Festa
em Jerusalém
Celebração judaica identificava Jesus como Messias
“A festa dos Tabernáculos era um dos
momentos mais felizes do ano litúrgico judaico”
O ano agrícola judaico se encerrava com a grande Festa dos
Tabernáculos. Nos meses de setembro e outubro, logo após o verão, os
israelitas se dirigiam a Jerusalém para as
grandes festas do outono (a Festa das Trombetas, o Dia
das Expiações e a Festa dos Tabernáculos). Essas festas se seguiam, uma após a
outra, durante o sétimo mês do calendário judaico. Veja, por exemplo, Êxodo
23:14-17.
A Festa dos Tabernáculos se tornou
um dos momentos mais felizes do ano litúrgico judaico. Flávio Josefo (em Antiguidades) e o Talmude descrevem a
celebração dessa festa na época do segundo templo em Jerusalém. Multidões de
peregrinos de todas as partes de israel e do mundo chegavam a Jerusalém em caravanas
coloridas e festivas. Lá, eles preparavam tendas de ramos ao longo das ruas,
no pátio do templo, sobre os telhados das casas, nos montes e vales ao redor da
cidade. Jerusalém ficava toda decorada
com ramos de oliveira, palmas, salgueiros, frutas frescas e flores.
A cerimônia mais marcante da festa
era intitulada “O Regozijo no Local da Retirada da Água”. Durante a festa,
além da oferta (ou “libação”) anual de vinho, era derramada sobre o altar uma
oferta de água. A cada manhã, os sacerdotes faziam soar as trombetas, de modo
longo e penetrante, aos primeiros raios do sol. Assim, o povo era despertado
para mais um dia de exclamações de alegria. Os sacerdotes desciam então à
piscina de Siloé, levando consigo um frasco de ouro para enchê-lo de água, e
retomavam ao templo de forma cadenciada e pausada, ao som das trombetas. Após
o sacrifício e de ter entoado o Halel (Salmos 113-118), os sacerdotes, segurando
os ramos e frutos da terra prescritos em Levítico 23, rodeavam o altar de
bronze, o qual estava adornado com ramos frescos de salgueiro, e recitavam as
palavras do Salmo 118:25: “Oh! Salva-nos, Senhor, nós Te pedimos!” O sacerdote
responsável pelo serviço subia a rampa do altar de bronze e derramava a água
do frasco de ouro sobre uma bacia de prata, e vinho sobre uma segunda bacia.
Na seqüência, de
forma simultânea, o conteúdo de ambas as bacias era
derramado sobre o altar. Todos os presentes exclamavam: “O Senhor Deus é a
minha força e o meu cântico. [...] Vós com alegria tirareis água das fontes da
salvação” (lsa. 12:2 e 3). Na tradição judaica, esta cerimônia comemorava a
“Rocha” da qual brotou “água viva” e que acompanhou os israelitas durante a
sua peregrinação no deserto, sendo símbolo de Deus e do Messias.
A segunda cerimônia mais marcante da
festa ocorria de noite. Quatro grandes candelabros de sete braços, contendo
no topo de cada braço vários litros de óleo e pavios feitos de vestes sacerdotais
desgastadas, iluminavam toda a área do templo e a cidade de Jerusalém. Uma
orquestra tocando flautas, harpas, címbalos e tambores acompanhava uma
procissão de tochas, na qual havia danças e grande regozijo entre os
peregrinos. Enquanto isso, o coral de levitas, posicionado nas escadarias
internas do templo, entoava os “Salmos de Ascensão” (Salmos 120-134). Essa
cerimônia noturna marcava profundamente o espírito da festa.
A descrição da Festa dos
Tabernáculos no Antigo Testamento e nos escritos judaicos nos ajuda a
compreender varias passagens do Novo Testamento relacionadas com essa festa. Os
capítulos 7-10 do evangelho de João são um exemplo. João 7:37 e 38 diz que, no
último dia da Festa dos Tabernáculos, Jesus Se apresentou como a verdadeira fonte
da água viva, numa referência direta à cerimônia matutina do “Regozijo no
Local da Retirada da Água”. No mesmo dia, também declarou ser a luz do mundo
(João 8:12), numa referência á cerimônia noturna. Em João 9, Jesus cura um cego de nascença,
para indicar que é a luz do mundo, aplica-lhe lama aos olhos e depois
ordena-lhe que os lave no tanque de Siloé, local de onde era retirada a “água
viva” a cada manhã da festa. Assim, João 9 une os dois temas (“luz” e “água”)
apresentados nos capítulos anteriores. Em João 10, Jesus Se apresenta como o
Bom Pastor e a Porta da salvação, numa alusão direta ao Salmo 118:20, o
principal salmo entoado ao longo da festa.
Reinaldo W. Siqueira, Ph.D. em Antigo
Testamento pela Andrews University (EUA), é professor de Línguas e Exegese
Bíblicas e de Teologia do AT no Seminário Latino-Americano de Teologia, em
Engenheiro Coelho, SP.
Sinais dos Tempos
Janeiro- Fevereiro/2002
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