9º Capitulo
A Epístola aos Romanos
A epístola ao Romanos não
só é a mais longa carta de Paulo mas também a mais estruturada, devido à sua
riqueza doutrinal é sem dúvida a que influenciou mais o cristianismo. Podemos
considerar esta carta como sendo a mais rica, mais completa, e mais clara mensagem
evangélica de toda a bíblia.
Esta carta teve um papel importante
sobretudo no século 16 com o pensamento de Lutero, naquilo que ficou conhecido
pela justificação
pela fé, este a considerava como “o livro capital do Novo Testamento”
além disso Lutero dizia que cada cristão devia a decorar a fim de meditar nela
todos os dias.
Esta epístola deu origem a
maior parte das reformas espirituais, Wesley converteu-se lendo o prefácio de
Lutero sobre a carta aos Romanos, no século 19 na cidade de Genebra um grupo de
jovens iniciaram um despertamento espiritual baseados nesta carta de Paulo. Em
Oxford em 1875 aconteceu a mesma coisa, e foi com a exposição do famoso teólogo
Karl Barth sobre os Romanos que a teologia do século vinte se distinguiu. Cada
vez que esta carta de Paulo ocupava lugar na história dos homens era inaugurada
uma nova era.
A
cidade de Roma no primeiro século.
Capital do império que
dominava o mundo era sem dúvida a cidade mis importante da altura. Estamos
habituados à frase “que todos os caminhos vão dar a Roma” mostrando assim a sua
importância no mundo.
Cidade que comportava um
número de quatro milhões de habitantes fascinava os habitantes de todas as
partes do império. Devido as boas estradas, comércio, e monopólio politico esta
cidade tinha-se tornado numa grande atracão, até mesmo para os cristãos a fim
de ali difundirem a mensagem do seu mestre.
Em Roma havia uma grande
comunidade Judia, que ali se tinha fixado desde o segundo século a.C. com a
invasão de Pompeu no ano 63 a.C. muitos judeus foram levados escravos para Roma
o que fez que esta colónia Judia se tivesse ainda multiplicado mais. No ano 49
d.C. o Imperador Cláudio expulsou-os de Roma muito por causa das dissensões que
eles tinham uns com os outros, mas acabaram por retornar sob o comando do
imperador Nero. Alguns daqueles que voltaram tornaram-se aristocratas de Roma
enquanto que a maioria eram simples comerciantes.
Foi com a dispersão
causada por Cláudio que muito Judeus ouviram da fé de Jesus nas sinagogas das
cidades que lhes serviram de refúgio, e ali abraçaram a nova fé. Um caso
evidente é o de Áquila e Priscila, (Ac 18:2) depois de terem sido ensinados na
nova fé por Paulo eles voltaram a Roma e ali tinham uma igreja no seu lar.. (Rm
16:3-5)
Situação
moral e religiosa de Roma
Depois de num capítulo
anterior termos abordado o tema da moralidade, a verdade é que a cidade de Roma
proporcionava condições que privilegiavam a imoralidade e com isso a
espiritualidade.
No primeiro século havia
159 feriados no ano, 93 deles eram reservados aos jogos e espectáculos de rua,
assim como a diferentes representações promovidas pelo governo. A vida
religiosa com o seu politeísmo estava em declínio, aumentando o interesse pelos
novos cultos orientais, introduzindo-se nesta capital as religiões mistério.
Existem vários locais de culto a Mitra e a deusa Síria Asterote.
As divindades primitivas
conhecidas pelos rituais sensuais já não mais satisfaziam as exigências
intelectuais dos Romanos, e nesse sentido a fé monoteísta dos Judeus atraia
cada vez mais os pagãos. As 11 sinagogas que existiam em Roma contavam com um
numero bastante interessante de simpatizantes que criam em Deus, e que na
realidade constituíam um publico preferencial e pronto a aceitar a mensagem
cristã.
A
formação da igreja cristã.
Hoje não podemos ter a
certeza de quem e como a igreja em Roma se originou, mas pode-se circunscrever
alguns factores que determinaram a sua formação.
· Não foi fundada por Paulo,
pois no momento que ele escreveu-lhes a sua carta o apóstolo ainda não tinha
ido à capital, isso podemos ver em (Rm 1:10-15)
· Não foi fundada por Pedro
ao contrário do que a tradição indica, isto por vários motivos, em primeiro
lugar Pedro conhecido como apóstolo da circuncisão ministrou bastante tempo em
Jerusalém, quando Paulo dirige a sua carta aos Romanos, se Pedro lá estivesse
Paulo o saudava. Mais tarde no ano 61-62 d.C. quando Paulo chega a Roma o texto
de (Ac 28) mostra que Pedro não lá estava. E mesmo quando Paulo escreve as suas
cartas enquanto prisioneiro (Filipenses, 1 e 2 Timóteo,) o nome de Pedro não é
mencionado. Se realmente Pedro morreu como mártir em Roma como indica a
tradição ele acabou por ali ir só para o seu martírio.
· Não foi fundada por nenhum apóstolo de
Jesus, pois o próprio apóstolo afirma que ele não construiu
em cima das fundações de outro. (Rm 15:20; 2Co 10:16)
· Provavelmente também não foi formada
pelos judeus que se converteram no dia de Pentecostes,
isto porque quando Paulo escreve a esta igreja a sua linguagem não era a uma
igreja Judeo-cristã, e mesmo quando ele chega como prisioneiro a Roma os chefes
da sinagoga não estavam ainda informados sobre a doutrina da nova fé. (Ac 28:21)
Mesmo com estas noções
negativas, do resposável da origem desta igreja, podemos também reflectir em
alguns elementos positivos.
· A igreja já existia há um bom número
de anos, isto por aquilo que Paulo escreve em (Rm 15:23) ele
menciona também que a fé deles era famosa por toda a parte. (Rm 1:8) Paulo
também não tem um discurso como se tivesse a dirigir-se a recém-convertidos. É
bem provável que a igreja já existisse à bastante tempo, com uma boa
organização baseada nos dons (Capítulo 12)
· Paulo conhecia um bom número de
cristãos, pois ele saúda 26 pessoas e 5 igrejas em casas
particulares, é bem provável que muitos daqueles que receberam a mensagem por
Paulo, se tenham encontrado em Roma e ali edificado esta igreja. Visto que os
Judeus da sinagoga não tinham conhecimento da nova fé, é bem provável que os
fundadores da igreja de Roma tenham sido gentios convertidos ao cristianismo e
que vindo viver em Roma como emigrantes ali se estabeleceram.
Organização
da igreja
A igreja de Roma não
estava organizada de forma central, ou seja a partir de um local de culto.
Quando Paulo escreve ele não se dirige “à
igreja em Roma” como era habitual dirigir-se às outras igrejas. (1Co 1:1;
2Co 1:1; 1Tss 1:1…) mas “a todos aqueles
que em Roma são bem-amados de Deus”. (Rm 1:7) No capítulo 16 vemos que havia pelos menos 5 grupos que se reuniam
em vários lugares da cidade. Isto era compreensível visto que a lei romana
proibia uma organização centralizada. As igrejas se constituíam como sinagogas,
ou seja independentes, espalhadas pela cidade, mas reunidas em casas
particulares.
Local
e data de redacção
A carta de Paulo aos
Romanos deve-se sobretudo a um desejo contrariado de visitar Roma. Essa
impossibilidade trouxe bênção à igreja e a nós hoje, por causa desta belíssima
obra teológica que ficou registada. Esta é uma forma de Deus trabalhar ou seja
Ele faz acontecer o bem daquilo que parece ser mau.
Paulo tinha acabado de
terminar a sua recolha de ofertas para levar à igreja mãe em Jerusalém, (Rm
15:22-26) esta colecta tinha sido realizada durante a sua terceira viagem
missionária, (Ac 24: 17) quer dizer que Paulo escreve aos Romanos depois das
cartas aos Coríntios, visto que nessa altura ainda não tinha acabado a colecta.
(1Co 16:1-4; 2Co 8:6) Presume-se que foi na estadia de 3 meses de Paulo em
Coríntio (Ac 20:3) que a carta aos Romanos foi escrita, isto porque certas
personagens como Galio, (Rm 16:23/
ICo 1:14) Erasto, (Rm 16:23/2Tm
4:20) Febe (Rm 16:1-2 diaconisa que
entrega a carta e que vive a poucos kilometros de Corinto) eram crentes que
estavam muito ligados à cidade de Corinto. A data provável da sua redacção terá
sido o ano 57 ou 58 d.C.
Carácter
distintivo da Epístola.
Na sua maioria as
epístolas de Paulo são escritos de circunstancia, tendo quase sempre um motivo
polémico e correctivo. Mas a carta aos romanos acaba por ser uma excepção, isto
porque ela acaba por ser mais uma exposição sistemática de grandes temas da
mensagem do apóstolo. Ela é desenvolvida de forma harmoniosa, onde as grandes
secções se encadeiam de forma metódica, ela não parece ter sido construída de
rompante, mas de uma profunda meditação dos vários assuntos nela tratados.
Paulo quando escreve não
se encontra sobre pressão de urgência, ele escreve seguindo o método dos
autores Judeus, ou seja estabelecendo paralelos e antíteses, susceptíveis de
sensibilizar os leitores. Os argumentos por ele utilizados são bem encadeados,
para a maior parte dos estudiosos esta carta é a obra-prima saída da pena do
apóstolo Paulo.
Esta carta contém cerca de
metade das citações que Paulo faz do Antigo Testamento, tendo em conta tudo o
que escreveu. Também as citações tiradas de diferentes partes eram compostas de
maneira a que parecia ser a citação de uma só passagem.
As saudações e despedidas
são bastantes longas, o que espanta pois esta carta é dirigida a uma igreja com
a qual o apóstolo Paulo nunca esteve.
Também é escrita a
cristãos maduros e conhecedores das grandes verdades do evangelho não
precisando mais do que uma chamada de atenção a essas verdades (Rm 15:14)
Objectivos
da Epístola
Porque razão Paulo escreve
aos cristãos de Roma se na sua grande maioria lhe eram desconhecidos?
Em primeiro lugar ele
mostra o desejo de os ver a fim de lhes comunicar algum dom espiritual, (Rm
1:11) também deseja-lhes anunciar o evangelho, (Rm 1:15) pois ele considera-se
o apóstolo dos sábios e ignorantes, dos gregos e dos bárbaros. (Rm 1:14) No
final da epístola ele mostra mais alguns objectivos ao lhes escrever, ele diz
que lhes escreve para lhes fazer relembrar as verdades do evangelho que lhe foi
outorgado pelo próprio Cristo. (Rm 15:15-17)
·liMais à frente ele
explica as razões porque não pode ainda se deslocar a Roma, (Rm 15:17-22)
razões que têm a ver com o trabalho desenvolvido desde Jerusalém e cidades
circunvizinhas. Também mostra que não é pela vergonha do evangelho como alguns
o acusam. (Rm 3:8; 31; 6:1; 15; 7:7.)
Paulo também solicita a
intercessão dos Romanos para a missão que ele estava prestes a cumprir em
Jerusalém. (Rm 15:30-32) antes de terminar a sua carta ele exorta os seus
correspondentes a guardarem-se daqueles que causam divisões e escândalos, e que
podem prejudicar os ensinamentos que já receberam. (Rm 16:17)
Poderemos ler claramente
cinco objectivos: 1- Contribuição para a santificação dos romanos. 2-
Apresentação e defesa do seu ministério e da sua mensagem. 3- Pedido de
colaboração para uma obra missionária em Espanha. 4- Pedido de apoio na oração.
5- guardarem-se dos falsos obreiros.
Mais
algumas informações.
Nos capítulos 12 a 15, o
apóstolo faz algumas exortações ao nível prático, ele recomenda os Romanos a
serem modestos como membros do corpo de Cristo. (Rm 12:3-8) Também que sejam
submissos às autoridades. (Rm 13:1-7) e ainda que deixe de existir opisição
entre os “Fortes e os Fracos” (Rm 14:1;15:7)
Nesta epístola existem
alguns temas bem desenvolvidos em determinados capítulos, enquanto que outros
nem por isso, Paulo desenvolve bem a sua soteriólogia enquanto que resume a sua
escatologia ao papel de Israel no futuro. Não escreve nada sobre a vinda de
Cristo e a ressurreição dos mortos, a preexistência e o seu papel na criação do
mundo. Também não dá ensinamentos sobre a igreja como o faz na carta ao
Efésios. Não existe também directivas práticas, como ele o faz nas cartas
pastorais. Também não escreve sobre a santa ceia, isto porque provavelmente
Paulo tinha noção que os Romanos já tinham conhecimento sobre esses temas por
intermédio de Áquila e Priscila.
Percebemos bem que Paulo
ao ter noções da realidade vivida pelos Romanos acabou por se debruçar mais
sobre o tema da “Justificação” isto porque deseja mostrar a diferença da igreja
nacionalista (Judaísmo) para a igreja Universal (boa nova aos gentios)
Autenticidade
da epístola
Hoje em dia a autenticidade
da epístola aos Romanos não é posta em causa, visto que os testemunhos internos
e externos, são unânimes em atribuir a paternidade ao apóstolo dos gentios.
A literatura patrística,
contêm inúmeras citações e alusões a esta epístola desde o primeiro século. (Clemente
de Roma e Barnabé) no segundo século ela é citada por vários autores. (Inácio,
Policarpo, Justino o Mártir, Hipólito, O Canon de Nuratori, Irineu, Clemente de
Alexandria, Tertuliano, Marcião)
As provas internas também
são evidentes, as alusões pessoais, o estilo, a argumentação designam Paulo
como o autor desta epístola. Provada a autenticidade, esta epístola tem servido
como padrão para se puder analisar as outras cartas e atribuir sua autoria fidedigna.
FIM
NO PRÓXIMO CAPÍTULO ABORDAREMOS A 1ª CARTA AOS CORÍNTIOS
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