Um destes domingos, no seu costumeiro programa na TVI, Marcelo Rebelo de Sousa falou do papel da mulher. Segundo Marcelo, a situação da mulher tem melhorado bastante. Hoje as mulheres são mais independentes, têm maior presença no mercado de trabalho, formam-se em maior número do que os homens nas universidades e são melhores alunas, ascendem com mais frequência a lugares de administração, etc., etc.
Tudo isto é verdade e tudo isto é estatístico. Mas este fenómeno só teve aspectos positivos?
Em duas gerações, a família mudou radicalmente.Quando eu era criança, a maior parte dos meus amigos
tinha a mãe em casa. As mães eram domésticas, donas de casa, como se dizia, e asseguravam a gestão familiar.
Quando os meus amigos chegavam da escola, a presença das mães em casa para os receber dava-lhes conforto e segurança.
A minha família era diferente - e, por isso, às vezes eu invejava-os. O meu pai vivia no estrangeiro e a minha
mãe era professora, pelo que eu não tinha em casa a mãe à espera. Mas tínhamos empregada (na altura dizia-se 'criada') que me assegurava a mim e aos meus irmãos a retaguarda. Abria-nos a porta quando voltámos das aulas, fazia-nos as refeições, ia às compras. E isso dava-nos algum equilíbrio. A casa funcionava o dia todo, nós sabíamos que lá havia sempre gente.
Esse mundo acabou. As casas das famílias da classe média estão hoje vazias durante todo o dia. Os miúdos acabam a escola e não podem ir para casa porque não há lá ninguém.
Têm de ir para actividades extra-escolares, onde os pais - exaustos e sem paciência - os vão buscar ao fim do dia, esperando que os filhos não exijam muito deles.
É evidente que esta família não interessa a ninguém.O pai não tem pachorra para tratar da casa nem dos filhos - na família tradicional também não tinha -, pelo que a mãe acaba quase sempre por ter de acumular o trabalho no emprego com o trabalho em casa, sentindo-se uma escrava do lar e apetecendo-lhe, por vezes, bater com a porta.
E este modelo de família também não interessa aos filhos, que passam o dia todo fora de casa e, quando vêem os pais à noite, estes já estão sem paciência para os aturar. Partindo do princípio de que fora da família é fácil encontrar o prazer efémero mas muito difícil construir a felicidade, é então necessário procurar no Ocidente um novo equilíbrio da família.
Esta situação que agora se vive não é nada.
Não é bom as mulheres casarem mais tarde. Não é bom as mulheres terem cada vez menos filhos. Não é
bom os bebés serem depositados em armazéns. Nãoé bom as crianças não terem ninguém em casa durante
todo o dia e serem forçadas a andar de actividade em actividade para encher o tempo. Nada disto é bom.
A emancipação da mulher não é, pois, um tema do futuro - é já um tema do passado. A questão que hoje
se coloca é saber como irá a sociedade ocidental resolver os problemas resultantes do 'progresso', de
que a emancipação da mulher foi um dos aspectos marcantes.
in facebook de Cristina Antunes (2012)
Em duas gerações, a família mudou radicalmente.Quando eu era criança, a maior parte dos meus amigos
tinha a mãe em casa. As mães eram domésticas, donas de casa, como se dizia, e asseguravam a gestão familiar.
Quando os meus amigos chegavam da escola, a presença das mães em casa para os receber dava-lhes conforto e segurança.
A minha família era diferente - e, por isso, às vezes eu invejava-os. O meu pai vivia no estrangeiro e a minha
mãe era professora, pelo que eu não tinha em casa a mãe à espera. Mas tínhamos empregada (na altura dizia-se 'criada') que me assegurava a mim e aos meus irmãos a retaguarda. Abria-nos a porta quando voltámos das aulas, fazia-nos as refeições, ia às compras. E isso dava-nos algum equilíbrio. A casa funcionava o dia todo, nós sabíamos que lá havia sempre gente.
Esse mundo acabou. As casas das famílias da classe média estão hoje vazias durante todo o dia. Os miúdos acabam a escola e não podem ir para casa porque não há lá ninguém.
Têm de ir para actividades extra-escolares, onde os pais - exaustos e sem paciência - os vão buscar ao fim do dia, esperando que os filhos não exijam muito deles.
É evidente que esta família não interessa a ninguém.O pai não tem pachorra para tratar da casa nem dos filhos - na família tradicional também não tinha -, pelo que a mãe acaba quase sempre por ter de acumular o trabalho no emprego com o trabalho em casa, sentindo-se uma escrava do lar e apetecendo-lhe, por vezes, bater com a porta.
E este modelo de família também não interessa aos filhos, que passam o dia todo fora de casa e, quando vêem os pais à noite, estes já estão sem paciência para os aturar. Partindo do princípio de que fora da família é fácil encontrar o prazer efémero mas muito difícil construir a felicidade, é então necessário procurar no Ocidente um novo equilíbrio da família.
Esta situação que agora se vive não é nada.
Não é bom as mulheres casarem mais tarde. Não é bom as mulheres terem cada vez menos filhos. Não é
bom os bebés serem depositados em armazéns. Nãoé bom as crianças não terem ninguém em casa durante
todo o dia e serem forçadas a andar de actividade em actividade para encher o tempo. Nada disto é bom.
A emancipação da mulher não é, pois, um tema do futuro - é já um tema do passado. A questão que hoje
se coloca é saber como irá a sociedade ocidental resolver os problemas resultantes do 'progresso', de
que a emancipação da mulher foi um dos aspectos marcantes.
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