GLOSSOLALIA OU DOM DE LÍNGUAS
Introdução
O presente trabalho tem como objetivo estudar o abarcante e controvertido
tema do dom de línguas; tendo como finalidade principal traçar uma linha
divisória entre o verdadeiro e o falso, porque sabemos muito bem que para todo
movimento genuíno e inspirado por Deus, Satanás apresenta uma contrafação.
A Bíblia nos fornece a orientação segura para distinguir o veraz do
ilusório, portanto só ela determinará a distinção entre a verdadeira
glossolalia teopnéustica e a glossolalia inspirada pelo inimigo da Palavra de
Deus.
Sendo que através da história da Igreja nenhum dom espiritual tem
ocasionado tanta controvérsia como o dom de línguas, ele precisa ser bem
conhecido por nós.
Em nossos dias o moderno movimento de línguas tem despertado grande
interesse no mundo religioso. Basta citar que apenas nos Estados Unidos, as
estatísticas nos cientificam de que 2.000 pastores das igrejas filiadas ao
Conselho Nacional das Igrejas falam em línguas. De outro lado, calculam os
estudiosos, que também nos Estados Unidos, o número de católicos que falam
línguas atinge 100.000.
O escritor Robert G.
Gromacki, autor do livro Movimento Moderno de Línguas fez a seguinte
declaração:
“Os dons carismáticos estão se agigantando não somente entre professos
pentecostais, mas também entre religiões tidas como ortodoxas e muito mais
rígidas quanto a maneira de pensar. Hoje em dia, protestantes, católicos e
espíritas estão em comum acordo, que para solucionar os grandes problemas existentes
nas igrejas concernentes ao relacionamento de irmão para irmão, a solução é uma
só: apoderar-se de dons extraordinários como cura, profecia, e falar em
línguas. Isto vai ser o cimento que vai unir mais e mais os crentes em geral.”
Espero que este estudo ajude a iluminar a senda da verdade, clareando um
pouco mais o caminho dos que procuram palmilhá-lo com segurança.
Definições e Explicações
A palavra
glossolalia, de acordo com seus elementos constitutivos, significa:
Glossa = língua — lalia = o ato de falar (do verbo laléo), significando assim — falar línguas.
João F. Soren,
assim define:
“O dom de línguas
é um milagre divino em que, no exercício da vontade e sabedoria divinas, o
Espírito Santo concede a alguns crentes o poder de falarem em idiomas que não
aprenderam pelos processos naturais, e isto para o fim de testemunharem eles
de Jesus Cristo perante os que não crêem.”
Elemer Hasse o
define com bastante precisão:
“Dom de línguas é
a divina capacitação de se poder exprimir numa língua estrangeira.”
Em outras palavras: Dom de línguas é a possibilidade que o Espírito Santo
concede ao crente para falar um idioma totalmente desconhecido para ele.
Os comentaristas de um modo geral afirmam:
Esse dom consistia de poderes milagrosos conferidos aos apóstolos para
pregar o Evangelho a todas as nações nas suas respectivas línguas.
Ë bom saber que este dom não é necessário para a salvação da pessoa, mas
uma concessão dada por Deus para levar a salvação a outros.
O Interpreter’s Díctionary of the Bible, vol. 4, pág. 671 declara que
a glossolalia foi um notável fenômeno do cristianismo primitivo, mas logo a
seguir acrescenta que este fenômeno não estava circunscrito ao cristianismo,
desde que era encontrado em muitas das religiões do mundo antigo.
No livro A Doutrina do Espírito
Santo, pág. 51, João E. Soren afirma: “O fenômeno glossolálico é universal no
sentido que aparece nas mais variadas circunstâncias, tempos e lugares.
Encontramo-lo em o Velho Testamento. Descobrimo-lo nas religiões pagãs e
étnicas. Desponta em seitas neopagãs e em diversos ramos e grupos do
cristianismo primitivo, medieval e hodierno. Constatamo-lo ainda em
manifestações psicopáticas e psiconeuróticas, sem qualquer influência
religiosa.”
Se os dons são
concedidos por Deus para edificação da igreja (I Cor. 14: 12, 26), ele pode
conceder o privilégio de falar línguas para testíficar a seu favor, desde que
isto se torne necessário.
Comentários Gerais
O Batismo com o Espírito Santo e
o Falar Línguas
Indica a
Bíblia que toda a pessoa batizada com o Espírito Santo falaria línguas?
Os
pentecostais declaram de maneira enfática que os cristãos que recebem o
Espírito Santo precisam falar línguas.
Eis suas
declarações:
“Um cristão
que não foi batizado com o Espírito Santo, tendo como prova disso o falar em
línguas, é um fracalhão espiritual, comparado com aquilo que poderia ser caso
fosse batizado com o Espírito Santo, de acordo com Atos 2:4.”
É dogma entre as igrejas
pentecostais, que o batismo no Espírito Santo sempre vem acompanhado das
línguas.
A Constituição
das Assembléias de Deus afirma:
“O batismo no
Espírito Santo é testemunhado pelo sinal físico inicial do falar em outras
línguas, segundo o Espírito de Deus lhes concede.”
Esta afirmação
seria defensável pela Bíblia?
De modo nenhum,
pois uma pesquisa bíblica nos informa que de dezoito notáveis relatos do
batismo com o Espírito San
to, catorze não
apresentam nenhuma referência a línguas.
Na Igreja
Apostólica há muitas evidências da manifestação do Espírito Santo na vida e na
obra dos crentes sem o aparecimento do dom de línguas.
Os seguintes
exemplos são concludentes:
1o.)
Os sete diáconos foram homens cheios do Espírito Santo, mas não há nenhuma
menção de que tivessem falado línguas.
2o.)
Os samaritanos ao crerem na Palavra de Deus receberam o Espírito Santo, porém,
não foram agraciados com o dom de línguas.
O pastor
luterano Larry Christenson estudando os relatos sobre o batismo, no livro de
Atos, pergunta:
“Significará
isso que todo aquele que recebe o Espírito Santo fala em línguas — e que se
alguém não falou em línguas não recebeu realmente o Espírito Santo?”
Sua resposta
é: “Não creio que se possa tirar essa conclusão fixa das Escrituras.” Revista Trinity, vol. III. n. 1).
Que Significa ser Batizado com o
Espírito Santo?
O Espírito
Santo é descrito como vindo aos crentes antes do batismo (Atos 10: 44-48),
seguindo-se ao batismo (Atos 19:5, 6) e algum tempo indeterminado após o
batismo (Atos 8: 12-17).
Se a palavra
batismo significa “imergir”, o batismo pelo Espírito Santo indica que somos
imersos pelo Espírito Santo em Cristo. Esta idéia é confirmada pela descrição
paulina de Tito 3: 5-7. Ela é mais evidente na linguagem do Novo Testamento Vivo. “Então Ele nos salvou — não porque
fôssemos suficientemente bons para sermos salvos, mas por causa da Sua bondade
e compaixão — quando
lavou os nossos pecados e nos deu a nova alegria de sermos a morada do Espírito
Santo. Que Ele derramou sobre nós com maravilhosa abundância — e tudo por
causa daquilo que Jesus Cristo nosso Salvador fez, a fim de que Ele nos pudesse
declarar justos aos olhos de Deus.”
Requisitos para Receber o
Espírito Santo
A Bíblia nos apresenta quatro requisitos essenciais para o recebimento do
Espírito Santo:
1o.) Fé.
“E todos nós, como cristãos, podemos ter o Espírito Santo prometido por
meio desta fé” Gálatas 3:14.
2o.) Arrependimento.
“Cada um de vocês deve abandonar o pecado, voltar-se para Deus e ser
batizado no nome de Jesus Cristo para o perdão dos seus pecados: então vocês
também receberão o Espírito Santo, que será dado a vocês” Atos 2:38.
3o.) Obediência.
“Nós somos testemunhas destas coisas, e assim é também o Espírito Santo,
que Deus concede a todos os que lhe obedecem” Atos 5: 32.
Se obedecer a Deus é guardar os seus mandamentos, conclui-se que quem vive
em consciente violação de qualquer um dos Dez Mandamentos não poderá esperar
receber o Espírito Santo.
4o.)
Oração.
“E se gente
pecadora como vocês dá aos filhos o que eles precisam, não percebem que o Pai
celeste fará pelo menos tanto assim, e dará o Espírito Santo àqueles que O
pedirem?” Luc.11: 13.
O Dom de Línguas no Novo
Testamento
Há cinco
passagens do Novo Testamento mencionado o dom de línguas. Uma em Marcos, três
em Atos e uma em 1 Coríntios.
Ei-las em
ordem cronológica:
1. Marcos 16:17.
“Estes sinais
hão de acompanhar aqueles que creem: em meu nome expelirão demônios; falarão
novas línguas.”
Este dom é
mencionado por Cristo em forma de uma promessa, que lhes possibilitava pregar
o evangelho na linguagem daqueles que iam ouvir as boas novas de salvação.
O adjetivo
“novas” não quer dizer línguas inexistentes, como defendem alguns, mas línguas
estrangeiras que eles falariam sem as terem aprendido.
E interessante
saber que há em grego duas palavras para novo — néos e kainós.
Néos é novo no sentido de tempo, recente e kainós é novo na forma ou
qualidade. Cristo aqui usou kainós porque se referia ao novo não usado.
Roberto Gromacki no livro já anteriormente citado, página 72 afirma: “se o
falar línguas tivesse envolvido línguas desconhecidas nunca antes faladas,
então Cristo teria usado néos (novo em referência ao tempo). Mas, visto que ele
empregou kainós, tem que se referir a línguas estrangeiras, que eram novas
àquele que as falasse, porém, que já existiam antes”.
Eram idiomas novos para aqueles que os falariam. A denominação de novas
indicava o contraste com as línguas por eles faladas.
É Autêntica
a Terminação de Marcos
A Crítica Textual muito tem discutido sobre a autenticidade da conclusão
do evangelho de Marcos (16: 9-20). Os dois melhores e mais antigos manuscritos
completos da Bíblia, o Sinaítico e o Vaticano, não a contêm. Nenhum manuscrito
grego do quinto século tem os versos 9 a 20 do cap. 16. Embora os manuscritos
posteriores tragam estes versos, temos que concordar com as declarações do Dr.
A. T. Robertson, grande erudito grego e autor de uma das melhores gramáticas
para o Novo Testamento: “assim, os fatos são mui complicados, porém eles
argumentam fortemente contra a genuinidade dos vv. 9 a 20 de Marcos 16.” World
Pictures in the New Testament pág.
402.
Nota: Veja nesta Apostila o ponto: A Discutível Terminação do Evangelho de
Marcos.
O Desejado de Todas as Nações, pág. 611 declara o seguinte:
“Um novo dom foi
então prometido. Deviam pregar entre outras nações e recebiam poder de falar
em outras línguas. Os apóstolos e seus cooperadores eram homens iletrados, todavia
mediante o derramamento do Espírito, no dia de Pentecostes, sua linguagem,
fosse no próprio idioma, ou rio estrangeiro, tornou-se pura, simples e
correta, tanto nas palavras como no acento.”
II. Atos 2:1-13
Este relato circunstanciado do dia de Pentecostes (transliteração da
palavra grega pentekostes — cinqüenta,
quinquagésimo dia após a ressurreição de Cristo) é o mais significativo de
toda a Bíblia, onde nos informa que os apóstolos foram milagrosamente
capacitados para falarem em várias línguas a fim de que os presentes os
ouvissem falar em seus respectivos idiomas.
O falar línguas de Atos 2 era um sinal de que o dom do Espírito Santo tinha
sido dado aos apóstolos por Cristo, conforme sua promessa.
De maneira nenhuma pode-se defender que estas línguas eram celestiais,
extáticas, desconhecidas, ininteligíveis, espirituais. Por que? Porque esta
idéia não está contida na Bíblia. O relato divino é este: Não são, porventura,
galileus todos esses que aí estão falando? E como os ouvimos falar, cada um em
nossa própria língua materna? Lucas apresenta a seguir a relação de dezesseis
regiões linguísticas, cujos habitantes ouviam os apóstolos falarem nas línguas
de sua procedência.
O milagre de Pentecostes consistiu no seguinte: Deus concedeu aos
discípulos a faculdade de falarem nas línguas maternas representadas pelas
diversas nacionalidades mencionadas em Atos 2: 9-10. Este milagre era uma
evidência de que o Espírito Santo viera, e um sinal para os judeus de que
Jesus era verdadeiramente o Messias e ainda de que a mensagem apostólica era
verdadeira.
O livro Atos dos Apóstolos págs.
39 e 40 confirma as afírmações feitas:
“O Espírito Santo, assumindo a forma de línguas de fogo, repousou sobre a
assembléia. Isto era um emblema do dom então outorgado aos discípulos, o qual
os capacitava a falar com fluência línguas com as quais não tinham nunca
entrado em contato. . . . Esta diversidade de línguas teria sido um grande embaraço á proclamação do
evangelho; Deus, portanto, de maneira miraculosa, supriu a deficiência dos
apóstolos. O Espírito Santo fez por eles o que não teriam podido fazer por si
mesmos em toda uma existência. Agora podiam proclamar as verdades do evangelho
em toda a parte, falando com perfeicão a língua daqueles por quem trabalhavam.
Este miraculoso dom era para o mundo uma forte evidência de que o trabalho
deles levava o sinete do céu.”
Quase todos os comentaristas, através dos séculos concordam que os
discípulos, nesta ocasião, falaram as línguas das nações representadas em
Jerusalém. Alguns estudiosos declaram firmemente, que este milagre de pregar
numa língua, que a pessoa antes não conhecia, nunca mais se repetiu na História
da Igreja. Gromacki faz isto claro em Movímento
Moderno de Línguas, primeiro capitulo.
III. Atos
10:46.
“Pois os ouviam falando em línguas e engrandecendo a Deus.”
Temos aqui o relato do episódio acontecido, em Cesaréia, na casa de
Cornélio. Do relato de Lucas, se conclui que as línguas aqui mencionadas não
eram ininteligíveis, pois Pedro e os companheiros “os ouviam engrandecendo a
Deus”.
A diferença entre este relato e o de Atos 2 parece ser a seguinte: No
Pentecostes o falar em línguas foi o meio usado por Deus para anunciar o
evangelho aos judeus que vieram a Jerusalém. Na casa de Cornélio o falar
línguas foi um “sinal” para que os circunstantes cressem que Deus não faz
acepcão de pessoas. Atos 10: 34-35; 11:17.
IV. Atos
l9:1-6
Alguns varões de Éfeso, sobre os quais Paulo impusera as mãos “falavam
línguas e profetizavam”.
Pelo fato da discrição não entrar em pormenores, faltam-nos elementos para
conclusões mais definidas.
E. G. White nos informa que estes homens “receberam também o batismo do
Espírito Santo, que os capacitou a falar as línguas de outras nações e a
profetizar.” Atos dos Apóstolos, pág.
283.
V. 1
Coríntios 12 a 14.
Nestes capítulos não há o relato descritivo do dom de línguas. O pastor
batista João F. Soren, no artigo “O Dom de Línguas à Luz do Novo Testamento”
declara enfaticamente: “Não há evidência segura de que tenha havido em Corinto,
à luz da exposição do Apóstolo Paulo em I Cor. 12, 14, a manifestação do dom
carismático de línguas, ou seja a capacitação concedida pelo Espírito Santo
para que os crentes ali falassem idiomas que nunca estudaram ou aprenderam
normalmente, à maneira do que se verificou no dia de Pentecostes.” .
“Os coríntios competiam em
torneios poliglóticos na igreja, falando publicamente em idiomas estrangeiros
ou então tartamudeando em êxtase nervossa, para impressionar os ouvintes. Não
tinham eles o dom carismático de línguas. Isso era algo muito diferente do que
ocorrera no Pentecostes. Ao invês de darem um sinal convincente
do poder do evangelho para a salvação de todo aquele que crê, o sinal que davam
eles para os incrédulos era outro. A confusão, a balbúrdia era tal que, para os
incrédulos, a casa de Deus mais dava a impressão de ser uma casa de dementes. I
Cor. 14: 23.”
J. Reis Pereira, em artigo colocado no livro A Doutrina do Espírito Santo, pág. 77 nos esclarece:
“As línguas de I Coríntios eram sons ininteligíveis. Davam a aparência de
uma língua, mas ninguém poderia compreendê-la. Para interpretá-la seria
necessário um outro dom, o dom de interpretação. Tais são as línguas faladas em assembléias
pentecostais de nossos dias, o dom que
prova o batismo no Espírito Santo, segundo os pentecostais. Tais são as línguas faladas em igrejas de outras
denominações, até mesmo batistas, em nossos dias, ao que nos informam.”
“Línguas ininteligíveis, extra-humanas, sons incompreensíveis,
necessitando de um intérprete tais seriam as línguas da Igreja de Corinto,
segundo a interpretação que estamos considerando.”
Estudiosos competentes das Escrituras têm chegado à seguinte conclusão:
O falar línguas na Igreja de Corinto era um afastamento ou abuso do dom
recebido pelos 120 cristãos no Pentecostes.
Pelo relato de
Paulo sabemos que algumas poucas palavras compreensivas, tinham muito mais
valor do que centenas em uma língua desconhecida. “Dou graças ao meu Deus, porque
falo mais línguas do que vós todos. Todavia eu antes quero falar na igreja cinco
palavras na minha própria inteligência, para que possa instruir os outros, do
que dez mil palavras em língua desconhecida.” (I Cor. 14: 18 e 19). Em outros
escritos paulinos, referentes aos
dons do Espírito, não há nenhuma referência ao tão decantado dom de 1ínguas.
Veja Romanos 12 e Efésios 4.
Em Nota Adicional sobre I Cor. 14 o SDA
Bible Commentary declara entre outras coisas o seguinte:
“Que a língua falada sob a influência do dom em Atos 2 era uma língua
estrangeira, que poderia ser facilmente compreendida por um estrangeiro daquela
língua.
“A manifestação de I Coríntios era diferente daquela do dia de Pentecostes,
porque a língua não era uma língua falada por homens, e por este motivo nenhum
homem poderia entendê-la, a menos que estivesse presente um intérprete, que
possuisse o dom do Espírito para compreender a língua.” (I Cor.12:10).
“Após enumerar uma lista de características que devem ser notadas na
descrição paulina de I Cor. 14, acrescenta:
“Esta lista de características do dom torna claro que o apóstolo não está
tratando de um dom falsificado. Ele enumerou “línguas” entre os genuínos dons
do Espírito (cap. 12:8-10), e em nenhuma parte sugere que a manifestação descrita
no cap. 14 não é de Deus. Pelo contrário, louva-a (cap. 14:4, 17), alega que
ele falava em línguas mais do que os Coríntios (v. 18), desejava que todos
possuíssem o dom, e recomenda os crentes a não proibirem o seu exercício (v.
39). Seu objetivo através da discussão é mostrar o seu devido lugar e função
e advertir contra o seu abuso.”
Diferenças Entre o Dom de Atos 2 e o Falar Línguas
dos Pentecostais Modernos
Já vimos que as
línguas de Atos 2 foram de natureza sobrenatural, isto é, os apóstolos pelo
poder do Espírito Santo falaram línguas estrangeiras que não haviam aprendido
antes.
Se o movimento
pentecostal ou neopentecostal é uma volta ao padrão bíblico, então o movimento
carismático hodierno deve ser idêntico ao dos apóstolos. Se as línguas de Atos
2 eram línguas conhecidas, as de hoje também o devem ser.
Vejamos se os
fatos confirmam esta realidade.
Uma análise
imparcial e conscienciosa nos indica que as “línguas” destes movimentos
modernos não se assemelham a nenhuma língua conhecida.
Tal declaração
se baseia nos seguintes itens:
1o.) A ausência de qualquer
estrutura linguística.
2o.) O uso excessivo de
uma ou duas vogais apenas.
3o.) Os sons e os
vocábulos são totalmente desconhecidos.
William J.
Samarin, professor de antropologia e línguas da Universidade de Toronto, em seu
livro Tongues of Men and Angels, pág. 227,
afirma:
“Na
construção, bem como na função, as línguas
são fundamentalmente diferentes das línguas existentes.”
Esta sua
afirmação foi feita, depois de pesquisas baseadas no estudo de línguas
diferentes, faladas nas reuniões pentecostais na Europa e América do Norte.
Outra
declaração bastante conclusiva pertence ao Dr. William Welmers, professor de
línguas africanas da Universidade da Califórnia.
“Eu devo declarar sem reservas que
as gravações que examinei não se assemelham estruturalmente a uma língua. Não
há mais do que sons de vogais contrastantes, e poucos sons peculiares de
consoantes; estes combinam para formar bem poucos conjuntos de sílabas que se
repetem muitas vezes em ordem variada.” — Letter to the Editor Christianity
Today, 8 de novembro de 1963.
Explicações para o Moderno
Movimento de Línguas
Dentre as múltiplas explicações existentes estas se destacam por sua
preeminência:
1o. Ação diabólica.
Sabemos que antes do verdadeiro derramamento do espírito, Satanás irá
introduzir uma contratação.
“Naquelas igrejas que ele pode dirigir sob seu poder enganador, ele irá
fazer parecer que a bênção especial de Deus está sendo derramada; haverá a
manifestação do que é imaginado ser o grande interesse religioso. Multidões
exultarão que Deus está operando maravilhas por eles, quando a obra é de outro
espírito.” The Great
Controversy, pág. 464.
2o.) Fraude.
Os estudiosos destes movimentos afirmam ser comuns o engano, a simulação na
prática deste dom, bem como com os dons de curar, profetizar e outros.
Há muitos que fingem estar falando uma língua estranha quando na realidade
existe apenas exibicionismo.
3o.) Hipnose.
Esta é a explicação mais comum, do ponto de vista psiquiátrico e
psicológico, para a maioria dos casos de pessoas que falam “línguas”.
4o.) Catarse psíquica.
Ira Jay Martim explica o fenômeno das línguas como uma catarse psíquica.
Para esta classe, quando a pessoa aceita a Cristo, ela tem paz, confiança
em Deus, fica livre do pecado, enfim seria uma purificação ou catarse. Este
estado produz em muitos grande prazer, expressando estes sentimentos por
cânticos, testemunhos e falar línguas.
5o.) Orgulho espiritual.
Considerado como o clímax da experiência espiritual o fenômeno de línguas,
quando obtido facilmente, produz a exaltação própria. Este falar línguas leva
a pessoa a se orgulhar.
Gromacki, na obra já citada, no capítulo “A Natureza do Movimento Moderno
de Glossolalia”, estudando as fontes que podem determinar a experiência
glossolálica moderna, cita estas: divina, satânica, psicológica e artificial.
“Eu tenho sido instruída que quando alguém pretende exibir estas
manifestações peculiares (falar em línguas, dançar, gritar, pular, etc), isto é
uma evidência decisiva que não é obra de Deus.” Manuscrito 115, 1908.
Conclusão
Através do estudo feito concluímos que nenhum dom espiritual tem
ocasionado tanta controvérsia na Igreja como o dom de línguas.
A história nos
confirma que o fenômeno glossolálico não pertence exclusivamente à Bíblia,
desde que foi achado mesmo entre religiões pagãs.
Na realidade
aprendemos, que a verdadeira natureza da glossoláaia bíblica consistia de
línguas estrangeiras faladas por crentes, que nunca as haviam aprendido e que
este dom era controlado pelo Espírito Santo.
A glossolalia
moderna em sons desconhecidos não tem nenhuma base nas Escrituras Sagradas.
Os estudiosos
da moderna glossolalia crêem que estes fenômenos muitas vezes são explicados
pela psicologia e como o resultado da contrafação diabólica do verdadeiro dom
escriturístico.
Uma análise
das passagens bíblicas onde houve tais manifestações nos fornece a orientação
segura para a glossolalia.
Esta pode ser
assim sintetizada:
1a.
O objetivo deste dom nos dias apostólicos era evangelístico e não para servir
de sinal ou confirmação dos crentes.
2a.
Pelo estudo feito o dom relatado em Atos 2 referia-se a uma língua existente,
que a pessoa passava a falar com fluência pelo poder do Espírito Santo.
3a.
Não há nenhum indício de que fosse uma língua inteligível e extática.
4a.)
A finalidade principal deste dom era a edificação dos crentes e o
desenvolvimento da causa de Deus.
Objetivávamos
com o presente trabalho clarificar um pouco mais este tema, ajudando a sanar
dúvidas em asssunto tão controvertido. Esperamos que se este objetivo não foi
totalmente atingido, ao menos ele o tenha sido em parte.
Nota
Na elaboração
deste tema valemo-nos de Dicionários, Comentários, artigos de revistas,
estudos esparsos e de alguns livros, destacando.se entre estes por nos
fornecerem os melhores subsídios os três seguintes:
1) Movimento Moderno de Línguas de Robert G. Gromacki;
2) Luz Sobre o Fenômeno Pentecostal de Elemer Hasse;
3) A Doutrina do Espírito Santo do Parecer da Comissão dos Treze.
Quem se
interessar por uma visão mais ampla do assunto, deveria lê-los.
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