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domingo, 3 de abril de 2016

TEMAS DIFÍCEIS DA BÍBLIA - “SEJA ENTREGUE A SATANÁS” Comentário Exegético de I Coríntios. 5:5



“SEJA ENTREGUE A SATANÃS”

Comentário Exegético de I Cor. 5:5

Introdução


A tradução Revista e Atualizada no Brasil apresenta:

“Entregue a Satanás para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no dia do Senhor.”

Sendo este um dos textos mais citados pelos nossos opo­nentes, crentes na imortalidade da alma, com o prova da dico­tomia que fazem entre corpo e alma, ele necessita de uma aná­lise detida,  para se chegar á conclusão exata do que Paulo que­ria dizer.

Os que ensinam doutrinas não defensáveis pela Bíblia, se valem de versos difíceis de serem explicados para nos confun­direm e rejeitarem as mensagens que pregamos. Não nos deve­mos impressionar com as artimanhas dos inimigos da verdade, por mais especiosas que sejam, porque temos a verdade e esta não teme nem ataques nem confrontos.

Comentários Gerais


Em nenhum Dicionário ou Comentário Bíblico, encon­tramos uma explicação defendendo a extravagante idéia, do corpo ser destruído em conseqüência do pecado e a alma ser salva para o reino de Deus.

Para uma impressiva compreensão desta passagem devemos conhecer bem o contexto, porque este nos ajuda a entender o motivo da declaração paulina.

No primeiro verso do capítulo cinco lemos:

“Geralmente se ouve que há entre vós imoralidade e imora­lidade tal, como nem mesmo entre os gentios, isto é, haver quem se atreva a possuir a mulher de seu próprio pai.”

O relato do apóstolo nos dá a entender que ele ouvira esta desagradável história, provavelmente, através dos escravos da casa de Cloé (ver I Cor. 1: 11). Concluimos, que das notícias indignas que ouvira, relatando o procedimento reprovável de alguns membros da igreja de Corinto, o caso mais escabroso era um pecado de incesto. Certa pessoa mantinha relações se­xuais com a mulher de seu pai, evidentemente sua madrasta.

O vocábulo grego traduzido por imoralidade é “pornéia”, que significa prostituição, falta de castidade, fornicação. Em grego a palavra designava qualquer relação sexual proibida. A palavra “pornográfica” muito usada, entre nós, para designar gravuras ou literatura obscenas nos indica porque ela é apro­priada para as mulheres decaídas. Paulo usando “pornéia” e não “moicheia” adultério, talvez indique, que o pai daquele homem já houvesse falecido. Não havendo nenhuma censura, por parte do autor da epístola à mulher, tem levado os comen­taristas a concluírem que ela não era cristã.


A surpresa ao apóstolo, de acordo com o verso dois, é que esta pessoa, apesar de seu pecado ser público e.vexatório para a incipiente comunidade cristã, ela continuasse desfrutando da comunhão da igreja. Ele censura duramente os membros da igreja. por sua complacência em face deste notório escânda­lo. Baseado em sua autoridade apostólica, mesmo ausente (es­tava em Éfeso como nos indica o capítulo 16 verso 8) o afastamento do faltoso ou a sua excomunhão da igreja.

O torneio frásico para indicar esta disciplina seja entre­gue a Satanás para destruição da carne” tem trazido alguma per­plexidade aos comentaristas, porque ele parece destoar com a harmonia que existe entre as doutrinas bíblicas.

Para a boa compreensão desta sentença é necessário aten­tar para os seguintes itens:

1o.)   No original não se encontra a palavra corpo (soma), mas carne (sarks). Esta palavra grega tem vários significados, entre eles o de natureza ou tendência carnal. Por isso a tradu­ção inglesa Authorized Version —   apresenta com proprieda­de I Cor. 5: 5 assim: “Entregue ao domínio de Satanás o ho­mem que assim pecou, para a destruição de suas cobiças car­nais; a fim de que seu espírito se possa salvar no dia do Senhor Jesus.”

29) Nosso pródromo em crítica textual bíblica, o exege­ta Arnaldo Cristianini escreveu:

“O pensamento paulino era que o autor de tão infame pe­cado fosse imediatamente excluído da comunhão da igreja, entregue á sua própria sorte, sofresse fora da proteção de Deus, sob o domínio do príncipe das trevas, e viesse a cair em si, a arrepender-se e, finalmente, a ser recuperado na fé e salvar-se por ocasião da vinda de Jesus.”

Para comprovar suas afirmações ele cita alguns autores, que aqui transcrevemos:

Huberto Hohden: “Na qualidade de representante de Je­sus Cristo, excluiu S. Paulo da comunidade eclesiástica o peca­dor impenitente e escandaloso, entregando-o ao reino de Sata­nás, isto é, ao mundo dominado pelo príncipe das trevas, para que este castigo o faça cair em si (arrepender-se).”

P. Matos Soares: “Seja o tal entregue a Satanás, seja se­parado da comunhão da igreja, para a morte da carne, isto é, para ser atormentado no seu corpo por Satanás por meio de doenças, causadas pelos seus próprios vícios, de modo que, as­sim castigado, se venha a voltar para o bem, e sua alma seja sal­va.

Do autor batista A. B. Rudd em seu Comentário às Epís­tolas aos Coríntios:

“Esta passagem não é difícil de entender. Paulo já tinha juízo formado sobre o caso, e dá instruções concretas à igreja. Sem entrar em todos os pormenores destas instruções, resume-as como segue: ‘O autor de tal ato incestuoso não é digno de ser membro de vossa igreja; portanto, em nome de nosso Se­nhor Jesus e com Sua autoridade, separai-o formalmente da comunhão e deixando-o assim no mundo cujo príncipe é Sa­tanás, ficará sujeito à influência dele, que pode infligir-lhe no corpo moléstias que resultam logicamente dessa espécie de pe­cado. Esse castigo servirá para despertar  o arrependimento no transgressor e importará assim em sua salvação.”

A obra Exposicão da Primeira Epístola aos Coríntios, págs. 51 e 52, do presbiteriano Charles R. Erdman, nos declara:

“A falta era gravíssima. O ofensor vivia maritalmente com a própria madrasta... Paulo, como se presente estivera na con­gregação, descreve o ato solene da disciplina como já estando a realizar-se: ‘Considerai-me, pois, presente no vosso meio, a sen­tenciar, em nome de Cristo e com a vossa aquiescência, a exco­munhão do autor da infâmia, bem como a sua entrega a Sata­nás, para que lhe imponha sofrimentos capazes de quebrar a força de sua cobiça pecaminosa, e assim venha a sentir arrepen­dimento, seja restaurado à condição anterior, e se salve no dia do Senhor!...

“O que mais importa, porém, é observar que o sofrimen­to, qualquer que fosse sua natureza e procedência, teve como escopo reconduzir a culpada ao arrependimento, como uma advtertência de que o alvo supremo de qualquer ação discipli­nar na igreja é a reabilitação dos ofensores.”

Cristianini conclui suas asseverações desta parte declarando:

“Não indica no texto que o corpo perece e a alma se salve. Dizem as Escrituras que Deus lançará na geena tanto o corpo como a alma. A salvação, como a perdição, abrange o homem integral.” Revista Adventista, Julho de 1958, pág. 37.

Confirmando, que os comentaristas, apenas com palavras diferentes, insistem na mesma tecla, eis o que se encontra em The Interpreter’s Bib/e, vol. 10, pág. 62, ao comentar I Cor. 5:5:

“Na verdade, o apostolo entrega o homem a Satanás, tendo em vista a destruíção de sua natureza carnal. Isto também tinha seus precedentes: Paulo é fruto do seu tempo. Com a história de Jô e muitos outros exemplos em mente, ele partilhava da crença geralmente aceita, de que os poderes sobrenaturais do mal, estão sempre a postos para tentar e destruir os fiéis, assim como já foi provado, testado e tentado. Muito mais atormen­tariam eles os que fossem desligados da comunhão da igreja. As conseqüências poderiam tomar várias formas, tais como enfer­midade e sofrimento e até mesmo a morte. Tais idéias eram comuns tempos e não são desconhecidas da mitologia grega. Elas ainda exerciam uma poderosa influência na menta­lidade judaica (Lucas 13: 1-5). Paulo e a comunidade judaica partilhavam dessas opiniões. Portanto, invocando sua autori­dade apostólica, e no sagrado nome do Senhor Jesus ele entre­ga o homem a Satanás, para que através do sofrimento seu es­pírito pudesse ser salvo no Dia do Juízo. A porta não é cerra­da para sempre. Tendo lugar uma mudança de coração, a res­tauração pode ocorrer. Contudo a disciplina é essencial. Os grandes padrões da moralidade cristã devem todos os meios que a disciplina seja em primeiro lugar persuasi­va em seu método de lidar com aqueles que se têm desviado. Que a fraternidade, a amizade e a assistência cristã façam o má­ximo possível.”

Este estudo estaria incompleto se não acrescentássemos aqui o que diz o Comentário Adventista (SOA BC) sobre o texto de 1 Cor. 5:5:

Seja entregue a  Satanás. Só existem dois remos espirituais neste mundo: o de Deus e o de Satanás. Se alguém deixa o rei­no de Deus, naturalmente passará a participar do reino de Sata­nás (ver 5. João 12: 31; 16: 11; II Cor. 4:4). Aquele pecador ousado e arrogante se havia, por seu próprio procedimento peca­minoso, se afastado do reino de Deus, e isso deviam os irmãos da igreja reconhecer, expulsando-o da igreja. Comparar com I Tim. 1: 20.

Para destruição da carne. As Escrituras chamam as práticas imorais de “obra e da carne”. (Gál 5: 19; Col. 3: 5). Os  cristãos são admoestados a não viverem segundo a carne (Rom. 8: 13). A “destruição da carne” pode, pois, ser compreendida como uma mortificação dos desejos carnais. A idéia do sofrimento físico, que Satanás muitas vezes inflige, pode também estar incluí­da no sentido. Paulo denominou a sua própria enfermidade de “mensageiro de Satanás”. (II Cor. 12: 7). Satanás é o autor das doenças e sofrimento. Portanto a pessoa (ímpia, o autor do incesto, devia ser deixado  sofrendo as conceqüências do seu procedimento indigno).

O espírito. Por ocasião da ressurreição os homens recebe­rão novos corpos. O corpo que agora temos voltará ao pó (Gên.3:19).

Seja salvo. A finalidade da sentença aqui descrita é corre­cional. Isto era verdade também no caso de Himeneu e Alexan­dre, que Paulo ‘entregou a Satanás’ para que aprendessem  a não blasfemar ( I Tim. 1: 20). A disciplina da Igreja destina-se a despertar o transgressor. levando-o a reconhecer sua situação perigosa e revelar-lhe a necessidade de arrependimento e contrição. Uma vez corrigido e humilhado pela disciplina pode o pecador retornar a uma vida de virtude e fé. O alvo da punição da igreja não deve nunca ser a vingança, mas recobrá-lo da ruí­na. O membro excluído devia ser alvo de profunda simpatia por parte da igreja e ingentes esforços deveriam ser feitos pa­ra conseguir sua restauração espiritual (ver S. Mateus 18: 17; Rom. 15:1; Gál. 6:1-2; Heb. 12:13).”

Um ponto final poderia ser colocado neste comentário, pois creio que a declaração de Paulo está bem clara, mas aten­dendo também àqueles, que gostam de multiplicar exemplos comprovatórios, vamos transcrever o de M. C. Wilcox, do livro Questions and Answers, pág. 179:

“É certo que a igreja de Deus, se ela está na situação em que deve estar, é lugar sagrado, seguro, abençoado; mas uma pessoa como a descrita em nosso texto perdeu todos os direi­tos à igreja, e o Senhor queria que ele não continua-se sob a proteção da igreja. e experimentasse o que significava ficar fo­ra e lutar sozinho contra Satanás. Isso devia a igreja fazer a fim de levar o pecador ao arrependimento, e assim pudesse ser salvo —    não salvo em sua carne concupiscente, mas salvo em sua vida espiritual. A julgar pela segunda epístola, parece cla­ro que o homem se arrepende, e Paulo pede à igreja que o rece­ba, para que não seja devorado de demasiada tristeza. II Cor.2:6-11.”

Da expressão  —          “a fim de que o espírito seja salvo no dia do Senhor”, o vocábulo espírito merece esta referência.”

Os dicionários gregos que mais se notabilizam, como os de Liddell e Scott, Arndt e Gingrich, apresentam para a palavra “pneuma” além dos sentidos comuns de sopro, ar, respiração, vento, vida, etc, o de ser vivente, pessoa.


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