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domingo, 17 de janeiro de 2016

TEXTOS DIFÍCEIS DA BÍBLIA - O VINHO NA BÍBLIA



O VINHO NA BÍBLIA

Introdução


A finalidade deste estudo é pesquisar no Livro Santo para saber o que ele tem a nos dizer sobre o uso do vinho.

Se a Bíblia não se pode contradizer em seus ensinos, co­mo iremos harmonizar declarações aparentemente contraditó­rias como estas: o uso do vinho é uma maldição, o uso do vinho é uma bênção. Essa aparente contradição escriturística levou os editores de O Nova Dicionário da Bíblia a afirmarem: “Esses dois aspectos do vinho, seu emprego e seu abuso, seus benefí­cios e sua aceitação aos olhos de Deus e sua maldição estão en­trelaçados na trama do Antigo Testamento de tal modo que o vinho pode alegrar o coração do homem (Sal. 104: 15) ou pode fazer a mente errar (Isa. 28: 7). O vinho pode ser associado ao regozijo (Ecl. 10: 19) ou à ira Isa. 5:11): pode ser usado para descobrir as vergonhas de Noé (Gên. 9: 21) ou. nas mãos de Melquisedeque pode ser usado para honrar a Abraão (Gen..14:18).”

Se estas duas possibilidades antagônicas provêm do vinho é fácil concluir que a Biblia apresenta duas espécies distintas de vinho. A primeira espécie seria o vinho não fermentado, o puro suco de uva que pode ser uma bênção. A outra espécie é o vinho fermentado, intoxicante, causador de muitos problemas sociais como discórdia, miséria, destruição da vida, por isso vários escritores bíblicos o condenaram com veemência

O que diz a Bíblia? O que dizem os exegetas e os comen­taristas sobre este problema?


O Vinho no Velho Testamento

Três vocábulos distintos são empregados no Antigo Testa­mento para designar três espécies de vinho.

1o.) Yayin — Gên. 9:21.

E o mais usado, porque aparece nada menos de 140 vezes. Esta palavra é empregada indistintamente sem considerar se o vinho é fermentado ou não.

2o.) O segundo vocábulo é tirôsh, empregado 38 vezes. Ao contrário da palavra anterior, esta indica que o vinho não é fermentado!  Algumas vezes é traduzido como vinho novo ou “mosto”. Deut. 12:17.

39) Shekar é a terceira palavra usada. Tem a conotação negativa, normalmente é traduzida por bebida forte. Os escri­tores do Velho Testamento a empregam 23 vezes. Prov. 31: 6
“Dai bebida forte (shekar) aos que perecem, e vinho (yayin) aos amargurados de espírito.”

Seria interessante saber que na Septuaginta (tradução do hebraico para o grego, feita por setenta sábios judeus) a pala­vra “oinos” foi empregada para traduzir as hebraicas Yayin e tirôsh, mas nunca para shekar ou bebida forte.
                                                                      
Seventh-day Adventist Bible Dictionary, pág. 1.150 de­clara com muita propriedade:
“Arão e seus filhos, os sacerdotes, foram estritamente proi­bidos de beber vinho ou bebida forte ao entrarem no tabernácu­lo para ministrar diante do Senhor (Lev. 10: 9). Os nazireus eram igualmente proibidos de usar vinho enquanto estivessem debaixo do voto (Núm. 6: 3, 20; confira Juízes 13: 4-7). Os recabitas viveram um exemplo digno de nota de abstinência permanente do vinho, aderindo estritamente ao mandamento de seu ancestral, Jonadabe, para abster-se dele (Jer. 35: 2, 5, 8, 14). O livro de Provérbios está repleto de advertências contra indulgência com o vinho e bebida forte (veia capítulos 20: 1; 21: 17; 23: 30, 31; 31:4 etc). O vinho zomba daqueles que o usam (cap. 20: 1), e os recompensa com ais, dores, lutas e feri­das sem causa (cap. 23: 29, 30). ‘No seu fim morderá como uma serpente, e picará como um basilisco’ (v. 32). O profeta Isaias declarou: ‘Ai dos que são heróis para beber vinho, e valentes para misturar bebida (Isa. 5: 22). Daniel e seus compatriotas deram um digno exemplo pela recusa de beber o vinho do rei (Dan. 1: 5, 8, 10-16). Ao jejuar posteriormente, Daniel abste­ve-se de carne e vinho (cap. 10: 3).”
Não é possível terminar esta parte do comentário, sem enfatizar mais uma vez: existem no Velho Testamento as mais variadas advertências dos grandes perigos advindos do uso do vinho e bebidas fortes. Dentre estas advertências as que mais se agigantam são as apresentadas por Salomão no livro de Pro­vérbios (20: 1;20,21 e 30).


Vinho em O Novo Testamento


As referências ao vinho nesta segunda parte da Bíblia são mais escassas do que as encontradas no Velho Testamento.
Os escritores do Novo Testamento também empregaram três vocábulos gregos que podem ser traduzidos para a nossa língua por vinho: “oivoç”(escrito em grego) —  oinos; “o’ ikepa”( escrito em grego) síkera;   gleukoV  gléukos.  Destas três a mais usada é oinos (aparece 36 vezes) tendo o mesmo sentido de yayin no hebraico, e que na Septua­ginta, como já vimos traduz também o hebraico tirôsh. A pala­vra síkera aparece apenas uma vez em Luc. 1: 15 “João Batista não bebia vinho (oinos) nem bebida forte (síkera).” De modo idêntico o vocábulo gléukos só foi usado uma vez em Atos 2: 13. Outros zombando diziam: “Estão cheios de mosto (gléukos).”

O principal problema no estudo do vinho é este: embora a língua grega seja especialista em empregar palavras distintas para idéias diferentes, ela não possui uma palavra para vinho com álcool e outra para vinho sem álcool. O Novo Testamen­to emprega oinos tanto para o vinho fermentado como não fermentado.


O Vinho Usado por Jesus na Última Ceia


Podemos afirmar com certeza que o vinho usado por Jesus nesta ocasião não era fermentado. Esta afirmação é conclusiva da Bíblia pelo seguinte:

Na cerimônia da páscoa não devia haver fermento em ne­nhum compartimento da casa, desde que este é o símbolo do pecado. Se os pães asmos não continham fermento como o próprio nome indica, é fácil concluir que o vinho também não podia conter fermento. A leitura das seguintes passagens nos levam a esta conclusão: Gên 19: 3; Êxodo 13: 6-7; Lev. 23: 5-8: Luc. 22: 1. Tanto o vinho da ceia como o das bodas em Caná da Galiléia não era fermentado, porque Jesus jamais acei­taria partilhar daquilo que é tão fortemente condenado na Bí­blia.

Todas as igrejas cristãs tradicionais conservam o costume de usar o vinho sem fermento para simbolizar o sangue de Cris­to, oferecido por nós na cruz, para remissão de nossos pecados.



Estudo de Duas Passagens

1.   I Tim. 3:8.

“Não inclinados a muito vinho.”

Embora este conselho de Paulo seja difícil de ser explica­do, se pensarmos bem sobre ele, e se o pesquisarmos em fontes sadias, concluiremos o seguinte:

O termo grego usado é oinos, empregado em O Novo Tes­tamento, como já vimos, para o vinho fermentado e não fermen­tado. Se Paulo aqui se refere ao vinho fermentado, ele está em contradição com suas próprias declarações concernentes ao cui­dado do corpo (1 Cor. 6:19 e 10: 31) e em oposição à orienta­ção geral da Bíblia no tocante a bebida intoxicantes (Prov. 20:1: 23: 29-32; João 2: 9). Como bem pondera o Comentário Ad­ventista, se sua referência era ao uso do suco de uva não havia necessidade desta advertência.

Neste conselho Paulo adverte aqueles que exercem lideran­ça dentro da comunidade cristã para não incorrerem neste ví­cio, porque este os incapacitaria para o correto desempenho de sua tarefa.

Estas e outras passagens correlatas seriam bem compreen­didas quando se pondera no seguinte: Deus deseja o nosso afas­tamento das bebidas com álcool, mas o ser humano     muitas ve­zes, se afasta desta orientação, daí a constante advertência dos mensageiros de Deus para que os seus filhos o evitem.


II.     A Problemática Passagem de I Tim. 5:23.

Os defensores da abstinência total tem se preocupado mui­to com esta passagem. Se o verso de I Tim. 5: 23 for analisado no seu contexto ele jamais deverá ser usado como liberalizador do uso do vinho fermentado.

The Interpreter’s Bible, vol. XI, pág. 445 comentando este verso declara:

“Sendo que na ocasião o vinho era considerado como medi­cinalmente útil na cura de uma variedade de doenças, a prática da abstinência total significa renúncia ao vinho não apenas com uma bebida, mas também como um remédio. Esta prática é pre­judicial, diz o autor: Tendo Timóteo um estômago fraco ou por causa de suas freqüentes enfermidades, ele não devia hesitar em usar um pouco de vinho”.

“O verso ilustra muito bem o senso comum, o ponto de vista moderado do autor. Ele não defende nenhum vinho como prazer. A religião é demasiado séria para isto. Mas quando ela chega a recusar remédio, ele traça-lhe um limite.”

O SDABC apresenta sobre esta passagem os seguintes escla­recimentos:

“Alguns comentaristas crêem que Paulo aqui defende o uso moderado de vinho fermentado para propósito medicinais. Chamam a atenção para o fato de que aquele vinho assim tem sido usado através dos séculos.

Outros sustentam que Paulo se refere ao suco de uvas não fermentado, arrazoando que ele não daria conselho inconsisten­te como o resto das Escrituras, que advertem contra o uso de bebidas intoxicantes (veja Prov. 20:1; 23: 29-32).” vol. VII, pág. 314.

O estudo da passagem de 1 Tim. 5: 23 nos leva à conclu­são de que neste caso Paulo está tratando de um caso isolado e especial —  um problema de doença. Em suas demais epísto­las ele sempre defendeu total abstinência do vinho, como nos comprovam Rom. 14: 21 “. . . é bom não beber vinho   . Efé­sios 5::18  “...Não vos embriagueis com vinho...”

Não é justo alguém apoiar-se nesta passagem para defender o uso do vinho com álcool.

Do excelente folheto “Vinho”, de autoria de Walter G. Borchers, destacamos estas judiciosas palavras concernentes a este verso:

“Os que querem beber vinho que contém álcool, não obs­tante a proibição bíblica, no seu desespero lançam mão, por úl­timo, de um só texto (eu diria dois, sendo o outro 1 Tim. 3: 8), a saber, 1 Tim. 5: 23. Mas, vamos ao texto. Descobriremos logo que o jovem pregador Timóteo, que conhecia as Sagradas Escri­turas desde a sua infância, era um consciencioso e rigoroso abs­têmio; também, que ele tinha a infelicidade de não andar bem de saúde, tendo estômago fraco e sofrendo freqüentes indispo­sições; e que S. Paulo lhe aconselhou o uso de um pouco de vi­nho, como remédio, por causa dessas suas enfermidades.

“Se olhássemos para o texto pelo prisma dos apologistas do vinho, diríamos: parece que S. Paulo, como algumas pessoas de hoje, que não acompanham a ciência moderna, pensava que o uso de ‘um pouco de vinho’, como remédio, embora fermen­tado, talvez fizesse bem.

“Notemos, porém, que o termo ‘oinos’, usado neste texto, sendo empregado, às vezes, no sentido de vinho doce, não diz com clareza se era vinho novo e doce ou fermentado, o que Timóteo devia usar; mas mesmo que fosse vinho fermentado, existe muita diferença entre o uso de um pouco, no caso de doença, e o beber vinho fermentado de preferência ao novo e doce, sob uma infinidade de pretextos fúteis, desprezando as­sim a Palavra de Deus, que, no Velho Testamento, proibe, em 134 textos diferentes, o uso do vinho fermentado, e no Novo Testamento, coloca na categoria de libertinos, idólatras, maldi­zentes. adúlteros, ladrões e assassinos, os bebedores de vinho dessa qualidade (I Cor. 6: 9 e 10; Gál. 5:19-21; etc., etc.), dei­xando bem claro que os bêbados não herdarão o reino de Deus.” pág. 9 e 10.


Quais Seriam as Razões Fundamentais Indicadas

pela Palavra de Deus para que Seus Filhos

se Abstenham de Bebidas Alcoólicas?

Uma resposta segura e abalizada se encontra no artigo O Consumo de Vinho do Ponto de Vista Bíblico de L. E. Froom, de onde extraímos os seguintes passos:

“Transportando agora todos os tipos e figuras, que alguns poderiam minimizar, passamos à plena admoestação de Deus sobre o cuidado e a proteção que devemos dedicar ao nosso corpo, e à razão relativa disso. Descobrimos que de nosso cor­po é declarado ser o ‘templo de Deus’ três vezes e a habitação do Espírito Santo. Não devemos contaminar este templo com bebidas e alimentos proibidos, mas conservá-lo santo, para não sermos destruídos quando todos os maus forem exterminados. Paulo enuncia isto em I Coríntios: ‘Não sabeis vós que sois san­tuários de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá’. 1 Cor.3: 16, 17.

“No sexto capítulo declara que somos ‘templos do Espí­rito Santo’, o qual não tem qualquer parentesco com o álcool e a embriaguez. Devemos glorificar a Deus com este corpo que é redimido em virtude do sangue de Cristo: o nosso corpo de­ve ser cuidado como lugar de habitação de Deus. 1 Cor. 6: 19, 20.

“Enfim, o apóstolo Paulo repete a admoestação divina afirmando que nós somos o templo de Deus vivente, no qual Ele faz morada. Por isso devemos ser separados como o eram os nazireus da antiguidade. Não devemos tocar aquilo que é impuro, mas antes purificar-nos de toda imundícia e aperfei­çoarmo-nos na santidade. Agora e para sempre devemos ser possessão divina, pois é o que Deus espera de nós Ver II Cor. 6:16-17.” O Atalaia, Maio de 1977 págs. 6e 7.

A sábia orientação divina consiste em advertir-nos, seria­mente, para os perigos e as nefastas conseqüências das bebidas. Os apreciadores de vinho não deviam ingeri-lo justificando es­te desejo com exemplos bíblicos.  Em vez de assim fazê-lo de­viam meditar bem que esta fraqueza poderá levá-los à embria­guez, que está arrolada na Bíblia entre as obras da carne, que nos excluem do reino dos céus. (Gál. 5: 21; 1 Cor. 6:10).

As Escrituras o condenam com veemência em muitas pas­sagens, como os versículos 29 e 35 do capítulo 23 de Provér­bios, por conseguinte, todas as bebidas alcoólicas, logo ninguém deve ingeri-las escudado na Palavra de Deus.


Conclusão


Diante da exposição feita a única conclusão a que deve­mos chegar deve ser esta:

A sábia lição aos sacerdotes no santuário: o edificante exem­plo dos nazireus; as ponderadas advertências de Salomão; e a orientação divina no caso de João Batista; as oportunas exor­tações do apóstolo Paulo com respeito a ser o nosso corpo O templo do Espírito Santo; a moral elevada que deve ser segui­da na vida dos verdadeiros cristãos, tudo nos leva a afirmar: a abstinência do vinho ou de qualquer bebida alcoólica é o cami­nho seguro e o ideal proposto por Deus para os seus filhos em todas as idades e através de todas as épocas.

Conquanto o uso do álcool como bebida não seja condena­do per si na Bíblia, os princípios de saúde esboçados nas pági­nas sagradas e os horríveis exemplos, tais como os de Nabal dão autenticidade ao conselho dado por Ellen G. White de que “a única atitude segura é não tocar, não provar, não manejar.” A Ciência do Bom Viver, pág. 335. Ela acrescenta que “a total abstinência é a única plataforma sobre que o povo de Deus po­de conscienciosamente firmar-se.” Testimonies, vol. 7, pág. 75.
—        Comentário da Lição da Escola Sabatina, 21-5-1983, pág. 120.

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