O ser humano quase sempre está descontente com o que tem e, na maioria das vezes, acredita que "a grama do vizinho é mais verde". Isso aconteceu com o povo de Israel quando viu uma aparente prosperidade entre as nações pagãs que, diferente deles, eram governadas por um rei humano como o cabeça da nação e apelaram ao profeta Samuel para que "convencesse" a Deus de que sabiam o que era melhor para a vida de todos eles (1Sm 8).
O povo não parou para pensar que Deus é o melhor de todos os reis (Ap 19:16) e que o sistema de governo Teocrático (centralizado em Theós, ou seja, em Deus) era o mais seguro para todos os que não quisessem correr riscos de serem injustiçados por causa das falhas de algum governante humano.
Com certeza, o Rei Eterno sentiu-se rejeitado por aqueles a quem tanto amou. Embora tendo libertado o povo da escravidão egípcia por meio de milagres e provas incontestáveis de que Ele estava no controle da vida deles, para que fossem felizes e prósperos de verdade, como um grande Cavalheiro, Ele respeitou o desejo dos Seus filhos descontentes sem, todavia, deixá-los entregues ao azar.
1Samuel 9 e 10 contam detalhes de como o Senhor escolheu Saúl e encheu-o do Espírito Santo (1Sm 10:6,9,10) para que ele, mesmo tendo os seus defeitos de caráter, aproximasse o povo de Deus através de um reinado justo e de pura dependência da graça divina para obtenção do êxito e vitórias diante das nações pagãs que sempre os ameaçavam de todos os lados.
Porém, nem sempre o Espírito Santo pôde habitar em Saúl. A Bíblia diz que, depois de ele se ter rebelado abertamente contra Deus, sem buscar um arrependimento sincero, a Terceira Pessoa da Divindade abandonou-o (1Sm 16:14), por ele ter ido tão longe no pecado que não mais poderia ouvir a voz de Deus a falar-lhe na consciência.
O que chama a atenção (e que motiva essa resposta) é a declaração bíblica de que após o Espírito Santo ter abandonado o perverso rei Saúl, "um espírito imundo maligno, vindo da parte do SENHOR, atormentava-o" (1Sm 16:14). Como pode a mesma Bíblia dizer que o Criador "envia" espíritos maus para atormentar pessoas rebeldes, sendo que, ao mesmo tempo, em Tiago 1:13 e 17, a Palavra de Deus declara que "Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta" e que "Toda boa dádiva e todo o dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes(...)"?
Encontramos a resposta no próprio contexto da declaração e em outros textos bíblicos paralelos onde o Senhor é apresentado não como o originador do mal- mas sim o Diabo.
Em 1Samuel 16:15, vemos que foram os oficiais de Saúl e não a Bíblia quem afirmou que o "espírito maligno" (ou "imundo"): "Os oficiais de Saul disseram-lhe: 'Há um espírito maligno, mandado por Deus, atormentando-te'."
Perceba que esta era uma crença dos oficiais de Saúl e não dos autores bíblicos inspirados. Samuel está simplesmente a registar uma opinião corrente naqueles dias, de que Deus era o responsável por tudo o que acontecia no mundo. A Bíblia apresenta uma imagem de Deus bem diferente da que foi pintada pelos amigos de Saúl. Os textos a seguir serão suficientes para o ajudar a entender que Deus não envia espíritos maus para atormentar as pessoas que o rejeitaram, mesmo, claro, que ao sair da presença do criador, a pessoa fique mais vulnerável a isso:
- O responsável pelo mal é um anjo caído e não Deus: "Tu eras inculpável nos teus caminhos desde o dia em que foste criado até que se achou maldade em ti" (Ez 28:15).
- O mal não habita com Deus e , por isso, demónios não podem sair da presença de Deus para atormentar as pessoas: "Tu não és um Deus que tenha prazer na injustiça; contigo o mal não pode habitar" (Sl 5:4)
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