A IRA DE
DEUS E A IRA DO
HOMEM
Introdução
Este é um dos assuntos mais difíceis de ser
explicado dentro das Escrituras, porque estas condenam a ira e de outro lado
apresentam tantas referências à ira de Deus. Este estudo tenciona esclarecer
os estudantes da Bíblia sobre a necessidade de fazer nítida distinção entre ira
humana (que também pode sofrer dupla distinção) e o real significado da
expressão ira de Deus.
Sobre a importância do tema basta mencionar estes
aspectos:
1o.) O
Theological
Dictionary of the New Testament de Kittel
dedica 62 páginas ao estudo da palavra ira:
2o.) Há uma compreensão totalmente errada, de modo geral no
mundo e mesmo entre nós com respeito à expressão “ira de Deus”.
Faz pouco tempo obtive da
Biblioteca Evangélica de São Paulo uma brochura, que é um sermão intitulado
“Pecadores nas Mãos de um Deus Irado” de autoria de Jonathan Edwards, um
destacado teólogo e erudito dos Estados Unidos no século XVIII.
Suas ponderações sobre a ira divina são verdadeiramente absurdas. Para
termos uma idéia precisa do que ele pregou basta este trecho:
“Ó pecador, considera o temível perigo em que te achas! É sobre uma grande
fornalha de ira, um abismo hiante e sem fundo, cheio do fogo da ira, que és
seguro na mão daquele Deus, cuja ira é provocada e despertada contra ti, tanto
quanto contra muitos dos condenados do inferno
O sermão é todo neste mesmo diapasão, mostrando uma distorção total do
caráter de Deus.
Comentários Gerais
Definição de Ira
“Mágoa ou paixão que a injúria desperta na pessoa injuriada; raiva,
cólera. Desejo de vingança.” Laudelino Freira.
No consenso comum esta palavra significa fúria, raiva, cólera, com um
desordenado desejo de vingança. Esta seria a ira humana, por isso é condenada
na Bíblia.
Ira do Homem
De acordo com o Dicionário
Enciclopédico da Bíblia (Editora Vozes Limitada, Petrópolis) a ira do
homem geralmente é reprovada na Escritura; quanto ao Velho Testamento sobre tudo, nos escritos de Salomão. O motivo parece ser
mais utilitário desde que a ira nos causa prejuízo.
Prov. 15: 18. “O homem iracundo suscita contendas, mas o longânimo apazigua a
luta.”
Prov. 18:19. “Homem de grande ira tem de sofrer o dano.”
O Novo Testamento também condena a
ira, basta ler:
Mat. 5:22. “Quem se irar contra seu irmão estará sujeito a
julgamento.”
Efésios 4: 31. “Longe de vós toda a amargura, e cólera e ira..
Pode-se ler ainda: Gál. 5:20; Ecles. 7:9; Jó 5:2, Sal. 37:8; Prov. 14:17
A ira está classificada pela Igreja Católica entre os sete pecados
capitais; sendo os outros seis: orgulho, avareza, luxúria, gula, inveja,
preguiça. Destes sete há dois que merecem, no uso corrente da linguagem, uma
exceção muito honrosa, o orgulho e a ira. Falamos habitualmente em santo
orgulho (a justa soberba) como em santa ira (o ódio bem fundado). Quando nos
orgulhamos de atos que merecem o nosso respeito e representam verdadeiros
paradigmas de nossa conduta, o orgulho deixa de ser pecado para se transformar
em virtude. É o santo orgulho. Quando odiamos a injustiça, o erro, o
pecado e discernimos, com isso, o bem do mal, o certo do errado, a virtude do
relaxamento, esse Ódio se transfigura e se redime. É a santa ira. Desta santa
ira o próprio Jesus nos deu o exemplo, como se vê na sua maneira de falar sobre
os fariseus e no seu comportamento no templo. Estas atitudes estão relatadas
em Marcos 3:5 e Mat. 21:12.
Em Marcos 3: 5 no grego se encontra: olhando-os ao redor, com ira — orguê.
Não seria a esta ira que se refere a palavra Divina, quando preceitua:
“Irai-vos e não pequeis?” Efés. 4:26.
A
Palavra Ira no Original
No Velho
Testamento a palavra ira é a tradução de várias palavras do original hebraico, enquanto no Novo Testamento ira é a tradução
de três palavras gregas: orgh - orguê; Qnmoz — thimós;
parorgimoz — parorquismós:
1o.) orgh — orguê, a mais usada no Novo Testamento, por aparecer
385 vezes.
É ira com desejo de vingança. É a ira
pensada, mais calma, mais firmada na vontade e na razão.
Orguê é usada para a ira do homem:
Efés. 4: 31; Col. 3: 8;I Tim. 2: 8; Tiago 1:19,20; para a ira de Cristo
contra os fariseus, relatada em Marcos 3: 5; mas também para o julgamento final
de Deus: Mateus 3: 7; Luc. 3:
7; Rom. 1:18; 2:
5,8; 3: 5; 12: 19; Efésios 2:3; 5: 6; Col. 3:6; I Tes. 1:10; 5:9.
2o.) Qnmoz - thimós,
empregada apenas 18 vezes, 10 das quais se acham no Apocalipse. É a paixão
irascível, ira a ferver, ira como algo em ebulição.
W. E. Vine no Expository Dictionary of The New
Testament Words, pág. 55 assim a distingue de orguê —
“thimós expressa mais o sentimento interno, orguê a emoção ativa.”
Vincent afirma:
“Tanto orguê como thimós são usados no Novo Testamento para
ira ou cólera, e sem qualquer distinção comumente observada. Orguê denota um
mais profundo e mais permanente sentimento, um hábito mental estabelecido,
enquanto que thimós é uma agitação mais turbulenta, embora temporária. Ambas
as. palavras são usadas na frase ira de Deus, que comumente denota uma
manifestação distinta do juízo divino (Rom. 1: 18; 3: 5; 9: 22; 12: 19).” Word Studies in Um New Testament, vol. II, pág. 110.
De acordo com The Interpreter’s Dictionary of Um Suble, vol.
1, pág. 135, a distinção a ser feita
desta:
“Se há qualquer distinção entre estas duas
palavras no Novo Testamento em relação à emoção humana, parece que thimós
denota melhor a paixão irrefletida da ira (por ex. Luc. 4: 28); orguê, a
indignação moral mais relativamente considerada” (Tiago l: 19).
Nota
Há autores que afirmam que nenhuma distinção pode
ser feita entre estas duas palavras.
3o.) parorgimoz — parorguismós.
Nesta palavra se encontra uma reforçada forma de
orguê. Ela aparece apenas uma vez no Novo Testamento em Efés. 4:26, com o
sentido de ira provocada.
O verbo cognato ira parorgixw — parorguidzo, irritar, excitar à ira é usado duas vezes:
Rom. 10:19 e Efés. 6:4.
Vine ao explicar parorguismós de Efés. 4: 26 afirma:
“O verbo precedente, orguidzo; neste verso faz supor uma ocasião justa para
o sentimento. Isto é confirmado pelo fato de que é uma citação do Salmo 4: 4
(Septuaginta), onde a palavra hebraica significa tremer com forte emoção.” Expositoty
Dictionary of The New Testament Words, pág. 56.
Ira de Deus
Uma pesquisa na Bíblia nos leva à conclusão de que a ira humana e a ira de
Deus são totalmente distintas.
Freqüentemente o princípio da ira de Deus é apresentado em termos
antropomórficos. Veja apêndice.
Russel Norman Champlin, em seu comentário sobre Romanos 1:18 pondera:
“A ira de Deus não indica alguma forma de emoção humana, que perturbe o
equilíbrio emocional das pessoas e as torne desejosas de ferir ás outras, em
forma de ações maldosamente planejadas, conforme a ira humana geralmente obriga
as suas vítimas a fazerem. A ira de Deus é ordinariamente aludida em termos
escatológicos, referindo-se ao julgamento que haverá no futuro dia do Senhor.”
“E a justa indignação de Deus quando do julgamento contra o pecado.” Idem, comentário de Rom. 5:9.
F. F. Bruce no livro: Romanos — Introduçaão e Comentário, pág. 69 ao analisar Rom. 1:18 nos esclarece:
“Se se pensa que a palavra ira não é
muito apropriada para usar-se com relação a Deus, é provavelmente porque a ira
como a conhecemos na vida humana, constantemente envolve paixão egocêntrica,
pecaminosa. Com Deus não é assim. Sua ‘ira’ é a reação da santidade divina face
à impiedade e rebelião. Paulo decerto concordaria com Isaías ao descrever esta
ira de Deus, como ‘sua obra estranha’ (Isaías 28: 21) à qual Ele a aplica
lentamente e com relutância.
“A idéia de que Deus é ira não é mais antropopática do que o pensamento de
que Deus é amor. A razão pelo qual a idéia da ira divina está sempre sujeita a
mal-entendidos é que a ira entre os homens é eticamente errada. E contudo,
mesmo entre os homens não falamos da ira justa?”
Há dois extremos que devem ser evitados ao tratar-se da ira de Deus.
O primeiro pertence àque!es que O apresentam cheio de amor e longanimidade
e como um Pai amoroso não irá destruir os seus filhos, portanto não acreditam
na severidade ou na ira de Deus.
No extremo oposto se encontram os que apresentam a Deus como um ser
vingativo e irado que fará os homens queimarem para sempre. Muitos sacrifícios
têm sido feitos para aplacar esta ira.
Não há nenhuma discrepância nos versos que apresentam a Deus cheio de
bondade e amor com aqueles que revelam sua ira contra o pecado e os pecadores
que acintosamente O rejeitam. O amor requer julgamento. A severidade divina é
sempre manifestação do amor.
Como bem se expressou Arthur John Gossip:
“Mas no Novo Testamento os homens não ouvem qualquer choque entre a ira
divina e a longanimidade divina: pelo contrário,
ficam certos tanto da bondade como da
severidade de Deus; certos de que a sua severidade
faz parte da Sua bondade, e que, se essa severidade estivesse ausente, ele não seria bom,
porquanto os alicerces morais do
mundo se desequilibrariam e entrariam em
colapso.”
Do cotejo de
várias passagens bíblicas os estudiosos têm chegado à conclusão de que há uma
dupla necessidade da ira de Deus, que neste caso seria sinônimo de sua
justiça:
1o.)
Para que haja manutenção das leis divinas que pedem justiça.
2o.)
Para extermínio do pecado e dos pecadores impenitentes que se opuseram à
misericórdia divina.
A Bíblia nos
apresenta a ira de Deus desviada após confissão do pecado e arrependimento. Salmo 106: 43-45; Jer. 3:12, 13;
31:18-20; Luc. 15:18-20.
A ira de Deus
é justa. Salmo 58:10,11; Rom. 6:2,
8; Apoc. 16:6,7.
De acordo com
Rom. 2: 4 e 5 a ira de Deus significa o juízo de Deus.
Ela é usada
contra:
a) Os ímpios. Isa. 13:9; Rom.
1:18; Efés. 5:6;
b) A apostasia — Heb.
10:26-27;
c) A idolatria — Deut.
29: 27-28; .Jos. 26: 16; Jer. 44: 3.
d) Aqueles que se opõem ao
evangelho. Salmo 2: 2, 3, 5; I Tes. 2:16.
Ela é temperada com misericórdia no caso dos santos. Salmo 30:5; Isa. 26: 20; Jer. 30:11.
Ela deve conduzir-nos ao arrependimento. Isa. 42: 24-25; Jer. 4:8.
O livro “‘Essays in Honor of Edward Heppenstall — The Stature of
Christ apresenta como capitulo final: “An
Interpretation of the Wrath of God”, de Morris D. Lewis, trabalho honesto,
bem fundamentado e que expressa de maneira feliz a crença adventista sobre este
empolgante tema. Para que se tenha melhor compreensão do problema aqui se
encontram traduzidos das primeiras 8 páginas, das 22 de sua pesquisa, alguns
trechos mais significativos:
“As centenas de textos bíblicos que descrevem a ira como urna
característica de Deus criam um problema. O amor na personalidade da Divindade
parece estar em conflito com as muitas referências ás demonstrações de cólera,
furor e ira de Deus. Uma referência típica é aquela de Jeremias retratando a
exasperação divina por causa da pecaminosidade dos habitantes de Jerusalém.
“Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: eu planejarei
contra vós com mão estendida, e com braço forte, e com ira, e com indignação e
com grande furor. E ferirei os
habitantes desta cidade, assim os homens como os animais: de grande pestilência
morrerão.” {Jer. 21:4-6).
“A maioria dos teólogos modernos hoje crêem que em adição à característica
divina de amor, a personalidade da Divindade, às vezes, se inflama ante a
rebelião do homem e exibe cólera e ira para testificar contra a odiosidade do
pecado. Alguns escritores tendem ao raciocinio de que a ira de Deus é
justificável porque é expressa somente após incessante agravamento dos
pecadores. Outros enfatizam que a ira de Deus apenas confirma sua santa aversão
ao pecado.”
Seja qual for o arrazoamento para justificar a característica de cólera e
ira na natureza da Divindade, a argumentação é destituída de fundamento
escriturístico. Os Escritos da Inspiração como registrados por Isaias
testificam da declaração do próprio Deus: “Não há indignação em mim”: (lsa. 27:
4). O mesmo escritor também confirmou a atitude divina no verso nove do
capítulo 54: “. . . assim jurei que não me irarei mais
contra ti, nem te repreenderei.” A palavra hebraica mais freqüentemente usada
para provocação é a mesma palavra usada muitas vezes para ira. Ficar
zangado, ser provocado e mostrar ira,
são expressões muito semelhantes e intimamente relacionadas. Mas de
Cristo, a escritora de O Desejado de
Todas as Nações disse: “Sua calma resposta proveio de um coração imaculado,
paciente e brando, que não se irritava.”1 Cristo nunca foi agitado por pecadores a ponto de revidar com urna atitude
excitada. “O qual, quando o injuriavam, não injuriava, e quando padecia não
ameaçava” (I Ped. 2: 23). Cristo nunca foi provocado á cólera ou ira, e ele
expressava o caráter de Deus o Pai.
Que Deus é soberano é
indisputável. Como o termo ira de Deus está relacionado com a soberania da
Divindade, liga-se primeiramente com a operação da lei. Quer em função da natureza,
quer em função do relacionamento moral do homem, a mesma posição predominante
de Deus permanece.
“O Senhor é um Deus zeloso e que toma vingança, o Senhor toma vingança e é
cheio de furor: o Senhor toma vingança contra os seus adversários o guarda a
ira contra os seus inimigos. O Senhor é tardio em irar-se, mas grande em
força, e ao culpado não tem por inocente; o Senhor tem o seu caminho na
tormenta, e na tempestade, e as nuvens são o pó dos seus pés” (Naum 1:2-3).
O Senhor tem o Seu caminho nas tempestades;
elas, também, são Suas servas. Tempestades de tal violência podem destruir os
ímpios” (Jer. 23: 19-20). Quer as operações da natureza sejam tranqüilas e
serenas, quer sejam violentas e destruidoras, ambas as funções são mencionadas
como sendo a mão de Deus.
A Palavra Inspirada fornece uma compreensão mais profunda e atribui as
funções naturais de destruição aos poderes do mal. Disse Isaías:
“Eis que o Senhor mandará um homem valente e poderoso; como uma queda de
saraiva, uma tormenta de destruição, e como uma tempestade de impetuosas águas
que transbordam, violentamente e derribará por terra” (Isa. 28:2).
A obra de destruição no inundo natural é a obra de Satanás; é dito ser de
Deus apenas no sentido de Sua soberania.
Para entender a ira, é muito importante ver a relação íntima entre a lei
natural e a lei moral.
“Os homens podiam aprender do desconhecido pelo conhecido; coisas
celestiais foram reveladas pelas terrenas; - - As coisas naturais eram o veículo para as espirituais; cenas da Natureza e
da experiência diária de Seus ouvintes eram relacionadas com as verdades das
Escrituras Sagradas.”2
Todo o esquema do ensino bíblico está baseado na íntima relação das leis
natural e moral. Paulo concluiu:
“Não erreis; Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem
semear, isso também ceifará. Porque o que semeia na sua carne, na carne
ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida
eterna” (Gál. 6: 7, 8).
Os dez mandamentos são a regra básica para a vida e a morte; amor e ódio.
O segundo mandamento estabelece este duplo conceito.
“...Porque eu, o Senhor
teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a maldade dos pais nos filhos até á
terceira geração daqueles que me aborrecem. E faço misericórdia em milhares
aos que me amam e guardam os meus mandamentos” (Êxo. 20:5,6).
A lei diz que Deus visitará suas iniqüidades sobre aqueles que odeiam a
Sua misericórdia sobre aqueles que amam. Um princípio muito importante e
distinto é formulado aqui que envolve a natureza da ira e a fonte de sua
origem. Deus é a fonte de misericórdia sobre aqueles que amam, mas iniqüidade
e ira vêm sobre o homem tendo o próprio homem como fonte.
A operação da lei do pecado (ira de Deus) é a relação de homens maus contra
os homens maus. Desta forma, Deus governa em sociedade com a ira dos homens
maus para com homens maus.
“Quando pais ou governadores negligenciam o dever de punir a iniqüidade,
Deus mesmo tomará o caso em Suas mãos. Seu poder restringidor será em certa
medida removido dos agentes do mal, de tal forma que uma sucessão de
circunstâncias se levantarão, as quais punirão o pecado com pecado.”3
Assim, vemos na Bíblia e no Espírito de Profecia que Deus não é um Deus de
ira. Ele é um Deus que tem soberano controle de tudo, mesmo dos ímpios. As
expressões nas Escrituras que parecem indicar Deus com raiva e ira são, na
realidade, a verificação de Seu soberano controle.
A lei moral do Deus de amor
funciona pelo desejo e intenção da divindade; a lei do pecado e da morte, que
é a ira de Deus, funciona pela permissão de Deus. É um idiomatismo da semântica
bíblica para atribuir a Deus aquilo que em Sua providência Ele permite que
ocorra. “Deus domina sobre tudo” (Salmos 103: 19). Isto inclui também os
ímpios. (II Crôn. 20:6). O trato de
Deus para com os ímpios é o da permissão. Do contrário, a Bíblia parece
contradizer-se.
“Pois, ainda que entristeça a alguém, usará de compaixão segundo a grandeza
das suas misericórdias; porque não aflige nem entristece de bom grado os filhos
dos homens” (Lam. 3:32, 33).
No primeiro versículo acima, é declarado que Deus causa aflição e no
seguinte é dito que Ele não aflige ou entristece. Jeremias disse que o Senhor
afligiu Jerusalém. (Lam. 1: 12) e Jó disse que o Todo-poderoso não aflige (Jó
37: 23). A verdade é encontrada da avaliação das citações de Lamentações.
O Senhor não aflige de Seu coração; isto quer
dizer, não é Sua intenção segundo Sua santidade. O Senhor permite que a aflição
ocorra..
“Nós lemos que Deus tentou a Abraão, que Ele tentou aos filhos de Israel.
Isto significa que Ele permitiu que ocorressem circunstâncias para testar sua
fé, e conduzí-los a olhar para Ele para obter auxilio.”4
Desta forma, o Espírito de Profecia e a Bíblia concordam na semântica da
permissão divina. O que é dito do que Deus faz no reino do pecado é feito
somente pela Sua permissão. Um bom exemplo disto é encontrado em Isaías:
“Eu formo a luz, e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor,
faço todas estas cousas” (Isa. 45: 7).
Sob esta luz, Jeremias disse: “Acaso não procede do Altíssimo assim o mal
como o bem?” (Lam. 3: 38). O mal não procede no coração de Deus. A divindade
somente permite que o mal ocorra.
Tais contradições aparentes são numerosas na Bíblia. As declarações da ira
de Deus são somente uma delas. Há um princípio muito definido e padronizado
revelado em uma longa conseqüência de causa-e-efeito do pecado. O eminente
sábio hebreu Mainmonides mostrou todos os eventos humanos como uma fila de
dominós, tendo efeito contingente sobre os eventos bem sucedidos. Sejam eles
bons ou maus, Deus foi a primeira grande causa. Então, citou ele o idiomatismo
dos profetas hebreus que cancela os eventos intermediários e conecta o primeiro
ao último como se não houvesse entre eles registro intermitente. Ao invés de um
caso sem envolvimento com o mal ou a ira, parecia como se Deus fosse o real
causador.
“Satanás procura ocultar dos homens a ação divina no mundo físico a fim de
conservar fora de vista o infatigável trabalho da primeira grande causa.”5
“Os homens têm geralmente atribuído a Deus tais características de raiva,
ira, tentação, maldade, enviando fogo e oprimindo o coração dos homens, quando
na realidade tais termos são usados para estabelecer Deus como a
primeira causa e, por conseguinte, o soberano da terra. É tempo de as
dissimulações de Satanás serem expostas. Assim fazendo, Satanás é removido de
seu alto e cobiçado lugar e sujeito a uma linha de ação permitida por Deus.
Satanás pode exercer sua autoridade usurpada somente como Deus permite.”6
“Seus sofrimentos são muitas vezes representados
como sendo castigo a eles infligido por decreto direto da parte de Deus. É
assim que o grande enganador procura esconder sua
própria obra. Pela obstinada rejeição do amor e misericórdia divina, os judeus
fizeram com que a proteção de Deus fosse deles retirada, e permitiu-se a
Satanás dirigi-los segundo a sua vontade.” 7
Quantas vezes a ira que veio a Israel foi interpretada como vinda de Deus.
Assim, Satanás oculta sua obra, atribuindo-a a Deus. Ele tem alistado muitos
teólogos ao seu lado para ajudá-lo nesta fraude.
Satanás tem controle sobre todos aqueles que não possuem a especial
proteção de Deus. Ele favorecerá e prosperará a alguns, a fim de adiantar seus
próprios desígnios; e ele trará perturbações a outros e levará os homens a
crerem que é Deus quem os está afligindo.
Após outros exemplos, confirmações e elucidações para ilustrar as maneiras
distintas de agir de Deus e Satanás, Morris D. Lewis conclui suas ponderações
declarando:
Embora a ira do homem opere pela lei de Deus, pela mesma lei o amor de
Deus opera a ira do homem. Deus não é um Deus de ira, mas um Deus de amor.
Conclusão
Quando a Bíblia fala da ira de Deus ela nos deseja ensinar que Ele é justo
e tem aversão ao pecado.
Ira de Deus é uma expressão bíblica que significa o castigo dos ímpios no
Juízo Final.
Ira de Deus é outra expressão para a justiça divina.
Apêndice
Os judeus apresentavam a divindade com reações humanas antropomórficas.
A palavra
antropomorfismo significa em grego — anQrwpoz — antropos,
homens e morfh — morfê, forma.
Seria atribuir a Deus formas e qualidades humanas. A Bíblia fala da boca, lábios,
mãos, olhos, etc, de Deus. Atribui ainda à Divindade as paixões e sentimentos
experimentados pelos homens, por isso fala em cólera, alegria e vingança de
Deus.
Referências
1. - Ellen G. White, O Desejado de Todas
as Nações, pág. 700.
2. “
“ “ Lições Objetivas de Cristo
(Parábolas de Jesus), pág. 17.
3. “
“ “ Profetas e Reis, pág. 728.
4. SDABC, vol. 1, pág. 1094.
5. - Ellen G. White, Patriarcas e
Profetas, pág. 509.
6. - Desire of Ages, pág. 130.
7. - EIlen G. White, O Grande Conflito, pág.
35.
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