UMA REFLEXÃO SOBRE O
PROBLEMA
DO ABUSO INFANTIL
Resumo: Este
artigo tem o objetivo de descrever, panoramicamente, o
problema
do abuso sexual. Discute o assunto a partir de uma perspectiva
bíblica e
o identifica como uma herança negativa das influências liberalizadoras
da
revolução sexual. Trata ainda, sucintamente, da prevenção e tratamento do
abuso.
A
revolução sexual do século passado (1960-1980) produziu resultados
positivos
e negativos. Como positivo, pode-se mencionar a superação da
perspectiva
pecaminosa sobre o sexo, uma herança da teologia agostiniana.1
Na
verdade, os efeitos da revolução sexual foram mais negativos do que
positivos.
Entre os efeitos negativos, destaca-se, lastimavelmente, o aumento
do índice
de abusos sexuais.
A palavra
abuso provém do latim abusus.2 O prefixo ab significa
“afastamento,
separação”.3 Assim, quando alguém se afasta do “uso” normal,
comete “abuso”.
Por sua vez, Maria H. Diniz define abuso como: uso
excessivo,
impróprio ou injusto de alguma coisa; excesso no exercício de uma
função ou
exercício irregular de um direito; ato contrário à lei, à moral e aos
bons
costumes; ato ilícito, imoral, anti-social; violência sexual; estupro;
defloramento.4
Por
definição, abuso é uma situação abrangente que envolve mais do
que a
questão sexual. O histórico do imperador romano Nero é um exemplo
notório.
Era filho de Gneu Domício Enobarbo com Agripina. Casou-se com
Otávia,
mas teve uma amante por nome Popéia Sabina, que era casada com
Marcos
Otho. No ano de 62, Nero se divorciou de Otávia e a acusou de
adultério,
por isto, ela foi condenada à morte. Depois, casou-se com Popéia
Sabina. O
historiador Suetônio informa que Nero matou Popéia Sabina à
pontapés
porque ela reclamou de sua tardança. Ele ficara assistindo corridas
de
cavalos com carruagens. Na ocasião ela estava grávida. Ainda segundo
Suetônio,
Nero tentou envenenar a mãe três vezes, mas não conseguiu matála.
Em outra
oportunidade fez com que o teto do quarto caísse sobre a mãe,
porém,
ela conseguiu escapar. Mais tarde, armou um plano para que o barco
no qual
ela navegava afundasse. A embarcação naufragou na Baía de Nápoli,
mas sua
mãe escapou nadando até a praia. Por fim, conseguiu seu intento.
Nero
contratou um assassino que esfaqueou a mãe até a morte.5
Depois
que matou Popéia Sabina a pontapés, Nero castrou Sporus e se
casou com
ele. Realizou uma cerimônia de casamento com todas as pompas a
que tinha
direito. Vivia com ele como se fosse sua esposa.6 No ano de
64 d.C,
Roma foi
destruída por um incêndio que durou seis dias. Suetônio conta que
Nero
subiu numa torre para cantar e contemplar as chamas a consumirem
Roma. O
imperador procurou um “bode expiatório” para culpar pelo incêndio da
capital
do império. Encontrou-o numa nova seita religiosa, os cristãos. Muitos
deles
foram presos e lançados às feras no circo. Outros tantos foram
crucificados.
Muitos foram queimados até a morte para iluminar os jardins de
Nero.
Enquanto as “tochas” humanas queimavam, o imperador se unia aos
espectadores
para contemplar a cena.7
Assim, os
atos malévolos perpetrados por Nero como o adultério com
Popéia
Sabina, o assassinato de sua mãe e de sua segunda esposa, o
convívio
com um eunuco como se fosse mulher, a culpa injustamente colocada
nos
cristãos pelo incêndio de Roma e a condenação deles à morte se
constituem
em verdadeiras atitudes abusivas.
1. PERSPECTIVA
BÍBLICA DO ABUSO
Conforme
a Bíblia, “pecado é a transgressão da lei” (1Jo 3:4). O primeiro
ser
criado por Deus a pecar contra Ele foi Satanás, deste modo, ele se tornou o
primeiro “abusador”
do universo. Ele investiu contra: Deus, seu caráter, sua lei
e seu
governo. Não satisfeito, Satanás continuou sua obra abusiva na Terra, na
qual
levou Adão e Eva a pecarem contra Deus (Gn 3:2-4).
Inicialmente,
Deus dissera a Adão e a Eva “de toda árvore do jardim
comerás
livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não
comerás;
porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2:16,
17). A
vida e a felicidade da raça humana dependiam da decisão de atender ao
“não” de
Deus. Este mandamento era uma delimitação do poder e da liberdade
do casal.
Assim, o bem-estar deles dependia da aceitação dos limites
colocados
por Deus.
Quando o
tentador se aproximou de Eva, ele investiu diretamente contra
a
restrição imposta por Deus, “a serpente disse à mulher: É certo que não
morrereis.
Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão
os olhos
e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal” (Gn 3:4, 5).
Estava
implícito nas palavras de Satanás que a lei de Deus era
desnecessária.
É como se ele estivesse dizendo “eu garanto que você é uma
pessoa
livre. Não existem limites para você. Coma!”. Este é o grande engano
do
inimigo. Não há necessidade de leis. Todos são livres para fazerem o que
desejarem.
A
desobediência de Eva, comendo do fruto proibido, configurou-se no
primeiro
ato abusivo na face da Terra. Logo depois, Adão cometeu o mesmo
engano e
se uniu a esposa na transgressão. Por esta perspectiva, a
desobediência
de Adão e Eva se constituiu num uso indevido da liberdade
concedida
por Deus, um verdadeiro ultrapassar dos limites divinos.
Neste
momento da discussão é oportuno que se apresente o ponto de
vista do
direito sobre abuso. Conforme Castelo Branco, “qualquer transgressão
é abuso”.8 Fica
evidente, portanto, que todo abuso é um tipo de pecado. Isto
confirma
a etimologia da palavra, pois o latim abusus significa um afastamento
do uso
normal.
Por sua
vez, a Bíblia narra diversas situações abusivas: os homens de
Sodoma
quiseram abusar dos anjos (Gn 19); Jacó roubou a bênção de Esaú
com
mentiras (Gn 27); Diná foi abusada por Siquém (Gn 34); a concubina do
levita
sofreu abuso sexual e morreu em função do mesmo (Jz 19-21); Davi
adulterou
com Bate-Seba (2Sm 11-12); Amnom cometeu incesto com sua irmã
Tamar
(2Sm 13); Amnom foi assassinado por Absalão (2Sm 13); o infanticídio
ordenado
por Herodes, cujo principal propósito era o de tirar a vida de Jesus, o
presumido
rei de Israel (Mt 2:16-18). Por fim, o ato mais abusivo do universo foi
cometido
contra Jesus Cristo, ao ser condenado injustamente a morrer na cruz
do
Calvário.
Como se
notificou acima, abuso é uma ação anormal que abrange
qualquer
tipo de transgressão, seja da lei de Deus ou dos homens. Antes que
se aborde
o tema do abuso infantil, é necessário que se faça uma análise
sucinta
do histórico que antecedeu a revolução sexual, uma das principais
causas
sociais dos abusos sexuais do presente.
2. REVOLUÇÃO
SEXUAL E AUMENTO DOS ÍNDICES DE ABUSO SEXUAL
As
estatísticas indicam que os índices de abuso sexual estão crescendo,
quais
seriam os motivos? Uma breve retrospectiva na história do século
passado
permite que se encontrem as raízes dos “abusos”, hoje tão comuns.
Na
verdade, a revolução sexual das décadas de 1960-1980 foi quem
contribuiu
consideravelmente para o crescimento alarmante de abusos sexuais
contra as
crianças, jovens e mulheres.
Dentre as
principais influências da revolução sexual, destacam-se três
pensadores, Friedrich Nietzsche, Wilhelm Reich e
Herbert Marcuse. Em sua
obra Assim
Falava Zaratustra, Nietzsche (1844-1900) concita o homem a
assumir a
morte dos deuses e a se dedicar intensamente aos valores terrenos:
Meus irmãos, permaneceis
fiéis à terra com todo o poder da vossa retidão.
Sirvam à terra o vosso
amor dadivoso e o vosso conhecimento. Eu vo-lo rogo,
e a isso vos suplico.
Não deixeis a vossa
virtude fugir das coisas terrenas e esvoaçar contra
paredes eternas. Ai! Tem
havido sempre tanta virtude extraviada!
Restituí, como eu, a
virtude extraviada à terra. Sim; restituí-a ao corpo e à vida,
para que dê à terra o seu
sentido, um sentido humano [...]
Solitários de hoje, vós,
os afastados, formareis um povo algum dia. Vós que
vos haveis escolhido a vós
mesmos, formareis um dia um povo eleito do qual
nascerá o super-homem
[...]
Todos os deuses morreram;
agora viva o super-homem! Seja esta, chegando o
grande meio-dia, a vossa
última vontade.9
Nietzsche
deu o golpe mortal na crença em Deus. Outro ataque
significativo
contra a fé e a moral cristã veio por parte de Wilhelm Reich (1897-
1957).
Ele afirmou:
A existência de princípios
morais rigorosos tem sido sempre uma prova de que
as necessidades
biológicas, especialmente as necessidades sexuais do
homem, não estão sendo
satisfeitas. Toda regulamentação moral é
sexualmente negativa, isto
é, nega as necessidades sexuais naturais. Toda
moral nega a própria vida,
e a revolução social parece não ter tarefa mais
importante do que
possibilitar finalmente ao homem, ao ser humano vivo, a
satisfação e realização da
sua vida.10
Com a “morte”
de Deus proclamada por Nietzsche, o combate a
regulamentação
moral perpetrado por Reich, faltava apenas um
“empurrãozinho”
para que a revolução sexual explodisse. Isto foi realizado por
Herbert
Marcuse (1898-1979). Este se mobilizou contra os valores morais da
religião
judaico-cristã, segundo a qual o homem tinha que “comportar-se como
um ser
superior, vinculado a valores superiores; [onde] a sexualidade tinha de
ser
dignificada pelo amor”.11 Marcuse anteviu as conseqüências de sua
proposta,
quando diz que, ocorreria “uma desintegração das instituições em
que foram
organizadas as relações privadas inter-pessoais, particularmente a
família
monogâmica e patriarcal”.12
Estes foram
os principais antecedentes da revolução sexual, cujas
primeiras
manifestações públicas ocorreram na França. Como exemplo,
menciona-se
o grafite “É proibido proibir”, que apareceu nos muros de Paris em
1968.
Frases como esta “incendiaram desejos e alimentaram sonhos em todo o
mundo”.13
A seguir,
destaco alguns dos diversos prejuízos influenciados pela
revolução
sexual. O primeiro deles é a gravidez na adolescência. Uma, em
cada sete
crianças nascidas nas Américas, é filha de mãe adolescente, num
total de 2,5
milhões de bebês por ano.14 O crescimento explosivo da gravidez
precoce
também pode ser observado na demografia do Estado de São Paulo.
Enquanto
a população cresceu 40% na década de 1970-1980, o número de
partos
entre adolescentes de 15 anos, aumentou 300%; e entre as de 16 anos,
cresceu
127%, neste mesmo período.15 Em nível de Brasil, entre 1976 e 1994,
o número
de adolescentes que engravidaram com menos de 15 anos de idade
saltou de
2.223 para 11.457. Trata-se de um aumento da ordem de 391%, num
período
em que o crescimento populacional brasileiro foi de 42,5%.16
O aborto,
por sua vez, é uma conseqüência natural do aumento da
gravidez
indesejada. Em 1997, apenas nos hospitais do SUS (Sistema Único
de Saúde)
foram recebidas 241 mil adolescentes, que sofreram a ação de
abortos
malfeitos e se submeteram a curetagem.17 O mais alarmante de tudo,
como
demonstra pesquisa do IBGE, é que 20% das mortes de adolescentes
brasileiras
ocorrem em função do aborto.18 Geralmente, as vítimas destas
mortes,
que poderiam ser evitadas, pertencem às classes pobres da sociedade
brasileira.
Elas não têm acesso às clínicas clandestinas, como as meninas de
classe
média, que pagam em torno de dois mil a três mil reais por aborto
feito.19
Outro
grave prejuízo da revolução sexual foi o aumento vertiginoso das
doenças
sexualmente transmissíveis (DST). Há cerca de 35 anos, a medicina
estudava
apenas cinco DST: sífilis, blenorragia, linfogranulomatose inguinal,
cancro
mole e granuloma venéreo.20 Hoje, quase quatro décadas depois do
início da
revolução sexual, a medicina catalogou mais de 50 DSTs.21
Gravidez
na adolescência, aborto e doenças sexualmente transmissíveis
são
alguns dos vários prejuízos causados pela liberação sexual. Também
poderia
se mencionar a prostituição na adolescência e o abuso infantil. Todos
são
conseqüências de uma onda liberalizante desencadeada pela revolução
sexual,
cuja frase “é proibido proibir” sintetiza o principal motivo das ações.
Em
recente artigo para a seção “Folha Ilustrada” do jornal Folha de
S.Paulo,
Ferreira Gullar comentou as conseqüências da ideologia representada
pelo
grafite “É proibido proibir”. De acordo com o escritor “tudo isso era muito
divertido,
mas a verdade é que contribuiu para minar o princípio de que a
sociedade
necessita de normas, já que, sem elas, mergulharíamos no arbítrio,
na
violência e no caos.22
O índice
alarmante de abuso infantil demonstra o desrespeito contra as
normas
morais cristãs que restringem a atividade sexual ao casamento
monogâmico.
Todavia este quadro caótico que caracteriza a sociedade atual
nada mais
é do que um cumprimento da profecia bíblica, “nos últimos dias,
sobrevirão
tempos difíceis, os homens serão egoístas [...] sem domínio de si,
cruéis,
inimigos do bem [...] mais amigos dos prazeres que amigos de Deus”
(2Tm
3:1-5).
3. O ABUSO
INFANTIL
Em 1999,
a Organização Mundial da Saúde (OMS) promoveu um
encontro
de especialistas no combate ao abuso infantil. Ao final do mesmo,
chegou-se
a seguinte definição o abuso ou maltrato infantil constitui toda forma de maltrato
físico e/ou psicológico,
abuso sexual ou tratamento negligente ou comercial ou outra forma de exploração que
cause ou possa causar dano à saúde da criança, à
sua sobrevivência ou
dignidade no contexto de uma relação de
responsabilidade,
confiança ou poder.23
Por
violência contra a criança se entende que é “toda forma de violência
física ou
mental, dano ou abuso, negligência ou tratamento negligente, maltrato
ou
exploração, incluindo abuso sexual”.24
3.1.
Estatísticas norte-americanas sobre abuso infantil
Tendo-se
em vista os registros policiais do ano de 2005 nos Estados
Unidos,
899 mil crianças foram vítimas de abuso e negligência.25 A seguir,
os
tipos
comuns de maus tratos: 62.8% - 564.572 vítimas de negligência; 16.6% -
149.234
vítimas de abuso físico; 9,3% - 83.607 vítimas de abuso sexual; 7,1% -
63.829
vítimas de maus tratos emocionais.26
É um
triste quadro de sofrimento físico e emocional impetrado contra um
elevado
número de crianças norte-americanas. Lastimavelmente, esta é uma
das
conseqüências da revolução que “liberalizou” exageradamente os limites
da
expressão sexual.
3.2.
Pesquisa sobre abuso sexual na Bélgica
A
organização de defesa dos consumidores Euroconsumer, em uma
pesquisa
sobre os hábitos sexuais em quatro países europeus, constatou que
na
Bélgica, cerca de 15% da população sofreu algum tipo de abuso sexual, a
maioria
quando era menor de 16 anos. Em 80% dos casos reportados, a vítima
foi uma
mulher e o agressor foi um homem com alguma relação de
proximidade,
em geral um ex-parceiro, tio ou primo.
Esta
pesquisa na Bélgica entrevistou 1,5 mil pessoas, um número que,
de acordo
com o Ministério de Assuntos Sociais e Saúde Pública é suficiente
para
elaborar uma estatística realista em um país com 10,3 milhões de
habitantes.
O estudo indicou que 55% das mulheres e 60% dos homens
violados
foram forçados a manter relações sexuais sem consentimento, mas
não houve
violência física. Em outros 6,3% dos casos com mulheres e 4% com
homens, o
abuso incluiu violência física.
A Bélgica
foi o país com mais casos de violência sexual, mas outros
países
não ficaram muito atrás. Em Portugal, 10% da população admitem ter
sido
vítima de abusos, dos quais 6% antes de completar 16 anos. Entre os
espanhóis,
11% sofreram algum tipo de violência sexual, sendo que 6%
quando
era menor de 13 anos.27
Conforme
foi destacado nas seções anteriores, esta constatação, em
países da
Europa, do alarmante índice de crescimento do abuso contra
crianças
é uma conseqüência funesta da revolução sexual que liberou a
expressão
dos instintos humanos.
3.3.
Estimativas brasileiras de abuso infantil
No
Brasil, não se tem dados estatísticos tão próximos da realidade como
nos
Estados Unidos e Europa. Segundo denúncias que chegam à polícia,
calcula-se
que em todo o país, a cada minuto, 12 crianças sofram algum tipo
de
violência.28
A
entidade Sentinela de Londrina (PR) notificou 124 casos atendidos em
2002, 34
meninos e 90 meninas ao todo. No ano de 2003 foram 167 casos,
sendo 51
meninos e 116 meninas. Em 2004 não foi diferente. Até o dia 9 de
dezembro,
o programa recebeu 135 vítimas, sendo 93 meninas para 42
meninos.
''Noventa por cento dos agressores são pessoas que estão perto das
crianças.
O crime é praticado principalmente contra vítimas de quatro a dez
anos de
idade''.29
Tomando
por base uma cidade de porte médio como Londrina, uma
projeção
para as demais cidades brasileiras elevaria em muito o quadro de
crianças
abusadas sexualmente no Brasil, revelando uma triste realidade.
3.4. O
triste aspecto do “silêncio”
As
estatísticas disponíveis no Brasil, feitas a partir de denúncias
registradas
em delegacias e demais entidades de defesa dos direitos da
criança,
indicam que, para quatro denúncias, outras cinco vítimas ainda estão
silenciosas
nas mãos dos agressores.30
Algumas
vítimas não conseguem falar sobre o problema e pedir socorro.
Outras
são “amordaçadas” pelas ameaças dos abusadores.
O
agressor ameaça matar a mãe da criança ou diz para a vítima que se
contar
para alguém, o tio, o pai ou irmão será preso e que acabará
perdendo
o parente. Também verificamos outras situações em que a
palavra
do adulto tem mais peso que a de uma criança. 31
Às vezes,
as mães se calam para proteger os agressores. Outras vezes,
interferem
para piorar a situação. Crianças que na primeira entrevista com os
atendentes
do Sentinela contam detalhes da agressão, passam a negar a
história,
depois que as mães intercedem pelo agressor. Casos como esses
revelam
que a mulher não quer perder o companheiro ou tem medo de não
conseguir
sustentar a família sozinha.32 O silêncio das vítimas e das
pessoas
que
deveriam zelar pelo seu bem estar acaba por perpetuar situações
abusivas.
3.5. COMPORTAMENTO
DO ABUSADO
Estas são
as principais evidências de que está ocorrendo abuso:
demonstração
de conhecimento sexual não adequado à idade; masturbação
excessiva;
queixa de dor ou ardência nos órgãos genitais; queda no
rendimento
escolar; resistência para se relacionar com adultos; isolamento ou
depressão;
distúrbios do sono e do apetite; mudanças bruscas de
comportamento;
falta de cuidado com a aparência e higiene ou necessidade
exagerada
de asseio.33
Qualquer
cidadão, principalmente professores, vizinhos, familiares,
deveriam
estar conscientes destes sinais externos e, logo que identificassem
crianças
com estas características, deveriam informar aos conselhos tutelares
e
delegacias de polícia para que se tomassem as devidas iniciativas
investigativas
e punitivas.
3.6. A PREVENÇÃO
DO ABUSO
A seguir,
algumas iniciativas que os pais podem tomar à medida que as
crianças
se desenvolvem:
A partir
dos três anos de idade - Ensinar a criança a reconhecer, resistir
e
informar sobre toques impróprios nos seus órgãos genitais; entre 4 e 5 anos -
o modo
pela qual as crianças nascem; entre 6 e 11 anos - Utilização correta
dos
termos que identificam os órgãos genitais; elas podem entender como as
crianças
são geradas e como nascem; podem impedir ser tocados em suas
partes
íntimas por outras pessoas.34
Por si só
a educação sexual preventiva não impede o abuso sexual, mas
contribui
para reduzir os índices, pois diante de uma atitude suspeita de
qualquer
adulto, ela pode agir para impedir ou denunciar o abuso.
O abuso
infantil deve ser comunicado às autoridades competentes. Se
porventura
os abusadores admitissem suas compulsões e procurassem o
devido
tratamento terapêutico, isto seria suficiente para recuperá-los. Como
raramente
acontece, deve-se denunciar qualquer tipo de abuso sofrido por
crianças.
A investigação policial apropriadamente conduzida, o indiciamento, o
julgamento
e a prisão de um abusador é a melhor iniciativa a ser tomada para
se evitar
que outras crianças sejam prejudicadas.
4. MENSAGEM
PARA QUEM SOFREU QUALQUER TIPO DE ABUSO FÍSICO, EMOCIONAL
OU
SEXUAL
Toda
criança que sofreu algum tipo de abuso deveria ser encaminhada
para um profissional
competente neste tipo de terapia. Todavia, nem sempre
isto é
feito, na verdade, bem pouco é realizado. Isto se deve, principalmente,
ao “silêncio”
a que uma criança é forçada a manter em função das ameaças de
revide
violento por parte do abusador. Em outras situações, a mãe por receio
de perder
o arrimo do abusador (marido, parceiro, etc.), deixa de tomar as
devidas
iniciativas para providenciar apoio terapêutico para a vítima infantil.
O ideal é
que a criança que sofreu abuso seja acompanhada por um
terapeuta
especializado. Sempre que possível, é indicado que após um período
de
tratamento, o abusado deve “confrontar” o abusador, obviamente um
processo
conduzido pelo terapeuta. Isto é relevante para a sua recuperação
emocional.
Se você
que lê este artigo, porventura, sofreu algum tipo de abuso, há
uma
iniciativa a ser tomada. Esta é de caráter eminentemente espiritual.
Lembre-se
das palavras de Jesus Cristo aos Seus algozes, “Pai, perdoa-lhes,
porque não
sabem o que fazem” (Lc 23:34). Entende-se que na situação de
alguém
que foi abusado isto é consideravelmente difícil, mas para a sua “cura”
isto é
indispensável.
Não tenha
receio de buscar auxílio terapêutico. Hoje em dia, há várias
pessoas
qualificadas a prestarem atendimento. Mesmo que seu caso tenha
ocorrido
há muito tempo, mesmo assim é bom que procure orientação para o
seu pleno
restabelecimento emocional.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Qualquer
transgressão da lei humana ou divina se constitui num tipo de
abuso, o
que está em harmonia com a etimologia da palavra, indicando um
afastamento
do uso normal. Pela perspectiva bíblica, o primeiro e principal
abusador
é Satanás.
O abuso
infantil não é um crime recente, mas tal como a gravidez na
adolescência,
o aborto, as doenças sexualmente transmissíveis são, em
grande
parte, resultados funestos de uma ideologia liberalizadora dos instintos
que foi
promovida pela revolução sexual. Mesmo nos países desenvolvidos não
se tem
uma estatística precisa de todos os casos de abuso infantil, visto que
nem todos
os casos chegam ao conhecimento das autoridades. Mas sabe-se
que o
índice é crescente e alarmante.
Pais,
professores, líderes religiosos, entre outros, deveriam estar bem
alertas
aos sinais exteriores que prenunciam algum tipo de abuso infantil.
Melhor
mesmo é prevenir. Para tanto, ministrem as informações adequadas a
cada
faixa etária. Caso venham a perceber algum tipo de evidência de abuso,
precisam
comunicar com urgência o fato às autoridades competentes.
NOTAS DE
REFERÊNCIAS
1 Para
uma melhor noção sobre a influência da teologia de Agostinho para a
conceituação
negativa do sexo como ação pecaminosa, ver Natanael B. P. Moraes,
Teologia
e ética do sexo para solteiros: análise bíblico-histórica e proposta adventista
de
educação sexual, tese doutoral, Engenheiro Coelho, SP, maio de 2000, 103-104.
2 Antônio
Geraldo da Cunha, “Abuso”, Dicionário etimológico da língua portuguesa (Rio
de
Janeiro: Nova Fronteira, 1986), 6.
3 Domingos
Paschoal Cegalla, Novíssima gramática da língua portuguesa (São Paulo:
Nacional,
1997), 112.
4 Maria
Helena Diniz, Dicionário jurídico (São Paulo: Saraiva, 2005), 1:34.
5 Nero
Claudius Drusus Germanicus (AD 15 - AD 68), pesquisa realizada na internet,
no site
http://www.roman-empire.net/emperors/nero-index.html, no dia 2 ago 2007.
6 Chapter
3, Epaphroditus, pesquisa realizada na internet, no site
http://whatistruthsaidpilate.homestead.com/chapter3.html,
no dia 2 ago 2007.
7 Nero Claudius Drusus Germanicus (AD 15 - AD 68), http://www.romanempire.
net/emperors/nero-index.html, 2/8/2007.
8 Castello
Branco, “Abuso”, Enciclopédia Saraiva do direito, ed. R. Limongi França
(São
Paulo: Saraiva, 1977), 2:22.
9 Friedrich
Nietzsche, Assim falava Zaratustra (São Paulo: Hemus, s.d.), 59-60.
10 Wilhelm
Reich, A revolução sexual (Rio de Janeiro: Zahar, 1977), 57.
11 Herbert
Marcuse, Eros e civilização (Rio de Janeiro: Zahar, 1972), 171.
12 Ibid.,
172.
13 Blog
de Ricardo Calazans, 29 jun 2007, pesquisa realizada na internet no site,
http://odia.terra.com.br/blog/ricardocalazans/200706archive001.asp,
no dia 1 out 2007.
14 “Cresce
Número de Mães Adolescentes”, O Estado de São Paulo, 30 out 1990.
Citado em
Revista Paulista de Hospitais 38 (setembro-outubro de 1990): 46.
15 Antônio
Houaiss e Francisco de A. Barbosa, eds., Enciclopédia Barsa (Rio de
Janeiro:
Encyclopaedia Britannica do Brasil, 1986), 14:160.
16 Rogério
Verzignasse, “Números Atestam a Maternidade Precoce”, Correio Popular,
2 nov
1996, 2-Almanaque.
17 Gilberto
Dimenstein, e Priscila Lambert, “1 Milhão de Jovens Engravidaram em 97”,
Folha de
S.Paulo, 3 de maio de 1998, 3-4.
18 Ciça
Valério, “Aborto”, O Estado de São Paulo, 15 ago 1996, G-4.
19 “Médico
é preso por aborto em clínica de SP”, Folha de S.Paulo, Cotidiano,
pesquisa
feita na internet no site,
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2205200407.htm,
no dia 3 out 2007.
20 Adelírio
J. Rios-Gonçalves, “Mudanças dos Padrões Epidemiológicos e Clínicos das
Doenças
Infecciosas nos Últimos 35 Anos”, Arquivos Brasileiros de Medicina 69
(janeiro
de 1995): 5.
21 James
Ameen, Dissertação de Mestrado, An Ideographic Analysis of Adolescents
Responses to Abstinence Education Messages (Fullerton, CA: California State
University,
1995), 36.
22 Ferreira
Gullar, “Qual o nosso limite?”, Folha Ilustrada, Folha de São Paulo, 8
jul
2007,
pesquisa realizada na internet no site,
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0807200724.htm,
no dia 1º out 2007.
Kerygma -
Revista Eletrônica de Teologia Curso de Teologia do Unasp
2º.
Semestre de 2007
23 Defesa
dos direitos da criança – Documentos, pesquisa realizada na internet no site
http://www.champagnat.org/pt/250301006.htm,
no dia 3 ago 2007.
24 Ibid.
25 Summary
- Child Maltreatment 2005, pesquisa realizada na internet no site
http://www.acf.dhhs.gov/programs/cb/pubs/cm05/summary.htm,
no dia 27 de setembro
de 2007.
26 Ibid.
27 Márcia
Bizzotto, Pesquisa indica que 15% dos belgas sofreram abuso sexual,
pesquisa
realizada na internet no site
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2006/04/060406_abusosexualbelgic
acg.shtml,
no dia 2 de agosto de 2007.
28 Aprovada
semana de prevenção e combate ao abuso sexual infantil, pesquisa
realizada
na internet no site
http://www.cmc.pr.gov.br/ass_det.php?not=5074, no dia
3 ago 2007.
29 Francisco
Lemes, MP na Imprensa, pesquisa realizada na internet no site
http://celepar7cta.pr.gov.br/mppr/noticiamp.nsf/9401e882a180c9bc03256d790046d022
/7b8c5e1e12902c1883256fb8004e5e0c?OpenDocument,
no dia 3 ago 2007.
30 Ibid.
31 Ibid.
32 Ibid.
33 Fundação
da criança e da família cidadã, Prefeitura de Fortaleza, pesquisa realizada
na
internet no site
http://www.funci.fortaleza.ce.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=63,
no dia 3
ago 2007.
34 Para
maiores informações sobre educação sexual preventiva, ver Thomas Lickona,
Educating for Character (Nova Iorque: Bantam Books, 1992), 372; Bruce M. King,
Linda S. Parisi, e Katherine R. O’Dwyer, “College
Sexuality Education Promotes Future
Discussions About Sexualiy Between Former Students and
Their Children”, Journal of
FONTE: Natanael
B. P. Moraes
Sem comentários:
Enviar um comentário