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segunda-feira, 11 de abril de 2016

TEMAS DIFÍCEIS DA BÍBLIA - QUAL A MELHOR TRADUÇÃO DE APOCALIPSE 22:14




QUAL A MELHOR TRADUÇÃO DE APOC. 22:14

Introdução



Não existe nenhum autógrafo do livro de Apocalipse, bem como dos demais livros da Bíblia. O que temos são cópias de cópias e estas, como nos informa a História do Texto Bíblico, por vários fatores, sofreram o risco dos erros dos copistas. Por exemplo alguns copistas tinham o hábito de colocar notas mar­ginais ou ao pé da página acrescentando algo ao que estava co­piando ou explicando-o. Um escriba posterior achando idéias válidas nestas notas e consentâneas com a doutrina bíblica, ele as introduzia no texto. Crêem os estudiosos que foi isto o que aconteceu com a doxologia do Pai Nosso, com as três testemu­nhas celestiais de I João 5: 7-8, e com o anjo que agitava as águas em São João 5:4.

A inclusão de algumas palavras ou até frases, em um ou outro manuscrito do texto sagrado, não alterou nenhuma de suas doutrinas, nem deu origem a nenhuma doutrina nova e ainda mais, os textos envolvidos com problemas de Crítica Tex­tual nada têm a ver com a doutrina da salvação ou da justifi­cação pela fé.

A finalidade deste capítulo é esclarecer os problemas de Apoc. 22: 14, porque há nele implicações tanto doutrinária como de Crítica Textual.

O Texto no Original e sua tradução:

a) No Grego

Makarioi oi plunontez tas stolaz autwn

makarioi hoi plinontes tas stolás auton.

Makarioi oi poiountez taz  entolaz autou

makarioi hoi piountes tas entolas autou.

b)     Sua Tradução.

Em algumas traduções como a de Figueiredo, Ferreira de Almeida, Bíblia de Jerusalém, New English  Bible, Novo Tes­tamento na Linguagem de Hoje, Novo Testamento Viva e es­trangeiras como: Alford, Goodspeed, Spender, Moulton, Fenton, Weymouth, Moffatt, Wyclif, Knox encontramos:

“Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras...”  enquanto que as traduções: The Holy Bible, King James Version, La Sacra Bíblia, Giovani Diodati (Italiana), a tradução siríaca e outras consignam:

“Bem-aventurados aqueles que guardam os seus manda­mentos...”

                                                Comentários Sobre o Texto


Não nos foi possível precisar a data em que o problema surgiu, entretanto quase todos os estudiosos do assunto têm chegado a um denominador comum quanto à divergência no texto; esta apareceu em conseqüência do equivoco dos copis­tas. A grande semelhança entre os dois textos no original (pois há apenas seis letras diferentes) fez com que és escribas substi­tuissem um pelo outro. A diferença entre as palavras “vestes” e “mandamentos” no grego é uma questão de letras iniciais. Vestes no acusativo plural é stolas e mandamentos entolas sen­do a diferença de um “s” e de “en” nas respectivas palavras. Por isso muitos admitem que esta pequena diferença foi a cau­sa da troca de algum copista.

Qual era o texto original?

A Crítica Textual não tem condições de dar uma respos­ta definitiva a esta pergunta.

Os adventistas citávamos, em tempos passados, Apocalip­se 22: 14 como uma prova eloqüente da observância dos man­damentos como fator de nossa salvação, mas em virtude de ser uma passagem contraditória, hoje não o fazemos com tanta veemência.

A seguir se encontram soluções propostas pela Crítica Tex­tual e por renomados exegetas e comentaristas.

o Comentário Adventista, vol. VII, pág. 897, na análise deste verso declara:

“Importante evidência textual pode ser citada para a va­riante ‘que lavam as suas vestiduras.  Poucos manuscritos con­signam ‘que lavaram suas vestiduras’. Dos unciais primitivos, somente o Sinaítico e o Alexandrino contém esta seção do Apo­calipse, e ambos inserem ‘que lavam as suas vestiduras’. A maior parte dos manuscritos minúsculos apresenta que guardam os seus mandamentos’. As traducões antigas acham-se divididas entre as duas formas, bem como as citações patrísticas. As duas frases são muito semelhantes em grego, e é fácil concluir-se co­mo um escriba pôde ter confundido uma frase pela outra, em­bora seja impossível saber-se qual seria a versão original.

A seguinte transliteração mostrará a semelhança:

hoi poiountes tas entolas auton, ‘que guardam os seus man­damentos’.

hoí plunontes tas stolas autou, ‘que lavam suas vestes’.

Como um fato autêntico ambas as versões se adaptam ao contexto e estão em harmonia com os ensinamentos de João noutros lugares. Sobre o assunto de guardar os mandamentos, veja-se Apoc. 17: 17; 14: 12; confira João 14: 15, 21; 15: 10; 1 João 2: 3-6.  Sobre o assunto de lavar as vestiduras veja Apoc. 7: 14, onde é descrita uma multidão de santos como tendo la­vado suas vestes e tornado brancas no sangue do cordeiro. O nosso título ao céu é a justiça de Cristo imputada: nossa ade­quação para o céu, é a justiça de Cristo comunicada, representa­da pelas vestiduras lavadas. A evidência exterior da justiça de Cristo comunicada é perfeita obediência aos mandamentos de Deus. Por isso as duas idéias de vestiduras lavadas e obediên­cia aos mandamentos de Deus estão intimamente relaciona­das.

À luz dos problemas de tradução aqui discutidos, pare­ceria mais sábio construir os fundamentos da doutrina da obe­diência aos mandamentos de Deus, sobre outras passagens das Escrituras que tratam da obediência, sobre as quais nenhum problema de evidência textual tenha surgido. Há muitas delas.

Para um estudo mais completo deste problema veja —    Problems in Bíble Translation, * págs. 257 -262”.

O   Comentário Exegético y Explicativo de la Biblia de Ro­berto Jamieson, A. R. Fausset e David Brown da Casa Bautista de Publicaciones assim se expressa sobre Apoc. 22:14.

“Guardam os seus mandamentos”, assim aparece na tra­dução Siríaca, na cóptica e nos escritos de Cipriano, porém, os códices Alexandrino e Alef ou Sinaítico e a Vulgata trazem ‘Bem—aventurados os que lavam suas vestes’ isto é, no sangue do cordeiro Apoc. 7: 14. Este ensino tira o pretexto da sal­vação pelas obras. A nossa versão é mais compatível com a sal­vação pela graça, pois que o mandamento evangélico maior e primeiro, dado por Deus é crer em Jesus Cristo. Assim nosso poder (em grego privilégio ou autoridade legal exousia) sobre a árvore da vida, não se deve a nossas obras, mas àquilo que Jesus fez por nós. O direito ou privilégio, está baseado não em nossos méritos, mas na graça de Deus”. II Vol. pág. 831.

Conforme o New Testament of our Lord and Savior Je­sus, With Commentary and Critical Notes, by Adam Clarke —    Published by Lane & Scott (New York) 1950, temos a seguin­te declaração:

“Para que eles tenham direito à árvore da vida, precisam ser obedientes aos mandamentos de Deus. Todavia, sem a gra­ça, não há obediência, sem a obediência não há acesso à árvo­re da vida. Através da graça de Cristo nós recebemos o bem”.

Conclusão


Creio serem oportunas e muito adequadas as palavras de C.W.Irwin, inseridas em O Ministério Adventista, maio e junho de 1954, pág. 20, como fecho destas considerações:

“Os escritores do Novo Testamento têm a tendência de dar mais ênfase ao princípio da justiça pela fé do que à justi­ça pelas obras da lei, do que resultou a tradução: “Bem—aventu­rados aqueles que lavaram as suas vestiduras”. . . etc. Isto pa­rece estar mais em conformidade com o espírito do Novo Tes­tamento, e é, sem dúvida, a tradução dum original grego cor­reto.

De maneira nenhuma pode essa versão ser usada como ar­gumento contra a validade e perpetuidade da lei de Deus, con­cretizada nos dez mandamentos. É simplesmente uma confir­mação de que o escritor inspirado, nesse passo, não se referia aos dez mandamentos, mas enunciava um princípio de concer­to novo de justiça pela fé.

Tanto no Velho como no Novo Testamento a expressão “vestir” refere-se ao caráter. Em Zacarias, os trapos imundos representam a pobreza espiritual, pelo que, a mudança das ves­tes ou vestes brancas, é um símbolo da pureza de caráter, atin­gida apenas por meio da fé na graça salvadora de Jesus Cristo. Deste ponto de vista, o passo é esclarecedor e belo.”

Nota

*Este livro citado, publicação adventista da Review and Herald, é bastante útil para obreiros e mesmo leigos estu­diosos.


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