão pela qual a humanidade tem sofrido tantas guerras e transtornos ao longo de sua história. Há uma razão pela qual a en­fermidade segue devastando o homem, apesar dos maravilhosos avanços tec­nológicos e o progresso científico que tem adquirido. Há uma razão definida pela qual Deus nem sempre salva o homem da seca, da fome e das pragas.
Onde encontrar a resposta às inquietadoras perguntas até agora formuladas? A única fonte confiável e segura para uma resposta aceitável se encontra na Bíblia. As Escrituras Sagradas nos esclarecem que Deus não é o culpado pelos males existentes entre nós. De Deus só vem o bem; as angústias, calamidades, doenças e misérias têm sua origem num ser que se rebelou contra Deus, desencadeando uma série de infortúnios.
Ezequiel 28 nos apresenta este ser que era o “sinete da perfeição”, “cheio de sabedoria”, que andava no monte santo de Deus. O orgulho e a ambição foram as causas primordiais, que levaram Lúcifer a se afastar de Deus. Eze­quiel descreve este ser angélico “perfeito em seus caminhos desde o dia em que fora criado”, mas “elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor” (Ezequiel 28:17).
Deus não criou autômatos ou robôs obrigados a Lhe prestar obediência, mas seres livres com a capacidade de escolha. Tendo esta possibili­dade a pessoa pode escolher de maneira acertada ou errada e Deus não pode ser responsabilizado por isso.

Nossos Primeiros Pais e a Opcão da Escolha
Gênesis 1:1 afirma claramente que no princípio criou Deus os Céus e a Terra”. O grande Deus, que habita numa dimensão diferente da nossa dimensão física deu um princípio a tudo. “Criou Deus, pois, o ho­mem à Sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gênesis 1:27).
Aos nossos primeiros pais lhes foi dada uma simples norma de vida e a opção de segui-la ou rejeitá-la. Deus os advertiu sobre as conseqüên­cias advindas se tomassem uma decisão errada: “E o Senhor Deus lhe deu esta ordem: de toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gênesis 2:16 e 17).
Nossos primeiros pais tomaram uma decisão errada! Não puderam por insinuação do inimigo resistir à tentação de provar da”’ da ciência do bem e do mal”. Em lugar daquela poderiam ter tomado de qualquer das árvores que Deus havia posto a sua disposição, inclusive da árvore da vida, a representação simbólica do caminho da vida, que con­duz à felicidade, à vida abundante e finalmente à vida eterna.
Porém, em lugar de seguirem a orientação divina, escolheram a árvore da ciência do bem e do mal” que representa o caminho que traz tristezas, dificuldades e finalmente a morte. Isso explica o porquê de todo so­frimento, as guerras, as dores e as misérias do passado e do presente.

A Culpa Não é de Deus
Não podemos atribuir a Deus a culpa por nossos pecados: “Ninguém, ao ser tentado, diga: sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e Ele mesmo a ninguém tenta” (Tiago 1:13).
Deus conhece muito bem o que ocorre na Terra. Ele conhece o sofri­mento e a dor que atingem o homem. Porém, não foi Deus que esco­lheu o caminho que a humanidade tem seguido. “Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar; nem surdo o Seu ouvido, para não poder ouvir. Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o Seu rosto de vós, para que vos não ouça” (Isaías 59:1 e 2).
Deus não quer que a humanidade sofra; Ele não queria que Adão e Eva sofressem. “Deus é amor.” (1 João 4:16). Deus é compassivo, mise­ricordioso, e paciente; Ele Se interessa por você e por mim.
A realidade é esta: Deus não quis privar-nos da liberdade de tomar decisões. Seu propósito foi desenvolver no homem uma mente que possa desejar e escolher livremente o caminho de Deus. Para alcançar este objetivo a humanidade tem que aprender que o seu próprio caminho “do bem e do mal” conduz a um completo fracasso.
O livro de Jó foi escrito para apresentar uma solução correta para o problema do sofrimento humano, mas ele também nos mostra a incapa­didade do homem para compreender o sofrimento sem o auxílio divino.

Idéias Diferentes para o Sofrimento
1-  É a vontade de Deus.
2-  É o castigo que a pessoa recebe por causa do seu pecado.
3- Sofremos porque Deus nos está disciplinando.
4- O sofrimento é causado por Satanás e pela desobediência ou igno­rância do homem.
Estas quatro explicações são apresentadas no livro de Jó, mas três delas são idéias dos homens.

Vamos analisar uma por uma:

1-  É a vontade de Deus.
Há muitos que crêem, que as tragédias sobrevindas manifestam a vontade de Deus. O próprio Jó assim pensava ao afirmar em Jó 19:6: “sabei ago­ra que Deus é que me oprimiu”. No capítulo 30 ele sustenta a mesma idéia.
Os muçulmanos afirmam taxativamente: o sofrimento é a vontade de Deus.
O poeta Magalhães Muniz declarou: “O sofrimento é lâmpada sagra­da, /Que a mão de Deus acende em nossa vida.”
A Bíblia não concorda com esse ensinamento.

2-  Deus castiga a pessoa por causa do seu pecado.
Os judeus eram defensores desta idéia.
Os três amigos de Jó têm a mesma crença: Jó 4:7; 8:10-13. O próprio livro de Jó contesta este ensinamento. Veja Jó 1:1 e 8.

3-  Sofremos porque Deus nos está disciplinando.
O jovem Eliú parece ser o pai deste argumento. Carmen Suplicy afirmou: “O sofrimento é a escada da purificação.” Se a perfeição fosse adquirida pelo sofrimento teríamos a salvação pelas obras. As penitências teriam a aprovação divina.
Deus repreendeu os amigos de Jó, porque o acusaram injustamente, por terem atribuído o sofrimento do patriarca à ira divina.
Nos capítulos 38 e 39 há mais ou menos 40 perguntas com o objetivo de nos mostrar que Deus é o Criador e Mantenedor de tudo. Se Deus cuida dos animais, quanto mais não cuidará dos homens criados a Sua imagem e seme­lhança? Deus não Se esquecera de Jó, sofrera com ele, como pois afirmar que Ele era o autor do castigo? Deus não é contraditório nem conflitante.
A leitura destas três passagens: Salmos 9:8; 41:3 e 11; e I Coríntios 1:4 são suficientes para nos provar que Deus não está alheio aos nossos sofrimentos.

4- Qual a explicação bíblica para a dor e o sofrimento?
A dor surgiu, como já vimos, pela desobediência às ordens divinas. Provérbios 26:2: “assim, a maldição sem causa não se cumpre”
O culpado pelos males foi Satanás, mas também nossos primeiros pais por desobedecerem a Deus.
Alguém escreveu:
“Deus fez o bem  —     o homem escolheu o mal.”
“Deus fez o homem justo  —      o homem procurou a impiedade.”
“Deus o fez feliz  —     ele procurou a desgraça e a miséria.”
A desobediência à lei divina trouxe dor, sofrimento, miséria, morte.
‘A história de Jó mostrara que o sofrimento é infligido por Satanás, mas Deus predomina sobre ele, para fins misericordiosos.” — O Deseja­do de Todas as Nações, pág. 471.
Deus pode transformar o sofrimento que Satanás inflige ao homem numa bênção, já que o sofrimento nos ensina a paciência e pode até ser permitido para controlar ambições e remover o egoísmo. O sofrimento foi permitido a Paulo para que ele não se exaltasse (II Coríntios 12:1) A obra de Cristo consiste em livrar o homem do sofrimento e da morte como nos ensina Paulo em Romanos 8:21 e I Coríntios 15:26.
Qual deve ser a nossa atitude diante do sofrimento? Aceitá-lo com espírito cristão e confiar mais em Deus (1 Pedro 4:16 e 19).

Orientação do Espírito de Profecia
“A dor não pode existir na atmosfera do Céu. Ali não mais haverá lágrimas, cortejos fúnebres, manifestações de pesar... ‘morador nenhum dirá: enfermo estou; porque o povo que habitar nela será absolvido da sua iniqüidade’ (Isaías 33:24.)” — O Grande Conflito, pág. 676.
“As provas são parte da educação recebida na escola de Cristo, para purificar os filhos de Deus da escória do que ê terreno. É porque Deus está guiando Seus filhos que lhes sobrevêm experiências decisivas. Provas e obstáculos são Seus métodos escolhidos de disciplina, e as condi­ções por Ele indicadas para o êxito.” — Atos dos Apóstolos, pág. 524.
“O fato de ser-nos pedido que suportemos aflições, prova que o Senhor Jesus vê em nós alguma coisa muito preciosa, que quer desenvolver... Cris­to não lança em Sua fornalha pedras sem valor. E o minério valioso o que Ele prova, O ferreiro põe no fogo o ferro e o aço a fim de lhes provar a têmpera. O Senhor permite que Seus escolhidos sejam postos na fornalha da aflição, a fim de que Ele possa ver de que têmpera são feitos, e se Ele os pode moldar e adaptar para a Sua obra.” — Testemunhos Sei etos, vol.3, pág. 194.
Se no início da Bíblia há o relato da entrada da dor e do sofrimento, no seu final há promessas de um novo céu e uma nova Terra onde as coisas desagradáveis estarão no passado.
Há uma concepção errada entre muitos adventistas, a respeito do sofrimento. Crêem que se forem fiéis em seguir a Cristo não sofrerão desastres etc., etc. Onde a Bíblia ensina isto? Ao contrário, em Lucas 21:8-19, Cristo nos diz que os sofrimentos viriam sobre nos.
A Bíblia nos diz que devemos dar graças a Deus por tudo (II Tessa­lonicenses 5:18).
Deveremos então agradecer pela dor e o sofrimento? Evidentemente que não. Há muitas coisas desagradáveis que nos sobrevêm não por Sua vontade, como já foi visto. Diante de acontecimentos tristes e desagradáveis devemos agradecer por Ele não nos desamparar e por nos dar forças para enfrentar os dissabores com espírito cristão. Romanos 8:28 merece nossa atenção: “Sabe­mos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus...”
Annie Johnson Flint, escreveu um lindo poema que diz: “Deus não prometeu céus sempre azuis, veredas semeadas de flores por toda a vida; não prometeu sol sem chuva, nem alegrias sem tristezas ou paz sem dor; mas Deus prometeu forças para o dia, luz para o caminho, graças para as tribulações, auxílio de cima, compaixão inalterável e imorredouro amor.”

Cristo —   A Solução Para o Problema
A humanidade pelo pecado se afastou de Deus, mas através de Cris­to a ligação com Deus pode ser restabelecida. Por Seu intermédio pode­mos receber o completo dom da vida eterna (Romanos 6:23).
Jesus veio pagar a pena de morte que merecíamos “porque o salário do pecado é a morte” (Romanos 6:23).
Deus observa o desenrolar dos acontecimentos na Terra. Permite que o ser humano tome decisões. O objetivo é que aprenda por experiência própria quão errados são os caminhos que lhe parecem retos.
Chegará o dia em que Deus intervirá na história da humanidade, enviando o Seu Filho a este mundo como “Rei dos reis e Senhor dos senhores” (Apocalipse 19:16), pondo fim às dores, sofrimentos, guerras e decepções, porque rodas estas coisas serão passadas.


Conclusão

Diante da dor e do sofrimento — os estóicos suportam; os epicuristas procuram o prazer como compensação; os budistas e os hindus, sem esperança, se retiram desiludidos; os maometanos se submetem, pois crêem ser a vontade de Deus; mas nós, firmados na Bí­blia, compreendemos a origem do mal e nos alegramos pelas preciosas promessas de Cristo.

Demos graças a Deus pela orientação segura da Sua Palavra e porque esperamos uma terra onde poderemos viver felizes, sem temor, decepções e sofrimentos.

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