LEI E GRAÇA
Introdução
Infelizmente,
membros de Igrejas Evangélicas e até estudantes de Teologia de certas
faculdades crêem firmemente que a lei se opõe à graça.
Anote estas
declarações:
“Pondo o
assunto em seu devido lugar, somente quando a lei é feita um meio de salvação,
entra ela em choque com os princípios da graça..”
“A lei
destina-se a revelar o pecado; a graça destina-se a salvar do pecado. Nenhum
conflito pode existir entre ambas.”
Os
dispensacionalistas, contrariando o ensino bíblico, têm defendido duas épocas
distintas: dispensação da lei — Velho
Testamento e dispensação da graça — Novo Testamento.
A finalidade
deste estudo é harmonizar a lei com a graça, colocando cada uma em seu devido
lugar.
Comentários Gerais
1. Que é Lei?
Na Bíblia, a
palavra é empregada com múltiplos significados.
a) Designa o
Pentateuco. Luc. 24:44.
b) A lei dada
a Moisés no Monte Sinai. Rom. 5:13; Gál. 3:17, 19.
c) É empregada
no sentido de expressão da vontade de Deus e do Seu caráter justo e santo. Rom.
3: 20; 7:12; 1 Tim. 1:8; Tiago l:25.
Em outras
palavras: é a expressão do caráter de Deus em termos humanos.
Como igreja
cremos nesta tríplice finalidade da lei.
1~) Ela nos
mostra o pecado ou convence-nos de que somos pecadores. “Pela lei vem o pleno
conhecimento do pecado.” Rom. 3:20.
2~) Guia o
pecador a Cristo. Efés. 4: 24-25.
3~) Será a
norma do juízo. Tiago 2:12.
As leis são as
normas estabelecidas por Deus para que por elas pautemos a nossa vida.
II. O que é Graça?
a) Favor
imerecido. Dádiva a que se não faz jus.
b) É uma qualidade intrínseca de Deus, que brota do Seu amor por nós, levando-o a fazer tudo em nosso favor a fim de que possamos ser salvos.
b) É uma qualidade intrínseca de Deus, que brota do Seu amor por nós, levando-o a fazer tudo em nosso favor a fim de que possamos ser salvos.
c) É a fonte de nossa salvação.
“Porque pela
graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.” Efés.
2:8.
d) “Graça é a
mão de Deus que se estende em direção a Terra.
Fé é a mão do
homem que se ergue para pegar a mão de Deus.” Dicionário Adventista.
e) É a
aceitação do homem por parte de Deus.
“A graça
divina, eis o grande elemento do poder salvador; sem ela, todo o esforço
humano é inútil.” CPPE, pág. 487.
f) Elemento
divino que nos dá poder para obedecer à lei de Deus.
“Sem a graça
de Cristo é impossível dar um passo em obediência à lei de Deus.” Selected
Messages, vol. 1,
pág. 372.
g) “A graça é
uma qualidade que dá ao homem a força de executar as exigências de Deus.” Lutero.
Os Adventistas e a Lei
Como igreja já
fomos acusados de crermos na justificação pela obediência à lei.
É uma realidade inegável, que antes de 1888 nossos pregadores encareciam
muito a lei de Deus, mas após a Conferência Geral de Mineápolis, graças a
atuação segura de Ellen G. White e os estudos dos pastores Wagoner e Jones
passamos a encarecer a Justificação pela Fé.
A acusação de crermos que somos salvos pela guarda dos mandamentos é
infundada. Ninguém poderá provar através de nossos sermões e de nossa
literatura esta idéia antibíblica.
A rica bibliografia adventista confirma que jamais atribuímos à lei uma
função salvadora. Nossa posição quanto aos Dez Mandamentos é esta: São grandes
preceitos morais, imutáveis, obrigatórios a todos os homens, em todas as
épocas. Ex. 20:1-17.
Aceitamos a declaração do eminente teólogo batista, Strong, em sua Teologia Sistemática, pág. 538.
“A lei de Deus é, por conseguinte, simplesmente uma expressão da natureza
divina, em forma de reivindicações morais.”
No parágrafo oitavo, das Crenças
Fundamentais dos Adventistas do Sétimo Dia se encontra:
“O homem é justificado, não pela obediência da lei, mas pela graça que há
em Cristo Jesus. Aceitando a Cristo, é ele reconciliado com Deus, justificando
por seu sangue quanto aos pecados cometidos no passado e salvos do poder do
pecado pela permanência de Sua vida nele.”
A seguinte declaração de Santo Agostinho é oportuna: “Pela lei tememos a
Deus, pela graça confiamos nele.”
O Legalismo e a Guarda dos Mandamentos
Nos dias de Paulo havia três erros concernentes à lei e à graça, erros
esses que têm perdurado até os nossos dias. Esses erros são:
19) O Legalismo — É o ensino que somos salvos pelas obras,
observando cerimônias e preceitos da lei. O livro de Romanos refuta esse erro.
29) O Antinomianismo -
Ensina que se somos salvos pela graça, não faz diferença alguma como vivemos e
nos conduzimos. A epístola de Tiago é uma resposta a este erro doutrinário,
39) O galacianismo - É o ensino que somos salvos pela graça, mas, após
isto, somos guardados pela lei. Em outras palavras: Somos salvos pela fé e
obras. Paulo guiado pelo Espírito Santo escreveu a carta aos Gálatas combatendo
esta heresia. Ver Novo Testamento
Interpretado de Russel Norman Champlin, 49 vol. pág. 435.
Deploravelmente, há muita gente entre nós não sabendo distinguir o
legalismo da guarda dos mandamentos.
Legalismo não é guardar a lei, obedecer a Deus, mas guardar a letra da lei
para obter méritos diante de Deus.
Legalismo é o mau uso da lei.
A obediência é necessária, mas depender de nossa obediência para a
salvação é totalmente contrária ao espírito do evangelho.
Os judeus afirmavam que Jesus não interpretou bem a lei, quando sabemos que
Ele é o verdadeiro intérprete da lei.
Nossa atitude para com a lei deve ser a que Cristo teve, como está relatada
na profecia messiânica de Isaias 42: 21.
“Foi do agrado do Senhor, por amor de sua própria justiça, engrandecer a
lei e fazê-la gloriosa.”
Hal Lindsey na obra Satan is Alive and Well on Planet Earth, pág. 163, escreveu:
“Se procurarmos ser justificados como crentes pela obediência a qualquer lei, negamos o poder
de Cristo em nossa vida. Isto é o que Paulo afirma em Gál. 5:1-5.
“Obediência é o resultado de um relacionamento espiritual com Cristo e não
o meio para alcançar esse relacionamento.”
Ellen G. White escreveu:
“Há dois perigos contra os quais os filhos de Deus devem especialmente
precaver-se. O primeiro. . . é o de tomar em consideração as suas próprias obras confiando em qualquer
coisa que possam fazer, a fim de pôr-se em harmonia com Deus. Aquele que
procura tornar-se santo por suas próprias obras, guardando a lei, tenta o
impossível. Tudo o que o homem possa fazer sem Cristo está poluído de egoísmo e
pecado.”
“O erro oposto e não menos perigoso é o de que a crença em Cristo isenta o
homem da observância da lei de Deus; que, visto como só pela fé é que nos
tornamos participantes da graça de Cristo, nossas obras nada têm que ver com
nossa salvação.” Vereda de Cristo, págs.
57-58.
O Bispo
Hopkins ensinou:
“Pregar a justificação pela lei, como um concerto, é legalismo e torna sem
efeito a morte e os méritos de Jesus Cristo. Mas pregar a obediência à lei como
regra, é evangélico.”
Paulo e a Lei
Há algumas expressões paulinas que são mal compreendidas porque não são
explicadas de acordo com uma exegese correta.
Paulo escrevendo a Timóteo (I Epístola 1: 8) expôs a sua concepção sobre a
lei. “Sabemos, porém, que a lei é boa se alguém dela se utiliza de modo
legítimo.” A tradução da The New English
Bible transmite bem a idéia do original: “A lei é uma excelente coisa,
contanto que a consideremos como lei.”
1. “Morrer
para a Lei”
Em Rom. 7: 4-6 ele declara que morremos para a lei e fomos dela libertados.
Em Gálatas 2:19 afirma:
“Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para
Deus...”
O contexto e outros princípios exegéticos nos informam que as expressões:
“morrer para a lei” e “ser libertados da lei” significam o seguinte: O laço
que nos ligava à lei como caminho para ser aceito por Deus tem que ser
quebrado.
Notem a declaração do comentarista Stamm: “A morte para a lei significa
deixar de obedecer à lei como meio que nos assegura a boa vontade divina.”
Morrer para a lei, jamais quis significar que não temos mais a obrigação de
guardar a lei, mas sim morrer para a lei como meio de justificação.
“Quem procura alcançar o céu por suas próprias obras, guardando a lei,
tenta uma impossibilidade.” Mensagens
Escolhidas, livro 1, pág. 364.
Os fariseus ensinavam que a “Torah” encerra os elementos da vida dos
judeus; todos quantos lhe obedecessem viveriam, e aqueles que lhe fossem
desobedientes morreriam. (Ver Deut.30: 11-20).
Com a expressão “morrer para a lei” Paulo fazia referências ao rompimento
da crença que a guarda da lei era o caminho para nossa aceitação perante Deus.
II. “Não
estais debaixo da lei”
Muitos evangélicos citam a expressão de Paulo — “não
estamos debaixo da lei” (Rom. 6: 14-15; Gál. 5: 18) querendo significar que a
lei moral foi abolida.
Os adventistas ensinam que “debaixo da lei” significa “debaixo da
condenação da lei”. Não estar debaixo da lei não quer dizer estar dosobrigado
de cumprí-la, mas sim não ser culpado de sua transgressão. A única maneira de
não estarmos debaixo da lei é cumpri-la. Se transgredimos uma lei, incorremos
em multa, prisão, ou qualquer punição enfim.
A lei nos informa o que devemos fazer, a graça nos lembra que devemos
aceitar a Cristo porque Ele nos capacita a cumprir as exigências da lei.
A graça divina não erradica a lei dando ao homem licença para pecar. Isto
é amplamente expresso em Romanos 6-8.
O que Paulo fez foi condenar terminantemente crenças errôneas dos judeus
como as seguintes: a lei para ele era equivalente ao plano divino para a
salvação do mundo; o homem era aceito por Deus guardando os seus mandamentos.
III. “Sem lei
se manifestou a justiça de Deus” Rom. 3:21.
Com esta declaração Paulo tinha em mente a justiça independente das obras
da lei, dos méritos humanos.
IV. “O Sábado
findou na cruz”
O Senhor Walter Martin, no livro The
Truth About Seventh Day Adventism afirma que o sábado como lei se cumpriu,
não sendo mais obrigatório aos cristãos. Na página 161 ele afirma: “Em mais de
um lugar, o Novo Testamento comenta desfavoravelmente sobre a prática de
qualquer tipo de observância legalista de dias”, acrescentando mais adiante que
“o apóstolo Paulo ensinou que o sábado, assim como a lei se cumpriu na cruz e
não era obrigatório aos cristãos.”
Em defesa de suas afirmacões cita textos do Novo Testamento, sendo o
primeiro deles Col. 2:13-17. A explicação para este texto bíblico se encontra
em nossa apostila: Leia e Compreenda
Melhor a Bíblia.
Poucos versos do próprio Paulo são suficientes para provar que ele jamais
foi contra a lei.
Rom. 3: 31 — “Anulamos,
pois, a lei, pela fé? Não, de maneira nenhuma, antes confirmamos a lei.”
Rom. 7: 12 — “Por
conseguinte, a lei é santa; e o mandamento, santo e justo e bom.”
A. R. Vidler, em seu livro Natural
Law, pág. 25, escreveu:
“A lei é de utilidade aos crentes como um padrão de obediência a Deus, na
vida de fé, por meio da qual os frutos do espírito possam surgir.”
Aparente Contradição de Paulo
“O objetivo da Epístola aos Romanos, comparado com o da Epístola aos
Gálatas, explica uma aparente contradição entre as duas cartas: Numa, é
permitida a observância dos dias (Rom. 14: 5); noutra, é proibida (Gál.
4:10-11). A permissão é a favor dos judeus convertidos, que tinham escrúpulos
de consciência com respeito a pôr de parte certos preceitos da Lei em que
tinham sido educados. A proibição é para os gentios convertidos, aos quais os
judaizantes ensinavam que só podiam ser salvos praticando o ritual judaico.
Essa observância, com o fim de salvação, devia ser, portanto, condenada.”2
Se aqueles que crêem que Paulo se opõe à lei moral em Gálatas (4: 9-11)
atentassem para o contexto desta carta jamais chegariam a esta conclusão. O
contexto de Gálatas é claro em informar-nos que Paulo a escreveu porque
membros das igrejas da Galácia, influenciados por mestres judaizantes pensavam
que poderiam ser salvos cumprindo as obras e minúscias do judaísmo (Gál. 2:
16; 3: 1-6). Paulo insiste que ninguém pode ser salvo por suas próprias ações,
desde que a salvação é dom gratuito de Deus.
The
lnterpreter’s Bible, vol. X, págs. 429-443, na Introdução ao Livro de Gálatas, “salienta que Paulo
queria livrar os crentes do conceito errado de que eles poderiam ser salvos
observando a lei mosaica; esclarecendo-os também de que não deveriam guardar a
lei dos Dez Mandamentos visando conquistar méritos diante de Deus para sua
salvação.”
Paulo dá ênfase a esta verdade fundamental: já lhes mostrei que
ensinamentos da lei, visando dirigir a atenção dos homens para a vinda de
Cristo, tendo este cumprido Sua missão, não deveriam mais ser observados na
dispensação cristã.
Antes de
concluir são úteis ainda mais alguns pensamentos esclarecedores:
“Sob o
Evangelho ficamos libertos do jugo da lei cerimonial e da maldição da lei
moral. A lei moral não foi senão para a localização da ferida, e a lei cerimonial
serviu como sombra precursora do remédio: Cristo, porém, é o fim de ambas.”3
“A graça não
importa em liberdade para pecar, mas numa mudança de senhores, e uma nova
obediência e serviço. A graça não anula a santa lei de Deus, mas unicamente a
falsa relacão do homem para com ela.” 4
“A graça não
elimina a obediência, mas antes torna-a imperiosa (Rom. 1:5 e 6:17)5
Pauto prevê
esta objeção à doutrina da salvação pela graça por meio de nossa fé em Cristo.
Se a salvação é “à parte da lei”, então a lei é inútil. A resposta de Paulo é
esta: A funcão da lei não é livrar do pecado, mas revelar o pecado.
Definindo a
relação entre a lei e a graça disse Agostinho:
“A Lei é dada
para que a Graça possa ser exigida; a Graça éconced ida para que a Lei possa
ser cumprida.”
Strong diz com
convicção:
“A graça, contudo, não
deve ser entendida como se ab-rogasse a lei, mas sim como reafirmando-a e
estabelecendo-a (Rom.3:21).”
Para a nossa
salvação devemos aceitar a graça de Deus, e pelo nosso viver devemos exaltar a
Sua Santa Lei.
Referências:
1. Our Hope — Ray C.
Stedman. Citado no Ministério Adventista, julho-agosto, 1962, pág. 20.
2. História, Doutrina e Interpretação da Bíblia, Joseph Angus, pág.
150.
3. Comentários das Escrituras de Mateus Henry (autor presbiteriano).
4. Word Studies in the New Testament, vol.
III, pág. XI. Vincent.
5. Comentário de Russell Norman
Champlin sobre Efés. 2: 8 em O Novo Testamento Interpretado Versículo por
Versículo.
1- TEMAS DIFÍCEIS DA BÍBLIA: PORQUE ESTUDAR GREGO E HEBRAICO? AQUI
2- TEMAS DIFÍCEIS DA BÍBLIA - JUSTIFICAÇÃO SANTIFICAÇÃO E GLORIFICAÇÃO AQUI
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