O grupo
religioso judaico mais conhecido da época de Jesus
é injustiçado
no imaginário popular cristão
“Os fariseus eram o grupo
religioso judaico mais próximo de Jesus”
Reinaldo W.
Siqueira Ph. D. em Antigo Testamento pela Andrews University EUA é professor de
Línguas e Exegese Bíblica e de Teologia do AT no Seminário Adventista
Latino-Americano de Teologia, em Engenheiro Coelho, SP.
Os“fariseus”
são, sem dúvida, o grupo religioso judaico mais conhecido da época de Jesus.
No entanto, entre os cristãos, a imagem deles é altamente negativa (“fanáticos”, “legalistas”, “hipócritas”). Uma
surpresa nos aguarda ao analisarmos os dados históricos.
O nome “fariseus”, em português, vem do grego farisaioi, o qual é derivado do nome hebraico perushim. Por sua vez, este nome vem da raiz parash,
que significa “separar”, “afastar”, “explicar”, “esclarecer”. Assim, o nome perushim é normalmente interpretado como “aqueles que se separaram” da sociedade
para levar urna vida consagrada
a Deus e ao estudo e
ensino de Sua Palavra.
É quase impossível estabelecer a origem dos fariseus como grupo religioso.
Todas as teorias propostas apresentam limitações e dificuldades. A hipótese mais provável é a de que eles se originaram do antigo grupo religioso judaico chamado
hassidim (“os piedosos”), que
apoiaram a revolta dos Macabeus (168-142 a.C.) contra Antíoco Epifânio, o rei
do império helênico da Síria, que quis implantar a cultura helênica no seu
reino, proibindo a prática da religião judaica na Judéia.
Foi nessa época que provavelmente apareceram: (1) os saduceus, clamando
ser os legítimos detentores do sumo-sacerdócio e da liderança religiosa em
Israel; (2) os fariseus, grupo que se voltou para a vida religiosa e o estudo da Torá; e (3) os essênios, grupo que, desiludido
com a situação, se afastou da sociedade e foi viver uma vida de total
consagração a Deus na região do deserto.
Segundo Flávio Josefo,
historiador judeu do 1o. século d.C.,
o número de fariseus na época era pouco mais de 6 mil pessoas. Eles estavam
intimamente ligados à liderança das sinagogas, ao seu culto e escolas.
Tratava-se de um grupo importante, embora minoritário, no Sinédrio, a suprema
corte religiosa e política do judaísmo da época.
Muitos fariseus tinham a profissão de “escriba” (no hebraico, sofer), ou seja, a
pessoa responsável pela transmissão escrita dos manuscritos bíblicos e da
interpretação dos mesmos. Duas escolas de interpretação religiosa dos fariseus
se tomaram famosas: a escola de Hillel, mais liberal, e a escola de Shamai,
mais estrita.
Os fariseus eram o grupo judaico mais próximo de Jesus. Por exemplo, Jesus
e os fariseus (1) defendiam a crença na ressurreição dos mortos (ao contrário
dos saduceus); (2) freqüentavam o Templo de Jerusalém e o consideravam a casa
de Deus (ao contrário dos samaritanos e essênios); (3) ensinavam a igualdade
de todos e o valor de cada individuo diante de Deus, numa perspectiva
“universalista”; (4) consideravam que a essência da lei era o amor supremo a
Deus e o amor ao próximo como a si
mesmo; (5) freqüentavam as sinagogas e participavam regularmente das festas
judaicas; e (6) da vavam um destaque especial à vida de oração.
A principal diferença entre Jesus e os fariseus era sobre a importância da
“tradição dos anciãos” (ou lei oral), isto é, os ensinamentos e interpretações
dos mestres e rabinos antigos sobre a Bíblia. Enquanto para os fariseus a lei
oral era a chave de
interpretação da lei escrita (Bíblia), para Jesus a lei escrita deveria ser a
regra para julgar a lei oral (Mateus 15:1-20).
Assim, Jesus era muito próximo e ao mesmo tempo totalmente independente do grupo dos fariseus.
Essa dialética de proximidade e independência naturalmente causou as mais
variadas reações. Durante todo o ministério de Jesus, muitos fariseus O
seguiam de perto, intrigados com Seus ensinos. Alguns se posicionaram como inimigos, enquanto outros O defendiam. No momento de maior crise, quando todos
abandonaram Jesus, foram dois fariseus, Nicodemos e José de Arimatéia, que tiveram
coragem de agir publicamente como Seus discípulos e usar de sua influência para
tirá-Lo da cruz e pô-Lo em uma sepultura (João 19:38-42). Muitos fariseus aceitaram a fé em Jesus como o Messias e se tornaram
membros da comunidade cristã primitiva. O principal pregador e apóstolo da fé cristã, Paulo, era um fariseu.
Sinais dos Tempos Julho-Agosto/2002
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