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sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

TEMAS DIFÍCEIS DA BÍBLIA: LEI E GRAÇA



LEI E GRAÇA


Introdução


Infelizmente, membros de Igrejas Evangélicas e até estudan­tes de Teologia de certas faculdades crêem firmemente que a lei se opõe à graça.

Anote estas declarações:

“Pondo o assunto em seu devido lugar, somente quando a lei é feita um meio de salvação, entra ela em choque com os prin­cípios da graça..”

“A lei destina-se a revelar o pecado; a graça destina-se a sal­var do pecado. Nenhum conflito pode existir entre ambas.”

Os dispensacionalistas, contrariando o ensino bíblico, têm defendido duas épocas distintas: dispensação da lei Velho Testamento e dispensação da graça Novo Testamento.

A finalidade deste estudo é harmonizar a lei com a graça, colocando cada uma em seu devido lugar.


Comentários Gerais

1.     Que é Lei?

Na Bíblia, a palavra é empregada com múltiplos significa­dos.

a) Designa o Pentateuco. Luc. 24:44.

b) A lei dada a Moisés no Monte Sinai. Rom. 5:13; Gál. 3:17, 19.

c) É empregada no sentido de expressão da vontade de Deus e do Seu caráter justo e santo. Rom. 3: 20; 7:12; 1 Tim. 1:8; Tiago l:25.

Em outras palavras: é a expressão do caráter de Deus em termos humanos.

Como igreja cremos nesta tríplice finalidade da lei.

1~) Ela nos mostra o pecado ou convence-nos de que so­mos pecadores. “Pela lei vem o pleno conhecimento do peca­do.” Rom. 3:20.

2~) Guia o pecador a Cristo. Efés. 4: 24-25.

3~) Será a norma do juízo. Tiago 2:12.

As leis são as normas estabelecidas por Deus para que por elas pautemos a nossa vida.

II.     O que é Graça?
        a)      Favor imerecido. Dádiva a que se não faz jus.
        b) É uma qualidade intrínseca de Deus, que brota do Seu amor por nós, levando-o a fazer tudo em nosso favor a fim de que possamos ser salvos.

        c) É a fonte de nossa salvação.

“Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.” Efés. 2:8.

d) “Graça é a mão de Deus que se estende em direção a Terra.

Fé é a mão do homem que se ergue para pegar a mão de Deus.” Dicionário Adventista.

e) É a aceitação do homem por parte de Deus.

“A graça divina, eis o grande elemento do poder salva­dor; sem ela, todo o esforço humano é inútil.” CPPE, pág. 487.

f) Elemento divino que nos dá poder para obedecer à lei de Deus.

“Sem a graça de Cristo é impossível dar um passo em obediência à lei de Deus.” Selected Messages, vol. 1,
pág. 372.

g) “A graça é uma qualidade que dá ao homem a força de executar as exigências de Deus.” Lutero.


Os Adventistas e a Lei

Como igreja já fomos acusados de crermos na justificação pela obediência à lei.


É uma realidade inegável, que antes de 1888 nossos pregadores encareciam muito a lei de Deus, mas após a Conferência Geral de Mineápolis, graças a atuação segura de Ellen G. White e os estudos dos pastores Wagoner e Jones passamos a encarecer a Justificação pela Fé.


A acusação de crermos que somos salvos pela guarda dos mandamentos é infundada. Ninguém poderá provar através de nossos sermões e de nossa literatura esta idéia antibíblica.

A rica bibliografia adventista confirma que jamais atribuí­mos à lei uma função salvadora. Nossa posição quanto aos Dez Mandamentos é esta: São grandes preceitos morais, imutáveis, obrigatórios a todos os homens, em todas as épocas. Ex. 20:1-17.


Aceitamos a declaração do eminente teólogo batista, Strong, em sua Teologia Sistemática, pág. 538.

“A lei de Deus é, por conseguinte, simplesmente uma ex­pressão da natureza divina, em forma de reivindicações morais.”

No parágrafo oitavo, das Crenças Fundamentais dos Adven­tistas do Sétimo Dia se encontra:


“O homem é justificado, não pela obediência da lei, mas pela graça que há em Cristo Jesus. Aceitando a Cristo, é ele re­conciliado com Deus, justificando por seu sangue quanto aos pecados cometidos no passado e salvos do poder do pecado pela permanência de Sua vida nele.”

A seguinte declaração de Santo Agostinho é oportuna: “Pe­la lei tememos a Deus, pela graça confiamos nele.”

O Legalismo e a Guarda dos Mandamentos

Nos dias de Paulo havia três erros concernentes à lei e à graça, erros esses que têm perdurado até os nossos dias. Esses erros são:

19) O Legalismo É o ensino que somos salvos pelas obras, observando cerimônias e preceitos da lei. O livro de Romanos refuta esse erro.

29) O Antinomianismo - Ensina que se somos salvos pela graça, não faz diferença alguma como vivemos e nos conduzimos. A epístola de Tiago é uma resposta a este erro doutrinário,

39) O galacianismo - É o ensino que somos salvos pela gra­ça, mas, após isto, somos guardados pela lei. Em outras pala­vras: Somos salvos pela fé e obras. Paulo guiado pelo Espírito Santo escreveu a carta aos Gálatas combatendo esta heresia. Ver Novo Testamento Interpretado de Russel Norman Champlin, 49 vol. pág. 435.

Deploravelmente, há muita gente entre nós não sabendo distinguir o legalismo da guarda dos mandamentos.

Legalismo não é guardar a lei, obedecer a Deus, mas guar­dar a letra da lei para obter méritos diante de Deus.

Legalismo é o mau uso da lei.

A obediência é necessária, mas depender de nossa obediên­cia para a salvação é totalmente contrária ao espírito do evan­gelho.

Os judeus afirmavam que Jesus não interpretou bem a lei, quando sabemos que Ele é o verdadeiro intérprete da lei.

Nossa atitude para com a lei deve ser a que Cristo teve, como está relatada na profecia messiânica de Isaias 42: 21.

“Foi do agrado do Senhor, por amor de sua própria justiça, engrandecer a lei e fazê-la gloriosa.”

Hal Lindsey na obra Satan is Alive and Well on Planet Earth, pág. 163, escreveu:

“Se procurarmos ser justificados como crentes pela obedi­ência a qualquer lei, negamos o poder de Cristo em nossa vida. Isto é o que Paulo afirma em Gál. 5:1-5.

“Obediência é o resultado de um relacionamento espiritual com Cristo e não o meio para alcançar esse relacionamento.”

Ellen G. White escreveu:

“Há dois perigos contra os quais os filhos de Deus devem especialmente precaver-se. O primeiro. . . é o de tomar em con­sideração as suas próprias obras confiando em qualquer coisa que possam fazer, a fim de pôr-se em harmonia com Deus. Aquele que procura tornar-se santo por suas próprias obras, guardando a lei, tenta o impossível. Tudo o que o homem possa fazer sem Cristo está poluído de egoísmo e pecado.”

“O erro oposto e não menos perigoso é o de que a crença em Cristo isenta o homem da observância da lei de Deus; que, visto como só pela fé é que nos tornamos participantes da graça de Cristo, nossas obras nada têm que ver com nossa salvação.” Vereda de Cristo, págs. 57-58.

O Bispo Hopkins ensinou:

“Pregar a justificação pela lei, como um concerto, é legalismo e torna sem efeito a morte e os méritos de Jesus Cristo. Mas pregar a obediência à lei como regra, é evangélico.”


Paulo e a Lei

Há algumas expressões paulinas que são mal compreendidas porque não são explicadas de acordo com uma exegese correta.

Paulo escrevendo a Timóteo (I Epístola 1: 8) expôs a sua concepção sobre a lei. “Sabemos, porém, que a lei é boa se alguém dela se utiliza de modo legítimo.” A tradução da The New English Bible transmite bem a idéia do original: “A lei é uma excelente coisa, contanto que a consideremos como lei.”

1.      “Morrer para a Lei”

Em Rom. 7: 4-6 ele declara que morremos para a lei e fomos dela libertados. Em Gálatas 2:19 afirma:

“Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus...”

O contexto e outros princípios exegéticos nos informam que as expressões: “morrer para a lei” e “ser libertados da lei” signifi­cam o seguinte: O laço que nos ligava à lei como caminho para ser aceito por Deus tem que ser quebrado.

Notem a declaração do comentarista Stamm: “A morte para a lei significa deixar de obedecer à lei como meio que nos asse­gura a boa vontade divina.”

Morrer para a lei, jamais quis significar que não temos mais a obrigação de guardar a lei, mas sim morrer para a lei como meio de justificação.

“Quem procura alcançar o céu por suas próprias obras, guardando a lei, tenta uma impossibilidade.” Mensagens Escolhi­das, livro 1, pág. 364.

Os fariseus ensinavam que a “Torah” encerra os elementos da vida dos judeus; todos quantos lhe obedecessem viveriam, e aqueles que lhe fossem desobedientes morreriam. (Ver Deut.30: 11-20).

Com a expressão “morrer para a lei” Paulo fazia referências ao rompimento da crença que a guarda da lei era o caminho para nossa aceitação perante Deus.


II. “Não estais debaixo da lei”

Muitos evangélicos citam a expressão de Paulo   —      “não estamos debaixo da lei” (Rom. 6: 14-15; Gál. 5: 18) querendo significar que a lei moral foi abolida.

Os adventistas ensinam que “debaixo da lei” significa “de­baixo da condenação da lei”. Não estar debaixo da lei não quer dizer estar dosobrigado de cumprí-la, mas sim não ser culpado de sua transgressão. A única maneira de não estarmos debaixo da lei é cumpri-la. Se transgredimos uma lei, incorremos em multa, prisão, ou qualquer punição enfim.

A lei nos informa o que devemos fazer, a graça nos lembra que devemos aceitar a Cristo porque Ele nos capacita a cumprir as exigências da lei.

A graça divina não erradica a lei dando ao homem licença pa­ra pecar. Isto é amplamente expresso em Romanos 6-8.

O que Paulo fez foi condenar terminantemente crenças errô­neas dos judeus como as seguintes: a lei para ele era equivalente ao plano divino para a salvação do mundo; o homem era aceito por Deus guardando os seus mandamentos.


III. “Sem lei se manifestou a justiça de Deus” Rom. 3:21.

Com esta declaração Paulo tinha em mente a justiça inde­pendente das obras da lei, dos méritos humanos.


IV. “O Sábado findou na cruz”

O Senhor Walter Martin, no livro The Truth About Seventh Day Adventism afirma que o sábado como lei se cumpriu, não sendo mais obrigatório aos cristãos. Na página 161 ele afirma: “Em mais de um lugar, o Novo Testamento comenta desfavoravelmen­te sobre a prática de qualquer tipo de observância legalista de dias”, acrescentando mais adiante que “o apóstolo Paulo ensinou que o sábado, assim como a lei se cumpriu na cruz e não era obri­gatório aos cristãos.”

Em defesa de suas afirmacões cita textos do Novo Testamen­to, sendo o primeiro deles Col. 2:13-17. A explicação para este texto bíblico se encontra em nossa apostila: Leia e Compreenda Melhor a Bíblia.

Poucos versos do próprio Paulo são suficientes para provar que ele jamais foi contra a lei.

Rom. 3: 31 “Anulamos, pois, a lei, pela fé? Não, de manei­ra nenhuma, antes confirmamos a lei.”

Rom. 7: 12 “Por conseguinte, a lei é santa; e o mandamen­to, santo e justo e bom.”

A. R. Vidler, em seu livro Natural Law, pág. 25, escreveu:


“A lei é de utilidade aos crentes como um padrão de obedi­ência a Deus, na vida de fé, por meio da qual os frutos do espí­rito possam surgir.”


Aparente Contradição de Paulo


“O objetivo da Epístola aos Romanos, comparado com o da Epístola aos Gálatas, explica uma aparente contradição entre as duas cartas: Numa, é permitida a observância dos dias (Rom. 14: 5); noutra, é proibida (Gál. 4:10-11). A permissão é a favor dos judeus convertidos, que tinham escrúpulos de consciência com respeito a pôr de parte certos preceitos da Lei em que tinham sido educados. A proibição é para os gentios convertidos, aos quais os judaizantes ensinavam que só podiam ser salvos pratican­do o ritual judaico. Essa observância, com o fim de salvação, de­via ser, portanto, condenada.”2

Se aqueles que crêem que Paulo se opõe à lei moral em Gá­latas (4: 9-11) atentassem para o contexto desta carta jamais che­gariam a esta conclusão. O contexto de Gálatas é claro em infor­mar-nos que Paulo a escreveu porque membros das igrejas da Ga­lácia, influenciados por mestres judaizantes pensavam que pode­riam ser salvos cumprindo as obras e minúscias do judaísmo (Gál. 2: 16; 3: 1-6). Paulo insiste que ninguém pode ser salvo por suas próprias ações, desde que a salvação é dom gratuito de Deus.

The lnterpreter’s Bible, vol. X, págs. 429-443, na Introdu­ção ao Livro de Gálatas, “salienta que Paulo queria livrar os crentes do conceito errado de que eles poderiam ser salvos obser­vando a lei mosaica; esclarecendo-os também de que não deveriam guardar a lei dos Dez Mandamentos visando conquistar méritos diante de Deus para sua salvação.”

Paulo dá ênfase a esta verdade fundamental: já lhes mostrei que ensinamentos da lei, visando dirigir a atenção dos homens pa­ra a vinda de Cristo, tendo este cumprido Sua missão, não deve­riam mais ser observados na dispensação cristã.

Antes de concluir são úteis ainda mais alguns pensamentos esclarecedores:

“Sob o Evangelho ficamos libertos do jugo da lei cerimonial e da maldição da lei moral.  A lei moral não foi senão para a localização da ferida, e a lei cerimonial serviu como sombra precur­sora do remédio: Cristo, porém, é o fim de ambas.”3

“A graça não importa em liberdade para pecar, mas numa mudança de senhores, e uma nova obediência e serviço. A graça não anula a santa lei de Deus, mas unicamente a falsa relacão do homem para com ela.” 4

“A graça não elimina a obediência, mas antes torna-a impe­riosa (Rom. 1:5 e 6:17)5

Pauto prevê esta objeção à doutrina da salvação pela graça por meio de nossa fé em Cristo. Se a salvação é “à parte da lei”, então a lei é inútil. A resposta de Paulo é esta: A funcão da lei não é livrar do pecado, mas revelar o pecado.

Definindo a relação entre a lei e a graça disse Agostinho:

“A Lei é dada para que a Graça possa ser exigida; a Graça éconced ida para que a Lei possa ser cumprida.”

Strong diz com convicção:

“A graça, contudo, não deve ser entendida como se ab-ro­gasse a lei, mas sim como reafirmando-a e estabelecendo-a (Rom.3:21).”

Para a nossa salvação devemos aceitar a graça de Deus, e pe­lo nosso viver devemos exaltar a Sua Santa Lei.



Referências:

1.     Our Hope Ray C. Stedman. Citado no Ministério Adven­tista, julho-agosto, 1962, pág. 20.

2.     História, Doutrina e Interpretação da Bíblia, Joseph Angus, pág. 150.

3.     Comentários das Escrituras de Mateus Henry (autor presbi­teriano).

4.     Word Studies in the New Testament, vol. III, pág. XI. Vin­cent.

5.      Comentário de Russell Norman Champlin sobre Efés. 2: 8 em  O Novo Testamento Interpretado Versículo por Ver­sículo.

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