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segunda-feira, 11 de abril de 2016

TEMAS DIFÍCEIS DA BÍBLIA - COMMA JOANINA AS TRÊS TESTEMUNHAS DE I JOÃO 5:7-8




COMMA JOANINA

 AS TRÊS TESTEMUNHAS DE I JOÃO 5:7-8


1.     Definição

Os comentaristas católicos, apreciadores da terminologia latina, denominaram de Comma Johanneum o inciso ou inter­polação, que aparece em 1 João 5: 7-8, mas que a Crítica Tex­tual, através de notáveis comentaristas e insignes exegetas têm provado que não são de autoria do apóstolo João.

Estas palavras acrescidas ao texto sagrado são também denominadas de “as três testemunhas celestiais.”


II.     O Texto


I João 5: 7 e 8 aparece assim no original:

7      dti treiz eioin oi marturountez

8.       to pneuma kai to udwr kai to aima kai oi
treiz eiz to en eisin

 “Hoti treis eisin hoi martirountes, to pneuma kái to hidor kai to haima, kai hoi treis eis hen eisin.”

Sua tradução literal seria:

Porque três são os que testificam: o espírito, a água e o sangue e os três para um são.

Algumas traduções da Bíblia trazem um acréscimo a este texto, que tem sido denominado “as três testemunhas celes­tiais”, por aparecer da seguinte maneira: no céu, o Pai, a Pala­vra e Espírito Santo; e estes três são um. E três são os que tes­tificam na terra.

Por isso a Almeida antiga rezava assim:

“Porque três são os que testificam (no céu o Pai, a Palavra e o Espírito Santo; e estes três são um E três são os que testificam na terra) —    o espírito, e a água e o sangue; e estes três concordam num”.

Traduções modernas fiéis ao original não consignam as palavras, que aparecem entre parênteses na citação acima.

Pois há três que dão testemunho: o Espírito, a água e o sangue, e os três são unânimes num só propósito. —     Almeida —                      Edição Revista e Atualizada no Brasil.

Há três testemunhas: o Espírito, a água e o sangue. E os três estão de pleno acordo —  A Bíblia na Linguagem de Hoje.

A Bíblia de Jerusalém assim traduz:

“Porque três são os que testemunham: o Espírito, a água e o sangue e os três tendem ao mesmo fim.” com as seguintes notas explicativas:

O texto dos vv. 7-8 está acrescido na Vulgata de um inciso ausente nos antigos manuscritos gregos, nas antigas versões e nos melhores manuscritos da Vulgata, e que parece ser uma glosa marginal introduzida posteriormente no texto.

Os três testemunhos convergem. O sangue e a água se unem ao Espírito (2: 20, 27; João 3: 5; 4:1) para testemunhar (conf. João 3:11) em favor da missão do Filho que dá a vida (v. 11; João 3:15).


III.   O Problema


Embora a passagem tenha suscitado polêmicas e sugerido longas discussões, aqui se encontra o essencial para nossa orien­tação.

O SDABC, Vol. 7, pág. 675 tem o seguinte comentário sobre este problema:

“A evidência textual atesta a omissão da passagem ‘no céu, o Pai, o Verbo, e o Espírito Santo: e estes três são um. E três são os que dão testemunhos na terra...”

A passagem tal como aparece na KJV não se encontra em nenhum manuscrito grego anterior aos séculos XV e XVI. As palavras controvertidas acharam seu caminho para a KJV atra­vés do texto grego de Erasmo. Diz-se que Erasmo se ofereceu para incluir as palavras duvidosas em seu Testamento Grego se lhe mostrassem um manuscrito que as contivesse. Uma bi­blioteca em Dublin produziu tal manuscrito (conhecido como 34) e Erasmo incluiu a passagem em seu texto. Crê-se agora que as edições posteriores da Vulgata adquiriram a passagem por erro de um copista, que inseriu um comentário exegético marginal, no texto bíblico que estava copiando. As palavras em questão têm sido amplamente usadas em defesa da doutrina da Trindade, mas em virtude de tal evidência esmagadora contra sua autenticidade, elas não devem ser usadas com este objetivo”.
 
Bruce Metzger em seu livro The Text of the New Testa­ment, págs. 101 e 102  nos esclarece mais:

“Erasmo ao publicar o Novo Testamento Grego, em 1516, foi criticado pelos defensores do Cardeal Ximenes, por não ha­ver colocado estas palavras no seu trabalho. Erasmo replicou que não tinha achado qualquer manuscrito grego contendo es­tas palavras. E descuidadamente prometeu que inseriria a Comma Joanina, como era chamada, em futuras edições se um único manuscrito grego pudesse ser achado quê a contivesse. Esta cópia lhe foi apresentada. Segundo os estudiosos, parece que este manuscrito grego foi escrito, em 1520, por um frade fransciscano chamado Froy, que tirou estas palavras da Vul­gata Latina. Erasmo cumpriu a promessa e colocou estas pa­lavras em sua terceira edição (1522), mas em longa nota ao pé da página explicou sua suspeita de que o manuscrito tinha si­do preparado para o confundir”.


Como Sabemos Que Estas Palavras  Não Foram Escritas por João?

Além dos pensamentos já apresentados pode-se acrescen­tar:

1o.) A passagem não se encontra em nenhum manuscrito grego dos primeiros séculos.

Apenas aparece em 4 manuscritos gregos posteriores e da seguinte maneira:


a)     O manuscrito 61, que hoje se encontra na bibliote­ca de Dublin, o mesmo apresentado a Erasmo e que tem cau­sado tantos dissabores aos estudiosos do Texto Bíblico.

b)     Um manuscrito do século XII, nº 88, está em Ná­poles, com a passagem escrita na margem.

c)     O de número 629, dos séculos XIV ou XV, perten­cente à biblioteca do Vaticano.

d)     Um manuscrito do século XI de número 635, cuja passagem se encontra registrada na margem.

A passagem também não aparece em Manuscritos da Vul­gata Latina antes do ano 800 A.D.

2o.)   Ela não foi traduzida para as versões antigas da Bí­blia, como nos atestam a siríaca, a armênia, copta, árabe, etío­pe e outras.

3o.)  Não foi citada pelos Pais da Igreja.

Esta é urna prova concludente de que não se achava nas Escrituras. Se eles a conhecessem, sem dúvida, a teriam usado profusamente para condenar o arianismo vicejante naqueles idos.


4o.)   Pelo princípio da Crítica textual, denominado Probabilidade Intrínseca conclui-se que foi urna introdução indevida, por quebrar o fluxo do pensamento do apóstolo João.

5o.)   Consultando o Index dos escritos de ElIen G. White não encontramos nenhum lugar em que tenha citado esta pas­sagem.

Conclusão


Embora esta declaração sobre as “três testemunhas celes­tiais” esteja em plena harmonia com a teologia bíblica sobre a Trindade, ela não deve ser usada para prová-la, pelas razões que acabam de ser expostas.

Os comentaristas são unânimes em afirmar que João não escreveu a passagem em apreço, mas que teve sua origem na anotação ou nota marginal que um copista fizera no texto que estava copiando. Um outro copista achando-as inspiradoras e oportunas ele as introduziu num manuscrito posterior.

Nada melhor para condensar e concluir este estudo do que as sintéticas palavras de Vincent ao comentar I João 5: 7-8.

“Estas palavras são rejeitadas pelo veredito geral de auto­ridade da Crítica Textual”.


Nota


O periódico “O Pregador Adventista”, Janeiro-Fevereiro de 1949, pág. 22, trouxe a seguinte informação sobre  A Comma Joanina:

“Cipriano —  Bispo de Cartago (que morreu em 258) escre­veu as palavras na margem do versículo, como simples anotação sua. Mais tarde foram acrescentadas aos manuscritos posteriores da Vulgata de S. Jerônimo”.


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