Pronto. Acabei tudo com ela.
Não foi uma noite. Mas dez anos, de luta, frustração, aferroado de ira vivida
dia a dia.
Aquele marido iria dar um basta.
No começo foi tudo tão bonito. A proximidade do namoro, o interesse mútuo, a
alegria com o nascimento do primeiro filho.
Então chegou o dia em que ela não quis falar, surgiu uma camada impermeável,
uma distância invencível.
Estavam juntos em casa, mas a existência vazia. Só irritação, desprezo, e falta
de perdão, um clima denso de hostilidade.
"É claro que vou perdoar-lhe, mas antes o outro vai pagar um pouco o erro
cometido, ainda não é o momento". Assim ambos pensavam, e o silêncio e
apatia surgiram, se estendendo por dias, semanas e meses.
Esta situação é mais comum do que pensamos. Maridos e esposas tem por vezes a
convicção de que a pessoa que se comportou mal tem de pagar por seus erros.
A forma como são cobrados tais erros tornam a segunda situação pior que a
primeira.
E os filhos ficam assistindo passivos, sofrendo com as atitudes mútuas das duas
pessoas que eles mais amam e que deveriam se amar.
O mesmo ocorre quando as relações entre muitos pais e filhos são abaladas.
Ficam silenciosos desprezando uns aos outros.
Aquele lugar onde o perdão precisa ser mais praticado, torna-se num campo de
batalha, onde palavras que nunca deveriam ser ditas e atitudes e ações nocivas,
que jamais poderiam ocorrer, marcam o cotidiano de milhares de famílias.
O que fazer?
O primeiro passo é reconhecer que onde existem duas ou mais pessoas, como é o
caso de uma família, fatalmente os conflitos surgirão.
Temos uma experiência de vida diferente uns dos outros e nos unimos todos
debaixo do mesmo teto, ocorrendo cotidianamente escolhas próprias conforme o
gosto pessoal e a maneira de ver as coisas.
O passo seguinte então é descartar o mito que os casamentos e consequentemente
as famílias felizes não têm conflitos e disputas de opinião.
Tomemos alguns exemplos:
- Marido e esposa no supermercado escolhem um mesmo produto, mas de marcas e
preços diferentes.
- O marido quer assistir ao futebol, a esposa quer ver um filme e os filhos
querem assistir desenhos animados, ou brincar lá fora com os pais.
A esposa quer sair para passear, já o esposo prefere ficar em casa, pois
ficou fora a semana toda.
Assim poderíamos citar centenas de situações, que agora nos parecem muito
simples, mas que no momento podem gerar tensões que tiram a paz e a alegria do
convívio familiar.
Este conflito de interesses é natural e faz
parte da dinâmica da vida humana. Deve então haver unidade e não uniformidade,
deve haver diálogo e não confronto verbal. Precisamos discutir, sem brigar,
comentar o assunto e não desfazer da outra pessoa, reagindo geniosamente.
Se vejo a situação desta forma e compreendo a dificuldade humana que tenho e o
outro tem, devo encarar então o problema de maneira mais positiva.
Devo estar pronto a perdoar.
Como podemos entender o perdão?
O perdão não é esquecer. Quando se perdoa não se tem amnésia.
Esquecer é o resultado de se perdoar e não a causa.
No caminho do perdão encontramos uma dificuldade que é de aceitar o sofrimento
que o outro lhe impôs sem você merecer.
Quem perdoa sempre assume o prejuízo.
Se uma criança, filha de uma visita, quebra o vidro da mesinha da sala, e você
perdoa, sua amiga sai livre, mas você assume o prejuízo.
Se você empresta dinheiro e o devedor não pode pagar e você lhe perdoa a
dívida. Ele sai livre e você fica com o prejuízo.
Não foi assim que Deus fez, assumindo nosso prejuízo, a morte através de Jesus?
Dizer que não foi nada, quando a ofensa ocorreu e eu me magoei não é honesto. O
que fazer então?
Quem perdoa não valoriza a ofensa, mas o outro.
Quem perdoa não senta no túmulo das lembranças desagradáveis.
Quem perdoa aceita outro como ele é, embora não concorde com suas atitudes
negativas.
Ninguém é tão mal que Deus não o ame.
Ninguém está excluído do perdão de Deus, a menos que se exclua.
Todos temos valor, pois Jesus morreu por nós.
Se você deixa de dar o perdão até que o ofensor o mereça, nada feito. Isso não
é perdão.
Perdoe imediatamente.
Ore a Deus e perdoe quando sentir a primeira mágoa, antes que seja dominado
pela amargura.
O tempo passa rápido, não desperdice com amargura, custa menos perdoar do que
manter viva a mágoa.
Não espere o outro lhe pedir perdão, faça como Deus, ofereça.
O perdão é uma experiência contínua, diária, constante, enquanto existir
imperfeição precisamos perdoar e ser perdoados.
O que passou, passou ao passado nada pode mudá-lo, porém o seu significado pode
ser mudado.
Perdoe e seja feliz.
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