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sábado, 14 de maio de 2016

TEMAS DIFÍCEIS DA BÍBLIA - A IRA DE DEUS E A IRA DO HOMEM



A  IRA  DE  DEUS  E  A  IRA  DO  HOMEM


Introdução



Este é um dos assuntos mais difíceis de ser explicado den­tro das Escrituras, porque estas condenam a ira e de outro lado apresentam tantas referências à ira de Deus. Este estudo tencio­na esclarecer os estudantes da Bíblia sobre a necessidade de fazer nítida distinção entre ira humana (que também pode so­frer dupla distinção) e o real significado da expressão ira de Deus.

Sobre a importância do tema basta mencionar estes aspec­tos:


1o.) O Theological Dictionary of the New Testament de Kittel dedica 62 páginas ao estudo da palavra ira:

2o.) Há uma compreensão totalmente errada, de modo geral no mundo e mesmo entre nós com respeito à expressão “ira de Deus”.

Faz pouco tempo obtive da Biblioteca Evangélica de São Paulo uma brochura, que é um sermão intitulado “Pecadores nas Mãos de um Deus Irado” de autoria de Jonathan Edwards, um destacado teólogo e erudito dos Estados Unidos no século XVIII.

Suas ponderações sobre a ira divina são verdadeiramente absurdas. Para termos uma idéia precisa do que ele pregou bas­ta este trecho:

“Ó pecador, considera o temível perigo em que te achas! É sobre uma grande fornalha de ira, um abismo hiante e sem fundo, cheio do fogo da ira, que és seguro na mão daquele Deus, cuja ira é provocada e despertada contra ti, tanto quanto con­tra muitos dos condenados do inferno

O sermão é todo neste mesmo diapasão, mostrando uma distorção total do caráter de Deus.


Comentários Gerais



Definição de Ira


“Mágoa ou paixão que a injúria desperta na pessoa injuria­da; raiva, cólera. Desejo de vingança.” Laudelino Freira.

No consenso comum esta palavra significa fúria, raiva, có­lera, com um desordenado desejo de vingança. Esta seria a ira humana, por isso é condenada na Bíblia.


Ira do Homem


De acordo com o Dicionário Enciclopédico da Bíblia (Edi­tora Vozes Limitada, Petrópolis) a ira do homem geralmente é reprovada na Escritura; quanto ao Velho Testamento sobre ­tudo, nos escritos de Salomão. O motivo parece ser mais utili­tário desde que a ira nos causa prejuízo.

Prov. 15: 18.     “O homem iracundo suscita contendas, mas o longânimo apazigua a luta.”

Prov. 18:19.      “Homem de grande ira tem de sofrer o dano.”

O    Novo Testamento também condena a ira, basta ler:

Mat. 5:22.         “Quem se irar contra seu irmão estará sujei­to a julgamento.”

Efésios 4: 31.    “Longe de vós toda a amargura, e cólera e ira..

Pode-se ler ainda: Gál. 5:20; Ecles. 7:9; Jó 5:2, Sal. 37:8; Prov. 14:17

A ira está classificada pela Igreja Católica entre os sete pecados capitais; sendo os outros seis: orgulho, avareza, luxúria, gula, inveja, preguiça. Destes sete há dois que merecem, no uso corrente da linguagem, uma exceção muito honrosa, o orgu­lho e a ira. Falamos habitualmente em santo orgulho (a justa soberba) como em santa ira (o ódio bem fundado). Quando nos orgulhamos de atos que merecem o nosso respeito e repre­sentam verdadeiros paradigmas de nossa conduta, o orgulho dei­xa de ser pecado para se transformar em virtude. É o santo orgulho. Quando odiamos a injustiça, o erro, o pecado e dis­cernimos, com isso, o bem do mal, o certo do errado, a virtude do relaxamento, esse Ódio se transfigura e se redime. É a san­ta ira. Desta santa ira o próprio Jesus nos deu o exemplo, co­mo se vê na sua maneira de falar sobre os fariseus e no seu com­portamento no templo. Estas atitudes estão relatadas em Mar­cos 3:5 e Mat. 21:12.

Em Marcos 3: 5 no grego se encontra: olhando-os ao redor, com ira  —        orguê.

Não seria a esta ira que se refere a palavra Divina, quando preceitua: “Irai-vos e não pequeis?” Efés. 4:26.


              A Palavra Ira no Original

No Velho Testamento a palavra ira é a tradução de várias palavras do original hebraico, enquanto no Novo Testamento ira é a tradução de três palavras gregas:  orgh - orguê;  Qnmoz —      thimós; parorgimoz — parorquismós:

1o.) orgh  —       orguê, a mais usada no Novo Testamento, por aparecer 385 vezes.

É ira com desejo de vingança. É a ira pensada, mais calma, mais firmada na vontade e na razão.

Orguê é usada para a ira do homem:

Efés. 4: 31; Col. 3: 8;I Tim. 2: 8; Tiago 1:19,20; para a ira de Cristo contra os fariseus, relatada em Marcos 3: 5; mas também para o julgamento final de Deus: Mateus 3: 7; Luc. 3:
7; Rom. 1:18; 2: 5,8; 3: 5; 12: 19; Efésios 2:3; 5: 6; Col. 3:6; I Tes. 1:10; 5:9.

2o.) Qnmoz  - thimós, empregada apenas 18 vezes, 10 das quais se acham no Apocalipse. É a paixão irascível, ira a ferver, ira como algo em ebulição.

W. E. Vine no Expository Dictionary of The New Testa­ment Words, pág. 55 assim a distingue de orguê — “thimós ex­pressa mais o sentimento interno, orguê a emoção ativa.”


Vincent afirma:

“Tanto orguê como thimós são usados no Novo Testamen­to para ira ou cólera, e sem qualquer distinção comumente observada. Orguê denota um mais profundo e mais permanente sentimento, um hábito mental estabelecido, enquanto que thi­mós é uma agitação mais turbulenta, embora temporária. Ambas as. palavras são usadas na frase ira de Deus, que comumente denota uma manifestação distinta do juízo divino (Rom. 1: 18; 3: 5; 9: 22; 12: 19).” Word Studies in Um New Testament, vol. II, pág. 110.

De acordo com The Interpreter’s Dictionary of Um Suble, vol. 1, pág. 135, a distinção a ser feita desta:

“Se há qualquer distinção entre estas duas palavras no Novo Testamento em relação à emoção humana, parece que thimós denota melhor a paixão irrefletida da ira (por ex. Luc. 4: 28); orguê, a indignação moral mais relativamente considerada” (Tia­go l: 19).


Nota

Há autores que afirmam que nenhuma distinção pode ser feita entre estas duas palavras.

3o.) parorgimoz —       parorguismós.

Nesta palavra se encontra uma reforçada forma de orguê. Ela aparece apenas uma vez no Novo Testamento em Efés. 4:26, com o sentido de ira provocada.

O verbo cognato ira   parorgixw —       parorguidzo, irritar, excitar à ira é usado duas vezes:
Rom. 10:19 e Efés. 6:4.

Vine ao explicar parorguismós de Efés. 4: 26  afirma:

“O verbo precedente, orguidzo; neste verso faz supor uma ocasião justa para o sentimento. Isto é confirmado pelo fato de que é uma citação do Salmo 4: 4 (Septuaginta), onde a pala­vra hebraica significa tremer com forte emoção.” Expositoty Dictionary of The New Testament Words, pág. 56.


Ira de Deus


Uma pesquisa na Bíblia nos leva à conclusão de que a ira humana e a ira de Deus são totalmente distintas.

Freqüentemente o princípio da ira de Deus é apresentado em termos antropomórficos. Veja apêndice.

Russel Norman Champlin, em seu comentário sobre Ro­manos 1:18 pondera:

“A ira de Deus não indica alguma forma de emoção huma­na, que perturbe o equilíbrio emocional das pessoas e as torne desejosas de ferir ás outras, em forma de ações maldosamente planejadas, conforme a ira humana geralmente obriga as suas vítimas a fazerem. A ira de Deus é ordinariamente aludida em termos escatológicos, referindo-se ao julgamento que haverá no futuro dia do Senhor.”

“E a justa indignação de Deus quando do julgamento con­tra o pecado.” Idem, comentário de Rom. 5:9.

F.   F. Bruce no livro: Romanos Introduçaão e Comentá­rio, pág. 69 ao analisar Rom. 1:18 nos esclarece:

 “Se se pensa que a palavra ira não é muito apropriada pa­ra usar-se com relação a Deus, é provavelmente porque a ira como a conhecemos na vida humana, constantemente envol­ve paixão egocêntrica, pecaminosa. Com Deus não é assim. Sua ‘ira’ é a reação da santidade divina face à impiedade e rebe­lião. Paulo decerto concordaria com Isaías ao descrever esta ira de Deus, como ‘sua obra estranha’ (Isaías 28: 21) à qual Ele a aplica lentamente e com relutância.

“A idéia de que Deus é ira não é mais antropopática do que o pensamento de que Deus é amor. A razão pelo qual a idéia da ira divina está sempre sujeita a mal-entendidos é que a ira entre os homens é eticamente errada. E contudo, mesmo entre os homens não falamos da ira justa?”

Há dois extremos que devem ser evitados ao tratar-se da ira de Deus.

O primeiro pertence àque!es que O apresentam cheio de amor e longanimidade e como um Pai amoroso não irá destruir os seus filhos, portanto não acreditam na severidade ou na ira de Deus.

No extremo oposto se encontram os que apresentam a Deus como um ser vingativo e irado que fará os homens quei­marem para sempre. Muitos sacrifícios têm sido feitos para aplacar esta ira.

Não há nenhuma discrepância nos versos que apresentam a Deus cheio de bondade e amor com aqueles que revelam sua ira contra o pecado e os pecadores que acintosamente O rejei­tam. O amor requer julgamento. A severidade divina é sempre manifestação do amor.

Como bem se expressou Arthur John Gossip:
“Mas no Novo Testamento os homens não ouvem qual­quer choque entre a ira divina e a longanimidade divina: pelo contrário, ficam certos tanto da bondade como da severidade de Deus; certos de que a sua severidade faz parte da Sua bon­dade, e que, se essa severidade estivesse ausente, ele não seria bom, porquanto os alicerces morais do mundo se desequilibra­riam e entrariam em colapso.”

Do cotejo de várias passagens bíblicas os estudiosos têm chegado à conclusão de que há uma dupla necessidade da ira de Deus, que neste caso seria sinônimo de sua justiça:

1o.) Para que haja manutenção das leis divinas que pedem justiça.

2o.) Para extermínio do pecado e dos pecadores impeni­tentes que se opuseram à misericórdia divina.

A Bíblia nos apresenta a ira de Deus desviada após confissão do pecado e arrependimento. Salmo 106: 43-45;  Jer. 3:12, 13; 31:18-20;  Luc. 15:18-20.

A ira de Deus é justa. Salmo 58:10,11;  Rom. 6:2, 8;  Apoc. 16:6,7.

De acordo com Rom. 2: 4 e 5 a ira de Deus significa o juí­zo de Deus.

Ela é usada contra:

a)     Os ímpios. Isa. 13:9; Rom. 1:18; Efés. 5:6;
b)     A apostasia —    Heb. 10:26-27;
c)     A idolatria —    Deut. 29: 27-28; .Jos. 26: 16; Jer. 44: 3.
d)     Aqueles que se opõem ao evangelho. Salmo 2: 2, 3, 5; I Tes. 2:16.


Ela é temperada com misericórdia no caso dos santos. Sal­mo 30:5; Isa. 26: 20; Jer. 30:11.

Ela deve conduzir-nos ao arrependimento. Isa. 42: 24-25;  Jer. 4:8.

O    livro “‘Essays in Honor of Edward Heppenstall The Stature of Christ apresenta como capitulo final: “An Interpre­tation of the Wrath of God”, de Morris D. Lewis, trabalho ho­nesto, bem fundamentado e que expressa de maneira feliz a crença adventista sobre este empolgante tema. Para que se te­nha melhor compreensão do problema aqui se encontram tra­duzidos das primeiras 8 páginas, das 22 de sua pesquisa, alguns trechos mais significativos:

“As centenas de textos bíblicos que descrevem a ira como urna característica de Deus criam um problema. O amor na personalidade da Divindade parece estar em conflito com as muitas referências ás demonstrações de cólera, furor e ira de Deus. Uma referência típica é aquela de Jeremias retratando a exasperação divina por causa da pecaminosidade dos habitan­tes de Jerusalém.

“Assim diz o Senhor, o Deus de Israel:  eu planejarei contra vós com mão estendida, e com braço forte, e com ira, e com indignação e com grande furor. E  ferirei os habitantes desta cidade, assim os homens como os animais: de grande pes­tilência morrerão.” {Jer. 21:4-6).

“A maioria dos teólogos modernos hoje crêem que em adição à característica divina de amor, a personalidade da Di­vindade, às vezes, se inflama ante a rebelião do homem e exi­be cólera e ira para testificar contra a odiosidade do pecado. Alguns escritores tendem ao raciocinio de que a ira de Deus é justificável porque é expressa somente após incessante agra­vamento dos pecadores. Outros enfatizam que a ira de Deus apenas confirma sua santa aversão ao pecado.”

Seja qual for o arrazoamento para justificar a caracterís­tica de cólera e ira na natureza da Divindade, a argumentação é destituída de fundamento escriturístico. Os Escritos da Ins­piração como registrados por Isaias testificam da declaração do próprio Deus: “Não há indignação em mim”: (lsa. 27: 4). O mesmo escritor também confirmou a atitude divina no verso nove do capítulo 54:  “. . . assim jurei que não me irarei mais contra ti, nem te repreenderei.” A palavra hebraica mais fre­qüentemente usada para provocação é a mesma palavra usada muitas vezes para ira. Ficar zangado,  ser provocado e mostrar ira, são expressões muito semelhantes e intimamente relaciona­das. Mas de Cristo, a escritora de O Desejado de Todas as Na­ções disse: “Sua calma resposta proveio de um coração imacula­do, paciente e brando, que não se irritava.”1 Cristo nunca foi agitado por pecadores a ponto de revidar com urna atitude ex­citada. “O qual, quando o injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava” (I Ped. 2: 23). Cristo nunca foi provo­cado á cólera ou ira, e ele expressava o caráter de Deus o Pai.

Que Deus é soberano é indisputável. Como o termo ira de Deus está relacionado com a soberania da Divindade, liga-se primeiramente com a operação da lei. Quer em função da natu­reza, quer em função do relacionamento moral do homem, a mesma posição predominante de Deus permanece.


“O Senhor é um Deus zeloso e que toma vingança, o Se­nhor toma vingança e é cheio de furor: o Senhor toma vingan­ça contra os seus adversários o guarda a ira contra os seus ini­migos. O Senhor é tardio em irar-se, mas grande em força, e ao culpado não tem por inocente; o Senhor tem o seu cami­nho na tormenta, e na tempestade, e as nuvens são o pó dos seus pés” (Naum 1:2-3).


O  Senhor tem o Seu caminho nas tempestades; elas, também, são Suas servas. Tempestades de tal violência podem des­truir os ímpios” (Jer. 23: 19-20). Quer as operações da nature­za sejam tranqüilas e serenas, quer sejam violentas e destruido­ras, ambas as funções são mencionadas como sendo a mão de Deus.

A Palavra Inspirada fornece uma compreensão mais pro­funda e atribui as funções naturais de destruição aos poderes do mal. Disse Isaías:

“Eis que o Senhor mandará um homem valente e podero­so; como uma queda de saraiva, uma tormenta de destruição, e como uma tempestade de impetuosas águas que transbordam, violentamente e derribará por terra” (Isa. 28:2).

A obra de destruição no inundo natural é a obra de Sata­nás; é dito ser de Deus apenas no sentido de Sua soberania.

Para entender a ira, é muito importante ver a relação ín­tima entre a lei natural e a lei moral.

“Os homens podiam aprender do desconhecido pelo co­nhecido; coisas celestiais foram reveladas pelas terrenas; - - As coisas naturais eram o veículo para as espirituais; cenas da Na­tureza e da experiência diária de Seus ouvintes eram relaciona­das com as verdades das Escrituras Sagradas.”2

Todo o esquema do ensino bíblico está baseado na íntima relação das leis natural e moral. Paulo concluiu:

“Não erreis; Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que se­meia na sua carne, na carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna” (Gál. 6: 7, 8).

Os dez mandamentos são a regra básica para a vida e a mor­te; amor e ódio. O segundo mandamento estabelece este duplo conceito.

“...Porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a maldade dos pais nos filhos até á terceira geração daque­les que me aborrecem. E faço misericórdia em milhares aos que me amam e guardam os meus mandamentos” (Êxo. 20:5,6).

A lei diz que Deus visitará suas iniqüidades sobre aque­les que odeiam a Sua misericórdia sobre aqueles que amam. Um princípio muito importante e distinto é formulado aqui que envolve a natureza da ira e a fonte de sua origem. Deus é a fonte de misericórdia sobre aqueles que amam, mas iniqüi­dade e ira vêm sobre o homem tendo o próprio homem como fonte.

A operação da lei do pecado (ira de Deus) é a relação de homens maus contra os homens maus. Desta forma, Deus go­verna em sociedade com a ira dos homens maus para com ho­mens maus.

“Quando pais ou governadores negligenciam o dever de punir a iniqüidade, Deus mesmo tomará o caso em Suas mãos. Seu poder restringidor será em certa medida removido dos agen­tes do mal, de tal forma que uma sucessão de circunstâncias se levantarão, as quais punirão o pecado com pecado.”3

Assim, vemos na Bíblia e no Espírito de Profecia que Deus não é um Deus de ira. Ele é um Deus que tem soberano con­trole de tudo, mesmo dos ímpios. As expressões nas Escrituras que parecem indicar Deus com raiva e ira são, na realidade, a verificação de Seu soberano controle.

A lei moral do Deus de amor funciona pelo desejo e inten­ção da divindade; a lei do pecado e da morte, que é a ira de Deus, funciona pela permissão de Deus. É um idiomatismo da semântica bíblica para atribuir a Deus aquilo que em Sua pro­vidência Ele permite que ocorra. “Deus domina sobre tudo” (Salmos 103: 19). Isto inclui também os ímpios. (II Crôn. 20:6).    O trato de Deus para com os ímpios é o da permissão. Do contrário, a Bíblia parece contradizer-se.

“Pois, ainda que entristeça a alguém, usará de compaixão segundo a grandeza das suas misericórdias; porque não aflige nem entristece de bom grado os filhos dos homens” (Lam. 3:32, 33).

No primeiro versículo acima, é declarado que Deus causa aflição e no seguinte é dito que Ele não aflige ou entristece. Jeremias disse que o Senhor afligiu Jerusalém. (Lam. 1: 12) e Jó disse que o Todo-poderoso não aflige (Jó 37: 23). A ver­dade é encontrada da avaliação das citações de Lamentações.
O  Senhor não aflige de Seu coração; isto quer dizer, não é Sua intenção segundo Sua santidade. O Senhor permite que a afli­ção ocorra..

“Nós lemos que Deus tentou a Abraão, que Ele tentou aos filhos de Israel. Isto significa que Ele permitiu que ocor­ressem circunstâncias para testar sua fé, e conduzí-los a olhar para Ele para obter auxilio.”4

Desta forma, o Espírito de Profecia e a Bíblia concordam na semântica da permissão divina. O que é dito do que Deus faz no reino do pecado é feito somente pela Sua permissão. Um bom exemplo disto é encontrado em Isaías:

“Eu formo a luz, e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas cousas” (Isa. 45: 7).

Sob esta luz, Jeremias disse: “Acaso não procede do Altíssimo assim o mal como o bem?” (Lam. 3: 38). O mal não procede no coração de Deus. A divindade somente permite que o mal ocorra.

Tais contradições aparentes são numerosas na Bíblia. As declarações da ira de Deus são somente uma delas. Há um prin­cípio muito definido e padronizado revelado em uma longa con­seqüência de causa-e-efeito do pecado. O eminente sábio hebreu Mainmonides mostrou todos os eventos humanos como uma fila de dominós, tendo efeito contingente sobre os eventos bem sucedidos. Sejam eles bons ou maus, Deus foi a primeira gran­de causa. Então, citou ele o idiomatismo dos profetas hebreus que cancela os eventos intermediários e conecta o primeiro ao último como se não houvesse entre eles registro intermitente. Ao invés de um caso sem envolvimento com o mal ou a ira, pa­recia como se Deus fosse o real causador.

“Satanás procura ocultar dos homens a ação divina no mundo físico a fim de conservar fora de vista o infatigável tra­balho da primeira grande causa.”5

“Os homens têm geralmente atribuído a Deus tais carac­terísticas de raiva, ira, tentação, maldade, enviando fogo e opri­mindo o coração dos homens, quando na realidade tais termos são usados para estabelecer Deus como a primeira causa e, por conseguinte, o soberano da terra. É tempo de as dissimulações de Satanás serem expostas. Assim fazendo, Satanás é removi­do de seu alto e cobiçado lugar e sujeito a uma linha de ação permitida por Deus. Satanás pode exercer sua autoridade usur­pada somente como Deus permite.”6

“Seus sofrimentos são muitas vezes representados como sendo castigo a eles infligido por decreto direto da parte de Deus. É assim que o grande enganador procura esconder sua própria obra. Pela obstinada rejeição do amor e misericórdia divina, os judeus fizeram com que a proteção de Deus fosse deles reti­rada, e permitiu-se a Satanás dirigi-los segundo a sua vontade.” 7

Quantas vezes a ira que veio a Israel foi interpretada como vinda de Deus. Assim, Satanás oculta sua obra, atribuindo-a a Deus. Ele tem alistado muitos teólogos ao seu lado para aju­dá-lo nesta fraude.

Satanás tem controle sobre todos aqueles que não possuem a especial proteção de Deus. Ele favorecerá e prosperará a al­guns, a fim de adiantar seus próprios desígnios; e ele trará per­turbações a outros e levará os homens a crerem que é Deus quem os está afligindo.

Após outros exemplos, confirmações e elucidações para ilustrar as maneiras distintas de agir de Deus e Satanás, Morris D. Lewis conclui suas ponderações declarando:

Embora a ira do homem opere pela lei de Deus, pela mes­ma lei o amor de Deus opera a ira do homem. Deus não é um Deus de ira, mas um Deus de amor.


Conclusão


Quando a Bíblia fala da ira de Deus ela nos deseja ensi­nar que Ele é justo e tem aversão ao pecado.

Ira de Deus é uma expressão bíblica que significa o casti­go dos ímpios no Juízo Final.

Ira de Deus é outra expressão para a justiça divina.


Apêndice


Os judeus apresentavam a divindade com reações humanas antropomórficas.

A palavra antropomorfismo significa em grego —    anQrwpoz —      antropos, homens e morfh morfê, forma. Seria atribuir a Deus formas e qualidades humanas. A Bíblia fala da boca, lá­bios, mãos, olhos, etc, de Deus. Atribui ainda à Divindade as paixões e sentimentos experimentados pelos homens, por isso fala em cólera, alegria e vingança de Deus.



Referências

1. - Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, pág. 700.
2.      “       “     “                Lições Objetivas de Cristo (Parábolas de Je­sus), pág. 17.
3.      “       “      “     Profetas e Reis, pág. 728.

4.   SDABC, vol. 1, pág. 1094.

5. - Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, pág. 509.

6. - Desire of Ages, pág. 130.

7. - EIlen G. White, O Grande Conflito, pág. 35.


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