Já em
seus primeiros dias, a igreja enfrentou problemas relacionados às falsas
crenças — as chamadas heresias — e precisou lidar com elas.
Com o crescimento das heresias populares — em especial a do movimento
albigense na França —, a igreja adotou medidas mais severas. No IV Concilio de
Latrão, o papa Inocencio III estabeleceu a punição dos hereges pelo Estado,
permitindo até o confisco de suas propriedades. As autoridades seculares que
não fizessem esse favor à igreja arriscavam-se também a ser excomungadas.
A Inquisição, no entanto, só se organizou plenamente no
Sínodo de Toulouse, em 1229. Em resposta à leitura bíblica feita pelos cataros
— grupo étnico que assimilara muitos equívocos do maniqueísmo — e dos
valdenses, esse sínodo proibiu os leigos de possuir as Escrituras e começou a
atacar sistematicamente crenças consideradas inaceitáveis. O papa Gregorio IX
deu aos frades dominicanos o poder de defender a ortodoxia. Os dominicanos,
sujeitos somente à autoridade do papa, tornaram-se poderosa arma do arsenal
hierárquico da igreja.
Em 1252, o papa Inocencio iv autorizou a tortura como meio de
conseguir informação e a confissão nos casos de heresia. Ele acreditava que a
heresia era um "membro podre" que precisava ser amputado, caso
contrário contaminaria todo o corpo. A crueldade perpetrada contra os hereges
parecia um preço pequeno a ser pago na defesa da ortodoxia da igreja.
Ainda assim, a igreja não poderia derramar sangue e, por essa razão, entregava todos os hereges ao
Estado para que fossem executados. Eles normalmente eram queimados em
fogueiras.
Os governadores espanhóis do final do século xv, o rei
Fernando e a rainha Isabel, acreditavam que seu país só prosperaria quando fosse
verdadeiramente cristão. Pelo fato de mostrar grande devoção ao catolicismo, os
monarcas receberam do papa o título de "Reis Católicos". Em 1478,
pediram ao papa que estabelecesse a Inquisição na Espanha, e eles mesmos seriam
os inquisidores.
Muitos judeus e muçulmanos da Espanha aparentemente se
converteram ao cristianismo, mas sempre houve desconfiança de que estivessem
praticando secretamente sua antiga fé. Em 1492, os reis católicos expulsaram
todos eles de seu país.
Tomás de Torquemada, frei dominicano cujo nome se tornaria
sinônimo de crueldade, foi o inquisidor geral da Espanha. Embora parecesse um
cristão modelo na vida particular, pois era devoto e negava-se a si mesmo, esse
homem letrado levava seu zelo a extremos. Sob sua direção, muitas pessoas foram
levadas à fogueira, ao passo que outros pagavam pesadas multas ou sofriam penas
humilhantes.
Como a Inquisição tinha o poder de confiscar os
pertences dos condenados, ela nunca ficou sem dinheiro para continuar suas
perseguições. Ela também vendia a atividade de "familiar", que
transformava a pessoa em uma espécie de informante, que desfrutava liberdade,
pois, em troca da informação, o delator não era preso.
Embora o protestantismo estivesse se espalhando rapidamente
pela Europa, na Espanha ele caiu sob a forte mão da Inquisição. Ali, os livros
protestantes foram banidos e bastava a simples suspeita de que alguém era
protestante para que os inquisidores fossem
chamados. Embora poucos protestantes executados fossem espanhóis, a
lição ensinada pelo martírio dessas pessoas
foi suficiente para que muitos se voltassem para a Igreja Católica.
Como resultado, o protestantismo nunca progrediu na
Espanha, como aconteceu em outros países. Embora os protestantes também
enfrentassem perseguição no restante da Europa, ela não tinha a mesma fúria da
Inquisição espanhola, que durou até o século xix.
FONTE: OS 100 ACONTECIMENTOS MAIS IMPORTANTES DA HISTÓRIA DO CRISTIANISMO
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