O AMOR — A MAIOR
DAS VIRTUDES
QUATRO VERBOS
PARA AMAR EM GREGO
O grego,
sendo uma das mais ricas línguas do mundo, tem o
poder inigualável de expressar sutis diferenças de significado por palavras
distintas. Freqüentemente o grego apresenta várias palavras para expressar
mudanças de significados, enquanto nós o fazemos mediante um só vocábulo. Em
português todas as cambiantes do rico sentimento do amor são expressas por uma
palavra, enquanto o grego o faz através de quatro formas distintas.
São elas:
1o.) O verbo agapaw — agapao e o substantivo agaph — agape.
2o.) O verbo filew — fileo e o
substantivo filia — filia
3o.) O verbo stergw - stergo e o
substantivo storgh – storge.
4o.) O verbo eraw — erao e o
substantivo eroz — eros.
Distinção Entre Estas Quatro Formas
Agapao é considerar com reverência, admirar por algum bem, amar de modo
mais elevado. No grego clássico significava saudar afetuosamente. Sua grande
diferença com fileo é a seguinte: agapao não tem nada do calor e da afetividade
que caracteriza o fileo.
2) Fileo
é olhar para alguém com afetuosa consideração, ter afeição, amizade, gostar de;
podendo até ser traduzido por acariciar, beijar. Pode ser usado para o amor
entre o marido e a esposa. No Novo Testamento fileo é usado para expressar o
amor de pai e mãe e de filho e de filha (Mat. 10: 37). É usado para o amor de Jesus por Lázaro
(João 11: 3, 36) e uma vez é usado para o amor de Jesus pelo discípulo amado
(São João 20: 2).
3) Stergo
é um verbo que está mais relacionado com afeição familiar. Seria traduzido com
propriedade para o português por amar com ternura, suportar.
Pode ser usado para o amor de um povo por seu governo, mas o seu uso mais
normal é descrever o amor entre cónjuges, e entre pais e filhos. Platão
escreveu “Um filho ama (stergein) e é amado por aqueles que o geraram”.
Este verbo não aparece no Novo Testamento, mas apenas em um adjetivo
cognato —
Filostorgoz — filóstorgos — Rom. 12: 10,
traduzido na Almeida Revista e Atualizada no Brasil por “amor fraternal”. Paulo
o usa como indicação de que a comunidade cristã não é uma sociedade, mas uma
família.
4) Erao — usado
principalmente para o amor entre os sexos. Tanto em grego como os derivados em
português (erotismo, erótico) nos evidenciam que este verbo adquiriu uma
conotação pejorativa. A nossa palavra amante expressa esta idéia decadente do
vocábulo.
Também não é usado no Novo Testamento, porém, aparece duas vezes na
Septuaginta em Ester 2:17 e Prov. 4:6.
Sendo que erao expressava o lado negativo do amor, isto é, a palavra
desprezível, e que stergo estava ligado mais com afeição familiar, elas tinham
que ser colocadas de lado, por não expressarem os vastíssimos conceitos do amor
cristão.
Das afirmações anteriores, concluímos que as duas que se sobressaem e
merecem nosso especial interesse são: agapao e fileo, sendo João o escritor
bíblico que mais constantemente usa estas duas palavras.
Agapao
O verbo agapaw — agapao e o
substantivo agaph — agape são as
duas palavras mais comuns no Novo Testamento. Agapao e fíleo corresponderia ás
palavras latinas diligo e amo usadas na Vulgata.
As seguintes declarações de William Barclay, em New Testament Words págs. 20-23 ao comentar agape são importantes:
“A grande razão por que o pensamento cristão se fixou em agape é que esta
palavra exige o exercício do homem todo. O amor cristão não deve apenas se
estender aos nossos mais próximos e mais queridos, nossa parentela, nossos
amigos e aqueles que nos amam; o amor cristão deve estender-se à comunidade
cristã, ao próximo, ao inimigo, a todo o mundo”.
“Agape tem a ver com a mente: não é simplesmente uma emoção que surge
espontaneamente em nosso coração; é um princípio pelo qual vivemos
deliberadamente. Agape tem a ver supremamente com a vontade. É uma conquista, uma vitória, uma
realização. Ninguém jamais amou naturalmente os seus inimigos. Amar os
inimigos é uma conquista de todas as nossas inclinações naturais e emoções”.
“Este agape, este amor cristão, não é meramente uma experiência emocional
que nos vem espontaneamente e não procurada, é um principio mental deliberado,
é uma deliberada conquista e aquisição da vontade. É de fato o Poder para amar
o não amável, amar as pessoas de quem não gostamos. O cristianismo não nos
pede que amemos nossos inimigos e os homens em geral da mesma maneira como
amamos nossos mais próximos e mais queridos e aqueles que estão intimamente ligados
a nós; isto seria ao mesmo tempo impossível e errado. Mas requer que tenhamos
sempre certa atitude mental a todos os homens, não importa quem sejam.”
“Qual é então o significado deste agape?”
“A passagem principal para a interpretação do significado de agape é Mat.
5: 43-48. Ali estamos sob a obrigação de amar os nossos inimigos. Por quê? A
fim de que sejamos semelhantes a Deus. E qual é a ação típica de Deus que é
citada? Deus envia sua chuva sobre os justos e injustos e sobre os maus e os
bons, o que equivale a dizer — não
importa a que um homem é semelhante, Deus nada procura senão seu mais elevado
bem”.
“Quer o homem seja um santo, quer seja um pecador, o único desejo de Deus é
o maior bem daquele homem. Ora, isto é o que significa agape. Agape é o
espírito que diz: ‘Não importa o que qualquer homem faz a mim, eu nunca
procurarei o seu mal; eu nunca procurarei vingança; eu sempre procurarei apenas
o seu mais elevado bem”.
“O agape cristão é impossível para
qualquer um, exceto para um homem cristão”.
“O grande presidente dos Estados Unidos, Abraão Lincon, soube muito bem
praticar este agape cristão. Ele foi acusado de tratar seus oponentes com
demasiada cortesia e amabilidade, quando era seu dever destrui-los. Sua
resposta foi interrogativa:
Não destruo meus inimigos quando faço deles meus amigos?”
Fileo
Este verbo é usado 25 vezes no Novo Testamento, 22 das quais significando
amar e 3 com o significado de beijar.
Há um fascinante calor nesta palavra. Ela significa olhar para alguém com
afetuosa consideração. Esta palavra tem em si todo o calor da verdadeira
afeição e do verdadeiro amor.
Umas poucas vezes fileo é usado para expressar o amor do Pai pelo Filho — João 5:
20; para o amor de Deus pelo homem (João 16: 27); para a devoção que o homem
deve prestar a Jesus (I Cor. 16: 22); mas as ocorrências de fileo no Novo
Testamento são comparativamente poucas, quando comparadas a agapao que é usado
quase seis vezes mais.
Kenneth S. Wuest, no livro Jóias do
Novo Testamento Grego, da Imprensa Batista Regular, páginas 57 e 60 tentou
mostrar as diferenças entre as formas agapao e fileo.
Destacam-se de suas afirmações:
“Agapao é termo grego que significa um amor despertado pelo senso de valor
do objeto amado, e que leva o indivíduo a prezar tal objetivo. Origina-se na
percepção da preciosidade do objeto”.
“A qualidade desse amor é determinada pelo caráter daquele que ama, mas
também pelo caráter do objeto amado”.
“Fileo é o amor que consiste ao ardor aceso no coração pela percepção de
algo que no objeto amado lhe confere prazer, a reação do espírito humano àquilo
que o atrai por ser-lhe agradável”.
“Quando usados no bom sentido, ambos são legítimos, mas o primeiro
representa o amor mais nobre”.
Apesar destas afirmações e de outras anteriores há estudiosos que tentam
provar que não há nehuma diferença entre estes dois vocábulos, aludindo muitas
provas em que aparecem como sinônimos; porém esta afirmação não deve ser levada
muito a sério desde que os fatos comprovam que na maioria dos casos elas são
empregadas para expressar sentimentos distintos.
O SDABC, apresenta os textos de João 14: 23 e 16:
27 para mostrar que as duas expressões podem ser usadas como sinônimos
perfeitos. Apesar desta declaração há muitas fontes que mostram distinção de
significado entre as duas palavras, bastando citar:
a) E.
W. Bullinger — A Critical
Lexicon and Concordance, págs. 467- 470.
b) Vincent
— New Testament Words, em muitos passos, como este:
“Deve notar-se a diferença entre agapaw - agapao e filew — fileo no
grego clássico ou profano e no grego bíblico. No grego clássico agapao é uma
palavra mais fria do que fileo e menos íntima. No Novo Testamento está livre de
qualquer frieza e é mais profunda em seu significado que fileo, apesar desta
última ter uma conotação mais humana”.
Multon afirma:
“Se é que devem ser diferenciadas, uma se refere ao amor reverencial e a outra
ao amor de companheirismo.
Que é Amor?
Já falamos
muito sobre o amor, mas ainda não o definimos.
Todas as
definições conseguidas são limitadas e ineficazes para expressar este atributo
divino.
Os seguintes
pensamentos (eu chamaria de tentativas para defini-lo) são úteis para ampliarem
nossa compreensão deste profundo sentimento.
“O amor é o
caminho mais curto de recondução a Deus”.
“Amor é uma
gota celeste colocada no cálice da vida para lhe corrigir o amargor”.
No dizer de
Leibnitz: “O amor é aquela qualidade que encontra sua felicidade no bem
alheio”.
Para Guerra
Junqueira “o amor é uma escada sublime que prende o ser humano ao doce olhar de
Jesus”.
De acordo com
Ellen G. White — “o amor é uma
planta de origem divina que deve ser cultivada entre nós”.
Goethe assim
se expressou:
“O amor consegue em um momento o que o
trabalho dificilmente pode conseguir em uma era”
O
escritor Patrício Ramiz Galvão numa síntese significativa declarou:
“Nada no mundo vive e prospera senão à
sombra do amor”.
Diante destas afirmações fácil é
concluir que o amor inegavelmente é a maior de todas as virtudes, é a virtude
característica da fé cristã. Aliás, nem há necessidade de concluirmos, porque
isto Paulo já nos declarou enfaticamente em I Coríntios 13.
O amor
é superior á fé e à esperança, pois como bem salientou o estudioso de palavras
gregas De Wett — “O amor é a
maior dessas virtudes, porque contém em si mesmo a raiz das duas outras
virtudes: cremos em alguém a quem amamos, e esperamos somente naquilo que
amamos”.
O
amor deveria governar as ações de toda a família de Deus. (Ver João 13:35 e
14:21).
“Deus é amor (I João 4: 16) e o amor é a
imagem de Deus estampada na alma; onde o amor se encontra, a alma está bem
moldada, e o coração está preparado para toda a boa obra”. Mathew Henry.
O amor
é virtude e força, pois:
a) Aperfeiçoa
a pessoa diante de Deus. Mat. 5:48.
b) O
amor impele as pessoas a fazerem as obras do Senhor. II Cor. 5: 14 — Porque o amor
de Cristo nos constrange.
c)
Faz com que o indivíduo mantenha um bom relacionamento com o
próximo — São João
13:35.
d)
Afasta a contenda e dissensões entre os crentes. Mat.24:12.
Pense bem
nestas 10 significativas frases:
1o.) A palavra mais
elevada é Deus.
2o.) A mais veloz é
tempo.
3o.) A mais doce é lar.
4o.) A mais forte é
retidão
5o.) A mais rastejada é
hipocrisia.
6o.) A mais comprida 4
eternidade.
7o.) A palavra mais
querida é mãe.
8o.) A mais triste é
nunca.
9o.) A mais negra é
pecado.
10o.) A mais
significativa e mais terna é amor.
Embora João
seja conhecido como o discípulo do amor —Paulo foi o apóstolo que melhor nos apresentou as características do amor
cristão.
Dentre muitas
outras destaquemos estas dez:
1o.) O amor é generoso. II Cor. 8:24.
2o.) O amor é longânimo. Efés. 4:2.
3o.) O amor é prático, resultando em ação. Heb.
6:10.
4o.) O
amor resulta em perdão e restauração. II Cor. 2:8.
5o.) O
amor é sincero —
Rom. 12:9; II Cor. 6:6;8:8.
6o.) O
amor é inocente, não prejudica a ninguém — Rom. 13:10.
7o.) O
amor é salvador e santificador — II Tes. 2:13.
8o.) O
amor controla e ama a verdade — II Tes. 2:10.
9o.) O
amor é o poder motivante da fé. Gál. 5:6.
10o.) O amor é o aperfeiçoamento da vida cristã — Col. 3:
14.
Em todas estas
citações bíblicas a palavra usada no original é agape.
Evidentemente
a vida cristã deve ser edificada sobre o sólido pilar do amor.
O Diálogo do Amor Entre Cristo e
Pedro
Relatado em 5. João 21:15-17
O mestre
pergunta ao discípulo acerca do relacionamento entre ambos. Por três vezes
Cristo perguntou a Pedro se ele o amava, recebendo sempre a mesma resposta.
Nas primeiras
duas perguntas Cristo usou o verbo agapao, porém Pedro respondeu com o verbo fileo. Na terceira interpelação Cristo mudou
para fileo e a resposta do discípulo continuou sendo idêntica às duas
primeiras.
A que
conclusões chegaremos pelo uso dos verbos agapao e fileo em João 21:15-17?
“Apesar das duas palavras também
serem usadas quanto ao amor de Deus aos homens (João 14: 21, agapao) (João 20:
2, fileo), a distinção entre as duas permanece e elas nunca são usadas
indiscriminadamente na mesma passagem”.
As idéias dos comentaristas podem ser apresentadas nestas três
proposições:
1ª) Pedro teria considerado o termo agapao no
seu contexto secular muito frio para definir a verdadeira paixão pessoal que
nutria pelo seu compreensivo Mestre ressuscitado.
2ª) Pedro
usa a palavra menos exaltada como que para indicar a consciência de sua
própria fraqueza. Ainda assim ele confirma seu grande afeto pelo Mestre, desta
vez sem qualquer comparação com seus condiscípulos (Alford, Vincent).
3ª) Nosso
Senhor usa a mais nobre palavra da linguagem grega e depois muda o vocábulo
preferido por Pedro; porém, assegura-lhe que o futuro martírio deste
demonstrar-lhe-ia que o amor ao Mestre não é baseado apenas no deleite, mas na
apreensão mais ampla da preciosidade das coisas eternas.
Como comprovação de que os autores divergem, quanto às palavras serem
sinônimas ou diferentes no significado, vamos concluir com a resposta dada por
Bruce, a um de seus consulentes, sobre o texto de São João 21:15-17.
Pergunta:
O uso das palavras para “amor” em João 21: 15-17 é geralmente explicado
afirmando-se que fileo denota afeição natural e agapao um amor mais elevado.
Freench, entretanto, parece apresentar uma interpretação diferente, explicando
fileo como um amor pessoal e desarrazoado, e agapao como o amor de um
raciocínio mais conexo. Como o senhor comentaria isto?
Resposta:
“Se algum comentarista á base de qualquer uma dessas diferenciações no uso
joanino dos dois verbos para amor puder mostrar satisfatoriamente qual é a
diferença entre os dois em João 3: 35 e 5: 20, estarei preparado para
considerar se há uma diferença entre os dois em 5. João 21: 15-17. Ambas as passagens,
João 3: 35 e 5: 20, afirmam que “o Pai ama o Filho”; mas o verbo na passagem
anterior é agapao e nesta última é fileo. É o amor do Pai pelo Filho em uma
passagem afeição natural e na outra um amor mais elevado? Ou é ele em um lugar
um amor pessoal e desarrazoado e na outra um amor de raciocínio mais conexo?
Penso que não. Outra vez, nas referências ao discípulo “a quem Jesus amava”,
agapao é usado de modo permutável no grego helenístico. Na Septuaginta, em Gên.
37:3, agapao é usado na afirmação de que “Israel amava a José mais do que a
todos os seus filhos”, porém no verso seguinte, onde nos é dito que “seus
irmãos vendo que seu pai o amava mais do que a todos os seus irmãos”, o verbo
empregado é fileo. Entretanto um e o mesmo verbo é usado em ambas as passagens
no texto hebraico. Conseqüentemente, eu não estou convencido por aquelas
interpretações que vêem mais significado na mudança de verbo em João 21: 15—17.” Answers to Questions, de F. F. Bruce, pág. 73.
Sem comentários:
Enviar um comentário