POR QUE ESTUDAR HEBRAICO E GREGO?
Para que me servirão estas matérias no trabalho
futuro?
Estou me
preparando para pregar a Palavra e n~o ensinar grego e hebraico.
Grego e
hebraico são esquecidos e nenhum valor apresentam na vida prática.
Estudo estas
matérias apenas para ser aprovado e não para usá-las no ministério.
Estas
declarações e outras idênticas são ouvidas freqüentemente de estudantes de
Teologia e até mesmo de pastores de experiência.
O assunto é
extenso, mas as idéias seguintes são suficientes para mostrar o valor destas
matérias:
O grego e o
hebraico não terão nenhum valor para aqueles que se contentam em permanecer na
superfície, para os que se satisfazem com a opinião dos outros a respeito de
certos problemas bíblicos. Nenhum valor terá o estudo do original para os que
se satisfazem com alimento de segunda mão, para os que se contentam em cavar
na areia.
Há grande recompensa física, mental e espiritual quando procuramos por nós
mesmos, e auxiliados pelo Espírito Santo descobrimos a Verdade nas Escrituras
para transmiti-la à Igreja.
O conhecimento das peculiaridades das línguas bíblicas, nos possibilitam
uma ligação mais direta com a fonte da Verdade.
Ellen G. White nos diz que os ensinos bíblicos, pela simplicidade de
expressão, são acessíveis até mesmo aos iletrados, mas ressalta a necessidade
de cavar mais fundo através do diligente estudo com meditação e oração, para
um rendimento mental e espiritual mais proveitoso. Ao Ministro de Deus convêm
descer mais fundo no estudo da Bíblia, pois esta é a orientação divina por
intermédio de Sua serva.
“Que o ministro jovem lute com os difíceis problemas que se encontram na
Palavra de Deus, e seu intelecto todo se despertará. A medida que estuda diligentemente, as grandes
verdades que se acham nas Escrituras, será habilitado a pregar sermões que
encerrem uma mensagem direta, definida, e ajudarão os ouvintes a escolherem o
caminho certo.”
“O ministro que se arrisca a ensinar a verdade possuindo apenas leves
noções da palavra de Deus, ofende o Espírito Santo.”1
“Penetrai além da superfície; os mais preciosos tesouros do pensamento
aguardam o hábil e diligente estudante.”2
Sem dúvida alguma o original nos ajudará a compreender melhor muitas
mensagens bíblicas.
Por que tantas pessoas temem estudar o hebraico e o grego?
Generalizou-se na mente dos estudantes que estas línguas são muito
difíceis. Entretanto a prática nos mostrará que elas não são mais difíceis do
que o português, inglês ou alemão.
O hebraico, no início é mais difícil, por ser totalmente diferente da nossa
língua, mas a sua gramática é bastante simples em sua estrutura.
O grego apresenta a vantagem de que
85% do alfabeto é quase o mesmo do português. Muitos símbolos gregos são usados
na matemática, mas não há nenhum símbolo hebraico que nos seja familiar. A
principal dificuldade com o grego está em seu complexo sistema verbal.
As línguas bíblicas requerem dedicação e constância no seu aprendizado.
John Know estudou grego após os 50 anos. Alexander Maclaren tornou-se um dos
mais competentes pregadores modernos, e uma das razões apresentadas para este
sucesso, dizem os que o conheceram, foi o seu profundo conhecimento do grego
e do hebraico. O conhecimento de uma faceta da vida de Erasmo deveria servir de
estímulo aos nossos estudantes de teologia. Escrevendo a um amigo, enquanto
estudava por conta própria na Universidade de Paris, declarou: “Tenho-me
dedicado inteiramente de corpo e alma ao estudo de grego, e assim que
conseguir algum dinheiro, comprarei livros de grego e depois roupas.” Por isso
tornou-se um dos maiores eruditos da língua grega no tempo da Reforma.
Suas palavras no prefácio do Novo Testamento Grego, por ele editado em
1516, são significativas:
“Estas páginas sagradas
sintetizam a imagem viva de Seu Espírito. Elas vos darão o próprio Cristo,
conversando curando, morrendo, ressuscitando, o Cristo completo em uma palavra;
elas darão Cristo a vós numa intimidade tão especial que Ele seria menos
visível se estivesse em pé diante
dos vossos olhos.”
Hoje um dos debates mais comuns nas Faculdades de Teologia é se o estudo
do hebraico e grego deve ser opcional para os estudantes. Os estudantes são
estimulados a escolherem matérias mais fáceis e até ao seu ver mais
importantes. É lamentável que as Faculdades de Teologia estejam seguindo a
orientação de deixar opcional uma das línguas bíblicas ou ambas.
E lamentável também que escolas do segundo grau e cursos superiores
tirassem o latim e o grego de seus currículos, em decorrência do progresso
científico e do utilitarismo da nossa época.
Se não é possível ser um
eficiente professor de português desconhecendo a latina muito menos alguém
poderá ser um eficiente pregador se desconhecer as línguas originais, em que a
Palavra de Deus foi escrita.
A utilidade da língua grega jamais será suficientemente exaltada; a ela
devemos uma grande dívida de nossa formação cultural. É incontestável que o grego é o mais perfeito veículo
na transmissão de idéias.
Há estudantes de teologia que apresentam as seguintes perguntas:
1o.) Por que continuar a exigir o estudo do grego numa época
quando há tantas traduções?
2o.) Não há muitas outras matérias mais práticas no currículo
do que o estudo de línguas bíblicas?
3o.) Pode um estudante em dois anos de hebraico ou grego
adquirir um preparo que o qualifique a usar satisfatoriamente o original?
4o.) Por que há tantos obreiros eficientes sem conhecer nada de
línguas bíblicas, enquanto outros versados nestes estudos não alcançaram
resultados consagradores?
Extensas respostas poderiam ser dadas a cada uma destas inquirições.
Tentemos algumas:
Não há nada a objetar
quanto às várias traduções Bíblia, pois, podemos obter muito auxílio comparando
diferentes traduções, mas o sentido exato só é obtido indo ao original. Os
estudiosos têm chegado á conclusão que as traduções existentes são, muitas
vezes, falhas em transmitir a exata nuance de significado do que foi escrito
primitivamente. Existem boas traduções em português, mas quem depende apenas
delas nunca poderá falar com autoridade em assuntos referentes ao texto. Ele
está sempre na dependência do que os outros têm dito e jamais poderá fugir da
condição de inferioridade quando lhe peruntam
sobre o significado original de alguma palavra.
A seguinte verdade não deve ser olvidada: os heréticos e falsos mestres
sempre foram prontos a adotar uma tradução que estivesse em harmonia com
suas idéias preconcebidas.
2o.) À pergunta: não há outras matérias mais práticas no
currículo? Responderemos com outras interrogações que nos levem a reflexionar.
O que se entende por matérias práticas?
Há alguma coisa mais prática do que a compreensão exata da Palavra de Deus?
Que subsídio mais valioso para uma pregação expositiva do que um adequado
conhecimento do original?
É possível preparar um bom sermão
sobre o inferno, o estado do homem na morte, vinho na Bíblia, o arrependimento
etc. sem conhecimento do hebraico e grego?
3o.) Quanto ao
terceiro quesito apenas isto: irá depender muito do estudante, do seu interesse
pela matéria e sua dedicação ao estudo.
4o.) A quarta alegação não invalida nosso ponto de vista de que
com o conhecimento das línguas bíblicas estes obreiros ter-se-iam
tornado pregadores mais eficientes. O verdadeiro sucesso na obra de Deus não
se deve ao fato de ter ou não conhecimento de grego, mas à oração, ao estudo
da Bíblia, à fidelidade no cumprimento dos deveres, à sua tenacidade no
trabalho às bênçãos divinas.
A seguinte verdade não deve ser desprezada: o sucesso de alguns sem
conhecimentos acadêmicos não se deve a essa deficiência, mas a despeito dela.
Os exemplos citados de Moody e Spurgeom não invalidam nossa tese.
O dicionarista Thayer disse:
“A depreciação um tanto indiscriminada do estudo das línguas mortas, na
atualidade, não ocorre sem danosa influência sobre os que se estão preparando
para ser expositores da Palavra Divina.”
O Pregador e Suas Ferramentas
O homem civilizado se projetou de modo extraordinário graças ao sábio uso
de ferramentas. Quanto mais o homem progride mais ele sente necessidade de
melhorar as ferramentas. E a eficiência dependerá da habilidade no manuseio da
ferramenta adequada. O pregador moderno em seu escritório de estudos é um
homem com suas ferramentas. Se ele não tiver ferramentas certas sobre sua mesa
não poderá produzir resultados rápidos, muito menos o trabalho de projeção que
se espera de um mensageiro de Deus. Nenhum pregador pode estar satisfeito a
não ser com o melhor que dele se espera. Geralmente pode aquilatar-se a
qualidade do trabalho de um pregador observando os livros que ele tem
em sua biblioteca.
Seria muito útil que entre seus livros se encontrassem o Velho Testamento
em hebraico e o Novo em grego. Para o Velho Testamento o Dicionário de
Gesenius e The Analytical Hebrew and Chaldee Lexicon são valiosos. Dentre os
bons dicionários gregos destacam-se Thayer, Arndt and Gingrich, mas para
efeitos práticos o “The Analytical Greek Lexicon” é suficiente. Das gramáticas
hebraicas “A Practical Grammar for Classical Hebrew” está entre as mais didáticas.
As três melhores para o grego no consenso dos estudiosos são a de Robertson,
Blass e de Moulton.
Exemplos Comprovatórios do Valor do Grego
Q pregador foi comissionado por Deus para pregar a palavra (II Tim. 4: 2).
O ministro cristão não foi incumbido de pregar as opiniões prevalecentes na
filosofia, ou as mutáveis hipóteses da ciência, nem repousa sobre ele o dever
de pregar o mais puro tipo de ética que conhece para tornar os homens melhores,
mas para ser um eficiente pregador da Palavra de Deus ele precisa conhecer as
línguas em que ela foi escrita primitivamente.
Das palavras estudadas por Kenneth Wuest destaquemos estas:
1a.) “E não vos conformeis com este século, mas
transformai-vos pela renovação da
vossa mente...” Rom. 12:2.
Conformeis em grego é “suschematizo” e transformai é “metamorfoomai.
Sunschematizo precedido da forte negativa “mê” significa: “Parai de assumir uma expressão exterior que
não vem de dentro de vós e que não representa o que sois, mas é posta de fora e
é moldada de acordo com este século.” O
grego fornece as seguintes idéias:
santos que estão usando uma máscara, moldando-se de acordo com este
século, pondo sobre si uma cobertura opaca que oculta a presença interior do
Senhor Jesus e impede que o Espírito Santo manifeste a sua beleza na vida.
Essas idéias emergem do verbo conformar-se, mas isto do texto grego.
O pregador toma a palavra “transformar” e encontra “metamorfoomai”. O
verbo simples significa “dar expressão exterior ao íntimo de alguém, sendo que
essa expressão provém desse íntimo e o representa.” A preposição “meta” indica
mudança Ele traduz: “Mudai vossa expressão exterior (daquela que veio de vossa
natureza totalmente depravada quando não estáveis salvos) por aquela que vem do vosso íntimo (como
salvos que estais). Esta tradução traz novas e ricas idéias: santos transfigurados,
a vida exterior deve encontrar a sua fonte na natureza divina, a vida deve ser
a expressão exterior de uma natureza interior, não um disfarce nos trajes do
mundo. Apenas o grego pode guiar-nos a essas idéias.
2a.) Uma curiosa palavra grega é o verbo estudar de II Tim. 2: 15: “Estuda para
mostrar-te aprovado diante de Deus.” Estudar, hoje
se refere ao esforço para aprender, especialmente pelo ler e pensar. Fala de
escola, livros, professores, e aplicação da mente na aquisição de conhecimento.
A palavra grega não tem essa conotação de acordo com o “Vocabulary of the
Greek Testament de
Moulton and Milligan”. Sua real significação
seria: apressa-te, sê impetuoso,
usa de diligência, faze um esforço
para conseguir o teu melhor, implicando em todas as áreas do serviço e da vida
cristã.
O rico sistema verbal grego com seus aspectos, tempos, modos e vozes apresenta
verdades intraduzíveis para línguas modernas, como Jogo 15: 7 ilustra. O verbo
“meno” significa permanecer, estar, habitar, abrigar. A famosa concordância “Englishman’s Greek Concordance” nos informa que na Bíblia este verbo quando usado com
pessoas implica em amizade, companheirismo, como nas passagens de Luc. 1: 56;
19: 5. Uma boa tradução para 5. Jogo 15: 7 seria: Se você
mantiver uma viva comunhão comigo e as minhas palavras forem recebidas por
você, então haverá um companheirismo constante, momento a momento, com o
Senhor.
Os exemplos poderiam ser multiplicados, como prova do riquíssimo material
existente â disposição dos estudantes de grego.
Conclusão
Sem algum conhecimento de hebraico e grego o Pastor não está à altura
de entender os comentários críticos sobre as Escrituras; não poderá ajudar os que
lhe pedem auxílio em problemas de tradução; não pode estar seguro se sua
citação bíblica está apresentando o correto sentido primitivo e muito menos poderá ser
um fiel intérprete da palavra de Deus.
Referências:
1. Obreiros Evangélicos, pág. 95.
2. Mensagens aos Jovens, pág. 262.
MAIS TEMAS DIFÍCEIS
1- TEMAS DIFÍCEIS DA BÍBLIA: PORQUE ESTUDAR GREGO E HEBRAICO? AQUI
2- TEMAS DIFÍCEIS DA BÍBLIA - JUSTIFICAÇÃO SANTIFICAÇÃO E GLORIFICAÇÃO AQUI
3 - TEMAS DIFÍCEIS DA BÍBLIA - FÉ E OBRAS AQUI
4 - TEMAS DIFÍCEIS DA BÍBLIA - LEI E GRAÇA AQUI
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