Não com os outros cristãos. Miserável realmente é a ideia do homem sobre a religião que imagina que a mesma consiste em controvérsia perpétua. Aquele que nunca está satisfeito a menos que esteja envolvido em algum conflito entre igreja e igreja, capela e capela, seita e seita, partido e partido, ainda não conhece nada como deveria conhecer. Nunca a causa do pecado é tão fortalecida quando os cristãos desperdiçam suas forças em brigas uns com os outros, e passam o tempo em disputas mesquinhas. Não! A luta principal do cristão é com o mundo, a carne e o diabo. Estes são os seus inimigos que nunca morrem. Estes são os três principais inimigos contra os quais ele deve travar a guerra. A menos que ele receba a vitória sobre estes três, todas as outras vitórias são inúteis e vãs. Se ele tivesse uma natureza como de um anjo, e não fosse uma criatura caída, a guerra não seria tão essencial. Mas com um coração corrupto, um diabo ocupado, e um mundo ludibriador, ele deve ou "lutar" ou ficar perdido.
Ele deve lutar contra a carne. Mesmo após a conversão o cristão carrega dentro de si uma natureza propensa ao mal, e um coração fraco e instável como a água. Para manter esse coração de se desviar, há a necessidade de uma luta diária e uma briga diária em oração. “Antes subjugo o meu corpo”, clama Paulo, “o reduzo à servidão”. “Mas vejo a lei nos meus membros batalhando contra a lei da minha mente, e me levando ao cativeiro”. “Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte? .... Os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências”. “Mortificai, pois, os vossos membros, que estão sobre a terra” (1 Coríntios. 9: 27; Romanos. 6: 23, 24; Gálatas 5: 24; Cl 3:5).
Ele deve lutar contra o mundo. A sutil influência daquele poderoso inimigo deve ser diariamente resistida, e sem uma batalha diária nunca pode ser vencido. O amor das coisas boas do mundo, o medo do riso ou culpa do mundo, o desejo secreto de continuar com o mundo, o desejo secreto de fazer como os outros no mundo fazem, e não se envolver em extremos — tudo isso são inimigos espirituais que assolam o cristão continuamente em seu caminho para o céu, e deve ser conquistado. “A amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus”. “Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele”. “O mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”. “Todo o que é nascido de Deus vence o mundo”. “Não sede conformados com este mundo”. (Tiago 4:4; 1 João 2:15; Gálatas 6:14; 1 João 5:4; Romanos12:2).
Ele deve lutar contra o diabo. Esse velho inimigo da humanidade não está morto. Desde a queda de Adão e Eva, ele tem ido para lá e para cá na terra, e andando para cima e para baixo da mesma, e esforçando-se para alcançar um grande fim — a ruína da alma do homem. Nunca adormecido e nunca dormindo, ele sempre anda como um leão buscando a quem possa tragar. Um inimigo invisível, ele está sempre perto de nós, perto de nosso caminho e perto de nossa cama, a espiar todos os nossos caminhos. Um assassino e um mentiroso desde o princípio, ele trabalha dia e noite para lançar-nos para o inferno. Às vezes levando em superstição, às vezes por sugerir infidelidade, às vezes por um tipo de tática e às vezes por outro, ele está sempre fazendo uma campanha contra as nossas almas. “Satanás tem desejado tê-lo, para que ele possa vos cirandar como trigo”. Esse adversário poderoso deve ser diariamente resistido se nós quisermos ser salvos. Mas “essa casta não sai” senão pelo jejum e oração, e por usar toda a armadura de Deus. O homem forte armado nunca será mantido de fora de nossos corações sem uma batalha diária. (Jó 1:7; 1 Pedro 5:8; João 8:44; Lucas 12:31; Efésios 6:11).
J.C.RYLE