Festa imperdível
A Páscoa era uma das três festas obrigatórias de
peregrinação, durante as quais todo israelita deveria comparecer diante de Deus
e adorar no local onde estivesse o santuário.
Reinaldo W. Siqueira, PH.D., em Antigo Testamento pela
Andrews University EUA, é professor de
Línguas e Exegese Bíblicas e de Teologia do AT no Seminário Adventista Latino
Americano de Teologia, em Engenheiro Coelho, SP.
O festival judaico da Páscoa é essencial
para a compreensão da mensagem bíblica
A Páscoa é uma das mais importantes celebrações anuais do
calendário israelita desde os tempos bíblicos. Comemorada a partir do 15º dia
do primeiro mês do calendário judaico, chamado o mês de Abíbe ou Nisã, ela cai
geralmente entre março e abril do calendário comum.
A história original da Páscoa
aparece em Exodo 12 e está diretamente relacionada com todos os milagres
operados por Deus a fim de libertar o povo de Israel da escravidão no Egito.
Em memória dessa extraordinária libertação, todos os israelitas deveriam celebrar
anualmente este evento durante sete dias. A Páscoa era uma das três festas
obrigatórias de peregrinação, durante as quais todo israelita deveria
comparecer diante de Deus e adorar no local onde estivesse o santuário (as
outras duas eram o Pentecostes e a festa dos Tabernáculos).
Nos dias do segundo templo, todos os
israelitas, inclusive as mulheres, que viviam dentro de um raio de 31 dias de jornada de Jerusalém (cerca de 1.500 km) participavam da festa. A população
em Jerusalém aumentava drasticamente, passando de cerca de 50 mil habitantes
para pelo menos 200 mil. Flávio Josefo, historiador judeu da época de Jesus,
chega a falar de uma multidão de 3 milhões de peregrinos na cidade. Muitos
desses peregrinos eram hospedados gratuitamente pelos habitantes da cidade em
suas casas, pois Jerusalém era considerada a propriedade comum de todos os
judeus do mundo. Em gratidão, os peregrinos normalmente deixavam as peles dos
animais sacrificados como um presente para os seus hóspedes. Uma grande
multidão procurava abrigo nas cidades e vilarejos vizinhos de Jerusalém, ou
acampavam nos campos ao redor da cidade.
Na manhã do dia 14 de Nisã, todos paravam de consumir pão
levedado e se livravam de qualquer produto levedado que existisse em sua casa.
No templo, os israelitas de linhagem
sacerdotal estavam a postos desde cedo para ajudar nos serviços de preparação
para a Páscoa. Todo trabalho secular cessava ao meio-dia, e o sacrifício dos
cordeiros para a Páscoa começava a partir das 15 horas. Cada judeu imolava o
seu próprio cordeiro no átrio do templo. Os sacerdotes então recolhiam o sangue
dos cordeiros em bacias de prata e ouro e depois o levavam para ser derramado
aos pés do altar de bronze. Durante toda a cerimônia, os levitas entoavam o
conjunto de Salmos conhecidos como Hallel
(Salmos 113-118). Deixando o recinto do templo com o seu animal
sacrificado, cada família assava o seu cordeiro em fornos portáteis de barro
colocados no quintal de suas casas.
Para a ceia festiva, todos se
vestiam de branco. Na casa, almofadas eram colocadas no piso da sala para que
todos pudessem se reclinar confortavelmente, e pequenas mesas eram usadas para
o serviço. A ceia pascoal incluía o cordeiro assado, ervas amarga, pão ázimo,
uma pasta de frutos secos e nozes, e vegetais crus, que deviam ser mergulhados
em líquido amargo. Cada participante deveria tomar quatro taças de vinho,
simbolizando a alegria da libertação. Ao longo da ceia, a história do Êxodo
era relembrada, devendo os participantes meditar e discutir entre eles os seus
ensinamentos espirituais. Várias vezes se lavavam as mãos ritualmente, orações
eram ditas e salmos do Hallel cantados. Após cear, muitos israelitas iam para
as ruas de Jerusalém para continuar a festa, enquanto outros iam para o templo,
esperando a abertura dos seus portais à meia-noite para passar a noite em
adoração e oração.
A Páscoa é essencial para a
compreensão de boa parte dos ensinamentos bíblicos, Os eventos da Páscoa e do
Êxodo ajudam a entender a história de IsraeL, a noção bíblica de aliança, de
salvação e religião no Antigo Testamento. A Páscoa é essencial também para a
compreensão da história e da mensagem do Novo Testamento. O cordeiro pascoal,
por exemplo, é considerado como um símbolo de Jesus. A última ceia de Cnsto foi uma ceia
de Páscoa, durante a qual foi instituída a Santa Ceia, cerimônia cristã que contém os
elementos básicos da crença na redenção do ser humano através da vida, morte
e ressurreição de Cristo.
Sem comentários:
Enviar um comentário