O último capítulo de
“Estrela-Guia”, apresentado no dia 16 de junho, encerrou a novela global de
maior sucesso dos últimos cinco anos, no horário das seis. Em seus melhores
momentos a trama atingiu os 38 pontos de audiência, O equivalente a 3 milhões
de telespectadores só na Grande São Paulo. A explicação para tamanha atração do
público foi a presença da pop star Sandy,
que assumiu o papel de Cristal. Entre encontros e desencontros no amor e nos
negócios, ela meditou, cantou mantras, e pregou a paz e o amor.
Seguindo esse
exemplo, outras tantas novelas, seriados, filmes e programas auditório têm
aderido ao misticismo light como isca para atrair a atenção das
massas. A prova é que “Estrela-Guia” nem precisou apelar às costumeiras cenas
de sexo para atingir picos de audiência. Por isso, também é comum, nas tardes
de domingo, a presença de magos, bruxos e videntes nas telinhas brasileiras.
Eles disparam previsões e ensinam técnicas de como capturar “energias positivas”.
Na Internet, o
fenômeno é igualmente significativo. Os principais portais brasileiros, além
dos tradicionais horóscopos oferecem farto material místico-esotérico. O
Guruweb, escolhido como melhor site de esoterismo entre os internautas, é o
maior exemplo. Abrigado no portal Globo.com, tem informações sobre as mais
variadas modalidades de misticismo. Ao preço popular de 20 reais é oferecido
um mapa astral. Esse mesmo serviço pode custar mais de 200 reais, em uma
consulta pessoal. E por 12 reais consegue-se a leitura do “trânsito dos
planetas”, que pretensamente estabeleceria previsões para os 30 dias
seguintes.
O mercado
editorial também acompanha a tendência. O bruxo Paulo Coelho, autor de diversos
best-sellers, hoje divide a
atenção dos leitores com uma nova safra de videntes que preenchem as
prateleiras das livrarias. O monge budista Dalai Lama, líder tibetano, é um
dos mais recentes sucessos. Seu livro A
Arte da Felicidade chegou próximo dos 200 mil exemplares vendidos, em
apenas dois meses após o lançamento.
Para o monge,
chamado de Sua Santidade, por seguidores, a receita da felicidade é
desvencilhar-se do apego materialista e alcançar uma integração com o Universo,
que esta além da realidade palpável. Mostrar como esse caminho pode ser trilhado
é também a fórmula para alavancar suas vendas. De acordo com ele, o mundo
atual é diferente do passado apenas no desenvolvimento material. “No nível
mental ou emocional, no desejo de ser mais Feliz, as pessoas são as mesmas de
mil anos atrás”, declarou à revista Época.
Por isso, os atuais gurus recheiam as páginas de suas obras com os conselhos
do velho Buda.
Consolo
para o desencanto — De fato, a constatação do líder tibetano é atestada
pela realidade. Para os crédulos de que as luzes da razão dariam um xeque-mate
na religiosidade, a atual irrupção do místico parece surpreendente. Porém
todo o desenvolvimento da sociedade ocidental não foi capaz de atribuir maior
significado à existência humana. Assim, a espiritualidade de cunho
orientalista passa a ganhar cada vez mais adeptos em um mundo que perdeu a fé
no Deus histórico e desencantou-se com a razão.
Em maio, a
revista Isto é informou que apenas uma de várias associações
budistas no Brasil contabilizava cerca de 150 mil integrantes. Há 10 anos o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciava mais de 230
mil discípulos de Buda no país. Entretanto, o praticante não precisa estar
filiado a alguma associação. Basta seguir as técnicas de meditação à procura
de uma suposta luz interior”. É o caso da esotérica Elba Ramalho. “Não me
considero de nenhuma religião; eu busco Deus”, afirma.
Dentre as
técnicas de meditação, atualmente a mais difundida é a ioga. Segundo a revista
Time, 75% das aca.demias oferecem aulas de ioga, nos Estados Unidos. E cerca
de 15 milhões de norte-americanos são praticantes dessa atividade que mistura
exercício e meditação. Como em outras áreas, no Brasil não há estatísticas sobre
o assunto. Mas de acordo com profissionais ligados à saúde e ao esporte a
tendência dos brasileiros é acompanhar a onda.
Nascida na
Índia, há pelo menos 3 mil anos, a ioga atualmente vai desde o fitness, com
ênfase nos exercícios de relaxamento, até a meditação transcendental, com
destaque para os aspectos espirituais. Porém qualquer prática de ioga tem a
clara finalidade de estabelecer um diálogo entre o corpo, a mente, o espírito e
o cosmos.
Busca
do diálogo — O crescente processo de isolamento social, que separa
as pessoas do convívio, seria também um dos impulsos para a busca de maior
relacionamento do interior com a natureza e o Universo, segundo o filósofo
italiano Aldo Terrin, no livro Nova Era —
A religiosidade do pós-moderno. “Como
não consegue dialogar com seu vizinho, [o indivíduo] dialoga com as plantas,
consigo mesmo, mas sobretudo com os astros, com as estrelas do céu”, ele
constata.
O dialogo com os astros não está limitado, hoje,
ao simulacro místico realizado pela indústria do entretenimento. Mais de 1,5
mil astrólogos ligados a associações de classe desempenham a atividade no
país. São procurados por gente de destaque social e contas bancárias
inacreditáveis. Entre eles, António Ermirio de Moraes, líder do Grupo
Votorantim, e Max Feffer, dono da Companhia Suzano de Papel e Celulose. Das
intrincadas conjunções de estrelas e planetas, r e c e b e m aconselhamento
para seus negócios astronômicos. Para atender as necessidades dos homens de
negócio, Adonis Saliba, professor de física nuclear, desenvolveu a
“astrologia financeira”. Um programa de computador criado por ele oferece, a cada
cinco minutos, mapas astrais da Bolsa de Nova Iorque. No amor, nos negócios e
em qualquer situação de escolha, há videntes dispostos a vender suas previsões
pela leitura dos astros.
Conciliação
impossível
— E impossível, porém, viver pés da cruz
de Cristo e ao mesmo tempo prostrar-se perante o altar de Buda ou tomar como
verdadeiras as profecias do zodíaco. Em 2a. Timóteo 3:5, o apóstolo
Paulo adverte que nos últimos dias muitos vão estar ligados nominalmente à
religião cristã, “mas rejeitarão o seu verdadeiro poder”.
E isso o que acontece quando aqueles que se intitulam seguidores
do Evangelho se aliam ao misticismo oriental. Esse modelo religioso faz do
ser humano seu próprio deus. A pretendida habilidade de canalizar a energia
espalhada no cosmos, em proveito próprio, tem o fim de excluir a necessidade
do Deus pessoal, histórico e onipotente. De acordo com Aldo Terrin, “toda cultura
tem o Deus que merece, e a nossa época, narcisista, egocêntrica, sem ideais
sociais e sem nenhuma aspiração metafísica, está forjando para si urna
concepção do divino que transparece do seu próprio modo de viver”.
A negação da
soberania de Deus aliada ao pragmatismo da vivência mística faz com que, na
atualidade, a submissão à vontade Superior pareça totalmente dispensável.
Nessa religiosidade ao estilo self-service,
cada um escolhe os próprios métodos e fórmulas de se relacionar com o
divino. O que importa no fim das contas é o resultado.
Diferente da
atual tendência, a Bíblia afirma que o Todo-Poderoso é soberano e está acima de
qualquer criatura. “Os céus proclamam a gloria de Deus, e o firmamento anuncia
as obras de Suas mãos” (Sal. 19:1). A natureza e o cosmos não podem ser
confundidos com Deus, pois são reflexo de Seu poder criador.
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